domingo, 27 de setembro de 2009

Adventureland

Adventureland/Férias frustradas de verão – mais um título infeliz no Brasil - é uma grata surpresa deste ano não muito interessante no cinema. Greg Mottola, que já havia dirigido o divertido Superbad em 2007, superou-se com este filme delicioso de ser visto. Diálogos sagazes, cenas divertidas aliadas com uma dose de existencialismo – claro, com todas as limitações naturais do gênero – e boas atuações surpreendem aqueles que não esperam lá grandes coisas. Sim, é um bom filme. E com uma trilha sonora digna e extremamente adequada para o período em que a história se passa, a década de 80. Destaque para a figura da garota perfeita: Kristen Stewart com uma camiseta do Lou Reed, louvado no filme com toda justiça histórica.

Alexandre Rios.

Entrevista com Juca Kfouri

Um dos principais membros do jornalismo esportivo no Brasil, Juca é formado em ciências sociais.

Ficou conhecido ao organizar, em 1982, uma matéria que denunciava a chamada “Máfia da Loteria Esportiva”, na qual jogadores eram comprados por apostadores, a fim de garantir que os resultados dos jogos da loteria seriam aqueles em que haviam apostado, o que lhe garantiu diversas ameaças por telefonemas anônimos.

Passou por grandes veículos impressos como Playboy, Placar e Lance! e emissoras como Globo, TV Cultura, Record e SBT.

O trabalho de Juca na revista Placar priorizou o viés investigativo no esporte, coisa que havia sido feita por poucas vezes na história da imprensa esportiva brasileira.

Atualmente trabalha na ESPN Brasil, CBN e Folha de São Paulo.

Ser jornalista é...

Por Juca Kfouri

...desagradar a gregos e troianos.

Palmeirenses e corintianos.

Cariocas e paulistas.

Nortistas e sulistas.

Católicos e evangélicos.

Árabes e judeus.

São-paulinos e santistas.

Petistas e tucanos.

Lulistas e serristas.

Tricolores e rubronegros.

Gremistas e colorados.

Ser jornalista é não querer agradar ninguém.

Os do Galo e os do Cruzeiro.

Ser jornalista é ser solitário.

Ser jornalista é ser oposição, porque o resto é armazém de secos e molhados, como já ensinou mestre Millôr Fernandes.

Que ensinou, também: "Quem se curva diante dos poderosos, mostra o traseiro aos oprimidos".

Ser jornalista é discutir tudo, até, e, hoje em dia, principalmente, sentenças judiciais, tamanhos são os absurdos.

Ser jornalista é não querer agradar ninguém e não se curvar ao dinheirismo.

Ser jornalista é querer melhorar a esquina de sua rua, sua cidade, seu país, o mundo!

Profissãozinha desgraçada, hein?


Alexandre Rios.

sábado, 26 de setembro de 2009

I Wanna Be Adored



I don't have to sell my soul
He's already in me
I don't need to sell my soul
He's already in me

I wanna be adored
I wanna be adored

Alexandre Rios.

O Brasil e a crise política em Honduras

A atual crise vivida por Honduras constitui um caso importante a ser estudado pelo direito internacional do nosso país. Primeiro porque se trata de um conflito que repercute mundialmente e que implica de modo amplo a América Latina e particular o Brasil. Também porque a análise requer a ponderação de diversos aspectos que incluem a legalidade do governo hondurenho e a aplicação de medidas e normas por uma autoridade que não é reconhecida internacionalmente como legítima e, ao mesmo tempo, um amplo espectro geopolítico que vem determinando as ações adotadas por outros países.

O Brasil atualmente está no centro da crise por haver recebido José Manuel Zelaya Rosales em sua Embaixada na condição de convidado por ser o presidente legítimo de Honduras. Zelaya não foi recebido na condição de asilado político, mas de Presidente legítimo. Essa condição de autoridade constitucional já havia sido confirmada por outros 192 países nas Nações Unidas que, por unanimidade, votaram uma resolução de repúdio ao Golpe de Estado exigindo a restauração imediata e incondicional do Presidente Zelaya. No âmbito interamericano a decisão unânime foi no sentido da suspensão de Honduras da Organização dos Estados Americanos com base na ruptura da ordem democrática e no fracasso de iniciativas diplomáticas (Carta Democrática Interamericana).

