
Antes de qualquer coisa, o filme não é panfletário. Até porque Che Guevara é friamente levado às telas por Soderbergh. É quase documental, tornando tudo mais atraente e dando credibilidade a um filme que poderia ser descartável se adotasse uma visão extremamente ideológica dos fatos. Há, sim, uma tendência à esquerda. Mas, no final das contas, o resultado é satisfatório. Somos eficientemente inseridos ao processo da guerrilha iniciado nas montanhas cubanas rumo à capital. Não há um bombardeio de informações externas, de opiniões e visões dos fatos, apenas um processo - com toda a lentidão que isso pode representar, claramente sentido por alguns espectadores que pretendiam ver algum filme com mais ação e menos diálogos. Boa parte dos diálogos, aliás, externada nos discursos de Che Guevara na ONU e em entrevistas com a jornalista americana Lisa Howard na sua viagem a Nova York em 1964.
Calma, amigos leitores. O filme não é uma obra-prima. Até porque essa é apenas a primeira parte do longa – e pelo o que eu tenho lido por aí, a segunda é um desastre. Para aqueles que não concordam com as idéias de Che – e neste aspecto eu ainda tenho uma opinião, digamos, em formação – há aspectos de valor considerável no filme. Soderbergh fez um bom trabalho. A fotografia é bela e a trilha sonora eficiente. Além da atuação magistral de Benico del Toro – a cópia fiel de Guevara -, vemos os destacados Demián Bichir interpretando Fidel Castro, o principal organizador da Revolução Cubana, e Santiago Cabrera na pele de Camillo Cienfuegos, outro guerrilheiro importante.
Resumindo, a primeira parte desse projeto ambicioso é muito melhor do que a maioria dos filmes que chegam aos cinemas no momento atual. Uma primeira parte de um filme que deve ser, no final das contas, irregular – mais ou menos como a carreira de Steven Soderbergh, diretor que já foi indicado a dois Oscar em uma só edição, quando venceu por Traffic em 2001, mas que não tem realizado produções marcantes. Nesse sentido ele deve muito a Benicio del Toro, vencedor do último Festival de Cannes não por acaso e, muito menos, graças a votos de "malditos comunistas". Isso, amigos, é talento e independe, dentre outros fatores, de posição ideológica.
Alexandre Rios.
2 comentários:
Gostei do teu blog também. Bacana isso de abordar diversos temas. E quanto à isso de prodigio, é nada, hehe.
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