
Apesar de ser despretensioso e funcionar muito bem como uma demonstração estilística de Scorsese, o filme vai além e mostra, quase num neo-realismo moderno, os grandes centros urbanos – ora, Nova York é a mais emblemática representante – com suas relações interpessoais, as marcas de solidão, medo, desconfiança, individualismo, as insatisfações rotineiras, paranóia e o desejo de libertação através da diversão. Tudo com um toque de humor negro absolutamente genial, que nos faz rir de nossas próprias condições nas sociedades modernas e dinâmicas. Afinal, os limites entre o prazer, a decepção e o medo se confundem nas cidades, que podem levar em pouco tempo a conquista ao trauma. Aliás, não há como esquecer a cena em que Paul Hackett ajoelha-se e questiona aos céus o porquê de tudo aquilo estar acontecendo justamente com ele, um mero programador que queria apenas sair da rotina.
A direção com o carimbo de qualidade de Martin Scorsese, a trilha sonora basicamente oitentista, o roteiro frenético, as atuações – destacando-se o carismático Griffin Dunne -, as situações absurdas, os diálogos inteligentes, os personagens curiosos e assustadores, os desencontros e Scorsese a segurar um holofote numa festa punk fazem deste filme uma sátira assustadora das sociedades contemporâneas, ou seja, um delicioso pesadelo urbano.
Alexandre Rios.
2 comentários:
Muito boa critica...quero ver muito esse, acho q vai ser o proximo Scorça..
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