sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Talking Heads - Once In A Lifetime
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
A Criação do Mundo, vista pelo Manhattan Connection
( Prólogo )
LUCAS MENDES ( para a câmera ): Em Saturno, vão-se os anéis e ficam as ênclises. Em Vênus, avistar o monte a olho nu só pode dar sacanagem. Em Mercúrio, o Sol é para todos - literalmente. Na Terra recém-criada, um jardim, uma macieira e uma descoberta de extrema gravidade, e não, não falamos de sir Isaac Newton. Aqui, na conexão, os quatro cavaleiros do Apocalipse que falarão mesmo é do Gênesis: Caio Blinder, Diogo Mainardi, Ricardo Amorim e Pedro Andrade.
( Entra a abertura, com a musiquinha que lembra show erótico, e o vocal masculino sussurrando algo que soa como “I’m demented, I’m demented”. Volta Lucas Mendes )
LUCAS MENDES: Nesta semana foi criada a Terra, e ontem Deus já parou pra descansar. ( para Caio Blinder: ) Isso mostra que Deus é brasileiro?
CAIO BLINDER: Bom, quem odeia o Brasil irá concordar que isso demonstra a lassidão dos trópicos. Quem gosta do Brasil verá nisso a magnificência de ser brasileiro, e...
DIOGO MAINARDI ( em off ): Isso, Caio. Explica a piada, e desenha, também, pro Lula colorir.
CAIO BLINDER ( risadinha nervosa ): Eu faria isso se você não me interrompesse a todo momento ( volta-se para Lucas Mendes: ) O caso é que Deus pode ter se naturalizado brasileiro mas na verdade é israelense. Assim, não vai faltar quem diga que isso tudo é lobby judaico para dominação do Éden. ( outra risadinha nervosa )
LUCAS MENDES: Ô, Ricardo. Por que Deus foi criar justo a Terra?
RICARDO AMORIM: Olha, Lucas, tem que ver a conjuntura. O negócio é que Deus pensou grande e criou primeiro Saturno - mas a construção dos anéis acabou superfaturada, e isso começou a sugar a verba feito um buraco negro. Como planeta é commodity, as ações sofreram uma queda acentuada, desestabilizando a liquidez e gerando boatos de quebra no mercado financeiro. Foi para abafar isso tudo e desviar a atenção que Deus criou a Terra.
LUCAS MENDES: Ô, Diogo. Por que os anéis de Saturno foram superfaturados, hein?
DIOGO MAINARDI: Bom, o escândalo do anelão foi surpresa só pra quem não acompanha o noticiário. Quem leu minha coluna na Veja de dois meses atrás sabe que só tinha lulista na licitação. Agora, claro, os governistas vão dizer que a CPI de Saturno é golpe.
CAIO BLINDER ( em off ): Diogo, pra Paulo Francis só estão faltando as penas, hein?
DIOGO MAINARDI: Que penas, Caio?
CAIO BLINDER: As penas pro crime de calúnia e difamação, depois do processo da diretoria da Petrobras! ( Cai na risada. Nervosa )
( Diogo diz que Caio melhorou muito as piadas, o que já não aconteceu com as opiniões; Ricardo diz que Diogo está se esquecendo das licitações cósmicas na era FHC – falam todos ao mesmo tempo, igual a um Saia Justa de cuecas )
LUCAS MENDES: ( pondo ordem na casa ) No próximo bloco, uma maçã que deu o que falar – e não, não falamos da administração Bloomberg. Enquanto isso, fiquem com cenas de “Seis dias que abalaram o Mundo”, mostrando a Criação, dia a dia: a luz, as águas, a terra, as plantas, os animais e o homem, ao som deBegin the Beguine, de Cole Porter. Angélica, no princípio eram as trevas?
( Entram as cenas que Lucas anunciou, com a trilha. Corta para os comerciais. Entra novamente a musiquinha pornô. Volta o bloco )
LUCAS MENDES: No princípio era o verbo. Depois entrou o sujeito oculto. Ele trouxe uma maçã, pra testar os predicados de Eva. Que ficou cheia de reticências, e...
