quinta-feira, 29 de outubro de 2009
Dieu est un fumeur de Havanes
sábado, 24 de outubro de 2009
Noites Brancas
Na Mira da Morte

sexta-feira, 23 de outubro de 2009
O caso Maitê Proença
Por João Pereira Coutinho
Acordo com telefonema de amigo indignado. Verdade. Tenho amigos indignados, mas prometo resolver o assunto em breve. "Viste o vídeo da Maitê Proença?", perguntou ele, como se a Alemanha nazista tivesse invadido a Polônia novamente.
Esfreguei os olhos, despedi-me do sono e procurei na memória o nome "Proença, Maitê". Após alguns segundos de esforço, encontrei um velho arquivo da minha adolescência. E respondi: "Mas que vídeo, rapaz?"
Ele explicou. A atriz Maitê Proença esteve em Portugal em 2007. Gravou um vídeo para o programa "Saia Justa", da Globo GNT. No vídeo, Maitê passeia pela terrinha e goza (no sentido português do termo) com a burrice dos lusitanos.
Os lusitanos não gostaram do vídeo. Lançaram petições na internet. Exigiram pedidos de desculpas, como se o Palácio do Planalto tivesse bombardeado o mosteiro dos Jerónimos.
Maitê entrou no baile e pediu desculpas: ela ama Portugal, ela ama os portugueses, ela jamais pensou em ofendê-los, e bla bla bla. De nada serviu. Os jornais e as televisões fizeram render o peixe e existem cartazes com o rosto de Maitê pela cidade de Lisboa, como no antigo faroeste. Invento, claro, mas vocês percebem a idéia.
E o vídeo? Acabei por assistir ao dito cujo, ainda em pijama, e pasmei com a insignificância do mesmo. Insultuoso? O único crime de Maitê Proença foi a sua incapacidade para produzir humor: com a exceção do momento em que a atriz brinca com o número de uma porta pregado ao contrário, o resto é infantil e entediante. Pena. Sempre gostei de piadas de portugueses. Dizem que nas piadas existe um fundo de ternura, ou de rebeldia: a atitude própria de um adolescente perante os avós conservadores e atávicos. Talvez.
Mas gosto das piadas de portugueses porque elas transportam, Deus me perdoe, um eco de verdade. Eu sei. Eu faço parte da espécie. Eu convivo diariamente com ela: com o atraso, a mesquinhez, a inveja. O provincianismo. E não existe português vivo que não tenha com Portugal essa mesma relação obsessiva, feita de crítica, sarcasmo e autofagia.
Eis o problema: se o vídeo tivesse sido feito por um português, os outros portugueses aplaudiriam. Bater na pátria é mais do que hábito; é a nossa identidade cultural.
Acontece que o vídeo foi feito por uma estrangeira. Pior: por uma brasileira. Um pormenor que altera o quadro. Duplamente. Primeiro, porque mexe com os seculares complexos de inferioridade dos portugueses: o brasileiro, como diria o Eça, pode ser um português dilatado pelo calor. Mas o Brasil é também um Portugal dilatado pela diversidade, pela riqueza e pelo gigantismo. Portugal em ponto grande. E com futuro.
Mas existe um segunda explicação para o ódio público: o vídeo de Maitê Proença foi apenas um pretexto, e um bom pretexto, para que o português típico pudesse descarregar os seus preconceitos típicos sobre os brasileiros. Esses preconceitos existem na sociedade portuguesa. E com a vaga recente de imigração brasileira mais pobre, pioraram e azedaram. Não vale a pena revisitar o cardápio de pensamentos funestos. Basta caminhar por Lisboa. Olhar. Escutar. As piadas sobre portugueses ainda têm piada. A xenofobia dos portugueses sobre os brasileiros não tem piada alguma.
