
domingo, 31 de maio de 2009
Elvis Costello - Secret, Profane & Sugarcane

Elvis Costello | Down Among the Wines and Spirits from Concord Music Group on Vimeo.
Alexandre Rios.
sábado, 30 de maio de 2009
Se Meu Apartamento Falasse

sexta-feira, 29 de maio de 2009
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Brandamente Brasil
domingo, 24 de maio de 2009
Os ditadores e o medo da internet

sábado, 23 de maio de 2009
O que fazer quando chove?

Gosto muito quando chove. Que me desculpem as pessoas que sofrem com a chuva. Mas, amigo leitor, a atmosfera – e não estou me referindo apenas à geografia física – que as chuvas trazem é sensacional. Ainda mais pra aqueles que vivem em locais mais quentes, como eu. Não tenho muito tempo pra aproveitar esse clima - se bem que esse ano tem chovido bem mais que o normal e a previsão é de que continue assim por mais alguns meses. Meu professor disse que tudo isso é conseqüência da
Filmes: Não há nada melhor para se fazer quando chove do que ver alguns filmes. Acabei de ver “Uma mulher para dois” – não, não é o 'Jules e Jim' do Truffaut – com o Robert de Niro e Bill Murray. Estava me perguntando como um filme com esses dois caras, produzido por Martin Scorsese, sendo uma comédia romântica com uma trilha sonora digna de filmes de máfia, seja tão desconhecido por aqui. Bom filme, apesar de um pouco irregular. Dá pra quebrar o galho em dias de chuva. Mas nem se compara com os dois que irei recomendar agora.
Cantando na chuva é uma sugestão previsível, claro. Mas não dá pra deixar passar essa obra-prima do cinema americano! Este filme carrega o peso do cinema nas costas, expressa toda uma cultura fantástica com boas músicas, boas danças, gente bonita e uma história envolvente. Precisa de algo mais?
Tem também um dos meus filmes preferidos: Se meu apartamento falasse. Meu Deus, como eu gosto desse filme! Billy Wilder é um gênio. Jack Lemmon é um ator maravilhoso. E 'Se meu apartamento falasse' é um filme divertido, sensível, mágico. Talvez seja o filme que eu mais me identifiquei em toda minha vida. Costumo dizer que é um filme de Woody Allen nota dez. Não que eu não goste do Woody, muito – e põe muito nisso – pelo contrário. Mas nunca vi um filme dele que chegue à perfeição. Billy Wilder fez dois, em minha opinião. E por que eu estou trazendo Woody Allen na conversa mesmo? Bom, o filme do apartamento tem jazz, Nova Iorque e diálogos geniais. Não precisa mais prosseguir, certo?
Música: Jonas Brothers ou Radiohead? Nenhum dos dois. Recomendo algum disco de jazz. Kind of Blue, do Miles Davis, ou Doin´ Allright, do Dexter Gordon. Qualquer um dos dois tá de bom tamanho, companheiro. Se você não quer algo apenas instrumental tem outra opção. Hoje escutei bastante Louis Prima. Muito interessante, bem divertido. Abaixo um vídeo com uma música dele. Boa diversão!
Alexandre Rios.
Quem sabe?

Por que tanto apelo?
Tantas palavras jogadas fora
Tantas flores despedaçadas
Pessoas sendo enganadas
O engano causado por pessoas se espalha
Por que tanto descaso?
Felicidade espelhada, refletindo a ilusão
O amor petrificado em falsas juras
E o real deu espaço aos sonhos
O pensamento se foi em devaneios atemporais
Por que tanto vazio?
E o infinito é cada vez mais finito
As perguntas surgem e as respostas tornam-se mitos
Ou uma mera definição em um dicionário qualquer
O querer supera o alcançável
E a imaginação e criatividade suplicam por um copo d’água
Mas me responda uma coisa, por que tanta pergunta?