DIOGO MAINARDI ( em off ): Ô, Lucas. Quem redige esses textos aí é o Caio...?
CAIO BLINDER ( risadinha nervosa ): Caramba, o Diogo deve ir dormir pensando em mim.
DIOGO MAINARDI: Penso, sim. Os carneirinhos já não estavam mais tão monótonos.
LUCAS MENDES: ( retomando a palavra ) Bom, como eu ia dizendo, uma maçã pôs tudo a perder. Adão e Eva perderam o paraíso, Deus perdeu a confiança na raça humana e o redator da Bíblia perdeu a paciência, porque a partir daí ele pula direto para a Arca de Noé. Ô, Ricardo, pode uma maçã fazer isso tudo?
RICARDO AMORIM: Claro que pode, Lucas: a maçã, uma valiosa commodity numa monocultura como era o caso do Éden, estava supervalorizada. Quando ela caiu na cotação agrícola, por causa da serpente, o spread negativo puxou pra baixo todo o segmento de hortifruti, que é o setor produtivo mais presente no Gênesis. Depois disso, só o dilúvio mesmo.
( Entra outro momento Saia Justa porque Diogo Mainardi acha que a pecuária é que é o setor mais produtivo do Gênesis, e que isso de privilegiar a lavoura é coisa de esquerdista; Caio Blinder entende “skatista” e, com uma risadinha nervosa, pergunta o que será então que os surfistas acham; Ricardo Amorim afirma que ele mesmo faz trekking, mas não vê correlação entre as coisas; Lucas Mendes mais uma vez põe ordem na casa, anunciando o próximo bloco. Entra musiquinha pornô etc, volta musiquinha pornô, entra de novo Lucas Mendes )
LUCAS MENDES: Nosso correspondente no jardim do Éden, Pedro Andrade, fala agora dos melhores points turísticos do local, além da culinária. Pedro, Eva viu a uva?
( Pedro Andrade aparece seminu, trajando só uma gravata e uma folha de parreira. Ao fundo, o Jardim do Éden )
PEDRO ANDRADE: Claro que viu, Lucas: afinal, foi da parreira que ela tirou a folha pra se cobrir. Mas Eva viu também o potencial da maçã. A partir daí, a culinária no paraíso nunca mais foi a mesma. Eu mesmo já provei, aqui no Heaven’s Gate - o restaurante mais descolado do Éden - todas as especialidades de appfelstrüdel, e falei com o casal de proprietários, que garantiram que não experimentar é que é um pecado.
( Pedro Andrade então começa a conversar em hebraico com Adão e Eva. Os dois falam ao mesmo tempo, com tradução simultânea de Pedro, em áudio sobreposto. O casal passa a discutir acaloradamente porque Eva quer inventar uma nova utilidade para a maçã, que é colocá-la na boca de um porco assado, mas Adão argumenta que isso não é nada kosher. O clima esquenta. Eva acusa Adão de não ter visão comercial. O Anjo Gabriel entra no meio com a espada de fogo. Pedro prudentemente sai de cena, mastigando um naco do pernil e fazendo sinalzinho de aprovação para a câmera. Fecha o bloco. Música pornô, comercial, música pornô. Volta o estúdio )
LUCAS MENDES: Bom, já que o assunto do programa é a Criação, e mais especificamente, o Todo-Poderoso, a pergunta da semana é: Paulo Francis morreu?
DIOGO MAINARDI: Morreu pra você, âncora ingrato. Pro Caio ele continua lá, puxando o pé até hoje.
RICARDO AMORIM: Olha, Lucas, só se foi num dia em que ele estava com baixa auto-estima...
CAIO BLINDER: O Francis, com baixa auto-estima?!?!? ( risadinha histérica )
Thales Azevedo.