Antes de assinarem petições ou pedirem a cabeça de uma atriz de novelas, os portugueses indignados deveriam perguntar seriamente quando foi a última vez que trataram um brasileiro como "ladrão" e uma brasileira como "prostituta". Tenho a certeza que a indignação passa depressa.
Alexandre Rios.
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Palavras para as vésperas
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Uma loura por um milhão




terça-feira, 20 de outubro de 2009
Os desejos ocultos dos donos da terra

domingo, 18 de outubro de 2009
The Maranhão Herald - O diário maranhense

Retirado do site da Piauí - a revista mais criativa do país!


sexta-feira, 16 de outubro de 2009
O Bandido da Luz Vermelha
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Profissão: Repórter

Por Guilherme Vasconcelos.
Profissão:Repórter inicia-se na África e gira em torno de David Locke, um repórter de uma emissora inglesa encarregado de produzir um documentário sobre a guerrilha do Tchad. Insatisfeito, cansado e frustrado com a mediocridade de sua vida e de sua profissão – um mero observador passivo dos acontecimentos, um homem sempre testemunha e nunca protagonista e com a obrigação utópica de relatar tudo o que presencia com a máxima objetividade – Locke aproveita a morte de seu vizinho de hotel para trocar de identidade e tentar viver uma nova vida, mais livre e excitante do que a anterior.
David Locke, um trocadilho com a palavra lock em inglês para definir “um homem habituado a controlar suas próprias emoções, uma pessoa dificilmente impressionável”, é o repórter que deseja sair da normalidade, que quer participar dos acontecimentos do mundo e não apenas registrá-los, relatá-los e, em um curto espaço de tempo, jogá-los fora (a efemeridade inerente à prática jornalística). Segundo as palavras do próprio diretor do filme, Michelangelo Antonioni, “David Locke, o repórter que muda de identidade, nasceu do desejo de sair para o deserto, para a selva, para onde for possível imaginar uma existência livre e pessoal”.
Profissão: Repórter termina com um longo plano-sequência que dura aproximadamente dez minutos e exigiu onze dias e muito trabalho para ficar pronto. O plano começa quando Locke (Jack Nicholson), agora sob a identidade de Robertson, e sua namorada (Maria Schneider) estão em um quarto de hotel conversando. O quarto, cuja janela é protegida por espessas barras de ferro e dá para uma praça do lado de fora, localiza-se no andar térreo do hotel. Locke fica sozinho, deita-se, acende um cigarro e, lentamente – principalmente para os padrões atuais do cinema hollywoodiano, que incorporou em larga escala a rapidez abrupta da estética dos videoclipes – a câmera percorre o ambiente em direção à janela, atravessa as grades, observa o movimento da praça e do hotel do lado de fora e, por último, retorna à janela, onde se vê a entrada do dono do hotel e de policiais no quarto e logo se percebe que Locke está morto.
Essa triunfal seqüência derradeira tem seu sentido gerado a partir da não-fragmentação do tempo e do espaço e da articulação dos elementos da linguagem cinematográfica. A câmera que foge vagarosamente pela janela é a metáfora da vida do protagonista se esvaindo. Um protagonista que está na cena, mas que não interfere nela, que está no mundo, mas que apenas o observa sem agir. Imprescindível também para a produção de sentidos e para situar o espectador nessa sequência final é a utilização do som e dos ruídos. O som se torna informação essencial, é ele que faz o espectador imaginar o que acontece no quarto enquanto a câmera metaforiza a morte de Locke. É através da associação entre a movimentação apressada dentro e fora do hotel e os ruídos provenientes do quarto que se percebe o que ocorre fora do campo visual.