Marcos O. C. Alves
sexta-feira, 22 de maio de 2009
Morre Zé Rodrix, um latino americano

mas não fico preocupado
muita gente me censura
e acha que eu estou errado
Deus ajuda a quem madruga
mas dormir não é pecado
o apressado come cru
e eu como mais descansado
e nunca me engano, e nunca me engano
Soy latino americano
e nunca me engano
é um pouco mais comprido
eu vou sempre pela praia
que é muito mais divertido
chego sempre atrasado
mas eu não corro perigo
quem devia dar o exemplo
chega atrasado comigo, e diz...
e nunca me engano, e nunca me engano
Soy latino americano
e nunca me engano
mas eu não volto correndo
quem tem pressa de ir embora
no transporte vai morrendo
e eu que não me apresso nunca
pro meu bar eu vou correndo
e encontro minha turma toda
sentada na mesa dizendo assim...
e nunca me engano, e nunca me engano
Soy latino americano
e nunca me engano
muita gente está jantando
quando eu ponho a minha mesa
muita gente esta deitando
eu me arrumo e vou pra rua
e na rua vou achando
muita gente que trabalha
se divertindo e cantando assim...
e nunca me engano, e nunca me engano
Soy latino americano
e nunca me engano...
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Falemos patrioticamente mal as línguas dos outros!

É impressionante como, com o passar dos anos, tenho me tornado uma pessoa mais aberta ao meu país. Cada vez mais sou nacionalista, e estou gostando disso. Sem exageros, claro, porque todo nacionalismo exacerbado é o mesmo que uma estupidez inflada e vazia ao mesmo tempo. Quero que o meu país seja cada vez mais respeitado e me vejo no direito de tentar fazer a minha parte – porque toda nação digna é essencialmente patriótica. Qual Império possuiu um espírito desnacionalizado da população? Nenhuma, amigos leitores! Muitos poderão exclamar “mas o Brasil é um nada, não merece meu orgulho!”. Ora, como tornar uma nação que dê orgulho ao povo, que represente o povo, sem o trabalho árduo deste mesmo povo para corrigir os erros e evoluir?
Lendo “A Correspondência de Fradique Mendes”, de Eça de Queiroz, deparei-me com este trecho – um dos melhores da obra – absolutamente brilhante e que pode ser de muito valor para essa reflexão. O trecho encontra-se na segunda parte do livro, com as cartas do progonista Fradique Mendes – que é, segundo o narrador, um homem cuja “forma é um mármore divino com estremecimentos humanos”. Deliciem-se, amigos leitores – se é que existe algum!
"Um homem só deve falar, com impecável segurança e pureza, a língua da sua terra; todas as outras as deve falar mal, orgulhosamente mal, com aquele acento chato e falso que denuncia logo o estrangeiro. Na língua verdadeiramente reside a nacionalidade; e quem for possuindo com crescente perfeição os idiomas da Europa vai gradualmente sofrendo uma desnacionalização. Não há já para ele o especial e exclusivo encanto da fala materna com as suas influências afetivas, que o envolvem, o isolam das outras raças; e o cosmopolitismo do verbo irremediavelmente lhe dá o cosmopolitismo do caráter. Por isso o poliglota nunca é patriota. Com cada idioma alheio que assimila, introduzem-se-lhe no organismo moral modos alheios de pensar, modos alheios de sentir. O seu patriotismo desaparece, diluído em estrangeirismo.
[...] Além disso, o propósito de pronunciar com perfeição línguas estrangeiras constitui uma lamentável sabujice para com o estrangeiro. Há aí, diante dele, como o desejo servil de não sermos nós mesmos, de nos fundirmos nele, no que ele tem de mais seu, de mais próprio, o vocábulo. Ora, isto é uma abdicação de dignidade nacional. Não, minha senhora! Falemos nobremente mal, patrioticamente mal, as línguas dos outros! Mesmo porque aos estrangeiros o poliglota só inspira desconfiança, como ser que não tem raízes, nem lar estável – ser que rola através das nacionalidades alheias, sucessivamente se disfarça nelas, e tenta uma instalação de vida em todas porque não é tolerado por nenhuma.
