sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A Europa e a "Crise"



Já argumentei sobre essa dita crise que, diz os eufóricos, é um prenúncio do apocalipse do "capitalismo". Estupidez midiáticas à parte, a BBC Brasil fala sobre o impacto da crise financeira nos países europeus, especificamente a França.

" Ao contrário de Estados Unidos, Grã-Bretanha e vários outros países desenvolvidos, a França parece não estar vivendo grandes problemas com a crise financeira global.

Isso talvez possa se explicar pelas características do sistema financeiro francês, que poderia ser descrito como “cauteloso”. Os bancos franceses tomam muito cuidado em relação a quem eles emprestam dinheiro e, para limitar riscos, dividem seus investimentos de maneira muito mais ampla do que as instituições nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha.
Só 25% da atividade bancária está ligada a investimentos e atividades de negociadores e corretoras - o resto está ligado ao atendimento direto aos clientes, ou varejo. Isto significa que quando a crise de retração de crédito começou, os bancos franceses foram atingidos de maneira muito menos dura do que os de vários outros países. E essa prudência não é só em relação a bancos de investimento - este país como um todo parece gostar de correr menos riscos.
Não é que tentação do consumo não exista na França. A sedução do consumo no país é tão forte quanto nos outros lugares, mas nele é muito difícil gastar dinheiro que não se tem.
Os cartões de crédito franceses são quase como cartões de débito, então não há como comprar artigos de luxo na expectativa de saldar a dívida mais tarde. Na França, se você não tem dinheiro suficiente na sua conta, o seu banco vai bloquear a transação imediatamente.

Hábitos de consumo
No abonado subúrbio parisiense de Germain-en-Laye, conversei com François Artignan, um banqueiro que viveu na Grã-Bretanha. Ele fala da diferença dos hábitos de consumo dos povos dos dois lados do Canal da Mancha.
"As pessoas aqui (na França) não acreditam que você pode simplesmente juntar suas dívidas e conseguir um refinanciamento. Mas em Londres é como se riqueza fosse algo que você consegue no banco. Parece que as pessoas acreditam em um tipo de milagre. Parece-me que as pessoas lá estão muito ansiosas para gastar todo o dinheiro que possuem, e isso é preocupante quando você imagina como as pessoas vão ter dinheiro para a aposentadoria, por exemplo", afirmou Artignan.
O economista-chefe da empresa de análise de mercado Xerfi, Alexander Law, comparou o padrão de gastos entre França e Grã-Bretanha. Law acredita que os franceses são prudentes por natureza e isso os salvou do desastre. "Geralmente na França você gasta o que tem e nada mais", explicou ele.

(...)

O ritmo de crescimento da França é muito lento - neste ano parece que vai ficar em torno de apenas 1%, indicando que provavelmente o país ficará longe de cumprir a meta que prometeu à União Européia de controlar o seu déficit orçamentário até 2012.
Mas, embora sua economia menos dinâmica não seja invejável para o resto do mundo, sua relutância em atrelá-la ao mercado imobiliário da mesma forma que fizeram os Estados Unidos também implica que quando o mercado subprime americano entrou em colapso, ele não arrastou consigo o mercado francês.

(...)”

Emma Jane Kirby

Cautela e racionalidade. É esse o princípio que rege um modelo econômico auto-suficiente e eficiente francÊs. Infelizmente, o Brasil se aproxima da cultura americana. “Divida em 1000x que conseguirá ter seu carro do ano“. É essa a chamada para o poço sem fundo.

Lucas Caires

terça-feira, 23 de setembro de 2008

London Through a Lens

(Trafalgar Square - 1843 - "Essa é uma das primeiras fotos de Londres, feita por William Henry Fox Talbot na época da inauguração da Coluna de Nelson, localizada na Trafalgar Square, no centro da capital.")

(Oxford Street - 1926 - "A imagem desse grupo de homens e meninos, rodeados por cachorros foi feita no que atualmente é uma das ruas movimentadas da capital - a Oxford Street.")