O Bolsa Família, segundo Lula
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
domingo, 23 de agosto de 2009
Onde Vivem os Monstros - Trailer
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Band On The Run - Paul McCartney and The Wings

Paul McCartney, John Lennon, George Harrison e Ringo Starr tinham uma tarefa difícil após o fim dos Beatles. Afinal, os discos lançados por eles teriam sempre a sombra do quarteto mais famoso de todos os tempos e seriam, inevitavelmente, alvos de comparação – e comparar qualquer coisa com os Beatles é quase sempre uma covardia. Além do mais, a expectativa em torno dos materiais lançados seria das maiores na música. Pode-se dizer que McCartney não estava correspondendo a elas, lançando discos que apesar de conquistarem um ótimo número de vendas não estavam exatamente à altura da sua capacidade provada com os Beatles. Até que surgiu, no dia 5 de novembro de 1973, Band on the run. E eu ouso dizer que este álbum não deve muita coisa aos melhores discos dos Beatles.
Muitos problemas ocorreram no processo de gravação. O The Wings deveria contar com os cinco integrantes nos estúdios: Paul e Linda McCartney, Denny Lane, Denny Seiwell e Henry McCullough. Este último abandonou o projeto devido a divergências e cansado das exigências musicais de Paul. O baterista Denny Seiwell foi outro que pulou a barca quando foi decidido gravar o disco na Nigéria, algo que parecia bastante excêntrico e desnecessário. Os Wings, então, com três integrantes partiram para a África e logo perceberam que poderiam ter entrado numa encrenca.
Como pode-se perceber nos seguintes trechos retirados do site Whiplash: “(...) Ao chegarem em Lagos, logo perceberam quão mal planejado fora todo o projeto. Descobriram que o país estava sobre domínio militar já fazia sete anos e que soldados com metralhadoras poderiam ser encontrados em qualquer ponto da cidade. Viram um grande numero de pessoas pedindo esmola, mas o que lhe parecia mais absurdo era que muitos destes eram leprosos, andando no meio do povo. Ficaram chocados ao encontraram varias valas com esgoto a céu aberto ao lado das ruas. Rapidamente perceberem também que absolutamente nada era resolvido sem molhar a mão de alguém.
O clima de Lagos também foi motivo para desânimo. Setembro sendo véspera da estação de chuvas, o calor era insuportável e isto teve seqüelas. Certa noite Paul não conseguiu encontrar ar. Ele foi para a rua tentar respirar ar puro, mas era uma noite de calor tão abafada que ele acabou desmaiando. Linda o acudiu, apavorada pensando que ele estivesse morto. Levado a um hospital, o médico, sem encontrar motivo para alarde, apenas recomendou que Paul parasse de fumar ou pelo menos diminuísse consideravelmente o seu hábito. Em Londres, um médico concluiu que ele sofrera de um espasmo dos brônquios.”
Além de problemas territoriais, as condições dos estúdios eram bem inferiores ao que estavam acostumados na Europa – “(...) O estúdio da EMI ainda não estava completamente construído, iniciando uma caça a microfones, necessidade de molhar a mão das pessoas para acelerarem a construção da cabine à prova de som e terminar de instalar a fiação da mesa de som. O gravador do estúdio era uma velha Studer de oito canais de segunda mão, que provavelmente já vira melhores dias.” Mas é provável que todos esses problemas tenham contribuído para o sucesso do disco, já que era preciso dar o dobro para conseguir os objetivos. E talvez tenha sido mais ou menos por aí até a conclusão de todo o material na Inglaterra.
Afinal, Band on the run é absolutamente genial, um dos grandes da década de 70 – foi considerado o melhor disco do ano de 1973 e ficou um bom tempo nas paradas de sucesso. A começar pela faixa-título – reparem na capa do cd, com a banda em fuga -, uma música com melodia perfeita, que parece ter vários capítulos compilados harmoniosamente – If I ever get out of here/thought of giving it all away to a registered charity/ all I need is a pint a day if I ever get out of here”. A segunda faixa, “Jet”, acabou se consolidando como a mais famosa do álbum e é com certeza uma das mais divertidas. “Bluebird” lembra “Blackbird” do White Album e interrompe por um momento a existência das competentes guitarras no disco. Com certeza uma música agradabilíssima, assim como “Mamunia” - palavra que significa “abrigo seguro” no árabe e traz todo esse clima. “Let me roll it” talvez seja a minha preferida, um rock and roll clássico, daqueles que merecem aplausos do início ao fim, configurando-se como a faixa mais competente tecnicamente.