[...] Eu tive uma admirável tia que falava unicamente o português (ou antes o minhoto) e que percorreu toda a Europa com desafogo e conforto. Esta senhora, risonha mas dispéptica, comia simplesmente ovos – que só conhecia e só compreendia sob o seu nome nacional e vernáculo de ovos. Para ela huevos, oeufs, eggs, das ei eram sons da Natureza bruta, pouco diferenciáveis do coaxar das rãs, ou de um estalar de madeira. Pois, quando em Londres, em Berlim, em Paris, em Moscou, desejava os seus ovos, esta expedita senhora reclamava o fâmulo do hotel, cravava nele os olhos agudos e bem explicados, agachava-se gravemente sobre o tapete, imitava com o rebolar lento das saias tufadas uma galinha no choco, e gritava qui-qui-ri-qui! co-có-ri-qui! có-rócó-có! Nunca, em cidade ou região inteligente do universo, minha tia deixou de comer os seus ovos – e superiormente frescos!"
Alexandre Rios
quarta-feira, 20 de maio de 2009
A incrível dificuldade das coisas simples

segunda-feira, 18 de maio de 2009
Anticristo

Diretor de filmes tão densos quanto polêmicos - "Dançando no Escuro", "Dogville" -, o dinamarquês Lars Von Trier conseguiu mais uma vez acender a fogueira da polêmica em Cannes.
Seu novo filme, o terror "Anticristo", recebeu risos e até gargalhadas durante a sessão de imprensa. Ao final, a plateia se dividiu entre vaias e aplausos - a maioria vaiava.
"Anticristo" é o tipo de filme que os críticos vão amar odiar, e outros vão amar sem entender muito por quê. Será avaliado como péssimo por uns e uma obra-prima por outros. Ao final da sessão, quase nenhum jornalista aceitava dar entrevista para os canais de TV e internet que cobrem o festival, porque ninguém conseguia formar uma opinião.
Von Trier realizou o filme após uma grave depressão que viveu há cerca de dois anos, e que o fez interromper a escritura do roteiro. No material de divulgação, ele afirma que boa parte das imagens de "Anticristo" veio dos seus sonhos, que a trama tem apenas o mínimo necessário para mostrar essas imagens, que não pede desculpas pelo filme, e que o considera o mais importante de sua carreira.
O máximo que se pode dizer sem estragar a surpresa: devastados com a perda do filho, um casal (Willem Defoe e Charlotte Gainsbourg) se refugia em uma casa isolada no meio de uma floresta. Ela sofre e chora muito com a perda, ele cuida dela como se fosse um terapeuta. Von Trier reveste todo o seu filme de tons bíblicos, como se Adão e Eva voltassem a uma espécie de inferno final, ou inferno original - a floresta, não por acaso, se chama Éden. Desde o início, o conceito do sexo é ligado ao da morte, em algumas imagens poderosas e outras apenas chocantes.
O filme vai dividir opiniões, mas uma coisa é certa: o prólogo em preto-e-branco, que conta em poucos planos a história trágica do casal, tem as mais belas imagens já feitas por Von Trier, ao som de uma sinfonia de Handel. A parte da floresta, dividida em capítulos, não chega a ser assustadora, mas contém cenas de impacto envolvendo violência com genitália, muito sangue e um desespero crescente dos personagens.
Nem Von Trier deve entender os sonhos que teve - e o cinema não precisa mesmo passar pela compreensão. Mas "Anticristo" ainda vai render muito debate nos próximos meses. O filme já tem estreia garantida no Brasil, pela distribuidora Califórnia, mas a data ainda não foi definida.
