domingo, 8 de junho de 2008

Cuba mostra sua tímida realidade

Blogs são a nova fronteira da batalha ideológica em Cuba

Provocado pelo sucesso de internautas independentes, governo reage com apoio a páginas em defesa da revolução

"São só cerca de 260 mil computadores conectados à internet para 11 milhões de cubanos -um dos mais baixos índices de conectividade do mundo-, mas a modesta vida virtual da ilha virou um movimentado "campo de batalha ideológico", nas palavras do próprio governo, com ataques e estratégias para bloquear ou mimetizar blogs adversários. A mais ilustre das páginas pessoais alimentadas em Cuba, o "Generación Y", da filóloga Yoani Sánchez, com 9 milhões de hits em maio e incensada na imprensa mundial, ganhou um aguerrido opositor, o Blog do Yohandry, que defende o governo e ataca a "outra Y".

Nas ruas de Havana, raros são os que sabem da guerra travada na elite tecnológica, que se espalha por comentários nos blogs animados por cubanos no país e no exílio e alcança outros sites. O portal desdecuba.com, que abriga o "Generación Y", tem um antípoda ideológico, desde-cuba.com.

Ironia e rigor
O governo manifestou-se sobre o fenômeno. "Internet, sem dúvida, é um campo de batalha ideológico. Converteu-se também numa nova plataforma para agredir a revolução", disse o vice-ministro de Comunicação, Boris Moreno, em maio, quando queixou-se de que os blogs "a favor da revolução não têm a mesma visibilidade internacional que tem essa menina", em referência a Yoani Sánchez. Com posts curtos e irônicos -e críticas ao cotidiano da ilha- Yoani provocou simpatia e dezenas de reportagens que explicam que da "geração Y" fazem parte os batizados com nomes iniciados com a letra, moda nos anos 70 e 80, de influência soviética na ilha.
Em abril, a blogueira ganhou o prêmio de jornalismo Ortega y Gasset, do jornal espanhol "El País", mas Havana não liberou o visto para que fosse a Madri. Mais comoção virtual.

O "Blog do Yohandry", com estilo duro e reprodução de reportagens oficiais, reagiu. Destacou um comentário anônimo que acusa Yoani de ser financiada pelo escritor cubano dissidente Carlos Montaner. "As figuras políticas cubanas conhecem muito essas campanhas de difamação. Mas onde estão as provas? Não me interessa cair nesse ciclo de defender-me" , disse Yoani à Folha, em um café de Havana. Os apoiadores da filóloga dizem que a página adversária é uma montagem do governo, feita por várias pessoas, e desafiam seu dono a postar uma foto. À Folha, por e-mail (ele se recusou a falar por telefone), o blogueiro pela revolução disse: "Não sou um coletivo, sou uma pessoal real. Talvez tenha de buscar ajuda, porque o blog cresce, mas agora estou só".


Até o mês passado, a página pró-governo estava hospedada no provedor de blogs do "El País", mas foi retirada. O blogueiro diz que foi censurado e mudou de endereço. O "El País" alega que não pode haver campanhas de difamação em seus domínios. O "Generación Y" não pode ser acessado de hotéis da ilha, cujos provedores são estatais, comprovou a Folha, mas segundo Yoani é possível fazê-lo em empresas estrangeiras e por conexões particulares."

Flávia Marreiro - Folha de São Paulo

Espero acompanhar essas críticas dos próprios cubanos (Não me arrisco a dizer "contra-revolução", já que a própria blogueira acredita que deva haver, na verdade, uma reforma no sistema). Todos nós sabemos as infinitudes de possibilidades que a internet pode trazer a um cidadão, expondo-o a uma quantidade enorme de informações e opiniões.

Lucas Caires

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