Outros Estados também adotaram medidas concretas como forma de pressionar o governo golpista a restabelecer a legitimidade. A Comissão Européia anunciou o congelamento de um fundo de ajuda orçamentária ao governo de Honduras e, após haver chamado para consultas todos os embaixadores de seus países-membros com representatividade no país, ratificou a suspensão das negociações de um acordo comercial com os países da América Central até que o presidente deposto retorne ao poder. França, Espanha e Itália tomaram medidas de repúdio ao golpe e o embaixador da Alemanha deixou o país.

A Espanha comunicou a expulsão do embaixador hondurenho em Madri depois de sua destituição pelo presidente Zelaya e destacando ser um ato de coerência com o compromisso da comunidade internacional de manter a interlocução oficial com o governo constitucional de Honduras.

O Departamento de Estado norte-americano, embora pressionado por setores ultraconservadores, anunciou a suspensão da concessão de vistos não emergenciais a cidadãos hondurenhos e planejam cortar mais US$ 25 milhões em assistência caso Zelaya não seja restituído à Presidência.

O caso de Honduras já seria interessante pelo ineditismo de canalizar o amplo repúdio da comunidade internacional a golpes militares e a interrupções bruscas e ditatoriais da normalidade democrática. Mas outros elementos o fazem especialmente chamativo, como o posicionamento do Departamento de Estado norte-americano até o momento e a expectativa pelos gestos futuros, a mudança de postura da OEA que também responde a uma renovação trazida pelo governo de Obama e a coordenação latino-americana em torno de causas comuns.

O Brasil vive um momento de respeitabilidade internacional sem precedentes e que tem contribuído para sedimentar novos consensos junto a organismos internacionais, mas diante da imprevisibilidade com que atuam os golpistas, a gestão da crise dependerá fundamentalmente da perícia diplomática brasileira e do cuidado técnico em não contribuir para o aprofundamento da violência militar. Não há razões para suspeitar que o Itamaraty seja incapaz de enfrentar o ineditismo desse desafio, apesar da resposta covarde dos golpistas e dos saudosistas de regimes militares. Estes não apenas em Honduras.

(*) Carol Proner é doutora em Direito, Professora de Direito Internacional da UniBrasil e Pesquisadora da l'École des hautes études en sciences sociales em Paris, Professora do Programa de Direitos Humanos e Desenvolvimento da Universidade Pablo de Olavide, Sevilha.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Stereo - Pavement



...Take another ride to see me home
Listen to me! I'm on the stereo stereo
Oh my baby baby baby baby babe
Gave me malaria hysteria!

Alexandre Rios.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Ascensor para o cadafalso



Não tenho dúvida de que Ascensor para o cadafalso seja um dos títulos mais apropriados do cinema – e também um dos mais belos. Neste primeiro filme do francês Louis Malle, todo um plano programado próximo à perfeição fracassa por uma questão mínima do destino, sempre ele, a colocar por água abaixo toda uma construção rebuscada, arquitetada pelos protagonistas da história.


Florence Carala (Jeanne Moreau) e seu amante Julien Tavernier (Maurice Ronet) estão decididos a assassinar o empresário das guerras e marido de Florence, Simon Carala. Não apenas para viverem juntos, mas para acabar de vez com a farsa que envolvia suas vidas, comuns nos conflitos burgueses retratados no cinema europeu na nouvelle vague. Julien concretiza a parte principal do plano mas esquece, por uma questão fatalista do destino, de um acessório que poderia levar ao crime ao patamar de assassinato – já que estava arquitetado como um suicídio. Ele retorna apressado já no fim do expediente do seu último dia de trabalho na empresa do senhor Carala para resgatar a prova. Fuma seu cigarro, já no elevador, consciente do ato e certo do seu sucesso. Tão certo que o seu carro é deixado aberto e com a chave na esquina à frente.