Irritado, Von Trier não comenta cenas de "Anticristo" e diz que é "o melhor diretor do mundo"
A polêmica em torno do terror "Anticristo", exibido para a imprensa na noite de domingo (18), continuou hoje na entrevista coletiva sobre o filme, que disputa a Palma de Ouro no 62º Festival de Cannes. Logo na primeira pergunta, um jornalista britânico clamou, irritado: "Acho que o senhor nos deve no mínimo uma explicação sobre esse filme. E por favor, não me venha com uma resposta lacônica".Visivelmente nervoso com o ataque, já com as mãos tremendo, Von Trier respondeu, em voz baixa e hesitante: "Não tenho que pedir desculpas por meus filmes. Não devo uma explicação. Neste filme, e nesta entrevista coletiva, vocês são meus convidados, e não o contrário".
Como previu o jornalista britânico, Von Trier foi lacônico e não quis comentar as cenas chocantes do filme ou determinadas escolhas feitas nas cenas mais violentas, que envolvem mutilação de genitália. E, mais uma vez, fez seu marketing pessoal sem modéstia. "Só posso dizer que nunca tenho escolha ao criar um filme. É a mão de Deus. Este filme foi um sonho transcrito para o cinema. E eu sou o melhor diretor do mundo".
O diretor de "Dogville" só se mostrou disposto a falar sobre o cineasta russo Andrei Tarkovski (1932-86), a quem dedica o filme. "Tarkovski sim é um verdadeiro deus. Sua relação com o mundo era profundamente religiosa. Eu também me sinto assim". E também destilou ironia ao comentar sua relação com os espectadores e jornalistas. "Não acredito no esforço de conquistar público para meus filmes. E não me incomodo com os ataques de vocês. Sempre fui atacado pela imprensa, e gosto disso".
O ator Willem Defoe, que interpreta o marido terapeuta do filme, que controla a mulher e mais tarde é subjugado por ela, comentou que Von Trier quase não conversa com os atores e não permite nenhum tipo de preparação ou ensaio antes das cenas. "O resultado é que, depois de alguns dias, você fica muito mais flexível e aberto aos impulsos e instintos".
A inglesa Charlotte Gainsbourg, filha de Jane Birkin e Serge Gainsbourg, que interpreta a mulher do filme, protagonista das piores cenas de violência, seguiu Von Trier e também falou pouco. "O mais difícil não foram as cenas de sexo ou nudez, mas aquelas que envolviam muita emoção e sofrimento. Foi uma experiência agradável, mas de uma maneira estranha".
Thiago Stivaletti
Colaboração para o UOL, de Cannes
Alexandre Rios.
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Obama, Bush, tortura, "change"
A tortura da CIA e a pergunta de Cheney
O prisioneiro é amarrado a uma prancha, com os olhos tapados e um pano enfiado na boca. Os interrogadores despejam água em seu rosto, sufocando-o. Essa foi uma das técnicas de interrogatório empregadas por agentes da CIA contra os terroristas da Al-Qaeda - a técnica do afogamento. Barack Obama chamou-a de tortura. Nós, os defensores da prática, impenitentes, preferimos chamá-la burocraticamente de "técnica incrementada de interrogatório".
Quem está certo? Barack Obama está certo: é tortura. Uma tortura mansa, dócil, amena, tanto que alguns jornalistas se submeteram espontaneamente a ela. E se um jornalista encara o sofrimento, é sinal de que qualquer um pode encará-lo. Mesmo assim, é tortura. E tortura é sempre imoral. Mas a pergunta repetida insistentemente por Dick Cheney, depois que Barack Obama decidiu divulgar o relatório sobre os episódios de tortura praticados pela CIA, tem de ser respondida: é mais imoral torturar um terrorista ou permitir um atentado? Porque esse é o melhor argumento usado por Dick Cheney. Ele garante que a técnica do afogamento salvou vidas, impedindo uma nova série de atentados nos Estados Unidos, nos mesmos moldes dos ataques de 11 de setembro de 2001. Ele garante também que a prova desse fato está contida nos documentos da CIA que Barack Obama, até agora, preferiu omitir, mantendo o sigilo.
