sexta-feira, 28 de março de 2008

Sobre a China


Em Fevereiro, estive por 10 dias em Pequim. Na volta, com as primeiras conversas com colegas e amigos, percebe-se o óbvio. Nem tudo que se diz sobre a China é verdade. A poluição de Pequim não é diferente nem mais ameaçadora que a de várias cidades brasileiras, como São Paulo, por exemplo.

Mas, tem sempre um mas, qualquer tarefa de discernimento dos fatos é pulverizada por um detalhe importante: não existe liberdade de informação na China. Assim, cai por terra sempre qualquer tentativa de interação com o banco de dados chinês para poder comprovar os fatos.

Naquele país tudo é controlado, infantilmente diga-se, pelo governo que só tem um partido político. Infantilmente, pois os caras agem como se ninguém fosse um dia perceber e denunciar isso. Enquanto a maioria absoluta do mais de um bilhão de chineses não conseguem ler ou entender inglês, ninguém vai notar que está navegando numa internet à parte. Onde é impossível acessar, por exemplo, a BBC de Londres ou a Wikipedia. Isso não deve durar muito, evidentemente.


No dia 8 de Agosto, quando os Jogos Olímpicos se iniciarem, 10 mil jornalistas e meio milhão de turistas estarão pelas ruas de Pequim. Como irão os chineses tapar esse sol com a peneira?

Texto retirado do blog do Marcelo Tas.

Nota: Na última terça-feira, dia 25 de março, o Estado chinês voltou a liberar o acesso aos sites do Youtube e da BBC. Clique aqui para ler a notícia.

Alexandre Rios.

Dilma Rousseff e dossiê criminoso


A secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Alves Guerra, braço-direito da ministra Dilma Rousseff, deu a ordem para a organização de um dossiê com todos os gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de sua mulher, Ruth, e ministros da gestão tucana [...]

Com 13 páginas, o documento, que o governo nega tratar-se de um dossiê, registra com detalhes e fora da ordem cronológica diversos gastos, com ênfase nos feitos por Ruth Cardoso e naqueles envolvendo bebidas e itens como lixas de unha e veludo alemão.

Utilizar-se da maquinaria estatal para produzir acusações contra adversários é uma agressão ao estado de direito. É utilizar o bem comum para interesses particulares e privados. É caso de demissão IMEDIATA. Dilma Rousseff declarou, como é costumeiro de seus companheiros de partido, não ter noção do que se passava ao seu redor. Pois bem. Por incompetência ou autoria intelectual, é caso de demissão. Resta se afogar em chocolates e recuperar os 12 quilos perdidos. Tudo isso e ainda nem estamos perto de 2010.

Thales Azevedo.

Epidemia II - Quem disse que ele não está fazendo nada?


Thales Azevedo.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Disque M para Matar

Apesar da maioria dos filmes de suspense contemporâneos apresentarem uma extrema apelação pelas imagens esdrúxulas, sons medonhos e roteiros, digamos que, vagabundos, acontece o inverso com os antigos filmes de suspense, principalmente quando cita-se o mestre do suspense Alfred Hitchcock.

“Disque M para Matar” apresenta uma história aparentemente já trabalhada. A história se passa em Londres, em que Tony (Ray Milland), percebe que sua mulher, Margot Mary Wendice (Grace Kelly), está traindo-o com um de seus amigos, Mark Halliday (Robert Cummings). Ao perceber a traição, Tony muda seu comportamento com o objetivo de vingar-se da traição conjugal. Larga a profissão de tenista para ser um vendedor de produtos esportivos e, camufladamente, dedicar mais tempo à sua mulher.

Logo no início do filme temos cenas fundamentais para todo o entendimento do roteiro bem amarrado de Hitchcock. Margot indica à Mark que seu marido mudou completamente desde a última vez que se viram e explica o desaparecimento da última carta em que os amantes de comunicaram. Já n’outra cena, Tony contrata um antigo colega de faculdade, Charles Alexander (Anthony Dawson), para fazer o trabalho sujo. Trava-se então um diálogo surpreendente entre os dois personagens, Tony descrevendo toda a vida rotineira de seu colega (já que passou um ano seguindo-o, para a formulação de todo o plano) para convencer o colega, através de uma ótima chantagem, a matar sua “querida” esposa.

Lança-se então a grande idéia de diversos diretores: plano perfeito existe? Tony, um personagem frio e calculista, consegue formular um assassinato perfeito? Não sei se por intuição ou por nunca ter visto assassinato perfeito, sempre torcemos, diante à tela do cinema, que tudo saia como planejado. Mas não funciona dessa forma. Surgem alguns imprevistos no plano de Tony, acarretando na luta da mulher contra o assassino e, conseqüente, morte do tratante.

O espectador entra em desespero. Como Tony se livrará das provas contra ele? Grace tem papel fundamental nesse ponto. Como em muitos filmes clássicos, mostra-se uma mulher frágil e inocente, fiel ao seu marido, que inclusivo o sustenta. O personagem planta as provas ao seu favor, ou melhor, contra sua mulher, em questão de segundos, mudando por completo o rumo da história. A polícia depara-se com evidências óbvias, um possível roubo comum em uma casa que acarreta num ataque não esperado à dona de casa, e outras duvidosas, como a entrada do assassino na casa e a carta de Mark no bolso no assassino.

As ações de Tony e posteriormente de seu rival, Detetive Pearson (Patrick Allen), são mostradas de maneira inocente, como todo bom posicionamento de um excelente diretor. São toques que instigam seu senso de abstração e futuras atitudes dos personagens. Cada fala e objeto são utilizado pelo telespectador para condenar Tony. É a grande sacada do filme: induzir uma expectativa frustrada (assassinato imperfeito) e colocar o telespectador a buscar erros do suposto plano perfeito. O incremento do diretor é uma fotografia simples e pouca música de impacto, totalmente contrário aos novos modelos de filmes de suspense.

Parece-me redundante falar da atuação de Ray Milland (Tony). Um personagem extremamente frio, que mede cada palavra que fala e demonstra de maneira sutil, em sua voz sagaz, o psicopata que convive em seu interior. Para mim é complicado criticar a atuação da mocinha, Grace Kelly. Ela ganhou dois prêmios de melhor atriz no filme. Discordo plenamente. A participação dela está dentro do esperado. Inclusive, o momento de suposta evolução da personagem, em que ela descobre todo plano do marido, a reação é infantil.

