quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Touro Indomável

Robert De Niro é um dos maiores atores da história do cinema. O que dizer do seu papel mais importante, então? O que eu, um mero cinéfilo iniciante, posso dizer é que a interpretação do pugilista Jake La Motta por De Niro é, simplesmente, coisa de mestre, que lhe rendeu um Oscar mais do que merecido. Toda a fúria animalesca de Jake La Motta chega até nós da forma mais crua possível, criando uma das personalidades mais inesquecíveis já retratadas. Um sujeito bruto, mau caráter, desagradável, arrogante e paranóico. Há, porém, uma grande dose de ambigüidade nas suas atitudes, resultado, talvez, do fato de ele ser mais um incompreendido no mundo. Jake La Motta é mais complexo do que seus músculos podem aparentar.

E essa complexidade se confunde com Martin Scorsese na época em que filmava o filme. Ele mesmo já revelou que via muito de La Motta no seu próprio estado de espírito, decorrente do fracasso do seu último filme “New York, New York”, do seu vício em cocaína e por problemas no casamento. Aliás, é incrível como os idealizadores, principalmente na arte, fazem seus trabalhos mais profundos quando estão atolados em problemas e aflições.

A história de “Touro Indomável” foi adaptada da autobiografia de La Motta, campeão invicto dos pesos-médios na década de 1940, biografia marcada pela ascensão e a decadência fulminante provocada, como já disse antes, pelo seu temperamento explosivo. Quando penso nisso, uma cena vem na minha cabeça: La Motta e sua primeira esposa discutindo. Ele estava ansioso para comer um pedaço de carne, ela dizia que ainda não estava completamente pronto, que precisava fritar mais. Ele reclama das cenouras - ”Chama isso de cenouras?”. De tanto insistir, a esposa coloca com todo o desgosto do mundo o pedaço de bife no prato do pugilista reclamão. Ele não gosta - é uma falta de respeito, ora bolas – e, então, vira a mesa, deixando quebrar tudo que estava em cima e parte pra cima da mulher ainda mais agressivo. Ela se tranca no quarto e, por coincidência, seu irmão Joey, interpretado soberbamente por Joe Pesci, chega a sua casa, tomada por gritos. Jake ouve um dos seus vizinhos berrando “O que está acontecendo, animais?!”. Ele vira pro irmão e fala “O filho da puta me chamou de animal.” Logo depois, ele solta “Eu vou comer teu cão no almoço, vagabundo!”. É uma cena hilária e caótica, que representa bem a personalidade de La Motta.

Tecnicamente, o filme é perfeito. A fotografia em preto-e-branco é magistral. Além disso, somos contemplados com a competência de sempre de Scorsese, utilizando com mais freqüência neste filme ângulos poucos usuais, ainda mais claras nas cenas de lutas no ringue. O filme é repleto de cortes rápidos, o que torna ainda mais forte a sensação de levar um verdadeiro soco no estômago, um soco de verdade, forte como os de Jake La Motta. Aliás, o filme recebeu um Oscar para Montagem, merecidíssimo. Deveria receber ainda, no mínimo, os prêmios de Melhor Filme e Direção, mas nem sempre a Academia é justa, como a História tem provado. Hoje, “Touro Indomável” é considerado o melhor filme da década de 80 e um dos melhores de todos os tempos.

Voltando ao De Niro, devo lembrar que o ator engordou 30 quilos para interpretar os anos de decadência do boxeador, entregando-se completamente ao papel da sua vida. No final do filme, por exemplo, podemos ver uma das mais belas cenas do filme, uma homenagem a Marlon Brando, em “Sindicato de Ladrões”. É mais ou menos assim: La Motta se preparando para sua apresentação “Uma noite com Jake La Motta”, fala consigo mesmo:

-... Lembram-se da cena no carro com o seu irmão Charlie? Era assim... Não foi ele, Charlie. Foi você. Lembra de quando disse 'esta não é a sua noite'? “Vamos ganhar o dinheiro das apostas no Wilson. Esta não é a sua noite”. A minha noite. Podia ter acabado com o Wilson. E o que aconteceu? Ele ganhou o título. E eu um bilhete só de ida para a decadência. Depois disso já não prestei para nada, Charlie. Depois de se chegar ao topo, a tendência é sempre descer. Foi você, Charlie. Você era o meu irmão. Devia ter cuidado de mim, só um pouquinho. Devia ter cuidado de mim... Ao invés de me fazer perder de propósito por migalhas. Não compreende.
Eu podia ter tido categoria. Podia ter sido um pugilista. Podia ter sido alguém, em vez do vagabundo que sou hoje. Encaremos a realidade. Foi você, Charlie. Foi você.

Alexandre Rios.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A Bela da Tarde


Crítica por Luís Alberto Rocha Melo - Contracampo Revista de Cinema

Séverine, a Belle de Jour, sonha com os olhos abertos. No entanto, caminha pelas ruas com óculos escuros, como a persistir nos sonhos e em uma noite interior. Quando fixa o olhar em algum ponto, o que vê não é necessariamente o que está diante de seus olhos. Há, neste modo particular de ver, uma espécie de cegueira iluminada que nasce da maneira como a personagem vivida por Catherine Deneuve se deixa penetrar pelas imagens. Conscientemente ou não, Séverine descansa o olhar naquilo que está oculto, ou excessivamente aparente: os objetos, as pessoas, as ruas, os parques e o quarto no qual se prostitui falam de outro modo para ela. E para nós, espectadores, é quase mesmo impossível delimitar, sem reduzir, o que são as "imagens reais" e o que são as "imagens criadas" pela imaginação fértil (ou super-receptiva?) de Séverine. Já não há fronteiras, nem mesmo universos paralelos: o cinema é o espaço da desarticulação total do que é "subjetividade" e "realidade concreta". Em Bela da Tarde tudo é movimento, e o que interessa - como num bom filme de ação - é acompanhar os deslocamentos dos personagens (e da câmera que os segue).

Bela da Tarde (1967) é possivelmente o filme mais conhecido de Luis Buñuel. Pertence à fase madura de sua obra, que compreende títulos como Viridiana (1961), O Anjo Exterminador (1962), Diário de Uma Camareira (1964), Simão do Deserto (1965), Tristana (1970), O Discreto Charme da Burguesia (1972), O Fantasma da Liberdade (1974) e Esse Obscuro Objeto do Desejo (1977). Pertence, portanto, a uma fase na qual se cristalizou um certo "estilo buñueliano", bastante diverso da primeira fase surrealista (Um Cão Andaluz, L'Age D'Or) e dos filmes realizados no México, durante a década de 1950. E poderíamos falar aqui em "estilo buñueliano" como se fala em um estilo "hitchcockiano", ou seja, como uma "marca registrada", o que inclui certo apelo à cumplicidade do espectador, que já sabe o que esperar - ou melhor, no caso de Buñuel, o que não esperar - do filme que irá assistir. A Bela da Tarde, aliás, não deixa de ser um "filme de mistério" (já que mencionamos Hitchcock). O suspense, porém, é de outra ordem: o que nos inquieta não é a fatalidade trágica, mas o acaso. O fio narrativo, de ressonância melodramática, é inteiramente subvertido pela forma como Buñuel sublinha o gesto concreto quando tudo é fantástico; abrir e fechar uma porta ou andar pela rua são atos igualmente carregados de absurdo.