O que se sabe com certeza é que Khalid Shaikh Mohammed, acusado de ser o organizador dos atentados de 11 de setembro, foi capturado nos primeiros meses de 2003, numa cidade paquistanesa. Interrogado sobre os planos da Al-Qaeda para novos atentados terroristas nos Estados Unidos, ele se limitou a dizer: "Esperem para ver". Em vez de esperar para ver, a CIA torturou-o com a técnica do afogamento. Sim: 183 vezes. Sim: deu resultado. Depois de alguns dias, Khalid Shaikh Mohammed dedurou um terrorista conhecido como Hambali, cuja captura permitiu o desmonte de uma célula composta por 17 membros da Jemmah Islamiyah, que tinha planos para realizar uma "Segunda Onda" de atentados contra os Estados Unidos, na Costa Oeste. Quantas vidas foram salvas com isso? É o que os documentos da CIA podem ajudar a esclarecer.
Os interrogadores da CIA foram comparados aos torturadores de Pol Pot. Do mesmo modo que a guerra no Iraque foi comparada às Cruzadas, Gaza foi comparada ao gueto de Varsóvia e a crise financeira do ano passado foi comparada à de 1929. Nós estamos numa era de embustes históricos, usados para camuflar a propaganda eleitoreira. É perturbador admitir que a tortura, aplicada de maneira limitada - contra Khalid Shaikh Mohammed e outros dois terroristas -, num período igualmente limitado - nos meses posteriores aos atentados de 11 de setembro de 2001 -, possa ter contribuído para salvar centenas de pessoas. Mas os fatos perturbadores precisam ser questionados sem medo, mesmo que a resposta contrarie tudo aquilo em que sempre acreditamos. O erro é "esperar para ver". Ninguém deve esperar para ver.
(Diogo Mainardi)
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Obama anuncia reabertura de tribunais militares da era Bush
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou nesta sexta-feira que vai reabrir os tribunais militares para suspeitos de atos terroristas que se encontram detidos na prisão da base naval americana de Guantánamo, em Cuba.
[...] Durante a campanha presidencial, Obama chegou a chamar os tribunais de ''um enorme fracasso''.
Ao anunciar a decisão, o presidente dos Estados Unidos afirmou que a decisão se deu por esta ser ''a melhor maneira de proteger o nosso país e garantir nossos valores mais profundos''.
O restabelecimento dos tribunais militares despertou críticas de pessoas ligadas à ala esquerda do Partido Democrata e ativistas de direitos civis. Foi o segundo revés sofrido por eles durante esta semana.
Na quarta-feira, Obama também voltou atrás em sua decisão de divulgar fotos de métodos de interrogatório considerados extremos e praticados por forças americanas contra supostos terroristas. [...]
Thales Azevedo.
quinta-feira, 14 de maio de 2009
Um, dois, três
domingo, 10 de maio de 2009
O novo Tarantino: "um bando de caras em um filme de missão"

Por Kristin Hohenadel
Tradução: Eloise De Vylder
"Tínhamos que fazer uma cena para dizer ao público que estamos na França", disse Tarantino. "É essa."
"Inglourious Basterds", que deve estrear no Festival de Cinema de Cannes em 20 de maio, é o primeiro filme de Tarantino desde "À Prova de Morte", metade de "Grindhouse", filme duplo e fracasso de bilheteria que ele dirigiu com Robert Rodriguez e que foi seu primeiro filme solo desde "Kill Bill Vol. 2" em 2004. Tarantino chama "Inglourious Basterds" de "um bando de caras em um filme de missão". A julgar pelo roteiro, ele deve ter os diálogos rápidos, humor irreverente e violência estilizada típicos do trabalho do diretor.
"Você tem que fazer um filme sobre alguma coisa, e eu sou um cara de cinema, então penso em termos de gêneros cinematográficos", disse. "Então você tem uma boa idéia, e a leva adiante, e normalmente no momento em que você termina, ela pode não se parecer em nada com a sua primeira inspiração. É simplesmente a faísca que começa o fogo."
