domingo, 23 de março de 2008

Cinco anos depois, Bush ainda não pode dormir no Iraque


No último domingo, John F. Burns, ex-correspondente do "New York Times" em Bagdá, publicou artigo em que relembrava as horas que antecederam o primeiro ataque da coalizão liderada pelos EUA. Era a madrugada local do dia 20 de março de 2003, noite do dia 19 no Brasil e nos Estados Unidos.

Como ele escreve, estávamos todos no hotel Palestine, onde se concentraram os poucos jornalistas do mundo inteiro que resolveram ficar, mesmo desaconselhados pelo Pentágono. Víamos o escuro céu daquele final de inverno começar a ficar alaranjado à distância pelos primeiros raios de sol.

Logo, a claridade viria de outra fonte, dos mísseis de cruzeiro que atingiam o complexo de palácios do ditador Saddam Hussein, a metros de onde estávamos, do outro lado do rio Tigre -onde hoje fica a Zona Verde, centro do comando militar e da sede do novo governo iraquiano. De certa maneira, estávamos prontos para a crônica da guerra anunciada.

Já em 2002, Bush batia os tambores de que invadiria o Iraque, com ou sem a ONU, com ou sem provas irrefutáveis de que Saddam estava em processo de construir ou já tinha construído armas de destruição em massa. Vai ser uma "enterrada", afirmou no final daquele ano George Tenet, então diretor da CIA, usando uma expressão popular no basquete.

Pode durar seis dias ou seis semanas, mas não seis meses, vaticinou Donald Rumsfeld, então secretário da Defesa dos EUA, no começo de 2003. Na noite do mesmo 19 de março, Bush convocou rede nacional para avisar que, enquanto ele falava, sob suas ordens "forças da coalizão começavam a atingir alvos selecionados de importância militar para minar a habilidade de Saddam Hussein de conduzir uma guerra".

Como a história mostraria, nem Saddam tinha condições materiais para conduzir uma guerra, nem Bush tinha planejamento para continuá-la. Cinco anos depois, o republicano não dá mostras de ter como terminar o conflito. Nas palavras de John McCain, candidato da situação à sucessão, "não acho que os americanos estejam preocupados se nós vamos ficar lá por cem anos, mil anos ou 10 mil anos".

O republicano se engana, já que todas as pesquisas mostram que os americanos estão preocupados, sim, e querem que os EUA saiam. São as mesmas pesquisas que colocam a popularidade de Bush em recorde negativo histórico. Mas mesmo os concorrentes democratas de McCain poderão fazer pouco e menos do que prometem na corrida eleitoral.

Não há condições de os EUA saírem do Iraque em 60 dias, como chegou a sugerir a campanha de Barack Obama, ou mesmo de escalonar a volta das tropas a partir do dia 20 de janeiro de 2009, como sugeriu Hillary Clinton. Na melhor das hipóteses, acontecerá o que aconteceu na Coréia do Sul, onde a presença militar dura décadas. Na pior, o que aconteceu no Vietnã, onde os últimos americanos deixaram o país içados do teto da embaixada por helicópteros.

Mas o resumo desse período talvez seja o fato de que não são só os iraquianos que não podem andar livremente por seu país, a não ser que façam parte da facção certa no bairro correto. Cinco anos depois, George W. Bush só pode visitar o local para o qual levou a democracia de surpresa, por poucas horas e sob forte segurança. Bush deve deixar o governo sem ter dormido uma noite inteira no país que invadiu.

Texto retirado do blog do jornalista Sérgio Dávila. Clique aqui para ter acesso ao site.


Alexandre Rios.

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