Com a fluidez de um filme de gênero (mistério? melodrama?) e a ambigüidade característica de Buñuel, Bela da Tarde é sobretudo ritmo. Eliminando por completo a música de fundo, o filme se torna ainda mais musical, numa perspectiva próxima a de Robert Bresson, por exemplo. O som, os ruídos, realistas ou não, são sempre elementos que sublinham musicalmente as ações: passos que ecoam em um corredor ou sussurram em tapetes; os sinos de uma igreja ao longe; os cincerros das vacas, os guizos de uma carruagem, os cascos dos cavalos, o miar de um gato, os sons de uma buzina e o ruído dos automóveis. Buñuel se atém ao universo aparente do sensível: a mise-en-scène requer apenas a eficiência do gesto e do enquadramento. O corte não apenas nos faz sair de um lugar (espaço físico) para outro, mas nos transporta para percepções diferentes. Acompanhando a trajetória de Séverine, experimentamos o que é viver com a sensação permanente de uma suspensão temporal.

Filmando desta forma, Buñuel evita o que poderia fazer de A Bela da Tarde um péssimo filme: a construção moralista de personagens psicologizados. De fato, as motivações que levam Séverine a se prostituir (imaginariamente ou não) importam tanto quanto o conteúdo da misteriosa caixinha que o "cliente asiático" leva ao bordel de Anais. Buñuel não se interessa pelo "drama burguês". Prefere filmar os burgueses debatendo-se em seus dramas, da forma mais exterior possível (mesmo que o que vemos represente a subjetividade da protagonista). E é por isto que há tanto humor nos filmes de Buñuel (nem tanto em Bela da Tarde, mas principalmente em trabalhos como Simão do Deserto e O Fantasma da Liberdade). Mais uma vez, o gesto mais comum é tão perverso quanto os mais obscuros fetiches dos clientes do bordel. Pierre (Jean Sorel), o marido de Séverine, e seu sorriso empastelado; Husson (Michel Picolli) e sua polidez sarcástica; todos os tipos que passam pela Belle de Jour - pervertidos ou não - são tão ou mais monstruosos quando aparentam uma pretensa normalidade. O jovem Marcel (Pierre Clementi), o bandido que se apaixona por Séverine, é talvez o único personagem que escapa da galeria dos hipócritas.

Resolvendo trabalhar pela primeira vez na vida, Séverine decide optar pela mais antiga das profissões. Seu nome de guerra, Bela da Tarde, não somente indica a sua beleza, mas seu horário de trabalho, e a este horário Séverine agarra-se como a única bóia de salvação. Com um nome de guerra, ela termina por nomear seu próprio cotidiano. Mas não é a intenção de Buñuel nos guiar através do "dia-a-dia" de uma "mulher em busca de si mesma". Em A Bela da Tarde nenhum personagem merece o "privilégio da identificação" com o espectador, já que todos são filmados com absoluto rigor por uma câmera que os torna fantasmas de realidades múltiplas. Se Séverine se apresenta como um veículo para nos abandonarmos e nos entregarmos ao devaneio, tanto pior para ela: das duas às cinco da tarde, nós também somos donos da Belle de Jour e dela nos afastamos assim que soam as seis horas e ela se torna Séverine, a mulher frígida de Pierre. Ou melhor: é então que voltamos a observá-la enquanto ela vive seus sonhos ou pesadelos. De olhos bem abertos, que é, de resto, a maneira de se sonhar no cinema.

Alexandre Rios.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Meu Blog

[...] É blog que não acaba mais. E cada blog dá links, ou enlaces, com outros blogs. Nós olhando e eles se reproduzindo a bloguear qual besta de mil costados. Todo mundo tem opinião. E onde todo mundo tem opinião, ninguém tem opinião.

Vaidade, tudo é vaidade. Aqueles tipos estranhos, infelizes e solitários, que escreviam para os jornais e revistas “parabenizando pela reportagem” ou “indignados com a permanência na equipe do colunista Fulano de Tal”, todos têm seu blog. Alguns caprichadíssimos. Os professores de “blogueção” proliferam e faturam alto.

Maravilha. Nunca o mundo foi mais democrático. Se um dos critérios da democracia é todos terem opinião sobre tudo. Ler essa opinião é mais embaixo. Bem mais embaixo.

Blogs e mais blogs. Sobre tudo. Quem é alguém, ou melhor dizendo, quem não é ninguém ou almeja ser alguém, tem seu blog. Acabou aquela história de escrever palavrão nas paredes dos mictórios públicos. Blogueia-se, ao invés.

Tendo isso em mente, e não querendo ficar para trás, alardeio-me logo avisando que estou com um guru informático preparando-me para inaugurar meu blog. [...]

(Ivan Lessa - BBC Brasil)

Thales Azevedo.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

domingo, 14 de dezembro de 2008

E Machado virou circo...

Machado de Assis é Bentinho. Nós somos Capitu. A analogia é simples: nós abastardamos a obra de Machado de Assis. No centenário da morte do escritor, Dom Casmurro e seus outros romances perderam qualquer sinal de paternidade machadiana. Eles parecem gerados por Escobar, o amante de Capitu.

Luiz Fernando Carvalho, diretor da série televisiva Capitu, é o mais perfeito Escobar que surgiu até agora. Seu "Dom Casmurro" tem o nariz de Luiz Fernando Carvalho, tem o sorriso de Luiz Fernando Carvalho, tem a mentalidade de Luiz Fernando Carvalho. Nada nele recorda o "Dom Casmurro" de Machado de Assis, apesar de reproduzir diálogos do romance. Na série, Bentinho aparece estranhamente caracterizado como Dick Vigarista, do desenho animado Corrida Maluca: nas roupas, no bigode, na magreza, no temperamento e, acima de tudo, na canastrice do ator que desempenha seu papel. Qual é o melhor candidato a Muttley? O agregado José Dias.

A série Capitu tem um aspecto circense. É Machado de Assis encenado por Orlando Orfei. É Bentinho imitando Arrelia no picadeiro de Fausto Silva: "Como vai, como vai, vai, vai? Eu vou bem, muito bem, bem, bem". Luiz Fernando Carvalho usa uma linguagem grotesca, afetada, espalhafatosa, cheia de contorcionismos e de malabarismos. Machado de Assis é o oposto. No livro Dom Casmurro, o relato de Bentinho é espantosamente seco e desencantado. Ele narra sua história apenas para combater o tédio: sem drama, sem sentimentalismo, sem teatralidade. Quando Bentinho descobre que o filho bastardo de Capitu com Escobar morreu de febre tifóide, ele comenta simplesmente: "Apesar de tudo, jantei bem e fui ao teatro".

Luiz Fernando Carvalho só foi autenticamente machadiano na metalinguagem. A atriz que interpreta Capitu está grávida de se-te meses. Quando um repórter lhe perguntou se o pai do menino era Luiz Fernando Carvalho – o Escobar de Jacarepaguá –, ela se recusou a responder, limitando-se a declarar, como uma Capitu do funcionalismo público: "Não vou dizer a identidade e o CPF dele".