Mais uma vez a arte cinematográfica demonstra a quantidade de variáveis em um assassinato e na própria vida cotidiana. O Humano é aceptível aos diversos tipos de erros aparentemente inúteis, quando tudo parece dentro do planejado. Claro que no filme trata-se de um assassinato, mas pode ser transcendido ao cotidiano. Como diz-se: o homem é fruto de todos os erros cometidos, basta consciência para assumir cada um e evitá-lo posteriormente.

Lucas Caires

Epidemia

Repelentes estão em falta nas farmácias.


Thales Azevedo.

Nos EUA, os piores presidentes não tiveram amantes

Autor de "A Mulher do Próximo" diz que americano não está mais moralista e que falar de sexo simplifica a política.

Por Daniel Bergamasco, de Nova York



Gay Talese está resfriado. Telefona para o repórter da Folha, atendendo ao pedido deixado na secretária eletrônica, e avisa, raspando a garganta: "Me resfriei e vou viajar, não posso receber você em casa. Mas posso falar agora sobre o Spitzer, tenho poucos minutos", diz o escritor de 76 anos, um dos pais do jornalismo literário, autor de reportagens antológicas reunidas nas coletâneas "Aos Olhos da Multidão" e "Fama e Anonimato" e de obras como "O Reino e o Poder", sobre o "The New York Times", onde atuou como repórter.


Talese diz que a sociedade americana não está mais ou menos moralista desde que ele publicou em 1980 "A Mulher do Próximo", livro-reportagem que retrata a transformação sexual e moral dos Estados Unidos entre as décadas de 1960 e 1970. Contudo, diz, a mídia repete tanto as informações sobre escândalos sexuais que faz que as pessoas se importem com eles, como no caso do ex-governador de Nova York Eliot Spitzer, que, casado, renunciou no último dia 12 após confirmar que era cliente fiel de uma rede prostituição. Nesse caso, afirma Talese, o escândalo foi bem-vindo. "Não é que ele esteja vivendo uma vida tão diferente de muitas outras pessoas, tendo uma prostituta, uma amante. Mas a diferença é que ele preconizava uma posição de moralidade, ele quis fechar bordéis, e aí aparece que ele era cliente de bordéis. É bom que ele seja exposto", diz o escritor.


FOLHA - O que mudou no moralismo americano entre "A Mulher do Próximo" e o escândalo sexual do governador Eliot Spitzer?
TALESE
- O moralismo não mudou. A mídia mudou.


FOLHA - De que forma?
TALESE - Quando escrevi "A Mulher do Próximo", a mídia não discutia tanto infidelidade, não transformava a vida privada das pessoas em colunas de notícias. John Kennedy foi presidente dos Estados Unidos e teve muitos casos, mas ninguém escrevia sobre sua vida sexual. Havia rumores, mas isso nunca foi conhecido, como foi com Bill Clinton, ou agora, com o governador de Nova York, ou com o senador [Larry] Craig, o homossexual [que renunciou após assediar um homem em banheiro de aeroporto, em 2007]. Na França, quando François Mitterrand foi presidente, não havia discussão sobre seu filho ilegítimo. Mas a mídia americana publica hoje sobre qualquer coisa.



FOLHA - Os eleitores levam em conta o comportamento sexual do candidato?
TALESE - Não acho que faz diferença nenhuma desde que não se relacione com seu trabalho. John Kennedy foi um presidente muito bom e tinha amantes. Bob Kennedy, seu irmão, tinha amantes. Eram casados e tinham amantes. Lyndon Johnson tinha amantes. Eisenhower. Todos nossos bons presidentes tinham amantes. O presidente Richard Nixon não tinha amantes e foi um presidente ruim. Esse cara, George W. Bush, é um presidente ruim. E não tem amantes. Entende? Bill Clinton foi muito bom e teve. Os piores presidentes são os que não tiveram amantes. Nixon foi o pior de todos os tempos. E Bush é o segundo pior. Se Bush tivesse amantes, talvez não estaria matando tanta gente no Iraque e tendo essa politica de destruir a vida de tanta gente.

FOLHA - O senhor quer dizer que, se a vida sexual de Bush fosse menos comportada, seu governo seria melhor?
TALESE - Não digo que seria melhor, mas quando você olha... Os bons presidentes não eram pessoas que se "comportavam" sexualmente. Martin Luther King tinha muitas amantes. Matin Luther King! Nós temos um feriado para ele, ele é um herói nacional. E tinha muitas amantes. Muitas. Ele era um cara mau? Não, não era.


FOLHA - O desrespeito da privacidade dos políticos é sempre ruim?
TALESE - Depende. Não é bom ou ruim. O que você quer dizer com bom ou ruim? Spitzer é um hipócrita, e é bom que ele seja exposto como hipócrita. Não é que ele esteja vivendo uma vida tão diferente de muitas outras pessoas, tendo uma prostituta, uma amante. Mas a diferença é que ele preconizava uma posição de moralidade, ele quis fechar bordéis, e aí aparece que ele era cliente de bordéis. É bom que ele seja exposto. O outro cara que o substituiu [David Paterson] diz que não tem um casamento perfeito. Mas quem tem? Pelo menos ele trouxe um pouco de verdade para o governo. Spitzer é um hipócrita.


FOLHA - Como repórter, hoje em dia, você publicaria matérias sobre esse escândalo?
TALESE - Não vou dizer que não publicaria, porque, se alguém mais publicar, você tem que publicar. Você não pode fingir que não viu, porque todo mundo sabe sobre isso, está na televisão, nos websites. Se você está no negócio de publicar jornais, tem que publicar o que é considerado notícia. É que hoje em dia tudo é notícia, o que não acontecia 30 anos atrás. É bom ou ruim? Eu não sei. O que acontece é que pelo menos força as pessoas a viverem em coerência com o que dizem.