(Big Ben - 1930 - "Essa foto mostra um servidor público, suspenso a mais de 180 metros do chão, limpando o relógio Big Ben, no Parlamento inglês.")

(Tower Bridge - 1892 - "A foto da Tower Bridge foi tirada seis anos após o início da construção da ponte mais famosa de Londres. A imagem faz parte da exposição London Through a Lens, em cartaz na capital inglesa.")

Divulgação: BBC.
Thales Azevedo.

Crise americana e anúncios de fim do mundo

Peninha, né? Então o capitalismo não acabou nem vai acabar! Pois é! Na hora “h”, apareceu Bush em seu cavalo, na ótima charge publicada pela VEJA desta semana, e resolveu pôr um pouco de ordem na bagunça. Haverá turbulência por algum tempo, os mercados nunca mais serão os mesmos, novos procedimentos corretivos e preventivos serão adotados — a própria existência de um Fed com essas características, saibam os botocudos, surge de uma crise —, e o mundo seguirá produzindo riqueza e fazendo política para responder à necessidade de reparti-la. Ou melhor: a parte do mundo onde houver economia de mercado fará isso. Aonde ela não chegar, chefes de “tribo”, muitos deles com terno e gravata, continuarão a manter seus povos na miséria, na ignorância, no subdesenvolvimento. Como Evo Morales. Como Hugo Chávez. Como ditadores africanos e árabes. [...] 

É por isso que o estado cobra impostos; é por isso que lhe entregamos boa parte da nossa liberdade individual; é por isso que aceitamos, sem resistência, o pacto social que ele nos impõe; é por isso que acedemos à existência de Três Poderes que regulam a nossa vida muito além do que gostaríamos — só sentem confortáveis com o mandonismo estatal aqueles que já se renderam à mentalidade da senzala e se apaixonaram pelo chicote. “Ah, mas a intervenção poderia ter sido feita antes”. É mesmo? Quando? Sob que condições? Quando foi, na história da humanidade, que esse estado interventor gerou mais riqueza e mais bem-estar? Nunca!

É evidente que o estado não deve socorrer empresa quebrada. Que quebre! É do jogo. Mas é preciso distinguir esse tipo de intervenção, muito comum em Banânia, da chamada crise sistêmica, da quebradeira geral — que não puniria apenas as empresas incompetentes e os especuladores. Também o dinheirinho no banco do homem comum, que é o verdadeiro dono da grande massa do meio circulante do sistema, iria para a cucuia. E esse "Homem Comum" precisa confiar nas regras — e restaurar a confiança, como deixa claro Márcio Aith em reportagem na VEJA desta semana, era essencial. E o governo americano vai fazê-lo. E tem de fazê-lo. [...]

E, bem, claro: colabora para a cafajestada ideológica o fato de o presidente dos Estados Unidos ser George W. Bush — ainda não sei como ninguém pensou em ligar a guerra do Iraque à crise do mercado subprime... Mas que digo eu? Alguém já deve ter feito isso. “Ah, é que aquele republicano deixou tudo correr solto, sem regras”. É? Que mudança fundamental os republicanos fizeram no mercado herdado do “progressista” Bill Clinton? Ademais, felizmente, em países que, de fato, têm forte tradição liberal, o governo não fica se metendo a toda hora no mercado — e não tem de se meter mesmo. “A Europa sempre foi mais cuidadosa”. Invejam também seus índices de desemprego?

O mercado, ainda bem!, nunca mais será o mesmo. Aliás, se existe um “ente” que aprende depressa com a experiência é esse tal mercado. É isso aí: o mundo não acabou nem vai acabar. E o capitalismo também sobreviveu. Viram? Emir Sader tinha nos avisado que essa gente perversa daria um jeito de se safar.