A literatura brasileira tem um escritor. Um só. O que fizemos com ele, nos últimos cinqüenta anos, foi traí-lo com todos os Escobar que apareceram. Desde que Helen Caldwell, em 1960, negou o adultério de Capitu, moldando Dom Casmurro às suas teorias feministas, Machado de Assis foi raptado pela crítica esquerdista. Em particular, por John Gledson e Roberto Schwarz, que o transformaram ridiculamente num agente da luta de classes, empenhado em denunciar os abusos da classe dominante. Na realidade, Machado de Assis é mais complicado do que isso. Ele é um satirista conformista e resignado, que zomba da mesquinhez de nossa sociedade e acredita que, quando ela muda, muda sempre para pior. A série Capitu festeja o abastardamento da obra machadiana. Machado de Assis sabe bem: de agora em diante, isso só pode piorar.

(Diogo Mainardi - 17/12/2008)

Thales Azevedo.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Mashed in Plastic


"Idéias são como peixes. Se você quiser pegar peixes pequenos, pode ficar na superfície. Mas se você quiser pegar os peixes grandes, tem que ir fundo, fundo, fundo..."

São com estas palavras que o disco Mashed in Plastic é introduzido. Ele é, basicamente, um presente para os fãs de David Lynch, com uma compilação dos principais temas das trilhas sonoras dos seus filmes, que são - vale ressaltar - quase todas marcantes. Isso graças, em parte, ao parceiro de longa data do diretor, o compositor Angelo Badalamenti. As mentes criativas de ambos resultaram, sem dúvidas, em trilhas sinistras, instigantes. Quem viu Cidade dos Sonhos, Estrada Perdida e Veludo Azul - só para citar os mais marcantes, em minha opinião - sabe do que estou falando.

Trechos de entrevistas com o Lynch, músicas de bandas como os Beatles, Smashing Pumpkins e AC/DC, além de diálogos clássicos - como o "Call me" em Estrada Perdida - se misturam e formam um disco curioso. Confesso que achei um pouco dance demais em alguns momentos. Mesmo assim, vale muito a pena baixar.
*Já ia me esquecendo dos créditos: encontrei o link do download no Cult Blog, do jornalista Marcelo Janot.

Alexandre Rios.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Graciliano, o grande


Graciliano Ramos (1892-1953) nunca foi vítima do preconceito organizado que existe contra o Monteiro Lobato para adultos, por exemplo. Sempre foi considerado entre os grandes escritores brasileiros. Mas há muito a crítica e a academia – esta em especial – negam-lhe o devido lugar no panteão da prosa modernista: o topo, onde segue embalsamado por certa mistificação o sem dúvida inventivo Guimarães Rosa. As razões que levam à superestimação de um concorrem para subestimar o outro.

Por que Graciliano agora? A Editora Record relança a sua obra, sob a supervisão de Wander Melo Miranda. Trata-se de um trabalho bem-cuidado, com a recuperação de textos originais, correções feitas pelo próprio escritor, cronologia e bibliografia de e sobre o autor de Vidas Secas – ou "Cyx Knbot" em búlgaro, uma das dezesseis línguas em que ele pode ser lido. O romance, que completa setenta anos, merece especial atenção: além da edição regular, há uma outra, limitada a 10.000 exemplares, no formato de um álbum, com capa dura e papel cuchê (208 páginas, 99 reais): cuidado à altura das belas fotos de Evandro Teixeira, que acompanham o texto. Sete décadas depois da publicação do livro, o fotógrafo refez o roteiro de Fabiano, sinhá Vitória, Baleia e os meninos.

Vidas Secas? É bastante conhecida uma das mais devastadoras passagens da literatura brasileira: as páginas em que Graciliano narra a agonia e morte da cadela Baleia. Fabiano, que vaga com a família pelo sertão, tangido pela seca, decide matá-la com um tiro para aliviar-lhe o sofrimento. Segue um trecho:

"A carga alcançou os quartos traseiros e inutilizou uma perna de Baleia (...) E, perdendo muito sangue, andou como gente, em dois pés, arrastando com dificuldade a parte posterior do corpo (...). Uma sede horrível queimava-lhe a garganta. Procurou ver as pernas e não as distinguiu: um nevoeiro impedia-lhe a visão. Pôs-se a latir e desejou morder Fabiano (...). Uma angústia apertou-lhe o pequeno coração. Precisava vigiar as cabras: àquela hora, cheiros de suçuarana deviam andar pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas (...). A tremura subia, deixava a barriga e chegava ao peito de Baleia (...). A pedra estava fria. Certamente sinhá Vitória tinha deixado o fogo apagar-se muito cedo. Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás (...) gordos, enormes".

Algumas das qualidades que fazem de Graciliano mestre da língua portuguesa e do texto literário estão acima condensadas. Vidas Secas, saído da pena de um escritor das Alagoas, de esquerda, poderia ser um romance de denúncia social, eivado de proselitismo e anseios libertários. Mas não. O autor repudiava o chamado "engajamento" na arte. Referia-se a Jdanov (1896-1948), o comissário da Cultura da URSS que fundara as bases do chamado realismo socialista, como o que era: "uma besta". Baleia é mais comoventemente miserável quando se arrasta sobre dois pés, quando "anda como gente". Ele não deprecia o homem, comparando-o ao cão; antes, hominiza o cão porque vê com compaixão a nossa condição – e essa compaixão inclemente pelo humano é marca da sua obra. Há dias, em passagem pelo Brasil, José Saramago declarou padecer de "marxismo hormonal". Segundo o escritor português, não merecemos a vida. Ele nos negaria um pedaço de osso. "Preás gordos, enormes", então, nem pensar. 

O mundo da Baleia agonizante é primitivo, feito só de sentidos e sensações. Mas ele nos chega numa linguagem culta, fluente, rigorosa, sem charadas vocabulares para "desconstrução" em colóquios acadêmicos. Tanto em Vidas Secas como na obra de temática urbana, proto-existencialista – Graciliano traduziu A Peste, de Albert Camus, em 1950 –, os adjetivos e as imagens nascem das coisas. Como escrevi num ensaio que integra o livro Contra o Consenso, não há ali "uma única e miserável metáfora que não seja quente de sol (...), pulsante de sangue, aguda de espinhos, dura de pedra. Tudo nasce da matéria precária da vida". A face regionalista de sua literatura não folcloriza a realidade sertaneja, tentando atribuir-lhe alguma metafísica ou lógica interna superiores, que demandassem sintaxe e vocábulos de exceção. O estoque da língua e as regras do jogo lhe bastam. Como ele mesmo escreveu, "começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer". [...]

Em Graciliano, a literatura é um jogo da inteligência analítica, como neste trecho de Insônia: "Um silêncio grande envolve o mundo. Contudo, a voz que me aflige continua a mergulhar-me nos ouvidos, a apertar-me o pescoço. (...) explico a mim mesmo que o que me aperta o pescoço não é uma voz, é uma gravata". A conspiração das vozes do silêncio que perseguem o insone perdem imediatamente o encanto de uma maldição metafísica: basta afrouxar a gravata. Sabemos a origem das nossas aflições, o que não quer dizer que tenhamos respostas para elas. Com freqüência, não. E isso nos torna demasiadamente humanos. Não para o comunista Saramago, claro...