Retirando mais uma vez trechos da página Whiplash, a quarta faixa Mrs. Vanderbilt "oferece uma fantasia como letra. A familia Vanderbilt é uma rica e influente família americana de Nova York cuja fortuna vem da ferrovia. Foram os donos originais do Grand Central Station, do Madison Square Garden e em outros tempos, possuiam o terreno hoje conhecido como o bairro do Bronx.” A belíssima “No Words” é, dizem, uma carta para John Lennon – you say that love is everything/ and what we need the most of I wish you knew/that's just how true my love was.” Ainda temos a divertida “Helen Wheels”, que inicialmente não pertencia ao disco, com um trocadilho com “hell on wheels”, além da música “Picasso´s Last Words”, uma homenagem óbvia ao grande pintor – the grand old painter died last night/ his paintings on the wall/ before he went he bade us well/ and said goodnight to us all – e “Nineteen hundred and eight five”, que encerra o disco.
Band on the run é considerado um dos melhores discos de todos os tempos e é a maior referência da carreira pós-Beatles de Paul McCartney. Pessoalmente, eu o considero um dos meus álbuns favoritos. É uma das provas de que Paul McCartney – sem tirar os méritos do The Wings – é um dos grandes gênios da música e um dos mais carismáticos. Um verdadeiro ícone de todas as gerações.
Alexandre Rios.
Apocalypse Now - 30 anos
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Yoani Sanchez e Geração Y
domingo, 16 de agosto de 2009
Pink Floyd - Brain Damage/Eclipse
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
"De que lado está o Brasil?"
Um editorial na edição desta semana da revista britânica The Economist afirma que chegou o momento de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fazer uma opção clara pela defesa da democracia em nível internacional e “decidir quais são seus verdadeiros amigos” entre os líderes mundiais.
Segundo a publicação, a estabilização econômica, aliada à “cordialidade” e ao “instinto de conciliação” de Lula - “que faz com ele tenha amigos em todo lugar” -, fizeram do Brasil um país influente em nível internacional.
No entanto, esta influência, na opinião da publicação, não veio com o “peso da responsabilidade” que deveria acompanhá-la, o que faz com que Lula corra o risco de deixar um legado “decepcionante” e “ambíguo”.
"O Brasil precisa decidir o que realmente defende e quais são seus verdadeiros amigos, ou corre o risco de que outros façam esta escolha em seu lugar.”
Segundo a revista, o governo Lula tem mostrado uma “embaraçosa negligência com a democracia fora de suas fronteiras”.
Entre os exemplos desta postura, a publicação cita o “alinhamento do Brasil na ONU com países como China e Cuba para proteger regimes abusivos” e o fato de Lula ter comparado a crise que se seguiu às eleições presidenciais iranianas às reclamações da torcida de um time que perde uma partida de futebol.
Chávez
O editorial teve chamada de capa (no alto à dir.)
A revista também critica a postura adotada por Brasil em relação ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que classifica como “um homem que ameaça começar uma nova Guerra Fria na região”, referindo-se às desavenças em relação ao possível acordo sobre o uso de bases militares colombianas pelos Estados Unidos.
“Só um paranoico pode conceber (o acordo) como uma ameaça à Venezuela e à Amazônia. Mesmo assim, o Brasil decidiu expressar preocupação com as bases, permanecendo em silêncio em relação às evidências de que membros do governo Chávez venderam armas às Farc”, diz a revista.
A Economist finaliza dizendo que o modo de Lula evitar uma “nova guerra fria” na região é “não confundindo democratas e autocratas”.