Mas o ascensor é desligado. Um casal de jovens, com todas as incertezas das vidas marginais que levam, com futuros não muito fáceis pela frente, roubam o carro para se divertirem, passar o tempo, aproveitar por um curto momento prazeres incomuns às suas existências. Julien Tavernier fica preso. Florence avista o carro do amante, no banco do passageiro está a moça, muito mais jovem e descompromissada – teria o seu cúmplice acovardado e fugido com outra?

Florence parece não acreditar e passa a vagar pelas ruas de Paris, por toda a madrugada, à procura de Julien, com a esperança de encontrá-lo com explicações sensatas ou para acabar de vez com o surto momentâneo e voltar para a vida burguesa que levava. Enquanto isso, os jovens rompem os limites, atingem velocidades que lhes dão a sensação de liberdade e de rebeldia que já aflorava na Europa da década de 50. Encontram um casal mais velho de alemães num motel, bem-sucedidos, conscientes do mundo e com uma visão crítica e consolidada da juventude cercada de devaneios. O jovem rapaz percebe como é uma farsa, não passa de um marginalzinho, sem futuro, sem experiência, inferior ao imponente alemão que fumava e bebia apenas o que havia de melhor, exclusivo para ricos.

A humilhação leva ao assassinato do casal alemão. O crime leva ao carro de Julien, abandonado pelos jovens que decidem infantilmente acabar com suas vidas curtas. A polícia já tem um veredicto: Julien é o responsável. Será ele condenado pelo crime que não cometeu? Simon Carala é encontrado morto na empresa. Suicídio, não resta dúvidas aos investigadores. O responsável pelo crime está sendo procurado pelo outro assassinato, e Florence observa tudo. Percebe que algo está errado e precisa de uma solução, como se não fosse ela também uma criminosa.

Neste sentido, a sensação de Florence é a de estar fazendo justiça. Afinal, parecia claro e legítimo o assassinato que ela arquitetou – já que seu marido era, antes de tudo, um fazedor de dinheiro através da guerra na Indochina Francesa. Mas no destino uma coisa leva a outra. Não fosse o primeiro crime, o que seria do segundo? Quem é mais inocente na história marginal que entrelaça pessoas completamente diferentes? Marginal em duas classes sociais distintas. Burgueses ou populares, todos são criminosos neste dia, sujeitos às penas da justiça e, principalmente, da sociedade – essa sim, a mais cruel de todos os personagens das vidas dos seres humanos.

E resta a nós, já cúmplices, observar a crueldade dos desacertos da vida, acompanhados da belíssima trilha sonora de ninguém menos que o gênio Miles Davis, composta inteira numa única noite, acompanhado de quatro outros músicos , Moreau e Malle, dividindo garrafas de champanhe no melhor estilo francês.

Alexandre Rios.

domingo, 20 de setembro de 2009

Entrevista com Dilma Rousseff

Por, Valdo Cruz - DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Candidata à Presidência em 2010, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) diz que o Estado mínimo é uma "tese falida", que "só os tupiniquins" aplicam. Em sua opinião, quem defendia que o mercado solucionava tudo "está contra a corrente" e "contra a realidade". Principal auxiliar do presidente Lula, escolhida por ele para ser a candidata à sua sucessão, Dilma sai em defesa do chefe diante das críticas de que ele adotou uma política "intervencionista e estatizante". "Os empresários podem falar o que quiserem, que é democrático. O presidente da República não pode dar uma opiniãozinha que é intervencionista. Diríamos assim, não é justo", protestou Dilma, num tom exaltado, em entrevista à Folha, na última quinta-feira, em seu gabinete, todo ornamentado com imagens de santos.
Bem-humorada, a ministra afirmou não aceitar a pecha de "intervencionista", mas não escondeu o sorriso ao dizer que "aceita" e "concorda" que o governo Lula seja classificado de nacionalista e estatizante.
"Esse país não pode ter vergonha mais de ser patriota" ou "que história é essa de nacionalista ser xingamento?" foram algumas de suas frases, sinalizando o tom que os petistas devem usar na disputa de 2010. Apesar de refutar a classificação de intervencionista, ela, a exemplo de Lula, cobra da Vale, uma empresa privada, maior compromisso com o país. "É uma empresa privada delicada", que não pode sair por aí "explorando recursos naturais do país e não devolver nada".