Essa lembrança me remete ao mais explicitamente político dos muitos Gracilianos, incluindo aquele que chegou até a ser prefeito da cidade de Palmeira dos Índios (1928-1930). Refiro-me ao livro Memórias do Cárcere, reeditado pela Record em um único volume. O escritor ficou preso entre março de 1936 e janeiro de 1937, acusado de ligações com a conspiração que resultara no levante comunista de 1935. Era mentira. Filiou-se ao PCB só em 1945. Nesse livro, publicado postumamente no ano de sua morte, ele se agiganta. Em muitos sentidos, a cadeia é a caatinga de um Graciliano-Fabiano que, à diferença do personagem de Vidas Secas, consegue se expressar com clareza. Em vez do herói da resistência, o anti-herói dos escrúpulos que comunistas chamariam pequeno-burgueses. Definitivamente, ele não era o "novo homem socialista". Era o velho homem apegado a suas dores privadas, a seus anseios, a suas mesquinharias. [...]

Quando o brutal Paulo Honório, em São Bernardo, vê consumada a sua obra, restam-lhe a solidão e a insônia. O tema aparece em Angústia ("visões que me perseguiam naquelas noites compridas"), no autobiográfico Infância ("À noite o sono fugiu, não houve meio de agarrá-lo") e até nas suas cartas de amor. O homem de Graciliano vive em vigília, num ambiente sempre hostil, seja a caatinga, a cadeia ou as paisagens íntimas.

Falei de sua compaixão pelas dores humanas. Também nesse caso, seu horizonte não é finalista: não tem uma resposta para a nossa condição nem a vê com moralismo. Paulo Honório, por exemplo, acaba, na prática, matando quem tentara proteger: Madalena, a sua mulher. Tem ciúme da piedade que ela sente do mundo e ódio da sua própria incapacidade de se comover. Narrado em primeira pessoa, o romance não o caracteriza como um monstro. É só um ser desesperado tentando, como todos nós, sobreviver, salvar-se. [...]

"Todo homem mata aquilo que ama", escreveu na cadeia o escritor irlandês Oscar Wilde (1854-1900). Por isso nos arrastamos, como Baleia, vida afora, em busca de perdão. Somos uns cães. Mas, ainda assim, dignos de amor. E cerraremos os olhos contando acordar felizes, num mundo "cheio de preás gordos, enormes".

(Reinaldo Azevedo)

Thales Azevedo.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

A síndrome de Truman

A epidemia do século 21 já tem nome: "Síndrome de Truman". O nome pertence a filme de 1998, "The Truman Show/ O Show de Truman", com Jim Carrey no papel principal. Não lembram? Eu lembro: o personagem de Carrey era um simpático vendedor de seguros que, gradualmente, descobre a fraude existencial que o envolve. A sua vida, desde o berço, é apenas um gigantesco "reality show", filmado por câmeras ocultas 24 horas por dia. E todas as pessoas que o rodeiam --mulher, família, vizinhos, amigos e inimigos-- são meros actores contratados para representarem seus papéis.

O filme termina em registro heróico, com Carrey a libertar-se do pesadelo, ou seja, abandonando o estúdio onde viveu encerrado (e filmado) durante décadas.

Acontece que o pesadelo já emigrou para a realidade. Leio agora na imprensa do dia que cresce assustadoramente o número de pessoas que acredita genuinamente que a vida não lhes pertence. Pertence a um produtor televisivo que montou uma gigantesca ilusão em volta. Como no filme de Jim Carrey, esta gente-se sente-se vigiada por câmeras imaginárias e olha para as respectivas vidas como se apenas estivessem a cumprir um roteiro pré-escrito.

Não confiam na família. Não confiam nos amigos. Não confiam em ninguém. E há mesmo casos de tentativas de suicídio por criaturas transtornadas que não aguentam "continuar" no "show". Uma das histórias mais pungentes pertence a um anónimo norte-americano que, cansado de "representar", entrou num edifício do governo federal e implorou, de joelhos, para que desligassem as câmeras e terminassem com o programa. Ele queria, simplesmente, sair.

E os médicos? Os médicos têm uma palavra importante, a começar pelos psiquiatras. Mas, como os próprios admitem, o caso não é simples de resolver. Desde logo porque eles próprios são vistos pelos pacientes como parte do engodo. Os médicos não são médicos. São atores, vestidos de bata branca, que tentam convencer o doente de que ele está doente.

Não pretendo levantar polémicas inúteis. Mas, confrontado com a epidemia, eu próprio duvido da doença dos doentes. E pergunto, inteiramente a sério, se eles não serão as únicas pessoas lúcidas no meio da loucura reinante.

Um pouco de história talvez ajude: durante séculos, a posição que ocupávamos em sociedade era determinada pelo berço em que nascíamos. Nascer no berço errado, em circunstâncias de pobreza material e cultural, era meio caminho andado para uma vida igualmente pobre e lúgubre. Existem todas as exceções do mundo, claro. Mas as exceções apenas servem para comprovar a tese: a nossa posição em sociedade era uma questão de sorte, não de mérito.

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, e o enterro do Velho Mundo que o conflito arrastou consigo, tudo mudou. O berço continuou a ter palavra importante. Mas não mais decisiva. O mérito passou a determinar o nosso lugar em sociedade. Em teoria, e sobretudo na prática, seria possível, ao filho de um pobre, entrar nos salões de um rico. Bastava, para isso, que o pobre ganhasse o dinheiro necessário para os comprar. As nossas sociedades são a prova provada de que a meritocracia vingou e que o "self-made men" derrotou grande parte dos preconceitos de classe.

E hoje? Hoje, como escreve Toby Young em recente ensaio para a revista "Prospect", a era meritocrática foi enterrada. Depois do berço e do mérito, chegámos à era da celebridade. Podemos nascer no berço certo; podemos até subir a corda social com os nossos próprios pulsos, provando o nosso valor intrínseco; mas se não somos "famosos", ou seja, se não alimentamos o voyeurismo coletivo em que vivemos, não somos rigorosamente nada. Vivemos em sociedades mediatizadas e massificadas. E numa sociedade mediatizada e massificada, é o anonimato, e não a pobreza ou a incompetência, que pesa profundamente sobre a espécie.

Não é de admirar, por isso, que uma parte crescente de seres humanos se sinta cansada do circo instalado; se sinta cansada, enfim, de um mundo de celebridades ocas que, na verdade, parece um "reality show" permanente. Eles imploram para sair do espetáculo na impossibilidade de o derrotarem.

Loucos? Não sou médico. Sou apenas um colunista disfarçado de médico. Mas desconfio que existe mais sanidade na loucura dessa gente do que em todos os "reality shows" que rodeiam as nossas vidas.

João Pereira Coutinho

Alexandre Rios.

sábado, 22 de novembro de 2008

Ensaio sobre a cegueira


O trânsito em uma metrópole. De repente, sem explicação, um homem qualquer fica cego. Engarrafamento e buzinas. O que parecia ser uma fatalidade isolada passa a atingir mais e mais pessoas e, em pouco tempo, o caos torna-se generalizado. Como diz um dos personagens do filme – todos sem os nomes revelados -, a cegueira em questão é uma espécie “mar de leite”, diferentemente da cegueira comum. Tudo parece não ter lógica. As autoridades, então, encaminham os infectados para a quarentena, um antigo e sujo manicômio até que a cura seja descoberta. Os cegos passam a conviver juntos, com todas as diferenças existentes nas grandes cidades: uma prostituta, um ladrão, uma criança, um casal de orientais, um oftalmologista e a sua mulher são apenas alguns dos miseráveis que têm, ao menos, a cegueira em comum. Com exceção da mulher do médico, a protagonista do filme e a única não cega dentre os cegos.

