
Em Maio de 68, a partir de manifestações estudantis ocorridas nas universidades francesas de Nanterre e Sorbonne, irromperam sucessivos movimentos de protestos em diversas universidades de países da Europa e das Américas, que ganharam uma dimensão ainda maior com a ampliação das revoltas para a classe trabalhadora.
Entretanto, o mês histórico não pode ser compreendido sem levar em conta os fatos que eclodiram no mundo nos anos 60, uma década de mudanças na história do ocidente.
Claude-Jean Bertrand, professor do instituto francês de imprensa, escreve no artigo "Um novo nascimento na França" que em seu país, como em outros do mundo, o ano de 1968 marcou o "início do fim" do mundo pós-guerra.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os Estados Unidos emergiram como potência mundial e, ajudando na reconstrução da devastada Europa, passaram a difundir as novidades e os valores da nova sociedade que surgia.
Após a próspera década de 1950, a partir de protestos estudantis, mudanças políticas e comportamentais, o Ocidente entra nos anos 60 em um momento de "aceleração da história".

As rebeliões dos anos 60, embora pareçam um conjunto se olhadas em perspectiva, tiveram motivações diversas nos diversos países em que se manifestaram.
Na França, protestos eclodiram nas universidades em Maio de 68 contra a rigidez do sistema educacional. Na verdade, estes foram parte de uma expressão mais ampla de contracultura dos anos 60, que contestou valores morais julgados "incompatíveis" com os novos tempos.Entre os símbolos das transformações tecnológicas, sociais e comportamentais na França estavam o automóvel --pessoas eram atropeladas nas ruas por não conseguirem calcular a velocidade dos carros--; a minissaia e a calça jeans --que representavam a emancipação feminina e a modernidade; a valorização das crianças --que até então "não existiam", pois não havia a compreensão da infância, e elas eram tratadas como "adultos em miniatura".
Nas artes, o cinema da nouvelle vague de François Truffaut e Jean-Luc Godard buscava expressar na tela as transformações, em filmes como "Acossado" e "Os Incompreendidos".
Brasil
No Brasil, que também viveu grandes transformações nas artes -- com o Cinema Novo, a Tropicália, e peças de teatro como "Roda Viva" e "O Rei da Vela"-- as rebeliões da década de 60 foram mais ligadas a questões políticas, em virtude do golpe militar (1964-1989).
O auge das rebeliões ocorreu com a Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, em 26 de junho, quando foi realizado o mais importante protesto contra a ditadura militar até então.
A manifestação, iniciada a partir de um ato político na Cinelândia, pretendia cobrar uma atitude do governo frente aos problemas estudantis e, ao mesmo tempo, refletia o descontentamento crescente com o governo militar. Dela, participaram também intelectuais, artistas, padres e um grande número de mães.
Nos Estados Unidos, movimentos civis de minorias --negros e mulheres-- eclodiram ao mesmo tempo em que John F. Kennedy (1961-1963) assumia a Presidência com um discurso considerado bastante progressista.
Os fatos mais marcantes em 1968 nos EUA foram o assassinado, em 4 de abril, do líder negro Martin Luther King, e o protesto de cerca de 60 mil manifestantes no Central Park, em Nova York, exigindo o fim da guerra do Vietnã, em 28 de abril.
Europa
As manifestações também foram intensas em outros países da Europa Ocidental, e também no Leste Europeu. Na Espanha, Alemanha Ocidental e Bélgica, universidades foram ocupadas e estudantes entraram em confronto com a polícia.
Em 1º de março, na Itália, cerca de 3.000 estudantes tomam a sede em Milão do jornal "Corriere della Serra" e em 5 de dezembro cerca de 1 milhão de trabalhadores entram em greve. No Reino Unido, 3 milhões de trabalhadores entram em greve em 15 de março.

Na Polônia, em 8 de março, estudantes protestam contra o regime socialista. Três dias depois a universidade de Varsóvia foi fechada.

No México, confrontos em universidades e nas ruas da cidade do México deixam 38 mortos. O governo, que se organizava para receber os Jogos Olímpicos em 12 de outubro, ordenou que as autoridades disparassem contra os manifestantes na praça das Três Culturas (Tlatelolco), matando cerca de 200 a 300 pessoas.
Durante as Olimpíadas, dois atletas americanos negros levantam os punhos para reivindicar o poder para os negros, na primeira manifestação política durante os Jogos Olímpicos.
No Uruguai, violentos confrontos levam o governo a decretar estado de sítio. Na Argentina, Colômbia e Venezuela, estudantes ocupam universidades, decretam greves, e se envolvem em intensos confrontos com policiais e forças do Exército.
Frases que expressavam o pensamento da década de 60
Liberdade
"Sejam realistas, exijam o impossível!"
"A imaginação ao poder"
"É proibido proibir"
"As paredes têm ouvidos, seus ouvidos têm paredes"
"Se queres ser feliz, prende o teu proprietário"
"O patrão precisa de ti, tu não precisas dele"
Poder
"Todo poder abusa. O poder absoluto abusa absolutamente"
"Todo poder aos conselhos operários (um enraivecido)Todo poder aos conselhos enraivecidos (um operário)"
"Abaixo o realismo socialista. Viva o surrealismo"
"O poder tinha as universidades, os estudantes tomaram-nas. O poder tinha as fábricas, os trabalhadores tomaram-nas. O poder tinha os meios de comunicação, os jornalistas tomaram-na. O poder tem o poder, tomem-no!"
Política
"A política passa-se nas ruas"
"Viva o poder dos conselhos operários estendido a todos os aspectos da vida"
"Trabalhador: tu tens 25 anos, mas o teu sindicato é do outro século"
"Todo reformismo se caracteriza pela utopia da sua estratégia, e pelo oportunismo da sua tática"
"Quando a Assembléia Nacional se transforma em um teatro burguês, todos os teatros da burguesia devem se transformar em Assembléias Nacionais"
"Juventude Marxista Pessimista"
Revolução
"Revolução, eu te amo"

"A revolução deve ser feitas nos homens, antes de ser feita nas coisas"
"Um só fim de semana não-revolucionário é infinitamente mais sangrento que um mês de revolução permanente"
"A revolução não é a dos comitês, mas, antes de tudo, a vossa.Levemos a revolução a sério, não nos levemos a sério"
Universidade
"Abaixo a Universidade"
"Professores, sois tão velhos quanto a vossa cultura, o vosso modernismo nada mais é que a modernização da polícia, a cultura está em migalhas"
Solidariedade
"A sociedade nova deve ser fundada sobre a ausência de qualquer egoísmo e qualquer egolatria. O nosso caminho será uma longa marcha de fraternidade"
"Tu, camarada, tu, que eu desconhecia por detrás das turbulências, tu, amordaçado, amedrontado, asfixiado, vem, fala conosco"
Fonte: Folha de São Paulo
Alexandre Rios.
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