FOLHA - O ex-presidente FHC disse que é preciso fazer um país mais aberto, não ter uma pessoa só que manda, porque hoje parece que o Brasil depende de um homem só. O que a sra. acha?

DILMA ROUSSEFF - A quem ele está se referindo?

FOLHA - Ao presidente Lula.

DILMA - Se você acha isso, eu não tenho certeza. Se tem um presidente democrático, é o presidente Lula. Agora, ele jamais abrirá mão de suas obrigações. Entre as obrigações está mandar algumas coisas. Por exemplo, fazer o Bolsa Família. Ele mandou que não fizéssemos aventura nenhuma com a taxa de inflação.

FOLHA - A declaração de FHC embute a análise de que no governo Lula houve uma maior intervenção na economia, nas estatais, na vida das empresas.

DILMA - Tinha gente torcendo para ficarmos de braços cruzados na crise. Diziam: "o governo Lula sempre deu certo, mas nunca enfrentou uma crise internacional". Apareceu a maior crise dos últimos tempos, que estamos superando. Eu acho que quem defendia que o mercado solucionava tudo, o mercado provê, é capaz de legislar e garantir, está contra a corrente e contra a realidade. O que se viu no mundo nos últimos tempos é que a tese do Estado mínimo é uma tese falida, ninguém aplica, só os tupiniquins. Nós somos extremamente a favor do Estado que induz o crescimento, o desenvolvimento, que planeja.

FOLHA - Pela declaração do ex-presidente, a sra. avalia que eles não teriam seguido a mesma receita de vocês nessa crise?

DILMA - Eu não gosto de polemizar com um presidente, porque ele tem outro patamar. Agora, os que apostam e ficam numa discussão, que, além de enfadonha, é estéril, de que há uma oposição entre iniciativa privada e governo, gostam de discussão fundamentalista. É primário ficar nessa discussão de que o governo, para não ser chamado de intervencionista, seja um governo omisso, de braços cruzados, que não se interessa por resolver as questões da pobreza nem do desenvolvimento econômico.

FOLHA - Essa maior interferência do governo não levou a uma visão estatizante da economia e a um discurso eleitoreiro, como no pré-sal?

DILMA - As acusações são eleitoreiro, estatizante, intervencionista e nacionalista. Tem algumas que a gente aceita. Nacionalista a gente aceita. Esse país não pode ter vergonha mais de ser patriota. Eu não vi um americano ter vergonha de ser patriota, nunca vi um francês. Que história é essa de nacionalista ser xingamento?

FOLHA - Nacionalista vocês aceitam. E estatizante?

DILMA - Se é o aumento da capacidade de planejar o país, de ter parcerias com o setor privado, de o Estado ter se tornado o indutor do desenvolvimento, concordo.

FOLHA - Intervencionista?

DILMA - Não somos.

FOLHA - Mas eleitoreiro?

DILMA - Não. Sabemos que quem não tem projeto vai achar tudo eleitoreiro.

FOLHA - Quando o presidente pressiona um dirigente de empresa privada, como Roger Agnelli, da Vale, não é uma ingerência indevida?

DILMA - Você acha certo exportar minério de ferro e importar produtos siderúrgicos? Ela é uma empresa privada delicada. Porque ela está explorando recursos naturais do Brasil. Você não pode sair por aí explorando os recursos naturais e não devolver nada. O presidente ficou chocado com empresas que demitiram bastante na crise sem ter consideração pelos empregos do país.

FOLHA - Isso representa prejuízo para uma empresa privada.

DILMA - Não se trata de prejuízo, se trata do tamanho do lucro, a mesma coisa da Petrobras. O que vale para a Petrobras vale para a Vale. A preocupação com a riqueza nacional é uma obrigação do governo. Eu não acho que o presidente foi lá interferir na Vale. O presidente manifestou, assim como muitas vezes os empresários manifestam, seu descontentamento, e não implica uma interferência, a gente tem de democraticamente aceitar as observações, ser capaz inclusive de aprender com críticas. Por que o presidente não pode falar?

FOLHA - A sra. acha que uma empresa privada tem de abrir mão de uma parte do lucro...