E é ela, interpretada por Juliane Moore, que guia a multidão e vê a natureza humana, praticamente invisível nas sociedades modernas, na sua forma mais crua e perversa. As pessoas reunidas, vivendo no limite entre o ser racional e irracional, com seus instintos mais primitivos sendo revelados à medida que a fome, a falta de higiene e de espaço aumentam. Como o personagem de Gael Garcia Bernal, um barman que logo se revela um ditador, toma o poder e pratica as atrocidades que apenas nós, humanos, conseguimos. Quando, por exemplo, ele e seu bando passam a administrar as refeições destinadas às alas do centro de isolamento – que mais parece um campo de concentração – e exigem pagamentos para a aquisição do básico para a sobrevivência, pagamentos que vão desde objetos de valor até os corpos das mulheres ali reunidas.

“Ensaio sobre a cegueira”, baseado no livro homônimo de José Saramago, consegue revelar a nossa natureza como poucos filmes já fizeram ou se propuseram a fazer. E é genial quando consegue essa transparência através da cegueira. Afinal, em um mundo de cegos ninguém pode ver o que estamos fazendo e quem somos. Ainda mais nas situações mais extremas - que muitos passam hoje, que não vemos ou queremos não ver. Mas há de se ressaltar também a capacidade que nós temos de ter alegria em situações adversas e como nos adaptamos a elas, como diz um dos personagens: “A alegria e a tristeza são como água e óleo: não se misturam, andam juntos”. É um filme excepcional, talvez o melhor do ano. Mais um grande filme dirigido por Fernando Meirelles, que enxerga o cinema como poucos diretores desta geração conseguem, motivo de orgulho para nós, brasileiros.

E para José Saramago também:



Alexandre Rios.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Mais um pouco sobre Barack Obama

DURANTE MESES, acompanhei a histeria da Europa por Obama. E, no meu espanto, tentei vislumbrar os motivos da paixão nas promessas do homem. Não encontrei nada. Internamente, Obama surgia, no limite, como um social-democrata moderado; e, externamente, como uma "pomba musculada", disposto a lidar duramente com o Afeganistão, o Irã e o Paquistão. Como explicar a loucura generalizada?

Numa palavra, com a raça. Obama é preto e as esquerdas da Europa, em atitude profundamente racista, entenderam que a pigmentação da pele fazia toda a diferença. As esquerdas que embarcaram histericamente por Obama fazem lembrar os antigos fazendeiros que achavam imensa graça quando viam um escravo devidamente vestido e calçado. O racismo invertido não deixa de ser uma forma de racismo.

Resta saber se a paixão por Obama vai durar. A resposta é óbvia, porque existe um óbvio paradoxo com a eleição do homem: depois de 1989, quando o Muro caiu na cabeça das esquerdas neolíticas, o antiamericanismo converteu-se no alimento principal dos órfãos de Moscovo. Os mesmos órfãos que, agora, levados por uma forma invertida de racismo, desataram a aplaudir o novo presidente americano. Para eles, Obama é uma espécie de dr. Louçã, embora mais alto, mais elegante e, como diria o sr. Berlusconi, ligeiramente mais bronzeado. Sem a América para insultar, o que será feito desta gente nos próximos anos?

Obviamente, a desilusão será uma questão de meses, não de anos. Quando Obama começar a lidar com o mundo real, o antiamericanismo regressa e, com ele, regressa tudo ao asilo psiquiátrico.

(João Pereira Coutinho)

Thales Azevedo.

Vicky Cristina Barcelona

Os ares europeus parecem mesmo ter conseguido dar novas energias ao trabalho de Woody Allen. Depois de um inexpressivo começo de década com comédias divertidas mas descartáveis, o diretor, eterno apaixonado por Nova York, retoma seu prestígio com Match Point, filmado em Londres, e mostra a seus detratores que ainda consegue aliar drama a humor com sofisticação, inteligência e as sutilezas de sempre. Vicky Cristina Barcelona, que acaba de ser lançado, é mais uma prova da sua boa forma, dessa vez com a sensualidade das terras espanholas, após invejáveis 40 anos de carreira e mais de 30 filmes realizados.

Thales Azevedo.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Torturadores, terrorismo e Lei da Anistia

O ministro Gilmar Mendes, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), voltou a condenar nesta segunda-feira o debate sobre uma possível revisão da Lei da Anistia levantado pelo governo federal. Mendes, que já defendeu o fim das discussões sobre o tema, afirmou repudiar as tentativas de ideologização e politização que envolvem este tipo de debate.

"Evidente que esse tema --direitos humanos-- se presta a idealizações ou politizações, eu tenho uma posição clara com relação a isso: repudio qualquer tentativa de manipulação ou tentativa de tratar unilateralmente os casos de direitos humanos. Direitos humanos valem para todos: presos, presidiários, presos políticos, da mesma forma", afirmou o ministro.

O ministro também aproveitou para responder às declarações da ministra Dilma Roussef (Casa Civil), que afirmou considerar "imprescritíveis" os crimes de tortura cometidos no país. "Essa discussão sobre imprescritibilidade é uma discussão com dupla face, porque o texto constitucional também diz que o crime de terrorismo é imprescritível", disse Mendes.

A declaração de Dilma --que foi presa e torturada durante o regime militar no Brasil (1964-1985)-- foi motivada pelo parecer emitido pela AGU (Advocacia Geral da União) que considera perdoados pela Lei da Anistia os crimes de tortura cometidos na ditadura.

O ministro Tarso Genro (Justiça), outro defensor da revisão da lei, sinalizou nesta segunda-feira que o parecer poderá ser revisto pela AGU.

(Folha Online)

Thales Azevedo.

Roger Moore e uma abertura





Abaixo, uma das mais sofisticadas aberturas de um dos melhores filmes da série, O Espião Que Me Amava. Interpretada por Carly Simon, a música se chama Nobody Does It Better.



Thales Azevedo.

domingo, 9 de novembro de 2008

Quantum of Solace

Cenários bonitos, pelo menos enquanto o filme se passa na Itália, e mais momentos turbulentos, em relação a seu antecessor Cassino Royale, podem divertir e atrair um novo público, mas Quantum of Solace é uma outra - e possivelmente mais forte - decepção para os fãs de James Bond. Daniel Craig retorna ainda mais semelhante a um trabalhador braçal, brutamontes e violento, mas sentimental e abalado pela perda da exageradamente citada Vésper Lynd. Alia-se a uma bondgirl desinteressante e motivada por um desejo de vingança clichê e similar ao seu para combater vilões bobos e mal desenvolvidos. Nem sinal da clássica apresentação "Bond, James Bond", de jetpacks, relógios especiais ou carros invisíveis. A abertura conta com a voz irritante de Alicia Keys. O famoso tema só aparece com a chegada dos créditos finais.

Percebe-se uma tendência de aproximação com a elogiada trilogia Bourne, estrelada por Matt Damon, numa tentativa de modernização que comprometeu elementos essenciais. Algumas cenas históricas da série são homenageadas, como quando uma das vítimas afetivas do irresistível agente aparece assassinada e coberta de petróleo numa cama.