A faísca que levou a "Inglourious Basterds", com Brad Pitt, Diane Kruger, Mike Myers, Eli Roth e um grande elenco internacional, surgiu na época em que Tarantino trabalhava como funcionário de uma locadora em Manhattan Beach, Califórnia. (A inspiração para "Cães de Aluguel", "Jackie Brown" e outros filmes de Tarantino também vem da mesma época.)
"Os caras da Video Archives diziam assim, 'Quentin, talvez um dia você faça o seu 'Inglourious Bastards'", disse Tarantino, referindo-se ao filme de Enzo G. Castellari ("Assalto ao Trem Blindado", em português), de 1978 (com a grafia convencional da palavra "bastards")."Mas eles não tinham nem mesmo visto o filme. Tudo bem, era simplesmente um bom título. Eu amo o filme, não me entenda mal, mas não se trata de uma refilmagem", disse o diretor sobre sua versão.
"Ele estará na categoria original do Oscar", acrescentou com otimismo.
Lawrence Bender, que produziu todos exceto um filme de Tarantino, disse que ficou surpreso quando o diretor ligou para ele no verão passado para avisar que havia terminado a longa gestação do roteiro de "Basterds", e que queria rodar o filme a tempo para Cannes. Tarantino ganhou o principal prêmio do festival, a Palma de Ouro, em 1994 por "Pulp Fiction".
"Ele leu todo o tipo de coisa para mim ao longo dos anos", disse Bender, "mas sempre achei que era algo que ele ia escrever e nunca filmar". (Tarantino é conhecido por dar muitas voltas entre um filme e outro. Ele já dirigiu episódios de séries de televisão, incluindo "CSI", atuou e produziu filmes de outras pessoas, e já foi jurado convidado e "mentor" de "American Idol".)
Um período de seis meses de pesquisa para "Basterds", há sete anos, "paralisou minha escrita por algum tempo", disse Tarantino. Ele pensou em fazer um documentário sobre a 2ª Guerra ou dar aulas em uma faculdade, e até roteirizou uma minissérie de 12 horas. Então, em janeiro de 2008, ele decidiu "tentar mais uma vez para ver se conseguia transformar isso em filme", disse. "Eu não estava lá para ensinar história. Você pode ligar o History Channel - que bem poderia ser chamado de Hitler Channel. Eu só queria contar minha história e ter a mesma liberdade que teria ao contar qualquer história. Quero que o processo de escrever seja tão envolvente que eu precise me perguntar se preciso mesmo fazer o filme".
O roteiro não editado de Tarantino circulou pela internet poucos dias depois de ele ter terminado. "Aquilo foi muito pessoal, com erros de digitação e tudo mais", disse ele, mencionando que o datilografou com apenas um dedo na mesma máquina de escrever Smith Corona de 1987 que usou para fazer "Cães de Aluguel" e "Pulp Fiction". "Eu tinha a intenção de revisar quando o publicássemos."
Não que ele vá mudar o título. "'Basterds' deve ser escrito com 'e' mesmo", diz ele. "A palavra soa como se tivesse um 'e'". E gritou: "Basterds! Basterds!" com algo que parecia um sotaque de Boston: muito mais "BAS-tids" do que "BAS-terds". (Quanto à grafia de "Inglourious", Tarantino disse: "Não dá para explicar essas coisas. É um lance de cinema".)
Um homem com um rádio amador cutucou o braço de Tarantino. "Desculpe, tenho que gravar a prostituta do vaudeville", disse ele, e foi para dentro do bistrô para rodar uma cena em que Shosanna (a atriz francesa Melanie Laurent), uma jovem judia escondida que administra um cinema em Paris, senta-se à mesa de um astro de matinês e soldado nazista disfarçado (o ator alemão Daniel Bruehl) que tenta conquistá-la.
