
“O Delator/The Informer” é um filme estranhamente pouco discutido hoje em dia. Afinal, saiu vencedor de quatro estatuetas no Oscar de 1935, rendendo a John Ford seu primeiro como diretor. E é uma obra-prima maravilhosa. Com uma moral religiosa me emocionou – e olha que eu sou ateu - de forma semelhante à outra obra-prima do cinema americano, ”A felicidade não se compra” de Frank Capra.
A história de Gypo - com uma interpretação pura de Victor McLaglen -, um irlandês que acabara de ser recusado a integrar o IRA por não ter tido coragem de apagar um policial que havia matado um integrante do grupo e que torna-se delator do seu melhor amigo é absolutamente digna de todos os elogios.
Na miséria absoluta e sofrendo por sua amada Katie Madden ter começado a se prostituir para sobreviver, Gypo entrega Frankie McPhillip por uma quantia ofertada pela polícia local. E seu amigo acaba morrendo na casa da própria mãe. A partir de então, somos contemplados com um roteiro impecável a observar Gypo vagando bêbado pelas ruas de Dublin com o peso da culpa nas costas e com a possibilidade de ser descoberto pelo grupo que ele ainda almeja entrar como o verdadeiro traidor, o Judas renegado por quase todos os seres humanos.
Mas, brilhantemente, a análise do caso é tratada de forma delicada por John Ford, a começar pelo trecho inicial: "E Judas se arrependeu e atirou as moedas de prata ao solo e partiu”. Ao decorrer do filme, o arrependimento do protagonista, mesmo que difuso pelo abuso do álcool, é claro e a mensagem principal consolida-se: o perdão é uma das atitudes que mais aproximam o ser humano a Deus.
Gypo não sabia o que fazia.
Alexandre Rios.
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