A original é de 007 Contra Goldfinger, ainda com a elegância e o charme incomparáveis de Sean Connery e a dita cuja banhada a ouro. Em outra referência, dessa vez a O Espião Que Me Amava, com Roger Moore, um suposto capanga é derrubado de um prédio após ser segurado pela gravata. Mas nada compensa a frustração de quem gostava até dos tempos de Pierce Brosnan.

Bond também dispara umas boas frases sobre América Latina, cocaína, comunismo, corrupção e afins. O foco do enredo está na Bolívia. Não que o roteiro seja primoroso e ajude muito. Ele segue bem a linha reformista. Se Cassino Royale soava como um filme de ação qualquer, Quantum of Solace consolida essa imagem na era Craig. A euforia por verossimilhança e inovação, simplesmente, não mais permite que James Bond seja James Bond.

Thales Azevedo.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Obama


Alexandre Rios.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

04/11/2008

Thales Azevedo.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

A Sagrada Família

Já tudo foi dito e escrito sobre o último livro de Reinaldo Azevedo, "O País dos Petralhas" (Record, 337 págs.). Uma feroz e divertida denúncia da política brasileira e do "establishment" petista atualmente em cena? Sem dúvida.

Mas existe uma passagem do livro que não é para rir. É para ler, meditar, talvez chorar. Acontece a propósito de nada: Reinaldo Azevedo prepara-se para sair de férias e, em momento de trégua, partilha com os leitores do blog a memória feliz de um livro aparentemente menor, "A Morte de um Apicultor", do sueco Lars Gustafsson.

Quem leu Gustafsson? Curiosamente, eu li. E perguntei-me, durante anos, se seria a única criatura do mundo a lembrar com ternura desse livro imensamente melancólico e belo. É a história de um velho, condenado por doença mortal, que vai anotando, em vários cadernos, os pensamentos, as rotinas e até as dores físicas de uma vida a caminho do fim. "Recomeçamos. Não nos rendemos", escreve o velho, vezes sem conta. E, com essa frase, termina a sua odisséia, momentos antes de a ambulância vir buscá-lo.

Reinaldo Azevedo evoca "A Morte de um Apicultor" para dizer o que de mais profundo alguém pode dizer sobre a função de uma democracia civilizada: ela existe, precisamente, para que possamos tratar das nossas vidas banais. Para que possamos ser como o velho apicultor do livro: simplesmente interessados nas nossas rotinas, nas nossas famílias, nas nossas memórias privadas. E conclui o colunista: o que é imperdoável na política brasileira não é apenas a corrupção, a boçalidade e a ignorância dos próceres. O que é imperdoável é a existência de uma elite política moralmente miserável que impede esse espaço pessoal e intransmissível onde podemos ser "senhores das nossas lendas" e alheios ao ruído do mundo. No Brasil, tudo é ruído. E no resto do mundo?

No resto do mundo, talvez não. A tese pertence a Luc Ferry e ninguém diria que Luc Ferry e Reinaldo Azevedo dariam um bom par. Mas as aparências enganam. Em "Famílias, Amo Vocês", um breve ensaio publicado no Brasil pela Objetiva, Luc Ferry retoma a observação pessoal de Reinaldo e elabora uma questão filosófica fundamental: nos tempos que passam, seremos capazes de nos sacrificar por algo ou por alguém? Ao olharmos para o brilhante século 20 e para o longo cortejo de matanças em que a centúria foi pródiga, encontramos milhões de seres humanos que marcharam e mataram em nome de puras abstrações. A Nação. O Partido. O Progresso. A Raça. O Império. O baile terminou em chamas e, hoje, no meio das cinzas, alguns zelotes ideologicamente nostálgicos lamentam o "recolhimento individualista" das nossas sociedades "burguesas" e clamam pelo inevitável, e tantas vezes sanguinário, regresso da "imaginação ao poder".

A resposta de Luc Ferry é a oposta: devemos festejar o recuo das grandes causas; e devemos, sobretudo, celebrar as pequenas. Devemos celebrar os nossos familiares, os nossos amigos. A nossa tribo. O nosso "pequeno pelotão", como dizia Burke no século 18. São eles as causas por que vale a pena lutar. São eles que constituem o princípio e o fim das nossas "transcendências".

Nas palavras do filósofo francês, houve uma "divinização do humano" ou, se preferirem, uma "transcendência na imanência" que leva o Homem ocidental a apenas "sair de si mesmo" para participar no destino daqueles que lhe estão mais próximos. As nossas utopias são pessoais, não coletivas; e esse recuo é prova da nossa maturidade política e de uma certa decência moral.

Ao longo da história, as famílias sempre estiveram ao serviço da política e foram, por vezes, estilhaçadas por ela? É hora de virar o disco: uma sociedade política civilizada deve servir as famílias; deve permitir que estas possam cultivar as suas virtudes sem a intervenção e os constantes abusos do Estado.

E o Brasil será essa sociedade política civilizada no dia em que o ruído do mundo der lugar ao silêncio dos lares. No dia em que for possível, como escreve Reinaldo Azevedo, ter uma alma, cultivar intimidades, guardar as pequenas coisas ridículas, sem que a República conspire com suas sujidades e violências. Será esse o dia em que o famoso dilema de Camus deixará de fazer sentido: a justiça ou a minha mãe? 
Obviamente, a mãe.

Porque, como diria um velho apicultor sueco, nós nunca nos rendemos perante o que nos é sagrado. Recomeçamos.

(João Pereira Coutinho - Folha de São Paulo)

Thales Azevedo.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O Pink e o Cérebro




Navegando pela internet, mais particularmente no site de Luiz Azenha, vi alguns comentários sobre essa eleição da cidade de São Paulo. Vamos lá.


Stella (27/10/2008 - 10:33) Permita-me discordar Azenha, mas a grande me(r)dia, o poder econômico e o neo-coronelismo paulistano elegeram um poste. Agora temos o Pink e o Cérebro governando a capital e o estado, mas para sorte do Brasil, parou aí. Graças a Deus, São Paulo definitivamente não é o Brasil.

Messias Franca de Macedo (27/10/2008 - 11:00) O [verdadeiro] José Serra Elétrica [José Serquécia] que deve ser apresentado ao Brasil. Um político obcecado pelo poder, rancoroso, que faz política não visando o bem comum, e sim objetivando seus espúrios e inconfessáveis interesses sórdidos."...

Eu acho que ele [Kassab] foi uma pessoa fabricada. Ele é uma espécie de Pitta que deu certo. O Pitta foi fabricado pelo Maluf igualzinho o Kassab foi fabricado pelo Serra. Quem era Kassab antes do Serra? Eu mesma nunca tinha ouvido falar dele, assim como ninguém tinha ouvido falar do Pitta. É o Pitta que deu certo. E deu certo porque o PSDB, embora rachado e enfraquecido por divisões internas, se deu conta de que ele era a maneira que tinha de ganhar a batalha contra o PT, que é seu grande adversário..."

[Maria Victoria Benevides CIENTISTA POLÍTICA, 66, Professora titular da Faculdade de Educação da USP e autora de "O Governo Kubitschek" (1976), "A UDN e o Udenismo" (1980), "O Governo Jânio Quadros" (1981) e "O PTB e o Trabalhismo" (1989), entre outros livros - em entrevista a "Folha de São Paulo (27/10/08).]