A segunda morte de Locke – ele já havia morrido na África quando se transformou em Robertson – se assemelha bastante com a fábula do cego que ele próprio havia contado pouco antes: logo depois de recuperar a visão, o cego se suicida diante da violência e da impossibilidade de compreender o mundo
Profissão: Repórter, caracterizado pelo ritmo lento, pelos longos planos e pela desdramatização narrativa – o que se vê aqui é, na verdade, uma anti-narrativa, uma vez que o filme não atinge um clímax propriamente dito e em nenhum momento suscita expectativa e ansiedade no espectador – é a história de um homem que nega a sua profissão e sua vida porque frustrado com a impossibilidade de agir diante dos problemas do mundo. O motivo que leva Locke à África – documentar a guerrilha do Tchad – é tão-somente um pano de fundo para discutir e desenvolver o personagem. Profissão: Repórter trata, sobretudo, da dificuldade de estar em um mundo opressor e de compreendê-lo e modificá-lo. Antonioni filma com excelência essa angústia humana.
Alexandre Rios.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Bones - The Killers
we're gonna look at the stars
We took a back road in my car
Down to the ocean,
it's only water and sand
And in the ocean, we'll hold hands
But I don't really like you
Apologetic and dressed in the best
but on a heartbeat glide
Without an answer, the thunder speaks from the sky
And on the cold, wet dirt I cry
And on the cold, wet dirt I cry
Don't you wanna come with me?
Don't you wanna feel my bones on your bones?
It's only natural
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Bastardos Inglórios

Não faltam filmes sobre as desgraças que os judeus passaram nas mãos dos nazistas. Na verdade, são tantos filmes que poderiam até entrar num subgênero específico do cinema, já bastante premiado, diga-se de passagem. Mas há quem considere o tema bastante desgastado e que raramente tem acrescentado algo realmente novo - e em relação a isso eu assino embaixo. Até que surge Quentin Tarantino e nos apresenta uma obra completamente diferente – já que temos aqui um produto fictício que passa bem longe do que ocorreu na Segunda Grande Guerra – que confirma o diretor americano como um dos mais importantes realizadores das duas últimas décadas na cinematografia mundial.
O roteiro de Bastardos Inglórios começou a ser feito no início da carreira de Tarantino, que os críticos em geral consideram como seu ápice criativo – daí vieram seus dois filmes mais importantes, Cães de Aluguel e Pulp Fiction. Finalmente, dez anos depois, surge uma verdadeira obra-prima, já aclamada em todo o mundo como um dos grandes filmes desta década. Aqui, um grupo de judeus americanos, conhecidos como “Os Bastardos” e liderados pelo Tenente Aldo Raine (Brad Pitt) persegue e dá uma lição aos nazistas como nunca antes vista; uma sobrevivente de um massacre Shosanna Dreyfus (a maravilhosa e surpreendente Mélanie Laurent) espera o momento da vingança contra todo o sistema nazista e, mais particularmente, contra o assassino da sua família, o Coronel Hans Landa (Christoph Waltz). Quando um grupo liderado pela atriz alemã Bridget von Hammersmark (Diane Kruger) associa-se aos “Bastardos” para eliminar o alto escalão nazista na França ocupada, as histórias e personagens se encontram, todos convergem em um cinema onde uma história alternativa será escrita pelas mãos habilidosas e mente criativa do diretor estadunidense.
As atuações estão realmente ótimas, a destacar o alemão Christoph Waltz. O ator dá força a um personagem frio, calculista, sarcástico, cruel e muitíssimo inteligente. Hans Landa dá medo, um verdadeiro caçador de judeus – como ele mesmo afirma, diferencia-se dos outros colegas ao se colocar na mente dos ratos fugitivos e naturalmente repugnantes que são os judeus – e Quentin Tarantino utiliza de todas as formas para mostrar a imponência do alemão, principalmente ao maximizar os sons produzidos ao comer e beber.