Thales Azevedo.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Governo do presidente Lula atinge melhor avaliação desde 1998, diz CNT/Sensus

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva registrou em setembro deste ano a melhor avaliação positiva na história da pesquisa CNT/Sensus, realizada desde 1998. Segundo a pesquisa divulgada hoje, o governo Lula recebeu avaliação positiva de 68,8% dos entrevistados, contra 6,8% que o avaliaram negativamente. Entre os entrevistados, 23,2% avaliaram o governo Lula como regular.

Na última edição da pesquisa CNT/Sensus, em abril deste ano, a avaliação positiva do governo era de 57,5% --um crescimento de mais de dez pontos percentuais. A avaliação negativa foi de 11,3% em abril, enquanto a regular chegou a 29,6%. Em janeiro de 2003, a avaliação do governo chegou a 56,6%, depois registrou queda. Mas voltou a crescer desde o início deste ano, já em seu segundo mandato.

A avaliação pessoal do presidente Lula também subiu de 69,3% para 77,7% entre abril e setembro deste ano. Somente 16,6% desaprovaram o presidente, enquanto 5,7% não responderam. Os índices de popularidade de Lula só perderam, em setembro de 2008, para as avaliações de sua popularidade registradas em 2003 --o ano em que foi empossado no cargo-- quando obteve 83,6% de aprovação.

O diretor do Instituto Sensus, Ricardo Guedes, disse que a popularidade recorde do governo Lula é conseqüência de políticas adotadas nas áreas econômica e social. "Isso repousa na economia e na redução dos problemas sociais, estabilidade econômica, poder de compra e salário mínimo. Se criou uma estabilidade no campo econômico validada com a presença do vice-presidente José Alencar no governo, que é empresário", afirmou Guedes.

Na avaliação do diretor do Sensus, a popularidade do presidente Lula mostra que ele se tornou o maior cabo eleitoral do país. "Ele é o grande cabo eleitoral, tem força de transferência de voto, mas o candidato tem que ser palatável politicamente", afirmou.

A pesquisa CNT/Sensus foi realizada entre os dias 15 e 17 de setembro em 136 municípios de 24 Estados. Foram ouvidas 2.000 pessoas A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou menos.

Fonte: Folha de São Paulo

Alexandre Rios.

sábado, 6 de setembro de 2008

João Gilberto


Ao maravilhoso show no Teatro Castro Alves, Salvador, 05/09/2008.

Thales Azevedo.

Cinemateca Veja

A quem interessar, clássicos do cinema por R$13,90. Nas bancas, periodicamente. Mais informações aqui.

Thales Azevedo.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Convenção Republicana e o furacão Sarah Palin

[...] Depois de quase oito minutos de aplausos ininterruptos, os comentaristas da democrata CNN só conseguem dizer: “What a night!”. E não conseguem ir adiante. O que é unânime: o discurso foi poderoso. E surpreendente — ao menos para quem esperava que mulher fosse uma tonta.

Desde que McCain indicou Sarah Palin, a imprensa especulava o que poderia acontecer com ela num debate direto com Joe Biden, o vice experiente escolhido para “dar aulas” a Obama sobre política externa. Depois do que se viu nesta noite, creio que Biden prefira ser poupado do confronto. Não porque tema a experiência da adversária, mas porque ela pode ser uma bela e perigosa máquina de disparar frases um tanto arrasadoras em política.

“Eu não sou membro do establishment político. E eu aprendi depressa, nestes dias, que, se você não é um membro da elite com boa reputação em Washington, então a mídia, só por isso, o considera um candidato despreparado. Mas aqui está uma novidade para repórteres e comentaristas: eu não vou para Washington para obter a sua aprovação. Eu vou para Washington para servir ao povo deste país”

“A diferença entre uma “hockey mom” e um pit bull é o batom”

“Hockey mom” é a mãe devotada que leva o filho ao treino de hockey. No Brasil, seria a “supermãe”. Brinca com uma das acusações que lhe fizeram, segundo a qual a sua experiência maior é mesmo ser mãe (de cinco filhos). Ela assume, mas deixa claro que é boa de briga.