E sobre a comemoração da vitória:

... Lojas fechadas, noite de domingo, a praça Ramos de Azevedo, no centro, é tradicional refúgio de moradores de rua, cheiradores de cola e usuários de crack. Foi lá que, ontem, aconteceu a festa da vitória de Gilberto Kassab. Dos 3,8 milhões de votantes que escolheram o democrata, menos de mil (segundo a Polícia Militar) compareceram à festa. Sem prática em "festas da vitória", o DEM paulistano usou uma trilha sonora eclética para animar os fiscais de urna e cabos eleitorais que reuniu na praça: tinha "Festa no Apê", de Latino (em ritmo de bate-estacas), "Me Leva" (na voz de Calcinha Preta), "Louvação ao Senhor Jesus" e, é claro, o hino de campanha. "Nesse a gente confia."(...) Às 21h, vereadores da aliança e subprefeitos subiram as escadarias do Teatro Municipal. Ao lado de Wadih Mutran, do partido de Maluf (PP), o tucano Ricardo Montoro era o mais eufórico. Acenava todo o tempo para cabos eleitorais e habitués da praça, como se ele próprio fosse o vencedor nas urnas. "Ué, é ele que é o Kassab?", perguntou uma dama toda de vermelho, que parecia ter entrado na festa errada. Logo depois, estava fumando crack com meninos de rua. O lugar é mesmo barra pesada de noite e muitos já tinham desistido de esperar. Mas às 21h30, Kassab chegou. Falou "muito obrigado" e mais alguma coisa que não se sabe porque o microfone falhou. Dez minutos depois, foi embora. Fim de festa.

Fonte: Laura Capriglione, da reportagem local da Folha


Próximo passo do Pink e Cérebro: Dominar o mundo!


Alexandre Rios.

domingo, 26 de outubro de 2008

Eleições 2008 - Sorria, meu bem





Com mais de 20 pontos de vantagem, Gilberto Kassab vence a disputa pela prefeitura de São Paulo. Acima, dois vídeos bacanas da campanha, que resistiu a agressões e baixarias incontáveis, sempre com alto nível. O PT não imaginava tamanho desastre e é possível que Marta Suplicy nunca mais ganhe uma eleição. Os paulistanos deram o seu recado. Fernando Gabeira perde no Rio de Janeiro por diferença mínima, apesar de ser a cara da cidade. Mas ganha pelo exemplo de hombridade que deu - "você está disposto a pagar qualquer preço para vencer, eu não", como disse a seu adversário em um dos debates. Prometeu não atacar, não sujar as ruas, não gastar demais. Cumpriu rigorosamente. João Henrique leva em Salvador e aplica uma derrota no governador Jaques Wagner. Quem esperava um avalanche petista nesse ano, definitivamente, não deve estar em bons momentos.

Thales Azevedo.

Até quando?










Lucas Caires

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Ô, coisinha tão bonitinha do pai...

Com a divulgação da foto (de Masao Goto Filho), suponho, Mino quer mostrar quão influente e poderoso ele é. E como é independente a revista que ele faz — aquela que dá desconto em assinatura para filiados ao PT e que jamais deixa de ser atendida com a publicidade da secretaria de Franklin Martins.

(Reinaldo Azevedo)

Thales Azevedo.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O AC/DC está de volta!

Depois de oito anos de espera, enfim, o AC/DC leva às lojas seu novo cd, Black Ice. Ouvi rapidamente (baixei na internet, admito!) e posso afirmar que o álbum é muito bom, rock and roll ao estilo AC/DC. Aliás, quatro faixas têm "rock´n´roll" no nome, inclusive o primeiro single "Rock´n´roll train", que já pode ser visto no youtube. A lista de músicas do álbum é a seguinte:

"Rock 'n' roll train"
"Skies on fire"
"Big Jack"
"Anything goes"
"War machine"
"Smash ‘n’ grab"
"Spoilin' for a fight"
"Wheels"
"Decibel"
"Stormy may day"
"She likes rock 'n' roll"
"Money made"
"Rock ‘n’ roll dream"
"Rocking all the way"
"Black ice"


Em tempos de decadência musical bandas como o AC/DC fazem falta. Muita falta.


Alexandre Rios.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Bush: Missão Cumprida

Entre a eleição americana em 4 de novembro e a posse do novo presidente, o mundo ainda terá 77 dias de George W. Bush.

Felizmente, Bush não vai escapar tão fácil da História: no mundo das imagens, ou da "indústria cultural", como inventaram Horkheimer e Adorno, Bush acaba de ser escancarado para o grande público no ótimo "W.", novo filme do diretor Oliver Stone ("JFK", "Doors", entre outros). Com uma espetacular e comovente atuação de Josh Brolin no papel do presidente

Mesmo sem ser antipático a Bush (ao contrário), o filme acaba funcionando como mais um prego no caixão do presidente e de sua família, há 200 anos ciscando ao redor do poder nos EUA.

É também um tapa na cara dos americanos que o elegeram duas vezes. Na segunda, por sinal, Bush e os republicanos tiveram uma vitória completa em 2004: no voto popular, no Colégio Eleitoral, na Câmara e no Senado e na maioria dos Estados.

Entre a reeleição de Bush e o final de seu segundo termo agora, os EUA passaram do auge do unilateralismo, da arrogância e do uso da força para um apelo para a cooperação internacional sem precedentes. Se países falissem, a América de Bush seria o mais espetacular caso de quebra da história contemporânea.

Em quatro anos, a sorte dos EUA e de Bush mudaram da água para o vinho, com forte impulso negativo dado pelo comando presidencial e seu pequeno e obtuso núcleo de poder.

Em 2003 e 2004, tive o privilégio de acompanhar em Washington tanto os fatos que precederam a Guerra do Iraque quanto, mais à frente, a reeleição de Bush.

Os EUA eram outro país. Os grandes jornais acreditavam piamente em quase tudo o que o presidente dizia. As pessoas estocavam água, alimentos e pilhas em suas casas a cada sinal de uma nova catástrofe terrorista. O Patriot Act permitia o monitoramento de milhões de telefonemas entre americanos comuns, e o governo enchia a atmosfera com o mais potente medo que pudesse criar.

Assim Bush se reelegeu, ludibriando os fáceis de ludibriar norte-americanos médios com histórias de terror.

O filme de Stone é apenas um sinal do fim melancólico da era Bush. Os então todo-poderosos assessores do presidente --com poder para gravar, interrogar e prender-- são agora expostos de forma inimaginável há quatro anos. A ponto de o principal jornal gay (e gratuito) de Washington, "Blade", questionar em manchete nesta semana: "Is Condie Gay", em referência à nada menos que a secretária de Estado dos EUA, Condollezza Rice -- solteirona assumida como o nosso prefeito Kassab.

Os anos Bush também deixaram que uma indelével rachadura aparecesse na maior economia do mundo. Descobriu-se que os EUA mal teriam crescido nos últimos cinco anos não fosse a propulsão do consumo. Surpresa: ele era financiado por créditos sem lastro que giravam no vazio. O país está quebrado.