FOLHA - O sr. avalia mesmo que nada mudou moralmente na sociedade? "A Mulher do Próximo" mostra, por exemplo, a revista "Playboy" como algo chocante e depois mais respeitada, mas hoje em dia a revista é uma instituição americana.
TALESE - Eu mostrava como aquilo mudou naquela época. Nós tivemos mudança real nos anos 1960 e 1970, quando escrevi aquele livro. Pouca coisa mudou desde então. Exceto que a mídia fala mais sobre sexo agora porque há mais liberdade para isso. Mas você não vê pessoas tendo relação sexual com penetração na TV, não ouve certas palavras na TV. Há restrição sobre o que você pode dizer, o que você pode ver. Você não pode ver homem nu na TV mostrando o pênis, não pode. No Brasil também não pode, tenho certeza.


FOLHA - Mas, se a mídia muda, a percepção da sociedade não muda juntamente com ela?
TALESE - Eu acho que a mídia mantém a história viva. Quando Bill Clinton teve uma pequena vida sexual com Monica Lewinsky, isso não tinha nada a ver com o trabalho dele como presidente. Não ocupou muito tempo dele. Mas a mídia fez uma história enorme, e aí as pessoas começam a se importar. Lembra que o papa João Paulo 2º estava visitando [Fidel] Castro naquela época? Ele estava indo para Havana e toda a mídia estava lá para cobrir o papa. Quando houve o rumor de que o presidente Clinton teve esse pequeno caso sexual no Salão Oval, todo mundo deixou Havana. Toda a mídia foi embora. E o papa não tinha com quem falar. Não havia cobertura de Castro encontrando o papa. A mentalidade da mídia está toda voltada para escândalos sexuais. A mídia conduz a história.


FOLHA - Por quê?
TALESE
- Sexo não é complicado. Política é complicado. Na campanha, veja, as pessoas não ligam para propostas. Elas gostam de histórias simples, escandalosas, com o mais baixo, o menor denominador comum. E a mídia provê isso. A mídia é que conduz a história.


FOLHA - Mas por que o governador renunciou, se as pessoas não se importam tanto assim?
TALESE - A mídia faz as pessoas se importarem, porque repete, repete, repete e repete a história. Fica batendo até a morte. A mídia quer manter a história. Acho que é bom que Spitizer tenha sido exposto como hipócrita, porque é. Já Bush não é um hipócrita sexual, mas é hipócrita em várias outras formas.


FOLHA - Em que formas?
TALESE - Ele diz que estamos tentando levar democracia para o mundo. E não estamos. Estamos invadindo o mundo, forçando eles [outros países] a se ajustarem a nossa política. A administração de Bush critica os chineses em direitos humanos, e nós invadimos os países de outras pessoas e levamos atrocidades para esses países. Não estamos em uma posição em que podemos dizer que somos melhores que os outros. Somos piores, de certo modo.




Alexandre Rios

domingo, 23 de março de 2008

Cinco anos depois, Bush ainda não pode dormir no Iraque


No último domingo, John F. Burns, ex-correspondente do "New York Times" em Bagdá, publicou artigo em que relembrava as horas que antecederam o primeiro ataque da coalizão liderada pelos EUA. Era a madrugada local do dia 20 de março de 2003, noite do dia 19 no Brasil e nos Estados Unidos.

Como ele escreve, estávamos todos no hotel Palestine, onde se concentraram os poucos jornalistas do mundo inteiro que resolveram ficar, mesmo desaconselhados pelo Pentágono. Víamos o escuro céu daquele final de inverno começar a ficar alaranjado à distância pelos primeiros raios de sol.

Logo, a claridade viria de outra fonte, dos mísseis de cruzeiro que atingiam o complexo de palácios do ditador Saddam Hussein, a metros de onde estávamos, do outro lado do rio Tigre -onde hoje fica a Zona Verde, centro do comando militar e da sede do novo governo iraquiano. De certa maneira, estávamos prontos para a crônica da guerra anunciada.

Já em 2002, Bush batia os tambores de que invadiria o Iraque, com ou sem a ONU, com ou sem provas irrefutáveis de que Saddam estava em processo de construir ou já tinha construído armas de destruição em massa. Vai ser uma "enterrada", afirmou no final daquele ano George Tenet, então diretor da CIA, usando uma expressão popular no basquete.

Pode durar seis dias ou seis semanas, mas não seis meses, vaticinou Donald Rumsfeld, então secretário da Defesa dos EUA, no começo de 2003. Na noite do mesmo 19 de março, Bush convocou rede nacional para avisar que, enquanto ele falava, sob suas ordens "forças da coalizão começavam a atingir alvos selecionados de importância militar para minar a habilidade de Saddam Hussein de conduzir uma guerra".

Como a história mostraria, nem Saddam tinha condições materiais para conduzir uma guerra, nem Bush tinha planejamento para continuá-la. Cinco anos depois, o republicano não dá mostras de ter como terminar o conflito. Nas palavras de John McCain, candidato da situação à sucessão, "não acho que os americanos estejam preocupados se nós vamos ficar lá por cem anos, mil anos ou 10 mil anos".

O republicano se engana, já que todas as pesquisas mostram que os americanos estão preocupados, sim, e querem que os EUA saiam. São as mesmas pesquisas que colocam a popularidade de Bush em recorde negativo histórico. Mas mesmo os concorrentes democratas de McCain poderão fazer pouco e menos do que prometem na corrida eleitoral.

Não há condições de os EUA saírem do Iraque em 60 dias, como chegou a sugerir a campanha de Barack Obama, ou mesmo de escalonar a volta das tropas a partir do dia 20 de janeiro de 2009, como sugeriu Hillary Clinton. Na melhor das hipóteses, acontecerá o que aconteceu na Coréia do Sul, onde a presença militar dura décadas. Na pior, o que aconteceu no Vietnã, onde os últimos americanos deixaram o país içados do teto da embaixada por helicópteros.

Mas o resumo desse período talvez seja o fato de que não são só os iraquianos que não podem andar livremente por seu país, a não ser que façam parte da facção certa no bairro correto. Cinco anos depois, George W. Bush só pode visitar o local para o qual levou a democracia de surpresa, por poucas horas e sob forte segurança. Bush deve deixar o governo sem ter dormido uma noite inteira no país que invadiu.