DILMA - Não estou discutindo isso. Estou discutindo é que ela, assim como a Petrobras, nem sempre pode. Se a Petrobras quiser o lucro dela só, vai fazer uma coisa monotônica.

FOLHA - O presidente pensou em tirar o Agnelli da Vale?

DILMA - Que eu saiba não. Ele não tem poder para isso. Como você disse, é uma empresa privada. O que ele fez foi externar seu descontentamento com a forma que demitiram gente. Ele não fez só para a Vale. Eu acho interessante essa história, os empresários podem falar o que quiserem que é democrático, o presidente não pode dar uma opiniãozinha que é intervencionista. Isso, diríamos assim, não é justo.

FOLHA - Durante o governo houve um grande processo de fusões de empresas no Brasil. Deu-se por um estímulo direto do governo Lula?

DILMA - São sinais dos tempos. Não tem nada de artificial. Ninguém falou "eu vou ali criar uma empresa fortíssima". As empresas estavam maduras. As que não se fundiram aqui compraram coisas lá fora.

FOLHA - A sra. defende um Banco Central independente, por lei?

DILMA - Não acho que seja necessário isso. Não vejo nenhum motivo para criar esse tipo de problema agora no Brasil, abrir esse tipo de discussão.

FOLHA - Quais são os pontos positivos que o governo Lula poderá apresentar durante a campanha eleitoral, em 2010?


DILMA ROUSSEFF - Eu acho que três, que vamos deixar de legado. Crescimento econômico, inflação sob controle e o fato de termos elevado à classe média milhões de brasileiros. Outro dia, o último dado dava quase 25 milhões de pessoas. Criamos uma rede de proteção para os mais pobres, fizemos uma transformação da educação básica. Tem ainda a questão das escolas técnicas, esse orgulho do presidente de ser quem mais criou universidades no Brasil. O JK criou 10, ele criou 11.

FOLHA - Duas não vinham do governo FHC?

DILMA - Tem mais três no Congresso. Tem o PAC. E tem mais uma coisa, a questão da nossa soberania, o fato de termos sido capazes, mantendo a nossa soberania, de ter uma política externa de diversificação de parceiros. O Brasil acabou com a submissão que tínhamos aos Estados Unidos, à Europa, e passou a ser um "player" internacional. E o presidente fez isso magistralmente. Essas coisas produzem, no Brasil e no governo, a respeitabilidade internacional. Eu acho que essa autoestima nós conseguimos passar para a população. Hoje nós não temos mais aquilo que o Nelson Rodrigues chamava de complexo de vira-latas. Eu acho que o Brasil mudou. E acho que as pessoas sabem disso.

FOLHA - E os pontos negativos do governo Lula, que serão explorados pela oposição?

DILMA - Ah, se a gente tivesse mais um prazinho fazia. A gente sempre pode melhorar tudo.

FOLHA - Mas alguns pontos, como saúde, segurança...

DILMA - Eu acho que nós temos uma grande tarefa daqui para a frente. O presidente sempre fala nisso. A questão da melhoria do Estado brasileiro. Esse negócio de transformar, de criar o Estado mínimo, é uma coisa muito ineficiente. Nós tivemos, depois da década de 80, um processo de desmantelamento da máquina pública, o que implicou perda de capacidade e de engenharia.

FOLHA - A sra. acredita que esse conjunto de programas será suficiente para o presidente eleger o seu sucessor?

DILMA - Nós acertamos mais do que erramos. Olha, se aquele assessor do Clinton tinha razão, "é a economia, estúpido", eu acho que o presidente Lula tem um governo que não é só economia. É, como eu disse, o social, o nacional e o internacional. Então, acho que, pelo menos, nós deixamos um grande legado.

FOLHA - Uma plataforma para eleger o sucessor?

DILMA - Esperamos que sim, mas, se não for suficiente, é um bom legado.

FOLHA - Como principal auxiliar do presidente Lula, como definiria a mensagem de uma campanha eleitoral no ano que vem?

DILMA - Não tenho a menor ideia, porque não sou marqueteira, não tenho esse talento. Mas no dia que eu tiver clareza disso eu te conto.