A nação mais rica(?) e militarmente poderosa está de calças curtas ao final do reinado de Bush. Mesmo a solução mais coerente para a atual crise --injetar capitais diretamente nos bancos-- partiu de além-mar, do Reino Unido, e foi replicada nos EUA. É tudo incrível.

Mas, por mais extraordinário que pareça, com sua arrogância e ignorância, Bush talvez tenha prestado um imenso serviço.

Se os EUA crescerem muito próximo de zero nos próximos dois ou três anos, o que é muito possível, o tamanho da economia chinesa terá passado de 1/3 da americana para mais da metade. Outros vários emergentes também ganharão nacos maiores nessa participação global.

Ao menos em termos econômicos, o mundo será outro.

Esse talvez seja o principal legado de Bush.

Fernando Canzian, colunista da Folha.

Alexandre Rios.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

sábado, 18 de outubro de 2008

Desespero e escrúpulos às favas III - Eles estão descontrolados

Na primeira imagem:

A delinqüência eleitoral culminou, na última quinta-feira, com a transformação das ruas próximas ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, em uma praça de guerra. O que parecia ser um confronto entre a Polícia Civil, que está em greve e tentava invadir o palácio, e a Polícia Militar, que defendia o prédio, era, na verdade, uma ação engendrada por sindicalistas irresponsáveis, liderados pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, que preside a Força Sindical apesar de ser acusado de desviar dinheiro do BNDES com a ajuda do dono de um prostíbulo. Paulinho deveria ter um único diálogo com a polícia: a confissão. Deram-lhe a chance de seguir outro caminho. Aliado de Marta, ele insuflou os policiais contra o governador José Serra, para atingir a candidatura de Kassab, apoiado pelo tucano. Paulinho escancarou seu objetivo em um discurso feito a policiais na semana passada: "Estamos chegando às vésperas do segundo turno. O chefe de vocês, que é o José Serra, sabe que tem de ganhar as eleições. E sabe que uma greve da polícia tem repercussão nacional. A proposta que eu quero fazer aos companheiros é que, na semana que vem, na quinta-feira, a gente faça uma passeata saindo do Morumbi, com carro de som, com bandeira, com faixa. E, do Morumbi, vamos para a porta do Palácio dos Bandeirantes". Ofereceu 200 carros de som e apoio da Força Sindical para encorpar a passeata.

Os grevistas compareceram armados – o que configura sedição, e não protesto trabalhista. O saldo foi o único que se podia esperar: os policiais civis entraram em confronto com os militares, que bloquearam o caminho. Houve tiroteio, ataques com armas de bala de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Ao final, 24 pessoas ficaram feridas, incluindo o coronel da PM Danilo Antão Fernandes, baleado com uma pistola de calibre 9 milímetros. Paulinho saiu ileso. O sindicalista mandou os policiais e seus colegas para os escudos da polícia, enquanto estimulava a turba da retaguarda. Juntamente com ele estava o líder do PT na Assembléia Legislativa, Roberto Felício. "Não foi um duelo entre forças policiais, mas um movimento incitado politicamente. Houve participação da CUT, que é ligada ao PT, e da Força Sindical, ligada ao PDT", denunciou o governador José Serra.

Veja aqui.

Na segunda imagem:

Oficiais do Tribunal Regional Eleitoral do Rio apreendem cerca de 3 milhões de panfletos encomendados pelo PT contra o candidato do PV a prefeito, Fernando Gabeira.

Veja aqui.

Na nova pesquisa do Datafolha, Gabeira tem 44 pontos contra 42 de Eduardo Paes. Em São Paulo, 53 para Kassab contra 37 de Marta - os mesmos 37 da pesquisa anterior ao festival de baixarias. Em Salvador, 48 para João Henrique contra 41 de Walter Pinheiro.

Thales Azevedo.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Desespero e escrúpulos às favas II


Eis o comercial da candidata Marta Suplicy, já banido de circulação, que indaga se seu adversário e atual prefeito de São Paulo Gilberto Kassab é casado e tem filhos. Sabe-se que as duas respostas são negativas. A clara intenção é o sórdido questionamento sobre sua sexualidade, que a ninguém interessa, a não ser a ele próprio, e em nada influencia na sua excelente administração da cidade. Na tentativa de reverter a situação de 17 pontos de vantagem para o candidato democrata, apontados pelo Datafolha, parece mesmo valer tudo. A reação dos mais diversos setores do jornalismo - do sério, e de quem quer que faça questão de exigir um mínimo, sim, de escrúpulos nas campanhas foi unânime e imediata. Abaixo, dois comentários de Reinaldo Azevedo.

"A campanha de Marta comete uma dupla canalhice ética.

A primeira, evidentemente, é especular, sem que lhe tenha sido dada licença, sobre a condição sexual de alguém, o que é inaceitável; a segunda é sugerir que, se fosse verdadeira a ilação, seria uma mácula. Não! Kassab, acreditem, não está sendo pessoalmente atingido. Mas todos os gays do país estão. Marta quer lhes cassar a cidadania com uma campanha covarde e homofóbica, que nem mesmo ousa dizer seu nome. Justo ela, que iniciou a sua carreira política fazendo proselitismo entre os homossexuais. Mais uma farsa se revela — ou uma “bravata”, para usar expressão do presidente Lula: os gays serviram para dar visibilidade a Marta Suplicy. Agora, se preciso, ela os manda para a fogueira para conquistar os votos evangélicos. Foram usados e agora são jogados fora. No PT, vale tudo para se eleger. Sempre valeu."

"Caberia ao DEM indagar se, quando Marta namorou aquele argentino pela primeira vez, já havia rompido formalmente o casamento com Eduardo Suplicy? Eu acho que não. Eis aí. Eis o PT que diz combater preconceitos. Eis o PT de Lula, que ele diz ser alvo de discriminação."

Thales Azevedo.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Caetano e Gabeira



Thales Azevedo.

Desespero e escrúpulos às favas

Marta em estado bruto e com a arrogância à flor da pele enfrentou, ontem, um adversário ameno e com cara de bom moço no debate promovido pela Rede Bandeirantes de Televisão.

"Virgem Maria", espantou-se Gilberto Kassab depois de uma intervenção particularmente dura de Marta. "Virgem Maria" - deve ter repetido parte dos assistentes do lado de cá da telinha.

Uma idéia do que viria à noite fora oferecida ao longo do dia na forma de um comercial da campanha de Marta no rádio e na televisão.

O comercial faz insinuações a respeito da vida privada de Kassab (DEM). Uma voz de homem não identificada diz que o eleitor tem o direito de saber se Kassab é casado e se tem filhos. [...]

Sejamos claros: a ultra-liberal sexológa Marta, que não renuncia ao sobrenome do ex-marido, quer sugerir que Kassab é gay. Correligionários no Rio do candidato a prefeito Eduardo Paes (PMDB) se valem do mesmo jogo baixo e sujo contra Fernando Gabeira (PV).

No caso de Gabeira, bocas de aluguel percorrem a zona oeste da cidade e faixas da zona sul disseminando o boato de que ele é gay, viciado em drogas e ateu.

De Lula, em 1989, a turma de Fernando Collor disse que congelaria os depósitos das cadernetas de poupança. Foi Collor que congelou. De Gabeira se diz que reforçará com drogas a merenda escolar.

(Ricardo Noblat)

Thales Azevedo.