“(Lula) deve envergonhar Chávez fazendo uma defesa pública da democracia, o sistema que permitiu que um pobre torneiro mecânico subisse ao poder e mudasse o Brasil. Por que os outros países merecem menos?”, diz a publicação.
(BBC Brasil - Texto original completo aqui)
Thales Azevedo.
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Hitchcok 110 anos depois

quarta-feira, 12 de agosto de 2009
The Dead Weather - Horehound

Só por aí, se podia esperar algo diferente. Sabendo que quem completa a nova banda é Dean Fertita, do Queens of the Stone Age, que assume teclados e guitarra, e Jack Lawrence, do Raconteurs, que toca baixo e guitarra, já vamos imaginando o que os ouvidos poderão receber.
E causa alguma estranheza a primeira audição do novo disco de Jack White. Quer dizer, de seu novo projeto, pois é preciso lembrar que seu nome aparece nos créditos de apenas uma das canções, "I Cut Like a Buffalo" - que, aliás, é puro Raconteurs. Em outras seis ele os divide com Alison ou Dean. E isso faz da banda realmente uma banda e não um punhado de músicos que acompanham White. Ouvindo "Horebound" logo se vê que o Dead Weather não é outro White Stripes ou um novo Raconteurs.
O repertório traz fortes influências dos anos 70 e do garage rock, nas guitarras sujas e pesadas e nos vocais rasgados, temas mundanos - com direito a referências ao cramulhão em "Hang You from the Heavens" -, boas doses de blues - em " Will There Be Enough Water?" -, mas junta a isso efeitos e vocais falados, como acontece em "Treat Me Like Your Mother".
Apesar da alta carga energética de canções como "60 Feet Tall", que tem cara de uma jam entre amigos, e "Bone House", "Horebound" não é do tipo que estoura nas paradas de sucesso. É um álbum feito para um público específico: os já fãs dos músicos envolvidos e os saudosistas do estilo garageiro - que gostarão especialmente se ouvirem antes de saber quem toca no álbum.
Além das canções acima citadas, a bela versão para "New Pony", música de Bob Dylan, também merece menção. Enquanto diversos artistas alternativos trocam as guitarras sujas pelos sintetizadores e sonoridades acústicas roubadas do folk, White cisma em correr na direção contrária. E o faz com propriedade. "
Resenha publicada no site www.rockonline.com.br por Lizandra Pronin em 3/8/2009.
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Aí embaixo vai o ótimo clipe da música "Treat Me Like Your Mother", uma das melhores do disco.
Eduardo Vasconcelos.
Caro Francis - Trailer oficial
terça-feira, 11 de agosto de 2009
David Letterman entrevista Paul McCartney
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
Depois de Horas

Apesar de ser despretensioso e funcionar muito bem como uma demonstração estilística de Scorsese, o filme vai além e mostra, quase num neo-realismo moderno, os grandes centros urbanos – ora, Nova York é a mais emblemática representante – com suas relações interpessoais, as marcas de solidão, medo, desconfiança, individualismo, as insatisfações rotineiras, paranóia e o desejo de libertação através da diversão. Tudo com um toque de humor negro absolutamente genial, que nos faz rir de nossas próprias condições nas sociedades modernas e dinâmicas. Afinal, os limites entre o prazer, a decepção e o medo se confundem nas cidades, que podem levar em pouco tempo a conquista ao trauma. Aliás, não há como esquecer a cena em que Paul Hackett ajoelha-se e questiona aos céus o porquê de tudo aquilo estar acontecendo justamente com ele, um mero programador que queria apenas sair da rotina.
A direção com o carimbo de qualidade de Martin Scorsese, a trilha sonora basicamente oitentista, o roteiro frenético, as atuações – destacando-se o carismático Griffin Dunne -, as situações absurdas, os diálogos inteligentes, os personagens curiosos e assustadores, os desencontros e Scorsese a segurar um holofote numa festa punk fazem deste filme uma sátira assustadora das sociedades contemporâneas, ou seja, um delicioso pesadelo urbano.
Alexandre Rios.