E o astro Brad Pitt, “no auge da sua iconicidade” como bem disse Quentin Tarantino, mostra mais uma vez que procura escolher os melhores papeis para a sua carreira – um ator bem acima da média e que, como provaram os números de bilheterias, é um belo atrativo para o público. Ao ser indagado sobre do que se tratava Bastardos Inglórios, Pitt definiu o filme com maestria e melhor do que qualquer outra crítica que eu tenho lido por aí: "Inglorious Basterds" é um Tarantino de primeira ordem, porque nada ali é real ou pretende ser real. É como uma alegoria às avessas: em vez de fazer da resistência ao nazismo uma fábula ou um exemplo edificante para a humanidade, Quentin se vinga dos nazistas numa espécie de filme de propaganda para um público que não existiu nem nunca existirá. É uma fantasia de propaganda, vamos dizer assim, porque ele usa dos mesmos métodos que Joseph Goebbels usou em seus filmes. O resultado é comédia total. Quentin bastardiza a história.
Alexandre Rios.
sábado, 10 de outubro de 2009
Top 20 - Elvis Costello´s songs

1.Alison (My Aim Is True)
2.Blame it on Caim (My Aim Is True)
3.No Dancing (My Aim Is True)
4.Watching the detectives
5.Pump it up (This year´s model)
6.Little Triggers
7.Hand in Hand
8.(I don´t want to go to)Chelsea
9. Radio, Radio
10. Green Shirt (Armed Forces)
11. (What´s so funny about) Peace, Love and Understanding
12.Chemistry Class
13.Two Little Hitlers
14. Opportunity (Get Happy!!)
15. I Can´t Stand Up For Falling Down
16. Beyond Belief (Imperial Bedroom)
17. Almost Blue
18.Shabby Doll
19. Man Out of Time (Imperial Bedroom)
20.The Long Honeymoon (Imperial Bedroom)
Alexandre Rios.
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
O Demônio das Onze Horas - Poesia em forma de filme

E, para comprovar a minha frase anterior, vou colocar aqui uma das falas do personagem de Jean-Paul Belmondo no filme:
"No fim, a única coisa interessante é a estrada que as pessoas seguem. A parte trágica é que uma vez sabendo pra onde elas vão e quem são todo o restante permanece um mistério. E esse mistério, para sempre sem solução, é a vida".
E aí embaixo vão duas das melhores cenas do filme, ambas pequenos musicais.
Rio 2016: Vencer competição para cidade-sede foi 'parte fácil'
“Sediar os Jogos irá exigir esforços e custos em uma escala que o Rio, uma metrópole pulverizada de problemas com 12 milhões de habitantes, jamais viu”, diz a revista 'The Economist'.
Segundo o texto, intitulado “Rio’s new expensive rings” (Os novos anéis caros do Rio), em referência aos anéis olímpicos, além das novas construções dedicadas ao esporte, como estádios, a cidade ainda precisará se preocupar com a construção de novas pontes e estradas e com a reformulação do “caótico” sistema de transporte.
A revista destaca os gastos do governo e o mau uso da verba dos jogos Pan-Americanos e questiona a capacidade dos políticos de investir o dinheiro das Olimpíadas em benefícios para a cidade.
“Onde contratos para obras públicas são negociáveis e os políticos com tendência à corrupção são a norma, quem garantirá que os US$ 14 bilhões do orçamento dos jogos será bem aplicado?”, questiona a Economist.
O artigo destaca ainda que o Rio de Janeiro pode ter sucesso nos Jogos se usar o dinheiro para regenerar a cidade, a exemplo do que fez Barcelona quando foi a cidade-sede das Olimpíadas.
De acordo com a publicação, resta aos políticos brasileiros garantir que os benefícios trazidos ao país com os Jogos Olímpicos superem os custos.
Via:BBC Brasil
Alguém ainda confia nos políticos brasileiros?
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
O Delator

“O Delator/The Informer” é um filme estranhamente pouco discutido hoje em dia. Afinal, saiu vencedor de quatro estatuetas no Oscar de 1935, rendendo a John Ford seu primeiro como diretor. E é uma obra-prima maravilhosa. Com uma moral religiosa me emocionou – e olha que eu sou ateu - de forma semelhante à outra obra-prima do cinema americano, ”A felicidade não se compra” de Frank Capra.