Tarantino observava os atores como se fosse o dono do estabelecimento espionando o casal no salão, mal olhando para o monitor ao seu lado. "Eu olho pela câmera para estabelecer a cena", disse ele entre as tomadas, "mas depois prefiro assistir à encenação e ouvi-la. Do contrário, é o monitor que dirige o filme".
Assim como outros 70% de "Inglourious Basterds", esta cena foi feita em francês e alemão, que é apenas mais uma das razões pelas quais não se trata daquele filme de 2ª Guerra do seu pai. "Quando você vê alemães falando inglês com sotaque alemão ou parecendo atores britânicos, parece muito estranho e antigo", disse Tarantino.
"Essa é uma coisa que não quero que aconteça nesse filme. Se Spielberg ainda não tivesse feito 'A Lista de Schindler', costumo brincar que, depois do nosso filme, ele ficaria constrangido se não fizesse o dele em alemão."
(Executivos da Weinstein Co. disseram que a grande utilização de legendas não lhes deu folga. "Tarantino é uma linguagem universal", disse Tom Ortenberg, presidente para obras cinematográficas.)
Bruehl disse que foi a abordagem dessacralizada do diretor em relação à dolorosa história alemã que o atraiu para o papel. "Estou curioso para ver como o filme será recebido na Alemanha", disse Bruehl, 30, que coloca o filme na mesma tradição de "To Be or Not to Be" (1942), de Ernst Lubitsch, e de "O Grande Ditador" (1940), de Charlie Chaplin. "Se uma comédia é inteligente e tem profundidade, é uma forma bastante legítima de falar sobre o fascismo na Alemanha nazista, que também foi um grande espetáculo - e bem ridículo, pensando bem."
O roteiro está repleto de referências e piadas sobre cinema, e intrigas que envolvem atores e estreias de filmes. O ministro de propaganda de Hitler, Joseph Goebbles, é retratado como um típico diretor de estúdio. ("As pessoas escrevem sobre o horror dos filmes antissemitas", diz Tarantino, "mas a maioria dos 800 filmes que ele fez foi de comédias e musicais".) E pode-se dizer, sem querer estragar a penúltima cena que dá uma reviravolta na história, que o cinema salva o mundo.
O designer de produção David Wasco, que participou de todos menos um filme de Tarantino, disse que apesar de eles terem trabalhado para reproduzir o período usando fotos e documentos originais, "praticamente 90% é baseado em referências cinematográficas". "É um mundo de época de Tarantino", acrescentou. "Foi isso que o ajudamos a fazer aqui."
Tarantino disse: "Toda essa coisa do cinema acontece mais ou menos naturalmente. Basicamente é nisso que eu me interesso."
Mais tarde naquele dia, garrafas de champanhe apareceram na calçada, e Tarantino pediu um brinde em homenagem ao 800º rolo de filme. Ele circulou, brindando com copos de plástico enquanto anoitecia na cidade, com uma palavra e um sorriso para cada um.
Os Basterds [os bastardos] - soldados judeus do filme, apelidados assim pelos nazistas - não foram à gravação em Paris, mas sua presença podia ser sentida no corte de cabelo "à la basterd", já crescido, que Tarantino exibia. "Os Basterds não podem se dar ao luxo de ser apenas soldados", diz. "Eles têm o dever de ser guerreiros, porque estão lutando contra um inimigo que tenta varrê-los da face da terra."
Tarantino, que nasceu no Tennessee, disse que suas fantasias de vingança estão mais ligadas à Ku Klux Klan. "Mas é tudo a mesma coisa", disse. "Uma vez que os Basterds passarem pela a Europa, eles poderão ir para ao sul dos EUA e fazer o mesmo com os Kluxers nos anos 50. Essa é outra história a ser contada."
Para não falar de um subroteiro engavetado sobre soldados afro-americanos presos atrás das linhas de frente inimigas. "Tenho um roteiro já pela metade sobre a história anterior a essa, pronto para ser filmado, se esse filme for um sucesso", disse Tarantino.
Alexandre Rios.