Texto retirado do blog do jornalista Sérgio Dávila. Clique aqui para ter acesso ao site.


Alexandre Rios.

sábado, 22 de março de 2008

Crimes e Pecados


‘Crimes e Pecados’, de 1989, é um perfeito equilíbrio entre o drama e a comédia, mais precisamente entre a culpa e busca por renovação nas vidas dos personagens. Aliás, todos eles parecem estar em processo de reciclagem em seus universos particulares. Woody Allen, mais conhecido por seus filmes cômicos, realiza um filme profundo, filosófico, com toques de humor que só ele sabe fazer.

A trama faz um paralelo entre as histórias dos dois protagonistas, Judah Rosenthal (Martin Landau) e Cliff Stern (Woody Allen). Judah, bem-sucedido oftalmologista nova-iorquino, vê a segurança de sua vida familiar em risco quando sua amante, Dolores Paley (Anjelica Houston), decide revelar para a senhora Rosenthal o adultério do marido, que dura dois anos. Judah, angustiado e pressionado, procura seu irmão Jack, arquiteto de crimes, para dar um fim à vida de Dolores, esperando terminar com o sofrimento e instabilidade emocional que tanto o aflige. O serviço é feito, mas a culpa parece seguir Judah a todo o momento, onde quer que esteja. As lembranças de sua relação com Dolares, somada à moral religiosa, que ele não parecia dar muita importância, vêm à tona e provocam no médico crises éticas, moldando um caráter que ele não parecia ter.

Por outro lado, Cliff Stern é um típico personagem encarnado por Woody Allen. Ele é um fracassado cineasta, que é levado a produzir um documentário sobre a vida do seu cunhado Lester (Alan Alda), egocêntrico e fútil, porém bem-sucedido produtor de televisão. Cliff, em meio à produção do documentário, que dará a ele recursos suficientes para realizar um filme sobre o filósofo Louis Levy, conhece Halley Reed (Mia Farrow, que já foi esposa de Allen) e se apaixona, tornando-se rival de Lester na tentativa de conquistar Halley.


Aliás, as mensagens que Louis Levy passa para o documentário de Cliff ajudam a resumir a essência de Crimes e Pecados: "O fato único que ocorreu com os primeiros israelitas é que eles conceberam um Deus que ama. Ele ama, mas ao mesmo tempo exige um comportamento moral. E aí está o paradoxo. Qual é a primeira coisa que esse Deus pede? Esse Deus pede a Abraão que sacrifique seu único filho, seu bem-amado filho. Ou seja, apesar de milênios de tentativas, ainda não logramos criar a imagem de um Deus amoroso e benévolo. Isto está além da nossa capacidade de imaginação. "

O que se percebe, então, é que o filme procura estabelecer relações entre os pecados e a análise ética moldada pela sociedade, desde os primórdios até a atualidade. O foco maior está, sem dúvidas, em Judah, sendo comparada com a trama do protagonista de ‘Crime e Castigo’, do escritor russo Fiódor Dostoiévski. Ele vaga pelas ruas de sua cidade, relembrando do seu passado com sua família judaica, das crenças pregadas desde a sua infância e que, agora, parecem ter mais sentido, ainda que de forma contraditória. Judah questiona a existência de Deus, que não o puniu pelo crime brutal que cometeu, em um memorável diálogo entre ele e Cliff, já no final do filme.

Na cena, o personagem de Woody Allen, em processo de separação com sua esposa, fica arrasado ao saber que Halley, em uma estadia na Europa durante quatro meses, torna-se noiva de Lester, deixando-o confuso, já que eles pareciam se identificar plenamente pelos prazeres em ver filmes, filosofar, discutir sobre literatura e, até mesmo, nas críticas ao tosco produtor Lester. As convenções estão sempre em mutação, e Cliff se dá conta disso. Resta a ele sentar em um sofá, sozinho e refletir em meio à festa de casamento da filha de outro cunhado seu, Ben. Nesse momento, entra em cena Judah e eles passam, então, a conversar. De um lado, um individuo quase ingênuo, idealista, que tem como um dos maiores prazeres ver filmes quase que diariamente com sua sobrinha. De outro, um indivíduo rico e pragmático, que acredita estar sobrevivendo na sociedade baseada em valores que ele procura se apegar para ter uma vida normal, ainda que repleta de mentiras – nesse caso, a moral é dúbia, beirando o realismo.



-lsolado da festa? É como eu.
-Sempre fico triste nestas ocasiões.
-Parece imerso em pensamentos.
-Planejava o assassinato perfeito.
-Roteiro para um filme?
-Filme?
-É. Foi o que o Ben me disse, que você faz filmes.
-É, mas não desse tipo. De outro tipo.
-Tenho uma ótima história de assassinato.
-É?
-Um grande roteiro. Acho que bebi demais. Desculpe, vou deixá-lo sozinho.
-Não, tudo bem. Não estou fazendo nada.
-Mas minha história de assassinato tem um estranho desenlace. lmagine este homem muito bem-sucedido. Ele tem tudo. E após cometer esse ato horrível, ele começa a ser perseguido por uma culpa profunda. Ecos de sua educação religiosa, que ele sempre rejeitou,começam a surgir. Ele ouve a voz do pai, imagina que Deus vigia todos os seus passos. De repente, o Universo não é mais vazio... Ele é justo e tem uma moral. E ele a violou. Agora, ele está apavorado, está no limiar de um colapso nervoso, perto de confessar tudo para a polícia. Então, um dia, ele acorda. O sol está brilhando e sua família está ao seu redor. Misteriosamente, a crise desapareceu. Ele leva a família para a Europa, e descobre, com o tempo, que não foi castigado. Ao contrário, prospera. O crime é atribuído a outro, um vagabundo que já matou outras pessoas. Uma a mais não importa. Agora, ele está livre. Sua vida volta completamente ao normal, ao seu mundo seguro de riquezas e privilégios.
-É, mas ele pode mesmo voltar ao que era?
-Bem, as pessoas carregam seus pecados consigo. Às vezes, o que fez o atormenta, mas passa. E com o tempo, tudo acaba.
-Mas, então, suas piores crenças se realizam.
-Bem, avisei que era uma história mórbida.
-Não sei. Acho que seria difícil alguém viver com isso. Poucas pessoas poderiam viver com isso na consciência.
-Muitos carregam erros terríveis consigo. O que queria que ele fizesse? Que se entregasse? lsso é a realidade. Na realidade, racionalizamos. Nós negamos. Senão, como continuar vivendo?
-lsto é o que eu faria. Faria com que se entregasse. Assim, a sua história tomaria proporções trágicas, porque, na ausência de Deus, ele tem de assumir a responsabilidade. Aí, você tem a tragédia.
-Mas isso é ficção. É cinema. Vê filmes demais. Estou falando da realidade. Se quer um final feliz, vá ver um filme de Hollywood...