A história de Gypo - com uma interpretação pura de Victor McLaglen -, um irlandês que acabara de ser recusado a integrar o IRA por não ter tido coragem de apagar um policial que havia matado um integrante do grupo e que torna-se delator do seu melhor amigo é absolutamente digna de todos os elogios.
Na miséria absoluta e sofrendo por sua amada Katie Madden ter começado a se prostituir para sobreviver, Gypo entrega Frankie McPhillip por uma quantia ofertada pela polícia local. E seu amigo acaba morrendo na casa da própria mãe. A partir de então, somos contemplados com um roteiro impecável a observar Gypo vagando bêbado pelas ruas de Dublin com o peso da culpa nas costas e com a possibilidade de ser descoberto pelo grupo que ele ainda almeja entrar como o verdadeiro traidor, o Judas renegado por quase todos os seres humanos.
Mas, brilhantemente, a análise do caso é tratada de forma delicada por John Ford, a começar pelo trecho inicial: "E Judas se arrependeu e atirou as moedas de prata ao solo e partiu”. Ao decorrer do filme, o arrependimento do protagonista, mesmo que difuso pelo abuso do álcool, é claro e a mensagem principal consolida-se: o perdão é uma das atitudes que mais aproximam o ser humano a Deus.
Gypo não sabia o que fazia.
Alexandre Rios.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Aos vestibulandos de todo o Brasil
terça-feira, 6 de outubro de 2009
Black Dynamite - He's super cool and he knows kung fu!
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Por Mario Abbade
05/10/2009
Black Dynamite (2009) é um diferencial. O filme satiriza o gênero blaxploitation com muita criatividade e inteligência. São noventa minutos de puro entretenimento, que mesmo o espectador não familiarizado com o tema, irá se divertir com o longa dirigido por Scott Sanders. Cineasta Quentin Tarantino prestou uma homenagem ao gênero em "Jackie Brown".
Já no início, Sanders homenageia o gênero grindhouse (produções exploitation ou de gênero que eram exibidas em dupla nos cinemas) com um pequeno filme publicitário sobre uma bebida maltada que terá papel importante na história.
Depois a trama avança e conhecemos Black Dynamite (Michael Jai White), ex-combatente do Vietnam e ex-agente da CIA, que luta contra as injustiças em sua comunidade. Quando seu irmão Jimmy é morto, ele junta forças com seus dois amigos Cream Corn (Tommy Davidson) e Bullhorn (Byron Minns), e descobre um plano rocambolesco, que envolve tráfico de heroína em um orfanato, uma bebida maltada adulterada, a diminuição do pênis, entre outros absurdos. Black Dynamite sai em busca de justiça contra a Máfia, a CIA, o Sistema e a própria Casa Branca, personificada literalmente por Richard Nixon e sua esposa Pat.
O roteiro foi escrito pelo próprio Sanders, Byron Minns e Michael Jai White, baseado em um argumento criado por Minns e Jai White, utilizando todos os costumeiros tópicos dos filmes do blaxploitation produzidos nos anos 70. Podemos exemplificar o gênero com os filmes "Sweet Sweetbacks Baadasssss Song" (apontado como precursor), "Super Fly" (com o cantor/compositor Curtis Mayfield) e "Shaft" (teve sequências, depois virou seriado de TV e ainda teve uma refilmagem em 2000).
Todos os clichês do gênero são reunidos em um só filme. Tramas e sub-tramas de diversos filmes surgem a cada instante através de diálogos e sequências. Também há uma forte influencia dos seriados policiais que eram exibidos na época. O ótimo trabalho de Sanders, Minns e Jai White, pode ser comparado as paródias criadas por Mel Brooks e no inicio da carreira da dupla Jim Abrahams & David Zucker ("Apertem os Cintos o Piloto Sumiu", "Top Secret!" e "Corra que a Policia Vem Ai").