FOLHA - Mas a sra. conhece todo o governo. Não estou dizendo um slogan, mas a mensagem. DILMA - Mas eu já respondi isso, quando falei dos quatro pontos que nos distinguem. Acho que a questão do pré-sal é uma marca inequívoca nossa. Eu acho que nossas intervenções foram todas estruturantes para o país. O que eu estou querendo dizer é o seguinte: esse governo pode ou não fazer seu sucessor, eu pessoalmente espero que ele faça, agora inequivocamente ele mudou o Brasil, o de 2010 não tem nenhuma similaridade com o de 2002. Nem nas expectativas das pessoas, nos sonhos das pessoas, no que as pessoas acham que é possível ter. Até isso eu acho que é importantíssimo, nós elevamos o que as pessoas podem sonhar. Nós aumentamos as possibilidades de sonhos. Então o maior legado é essa imensa esperança de hoje que esse povo tem.

FOLHA - Candidata a presidente tem necessariamente de ser simpática e ter jogo de cintura?

DILMA - De preferência, ser simpático e ter um de jogo de cintura.

FOLHA - E não tendo essas características?

DILMA - A pessoa sofre.

FOLHA - A sra. vai sofrer?

DILMA - Eu não sei ainda. Mas a gente sempre sofre, não dá para achar que o mundo é um paraíso, que a gente vive em um mar de rosas.

FOLHA - O presidente tem falado, nos últimos dias, abertamente da sua candidatura a presidente...
DILMA - Pois é.

FOLHA - A sra. imaginou um dia disputar esse cargo?
DILMA - Se você perguntar para mim se alguma vez imaginei disputar, não. Imaginei não.

FOLHA - O que é ser candidata a presidente da República?
DILMA - Olha, [reflete por alguns segundos], eu acho que é para qualquer pessoa, brasileiro ou brasileira, é algo muito... Primeiro, honroso, a pessoa tem de se sentir muito honrada. Segundo, eu acho que é algo que o pessoal da minha geração, ela queria mudar o Brasil, o mundo, e queria um mundo mais justo, um Brasil mais avançado.
A minha geração foi contra a pobreza, a favor dos trabalhadores, a favor do desenvolvimento do país, da riqueza do Brasil. Então eu acho que o governo Lula nos deu a possibilidade de tornar isso real. Ainda no meu período de vida, porque podia ter passado por esse período e não ter se tornado realidade. Então essa experiência no governo Lula já foi avassaladora. Eu acho, para qualquer pessoa, estou falando do meu lado, do pessoal que está tocando o governo Lula, é uma honra. E, mais do que isso, é a continuidade disso que importa.

FOLHA - A sra. poder continuar isso é uma honra?
DILMA - É uma honra, é uma honra, sem sombra de dúvidas.

FOLHA - A sra. se sente preparada para isso?
DILMA - Eu não sei, porque essa, daqui para a frente, você não me pega em mais nenhuma, tá? Porque eu não vou entrar na sua, especulando sobre candidatura.

FOLHA - Mas a sra. já falou tanto sobre isso.
DILMA - Não, não vou. Não. Agora encerramos essa conversa de candidatura. A gente retomará, oportunamente, se for o caso, em 2010. Eu todas as vezes falei do ponto de vista conceitual. Isso é um assunto para ser tratado depois das convenções dos partidos, do PT.

FOLHA - Mas a sra. disse que é uma honra?
DILMA - Para todos nós será. Para todos nós, da minha geração e dos que participam do governo Lula, é uma honra. Porque tem isso no governo Lula. A gente tem esse lado, considera uma coisa muito importante.

FOLHA - A sra. teve, na infância, esse desejo de um dia ser presidente?
DILMA - Não, eu não tive não. Isso, eu acho que é mais de homem. Na minha época eu queria ser bailarina.

FOLHA - De bailarina a presidente da República.
DILMA - Não, mas é bailarina. Menina queria ser bailarina, princesa, Cinderela. Quando menina, da minha geração, queria ser bailarina, a gente gostava muito de bailarina.