‘Crimes e Pecados’ é uma obra-prima, um dos melhores filmes de Woody Allen. Ele representa um divisor de águas da carreira do diretor e roteirista, consolidando uma nova tendência do seu peculiar cinema, com uma temática que beira a tragédia. Com muita maturidade, ele ainda faria um filme semelhante em 2005. Em ‘Match Point’, ele recicla a história, moldando-a em outro contexto, na Europa e com personagens mais jovens. A história é fria e nos faz refletir outra vez sobre crimes e pecados que realizamos ou que podemos realizar em determinadas circunstâncias, realizando esse objetivo com muito sucesso.

Assim como o filme, terminarei o texto com outro pensamento humanista do professor Levy, talvez a passagem mais importante de toda a narrativa...

Durante toda a nossa vida, enfrentamos decisões penosas, escolhas morais. Algumas delas têm grande peso. A maioria não tem tanto valor assim. Mas definimos a nós mesmos pelas escolhas que fizemos. Na verdade, somos feitos da soma total das nossas escolhas. Tudo se dá de maneira tão imprevisível, tão injusta, que a felicidade humana não parece ter sido incluída no projeto da Criação. Somos nós, com nossa capacidade de amar, que atribuímos um sentido a um universo indiferente. Assim mesmo, a maioria dos seres humanos, parece ter a habilidade de continuar lutando, e até de encontrar prazer nas coisas simples como sua família, seu trabalho, e na esperança que as futuras gerações alcancem uma compreensão maior.


Alexandre Rios.

sábado, 15 de março de 2008

At Folsom Prison, Johnny Cash


Foi na prisão estadual de Folsom, Califórnia, que, em 13 de janeiro de 1968, Johnny Cash gravou ‘At Folsom Prison’, um dos melhores álbuns ao vivo de todos os tempos. Um clássico indispensável. O ‘Homem de Preto’ sabia interagir com seu público, geralmente composto pelos mais pobres da sociedade americana, muitos excluídos e marginalizados, livres ou presos. Cash, que já havia sido preso antes por porte de drogas, sabia como era a vida na prisão. A identificação dos presos era clara, com músicas marcadas por arrependimentos, ironias, aventuras no melhor estilo faroeste, saudade dos familiares e dos lares, falta de perspectivas, amores e, principalmente, solidão. Todos veneravam Johnny Cash, como se ele os representasse para o mundo. E representava como poucos.

O disco é, antes de tudo, humano. A forma como as músicas foram gravadas, os improvisos, as conversas com os presos, as tosses de Johnny, suas risadas, os gritos da platéia, tudo é tão honesto e real que nos faz sentir como um daqueles presidiários, aproveitando ao máximo a pouca diversão que existia na prisão de Folsom.

O disco começa com a clássica ‘Folsom Prison Blues’, primeiro sucesso de Johnny. Não havia outra música mais apropriada, a começar pelo título. Nela, Cash narra as reflexões de um encarcerado, como ele espera o tempo passar para voltar a ver o sol, como ele se tortura em saber que do lado de fora da cadeia os ricaços se divertem, fumando charutos e tomando cafés. O arrependimento é a marca principal da música, e ele dói.

"When I was just a baby my mama told me
‘Son, always be a good boy, don´t ever play with guns.’
But I shot a man in Reno just to watch him die
Now every time I hear that whistle blowing
I hang my head and cry…"

O disco continua com ‘Busted’, que retrata a miséria das famílias do interior americano, como tudo é desgastante... sustentar os filhos e a mulher parecem uma complicada tarefa, com falta de comida, remédios para gripe, vestimentas, comida, tudo isso beirando a humilhação de um pai de família.

"…So I called on my brother to ask for a loan
'Cause I was Busted
I hate to beg like a dog for a bone,
But I'm Busted

My brother said, 'there's not a thing I can do,
My wife and my kids
Are all down with the flu
And I was just thinkin' about callin' on you,
'Cause I'm Busted. "

‘Dark as the Dungeon’ é uma música linda, uma das melhores do disco, com um jeitão filosófico, que prega a união entre os trabalhadores, focando o duro labor nas minas. Trabalhar em busca de fortunas pode consumir a alma humana, deturpando a essência que devemos preservar.

"…Come all you young fellers so young and so fine
And seek not your fortune in the dark, dreary mine
It will form as a habit and seep in your soul
'Til the blood of your veins runs as black as the coal…

Where it's dark as the dungeon and damp as the dew
Where the dangers are many and the pleasures are few
Where the rain never falls and the sun never shines
It's dark as the dungeon way down in the mines"

O show continua com ‘I Still Miss Someone’, afinal os brutos também amam. Todos os corações daqueles presidiários devem ter derretido com essa música, até mesmo aqueles mais rudes, menos românticos. Todos merecem alguém, certo Johnny?

"I go out on a party
And look for a little fun
But I find a darkened corner
Because I still miss someone... "

‘Cocaine Blues’ é outra música sensacional, talvez o maior clássico de Johnny Cash. Não há outra música que os presos possam se identificar mais. O sarcasmo, a anarquia, a falta de preocupação em ofender a sociedade americana é marcante. Um assassino narra seus últimos dias antes de ir pra prisão...de Folsom, claro! Nela, o protagonista da história toma uma dose de cocaína, volta pra casa e mata sua mulher que o traía com mais cinco homens, tudo contado sem eufemismos. Quantas histórias semelhantes deviam se misturar naquele momento, quanta identificação!