“Ser prefeita de uma cidade pequena é como ser um ativista comunitário, mas com responsabilidades reais” (refere-se ao passado de Obama, que era ongueiro antes de virar senador)

“Alguns políticos usam a mudança para promover suas carreiras. Outros, como John McCain, usam sua carreira para promover a mudança”

“O senador Obama e o senador Biden dizem que estão lutando por vocês. Vamos falar claramente: há só um homem que lutou por vocês: John McCain”

A referência, claro, é ao passado de soldado de McCain, que lutou no Vietnã, onde permaneceu como prisioneiro durante quase seis anos.

“Ela já tem [sozinha] mais experiência executiva do que toda a chapa democrata” - Rudolf Giuliani, ex-prefeito de Nova York.

Comentários retirados daqui.

Hoje, discurso de John McCain.

Thales Azevedo.

McCain é palmeirense

Quando Sarah Palin foi escolhida para fazer dobradinha com John McCain, um colunista do New York Times, republicano, citou Nasce uma Estrela, e outro colunista do New York Times, democrata, comparou-a a Miss Simpatia. Dois dias depois, com o anúncio da gravidez da filha adolescente de Sarah Palin, os filmes com Judy Garland e Sandra Bullock foram abruptamente retirados de cartaz, e a campanha republicana ganhou ares de Juno.

O cinema americano já esgotou todos os temas. Qualquer que seja o acontecimento, há sempre algum filme - bom ou ruim, antigo ou recente - para ilustrá-lo. Hollywood é onisciente: ninguém escapa ao seu olhar. A disputa presidencial é uma boa amostra disso. Cada passo dos candidatos remete a alguma imagem cinematográfica. John McCain, nesse ponto, dá um banho em Barack Obama. Ele tem um filme só dele: Fé em Meu País. Sim: trata-se de um filme para a TV. Sim: trata-se de uma das piores obras de todos os tempos, estrelada por Shawn Hatosy, que até hoje só conseguiu fazer uma ponta num episódio do seriado My Name is Earl. Mas quem se importa? O fato é que ele, John McCain, está lá, em HD, em sua cela em Hanói, com diarréia, brutalmente torturado pelos vietnamitas. Lula declarou que, por ser corintiano, só podia torcer para os torturadores vietnamitas. Além de ser personagem de filme, John McCain deve ser palmeirense.

O filme sobre John McCain foi baseado em seu livro de memórias. Barack Obama foi mais longe do que ele: imodestamente, em vez de um, foi logo escrevendo dois livros de memórias, embora ninguém saiba dizer com certeza o que ele fez de tão memorável assim. Um período de sua vida foi como uma comédia de Cheech and Chong. Certo dia ele descobriu que, comportando-se como Sidney Poitier, poderia fazer uma fulgurante carreira política. E fez. É manjado o paralelo entre Barack Obama e o personagem interpretado por Robert Redford em O Candidato. Redford protagoniza também Todos os Homens do Presidente, sobre Watergate, mas nesse caso a gente é obrigado a retornar ao Brasil, com o episódio de espionagem do presidente do STF, que contou até com um Garganta Profunda da Abin, que entregou o grampo à VEJA.

Ivan Lessa é meu guia cinematográfico. Na verdade, ele é meu guia em todos os assuntos, até em matéria de pastéis de nata. Ivan Lessa é meu Barack Obama. Ele me lembrou de citar The Best Men, de Gore Vidal, com Henry Fonda, traduzido no Brasil como Vassalos da Ambição, e O Enviado da Manchúria, com Frank Sinatra, que narra a história de um prisioneiro de guerra que sofreu uma lavagem cerebral dos comunistas (John McCain?) para assassinar o presidente dos Estados Unidos (Barack Obama?). Ainda tem mais um: A Mulher Faz o Homem, de Frank Capra. E outros que pretendo guardar apenas para mim.

O cinema americano cobre todos os aspectos da campanha presidencial. Ele cobre todos os aspectos da vida. Acho que é isso: um DVD é melhor do que a vida.

(Diogo Mainardi - ouça aqui.)

Thales Azevedo.