Para quem não conhece, o blaxploitation é uma denominação criada da junção das palavras black (preto em inglês) e exploitation (exploração em inglês). A diferença reside nos protagonistas interpretados por atores afro-americanos, em que os brancos eram os corruptos na trama. A narrativa girava em um ambiente urbano, povoado por traficantes de drogas, cafetões, pistoleiros, entre outros personagens.
Todos esses grupos sociais são retratados em Black Dynamite, com uma bela personificação feita pelos atores. Os nomes dos personagens são um verdadeiro achado. Fora esses grupos, a narrativa ainda flerta com o Black Panther (organização revolucionária norte-americana que promovia o poder negro), os políticos não violentos estilo Martin Luther King (personagem Gloria, interpretada por Salli Richardson-Whitfield) e com o filme "Operação Dragão", com o mestre Bruce Lee. Isso fica claro, quando Black Dynamite precisa ir à Ilha de Kung Fu enfrentar Dr. Wu. Repare também na cena em que Black Dynamite salta para quebrar uma luminária no teto. Uma outra referencia ao personagem Kato, interpretado por Bruce Lee no seriado de TV "Besouro Verde".
Os figurinos (a indicada ao Oscar Ruth Carter), os cenários (Denise Pizzini), os cabelos (Charles Gregory Ross) e a maquiagem parecem saídos de um túnel do tempo, tamanha a perfeição da criação. Até mesmo a linguagem cinematográfica recebeu um tratamento especial para recriar a aura das produções dos anos 70, através de panorâmicas e closes repentinos da câmera de Shawn Maurer, uma edição tosca de Adrian Younge, microfone em cena, sequências de explosão repetidas (exemplifica o baixo orçamento desses filmes) e a utilização de contraste em película 16 mm (também foi usado digital). Para completar o clima, a trilha sonora repleta rhythm & blues e funk, compostos por Adrian Younge, cadencia a narrativa.
O personagem Black Dynamite, interpretado por Michael Jai White (fez "Spawn" e o vilão Gambol em "O Cavaleiro das Trevas"), é uma mistura de Richard Roundtree ("Shaft") com Jim Kelly (carateca que fez uma dezena de filmes blaxploitation nos anos 70). Jai White é uma máquina de distribuir socos e golpes com seu nunchaku (em português, matracas é uma arma de artes marciais que consiste de dois bastões pequenos conectados em seus fins por uma corda ou corrente - outra referencia a Bruce Lee). Suas lutas são pancadaria pura com toques de humor, mas sem cair na palhaçada. Vale dizer que Jai White já ganhou 7 faixas pretas em diferentes estilos de caratê e 26 títulos de artes marciais. As coreografias foram criadas pelos irmãos Ron e Roger (interpreta Dr. Wu) Yuan.
Além das lutas, a força de Jai White também está em sua maneira extremamente machista de compor seu personagem. Suas frases de efeito e suas reflexões são disparadas com tamanha confiança, que fica impossível não se apegar ao personagem. Todas as mulheres do filme não resistem ao charme de Black Dynamite. Uma sequência envolvendo Black Dynamite e seus amigos conversando sobre os deuses gregos, é um dos diálogos mais estapafúrdios e engraçados do ano.
O personagem Black Dynamite lembra Austin Powers e Tenente Frank Drebin ("Corra que a Policia Vem Ai"). Em que uma figura dramática foi concebida para homenagear e simbolizar de forma humorística, uma série de personagens icônicos da cultura pop. Através dessas criações, gêneros são subvertidos com propriedade.
Black Dynamite é um manjar dos deuses para os cinéfilos.
Mostra Midnight Movies
Black Dynamite
EUA, 2009. 90 min.
Direção: Scott Sanders
Com: Michael Jai White, Tommy Davidson e Byron Minns.