"Early one mornin' while makin' the rounds
I took a shot of cocaine and I shot my woman down
I went right home and I went to bed
I stuck that lovin' 44 beneath my head…

…The judge he smiled as he picked up his ben
99 years in the Folsom pen
99 years underneath that ground
I can't forget the day I shot that bad bitch down!

Come on you've gotta listen unto me
Lay off that whiskey and let that cocaine be!"

Não é uma música politicamente correta, sem dúvidas. Estaria Johnny Cash fazendo apologia ao crime, drogas e à falta de escrúpulos na sociedade? Talvez. Na minha opinião, ela apenas retrata um fato do submundo, de forma crua, sem querer agradar ninguém. Johnny, acompanhado da banda The Tennessee Three, levam o público a delírio, mais do que merecido.

Pois bem, o disco ainda continua narrando sagas de presidiários antes de pararem em cana. ’25 Minutes to go’ é contagiante, lembra os filmes de faroeste, em fugas que devem ser rápidas. Nessa, Johnny tem 25 minutos para correr da polícia, e nós acompanhamos essa fuga através da voz rouca de Cash. ‘Send a Picture of Mother’ segue a linha da vida atrás das grades. Nela, dois irmão estão presos por sete anos. Um consegue a liberdade, o outro – no caso, quem conta a história – continua encarcerado por ter tentado fugir anteriormente. A única companhia dele vai embora e a solidão amarga ainda mais a vida daquele que ficou.

"After seven years behind these bars together
I'll miss you more than a brother when you go, when you go
If only I had not tried to escape
They'd barred me with you I know, yes I know…"

A história fica ainda mais emocionante quando o irmão pede ao outro para cuidar dos pais, ajudá-los no trabalho pesado, além de convencer todos os amigos, todos os familiares, que ele ainda vai voltar pra casa, apesar da improbabilidade disso acontecer. Diante de tanta tristeza, uma coisa pode aliviar ainda mais sua solidão: a foto de sua mãe.

"Won't you tell the folks back home I'll soon be coming
And don't let them know I never will be free be free
Sometimes write and tell me how they're doing
And send a picture of mother back to me

Say hello to Dad and shake his poor hardworking hand
And send a picture of mother if you can… "

O álbum possui 19 faixas, muito bem executadas. Em uma delas, Johnny chama sua amada, June Carter, para participar de um dueto da animada ‘Jackson’, música típica do interior americano. ‘I Got Stripes’ é um dos pontos altos do show, e todos os “listrados” acabam satisfeitos, como tinha de ser. Na última faixa, a platéia fecha o disco aos gritos, assovios e aplausos som de ‘Greystone Chapel’, o ‘Homem de Preto’ se despede e os presos voltam às suas celas, retornando à rotina, um pouco mais feliz, provavelmente.

Johnny Cash é uma lenda da música, não só do country. Afinal, ele vai além. Sua música de interior beira o rock´n´roll selvagem, com momentos melancólicos e divertidos, que possuem uma identificação impressionante com os delinqüentes, com os cidadãos do submundo, com as pessoas livres, miseráveis ou não. A coragem que ele teve de gravar um disco numa cadeia, merece todos os aplausos possíveis. A sociedade americana conservadora poderia ver com maus olhos uma possível afronta contra os bons costumes. Cash insistiu com a idéia e a gravadora teve que ceder, o que foi uma boa decisão, já que ‘At Folsom Prison’ colheu bons lucros e até hoje é lembrado por todos os amantes da boa música.

1- Folsom Prison Blues
2- Busted
3- Dark as the Dungeon
4- I Still Miss Someone
5- Cocaine Blues
6- 25 Minutes to Go
7- Orange Blossom Special
8- The Long Black Veil
9- Send a Picture of Mother
10- The Wall
11- Dirty Old Egg Sucking Dog
12- Flushed from the Bathroom of Your Heart
13- Joe Bean
14- Jackson
15- Give My Love to Rose
16- I Got Stripes
17- The Legend of John Henry's Hammer
18- Green, Green Grass of Home
19- Greystone Chapel




Alexandre Rios.

terça-feira, 4 de março de 2008

Barack Hussein "Osama" ?

O papel da internet nas campanhas eleitorais americanas é cada vez mais relevante. Além de ser uma ferramenta que permite comunicação direta entre candidatos e eleitores, a rede também é usada por extremistas para espalhar notícias falsas sobre candidatos adversários. O caso mais conhecido da atual temporada é o boato, que chegou a ser difundido pela emissora de televisão de extrema-direita, a Fox News, de que o pré-candidato Barack Obama, que é cristão, tinha estudado em uma madrassa - uma escola fundamentalista muçulmana. Obama de fato viveu na Indonésia quando criança, mas estudou numa escola pública sem vínculo religioso.

Christopher Hayes, repórter da revista The Nation, investigou e conseguiu chegar à origem do boato, lançado na internet por um republicano que diz ter se baseado em "fontes de Londres", sem identificá-las. A reportagem mostra a dinâmica da campanha, que se baseia em correntes de e-mail e na reprodução de falsidades como se fossem informações factuais. Abaixo, reproduzo trechos da reportagem:

Em 10 de agosto de 2004, duas semanas depois de Obama [Barack, pré-candidato democrata à Casa Branca] ter feito o elogiado discurso na Convenção Nacional Democrata, em Boston, um eterno candidato republicano ao Senado que se descreve como "colunista independente de oposição" chamado Andy Martin divulgou um press-release. Nele, anunciou uma entrevista coletiva de imprensa em que exporia Obama por ter "mentido para o povo americano" e "distorcido a sua própria identidade".

Martin levantou todo tipo de acusações estranhas contra Obama mas focou na suposta tentativa do candidato de esconder o seu passado muçulmano. "Pode ser que o objetivo dele seja colocar em risco Israel", disse Martin em sua declaração. "A religião dele, muçulmana, levantaria sérias dúvidas em muitos círculos judaicos onde Obama tem apoio".