FOLHA - A sra. fez exames na semana passada...
DILMA - Não, não fiz. Vou fazer, porque na semana passada, eu ia lá fazer, mas eu saí em férias e perguntei se precisava ir. Como estava em férias, tanto faz fazer numa semana, duas semanas depois. Vou fazer no final da próxima semana. Aí nós vamos fazer de fato o anúncio oficial da minha situação de saúde. Mas eu tenho absoluta certeza de que estou curada.

FOLHA - A doença mudou o comportamento da sra.?
DILMA - Muda, muda. Você dá mais importância a coisas menores. Por exemplo, você dá importância ao sol batendo nas folhas, você olha o mundo com outros olhos. Você dá importância maior para a vida. É sobretudo isso. Quer uma síntese. Dá uma imensa importância para a vida e suas manifestações. Árvores, flores, você olha mais, e dá mais importância para o mundo de uma forma mais tranquila, mais calma. Mesmo trabalhando 24 horas por dia.

FOLHA - A sra. se sente mais forte depois disso tudo?
DILMA - Fica mais forte. Foi o que eu falei no início, doente velho é um bicho muito esperto. Você fica esperto, fica mais forte.

FOLHA - Fica mais forte para qualquer desafio pela frente?
DILMA - Fica mais forte para enfrentar, porque as outras coisas não são tão desafiadoras como é a vida. A vida é mais desafiadora do que qualquer outra coisa. E tem de dar valor a isso, viver.

FOLHA - O que mudou na vaidade da sra. nesse período?
DILMA - Valoriza horrores o cabelo. Porque você perdeu, então valoriza ele, fica olhando para ele, passa a mão, olha se ele cresceu.

FOLHA - A sra. quer tirar a peruca quando?
DILMA - Eu estou esperando que ele cresça um pouquinho. Eu não posso nem dar de exemplo o cabelo de vocês, que são imensamente maiores do que o meu. O meu está muito curto. O que acontece, estou esperando ele crescer um pouquinho. A minha expectativa é essa, de que venha bem bonito, mas esse é um grande desafio.

FOLHA - Sobre a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira, ela afirma que se encontrou com a sra. A sra. afirma que não. O que afinal aconteceu?
DILMA - Para mim, esse episódio está encerrado.

Alexandre Rios.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Take the money and run

Como um personagem vivido por Woody Allen assaltaria um banco? A resposta no vídeo abaixo de Um Assaltante Bem Trapalhão - esqueçam a contribuição nativa ao título.



Alexandre Rios.

domingo, 13 de setembro de 2009

Jornalista que atirou sapato em Bush terá recepção de herói



A família do jornalista Montazer al-Zaidi, condenado a um ano de prisão por jogar um par de sapatos, em dezembro de 2008, no então presidente dos Estados Unidos George W. Bush, disse hoje que está preparando uma festa para recebê-lo como herói quando for libertado nos próximos dias.
Após jornalista jogar sapatos em Bush, modelo virou sucesso de vendas

"Os preparativos estão intensos e esperamos que Montazer seja liberado amanhã ou na próxima terça-feira", afirmou Udai, um dos irmãos de Zaidi, à Agência Efe.

Em 14 de dezembro de 2008, Zaidi atirou seus sapatos contra Bush, durante uma entrevista coletiva conjunta com o primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, em Bagdá.

"Este é o beijo de despedida, cachorro!", gritou Zaidi ao arremessar os calçados na direção do então presidente americano, cometendo duas ofensas graves no Iraque e no mundo muçulmano - jogar sapatos e chamar alguém de cachorro.

Udai disse que dezenas de pessoas expressaram interesse em participar da recepção a Montazer.

Em março de 2009, Zaidi foi condenado a três anos de prisão por ato hostil contra um chefe de Estado estrangeiro, um crime que consta no artigo 223 do Código Penal iraquiano, sentença que um mês depois foi reduzida para um ano.

Responsável pela defesa de Zaidi, o advogado Diaa al-Saadi, adiantou à Efe, que seu cliente será libertado antes do final da pena por bom comportamento.

Zaidi tem 27 anos e é repórter do canal de televisão por satélite Al-Bagdadiya. A partir do incidente é tratado, por muitos, como herói nacional e transformou-se em um símbolo da luta contra a ocupação americana do Iraque.

Agência EFE.



Alexandre Rios.