Dias depois de entrevista coletiva de Martin o site conservador Free Republic tocou no assunto, atraindo dezenas de comentários, mas depois daquilo as alegações sobre o passado de Obama sumiram. Mas, no outono de 2006, quando foi divulgado que Obama poderia sair candidato, os murmúrios na internet foram retomadas. Em outubro, um blog conservador chamado Infidel Bloggers Alliance republicou o press release de Andy Martin com o título "Barack Obama está mentindo sobre sua história de vida?". Dias depois o Rumor Mill News também deu publicidade ao press release de Andy Martin em resposta à pergunta de um leitor que queria saber se Obama era muçulmano. Em dezembro, um ativista de extrema-direita, Ted Sampley, publicou na internet uma coluna levantando a possibilidade de que Obama era muçulmano secretamente.

Sampley, que foi co-fundador do Veteranos do Vietnã contra John Kerry [um grupo que fez guerra suja contra o democrata em 2004] e certa vez acusou John McCain de ser agente da KGB [McCain disputou com Bush a indicação do partido Republicano à Casa Branca] baseou sua coluna no press release de Martin. "Quando Obama tinha seis anos de idade", escreveu Sampley, "a mãe dele, ateísta, casou-se com Lolo Soetoro, um muçulmano indonésio, e mudou-se para Jakarta, na Indonésia... Soetoro colocou Obama para estudar numa das escolas wahabistas de Jakarta. O wahabismo é a vertente do islamismo que criou muçulmanos terroristas que agora estão praticando a guerra santa contra o resto do mundo".

Apesar do fato da CNN [canal de notícias dos Estados Unidos] e de outros jornalistas terem desmentido a notícia, a acusação falsa ficou registrada na consciência das pessoas. Um assessor de Obama me disse recentemente que todo dia, quando liga para possíveis eleitores, pelo menos um ou dois deles dizem que não vão votar em Obama porque ele é muçulmano. De acordo com o Google, "Barack Obama Muçulmano" é a terceira busca mais comum para o senador de Illinois. Uma pesquisa de agosto da rede CBS mostrou que, quando perguntados qual era a religião de Obama, os entrevistados se dividiram, metade dizendo que ele é muçulmano e a outra metade dando a resposta correta, protestante."

O pai de Barack Obama é do Quênia e a mãe do Kansas, nos Estados Unidos. Foi o pai dele, que era ateu, quem deu a Barack o sobrenome Hussein, que também tinha no nome. Obama nasceu no Havaí. Quando o pai do senador morreu, a mãe casou-se de novo, razão pela qual o democrata passou parte da infância na Indonésia.

(...)

Na TV Americana, Obama é “confundido” com Osama duas vezes. Chega a ser hilário...



Coincidência?

Pra terminar, uma propaganda da campanha de Hillary Clinton, inspirada no modelo clássico – ou seria clichê? – de ufanismo americano.



(...)

Enquanto isso, os republicanos lançam na internet a campanha: "Quem amedronta mais? Osama, Obama ou a mama de Chelsea?"




Informações coletadas do ótimo blog do jornalista Luiz Carlos Azenha, Vi o Mundo.



Alexandre Rios

domingo, 2 de março de 2008

Sindicato De Ladrões


Um cais, um sindicato, um assassinato e um inocente. Assim começa um clássico de 1954 sobre máfia, romance e vingança.

O filme se passa numa zona portuária de Nova York, comandada por um sindicato mafioso. Nessa época a lei do silêncio (SM = surdo – mudo) comandava os subúrbios, em que aconteciam diversos crimes por vingança ou simplesmente por atrapalhar os negócios da máfia. Nesse contexto é inserido Terry Malloy (Marlon Brando), ex-boxeador sustentado pelo mafioso Johnny Friendly (Lee J. Cobb), que foi contratado para atrair Joey Doyle (John F. Hamilton) ao terraço do prédio para que os capangas de Johnny Friendly façam o trabalho sujo. O crime se repercute pelo bairro e a irmã do assassinado, Edie Doyle (Eva Marie Saint), vai atrás dos responsáveis. Durante o momento de consolo, Edie tem contato com o padre, Barry (Karl Malden), e ele se oferece a ajudá-la no descobrimento do criminoso, já que a polícia não se impõe no bairro e tem dificuldades na investigação.

Durante um agrupamento de trabalhadores em busca de trabalho (já previamente escolhidos pelo gangster Johnny) o padre convoca–os a falar na, Igreja, sobre suas situações precárias de trabalho, sobre o sindicato que os representam e sobre o assassinato de Doyle, já que muitos o conheciam. Durante a reunião, os trabalhadores encobrem os fatos e cumprem a lei SM. O sindicato manda os capangas atacarem a Igreja e o que possibilita o contato de Terry Malloy e Edie Doyle durante a fuga.

Nessa tensa relação social, começa uma história de amor que possibilita a evolução do personagem Terry Malloy, muito bem interpretada por Marlon Brando (se não fosse ele o filme não seria um clássico) que, antes controlado pelo gangster, muda completamente sua visão crítica do ambiente que freqüentava, provocado pelo arrependimento de atuação do assassinato.

Os personagens secundários seguem sua linha natural. O padre, além de chamar a atenção dos trabalhadores para as suas condições, também ajuda na mudança de comportamento de Terry Malloy. Já Edie não possui somente a atuação de personagem subjacente “mocinha”, ela é um fator decisivo para o arrependimento de Terry sobre o assassinato.

A ambientação do filme é bem trabalhada favorecendo o clima mafioso, em que vemos um sindicato influenciando em toda a região, selecionando empregados para o cais, cobrando altas taxas nas mercadorias desembarcadas e assassinando ao seu bem entender, fugindo completamente dos objetivos de um verdadeiro sindicato. Um submundo marcado por alienação e apatia dos trabalhadores, inconformados com uma vida medíocre e sem dinamismo.

E nesse contexto, Terry perde seu irmão mais velho Charley Malloy (Rod Steiger), que teve de escolher entre sua vida e a do irmão, por conta da atitude rebelde de Terry diante o sindicato. Assim, num sentimento de revolta, Terry Malloy enfrenta os mafiosos em uma atitude surpreendente, marcado na cena final, mais uma vez demonstrando o incrível desenvolvimento do personagem e a maturidade de Marlon Brando no auge de sua carreira.


Lucas Caires

sábado, 1 de março de 2008

My Aim is True - Elvis Costello


Declan Patrick Aloysius MacManus, mais conhecido como Elvis Costello, é um dos grandes nomes da música pop, sem dúvidas. Ele foi um dos precursores do pub rock, movimento que surgiu na década de 70 e que ia contra a tendência progressiva da época, propondo uma volta às décadas de 50 e 60 com o ‘rhythm and blues’. Elvis influenciou – e foi influenciado - por outros estilos, como o punk rock, new wave, country & western, música clássica, além de ter tocado com grandes nomes da música, como Burt Bacharach e Paul McCartney.

Seu primeiro álbum foi lançado em 1977 e é sobre esse clássico que falarei agora. ‘My Aim Is True’ talvez seja um dos discos mais cultuados de Elvis Costello – foi relançado em 2007, celebrando os seus 30 anos. Um jovem Elvis, com suas marcas registradas – óculos estilo Woody Allen, ternos “comportados” e pernas tortas – surge para o mundo. Não foi um sucesso de vendas, mas ainda é lembrado com muita nostalgia pelos seus fãs mais antigos, o que o tornou uma espécie de lenda, só agora devidamente reconhecido.

O disco é contagiante. E a primeira música,
‘Welcome to the Working Week’ consegue essa clima, que perdura por pouco menos de 40 minutos, sem cansar – muito pelo contrário. É uma boa faixa de abertura, bastante direta e dançante, que fala sobre uma garota burguesa e sua falta de preocupação com o mundo, que acha que tudo está bem sem nem ao menos sair de casa e checá-lo.

"I hear you sayin', 'Hey, the city's all right'
When you only read about it in books.
Spend all your money gettin' so convinced

That you never even bother to look."

‘Miracle Man’ segue a mesma linha, com um toque de rebeldia, cantada com um pouco mais de agressividade e desilusão na voz de Elvis.

"Why do you have to say that there's always someone
Who can do it better than I can?
But don't you think that I know that walking on the water
Won't make me a miracle man?"


‘No Dancing’ é uma das melhores faixas do cd, um pouco mais melancólica mas ainda baseada em guitarras rasgadas com poucos acordes. ‘Blame it on Cain’ é bem década de 60, aquele tipo de música que deveria tocar nas pistas de dança de algumas décadas atrás. Elvis canta com uma espécie de atitude egoísta para, digamos, sobreviver jogando a culpa de algo na tal Cain: “Joguem a culpa na Cain, mas por favor não joguem a culpa em mim. Não é culpa de ninguém, mas precisamos de alguém para queimar.”

"Blame it on Cain.
Don't blame it on me.
Oh, oh, it's nobody's fault,
But we need somebody to burn."

As letras das músicas tratam de relações amorosas sem soar clichê, mesmo na balada do disco e, talvez, a melhor faixa.
‘Alisson’ é uma música linda, aquele tipo de música que fica grudada na cabeça, e que nós fazemos questão de deixá-la lá até que, quando menos percebemos, estamos cantando no banho seu refrão.

"Well i see ya got a husband now
But did you leave your pretty fingers
Lying in the wedding cake?
You used to hold him right in your hand
But it took all he could take (…)"

‘Sneaky Feelings’, seguida de '(The Angels Wanna Wear My) Red Shoes' também merecem destaque, são uma espécie de baladinhas cool que Elvis Costello consegue fazer como poucos. Outro clássico do disco é ‘Less Than Zero’, com uma presença marcante da guitarra e da bateria simples, que acompanham a música no ritmo certo, com uma letra mais politizada, que retrata a vida de Mister Oswald, um fascista inglês, e sua trajetória, que culmina com uma possível ida para os USA.

"A pistol was still smoking, a man lay on the floor.
Mister Oswald said he had an understanding with the law
He said he heard about a couple living in the USA.
He said they traded in their baby for a Chevrolet.
Let's talk about the future now we've put the past away…"

Aliás, essa música tem uma história que marcou a carreira de Elvis. Ele deveria tocá-la na sua apresentação no programa ‘Saturday Night Live’, inclusive a tendo ensaiado com sua banda ‘The Attractions’. Na apresentação, eles tocaram apenas o início da música, pararam e começaram a tocar
‘Radio, Radio’, música que os produtores do programa pediram para não tocar devido à sua mensagem anti-corporativista. Elvis aprontou e o programa teve que ser tirado do ar. Esse desafio impediu que ele tocasse em outros programas americanos, só sendo convidado a tocar no ‘Saturday Night Live’ em 1989.

Voltando ao
‘My Aim is True’, a nona faixa, ‘Mystery Dance’, como o nome sugere, é rápida e dançante, bem década de 50 mesmo, que dá ao Costello um pouco do espírito do seu xará, Elvis Presley . ‘Pay at Back’ é vingativa e desiludida frente a uma dívida pessoal. Em ‘I´m Not Angry’, um Elvis raivoso berra no refrão o título da música.’Waiting for the end of the world’ é uma música estranha, meio nonsense. É um ótimo presságio para o disco fechar com chave de ouro com ‘Watching the Detectives’, um clássico que tem como o baixo denso e o teclado ágil os elementos mais importantes na parte instrumental, com uma letra que mais parece um filme em forma de música.

"She is watching the detectives.
'Ooh, he's so cute!'
She is watching the detectives
When they shoot, shoot, shoot, shoot.
They beat him up until the teardrops start,
But he can't be wounded 'cause he's got no heart."

Não é a toa que
‘My Aim is True’ tem uma importância tão grande na música pop. Elvis Costello, que é, ao mesmo tempo, selvagem e manso, rebelde e nerd, dançante e introspectivo, romântico e desiludido, está acima de rótulos. Ele pode ser punk, new waver, pop, country, tanto faz, o importante é que estamos diante de uns artistas mais versáteis vivos. Comparar ‘My Aim is True’ e ‘Imperial Bedroom’, discos que foram lançados com apenas cinco anos de diferença provam o quanto ele está sempre em mutação. Como escreveu o crítico Matt Le May, "com ‘My Aim Is True’ Costello explodiu para dentro da cena punk/new-wave como um mutante híbrido de Buddy Holly e Johnny Rotten. Tinha inteligência transparente, sensibilidade e senso melódico que o tornaram muito mais interessante do que muitos de que seus contemporâneos".

Baixe aqui o disco!



Alexandre Rios.