sábado, 23 de fevereiro de 2008

Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet

A vingança nunca foi tão retratada no cinema como nesta década. Filmes com essa temática tem tido produções diversas, como ‘Kill Bill’, do diretor americano e badalado Quentin Tarantino, até ‘Oldboy’, do diretor coreano Chan-wook Park. São filmes de culturas diferentes, que enriquecem a análise de atitudes humanas tão complexas como a vingança. Esses filmes, apesar de riquíssimos, têm entrado num processo de saturação devido à falta de novidades, da mesmice dos roteiros. Tim Burton, porém, deu um novo fôlego pra essa temática com seu lançamento ’Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet ‘. Ele constrói um filme do gênero repleto de aspectos sombrios e góticos, próprios do diretor americano, porém com um diferencial, algo realmente atraente. A presença de músicas, muitas músicas, faz desse filme uma bela obra, baseada na peça de Stephen Sondheim e Hugh Wheeler para um musical da Broadway.

A história é ambientada em uma Londres sombria, suja, habitadas por seres desprezíveis, o que inclui, naturalmente, os humanos. A grande massa miserável e oprimida pelos processos industriais, pelas autoridades e pela burocracia tenta sobreviver; os opressores, apesar de possuírem o capital, continuam imundos e cínicos. É pra este contexto social que retorna, depois de 15 anos, Benjamin Barker (o sempre competente e carismático Johnny Deep), um barbeiro que foi preso injustamente por um juiz aproveitador, interpretado por Alan Hickman que, interessado pela sua esposa Lucy (Laura Michelle Kelly), extradita Benjamin. Quando retorna para a sua cidade, ele descobre, por intermédio da sra. Lovett (Helena Boham Carter), que a sua mulher cometera suicídio e sua filha Johanna fora adotada pelo seu maior inimigo, o juiz Turpin.

Só uma coisa é objetivada por Benjamin Barker a partir de então: vingança. Um desejo insaciável toma conta do seu corpo aos poucos, deixando-o cada vez mais frio e infeliz. Ele cria, então, um plano, uma espécie de parceria macabra com a sra. Lovett: ela cede o andar de cima de sua loja de tortas para que ele exerça sua profissão de barbeiro,com o pseudônimo de Sweeney Todd, matando os clientes como se mata animais, para que eles sirvam como uma espécie de tempero para suas tortas, apelidadas carinhosamente como “ as piores tortas de Londres”.

Paralelamente a isso, uma história de romance é contada. Ela envolve dois jovens, o marinheiro Anthony Hope (Jamie Campbell Bower), que havia conhecido Benjamin na sua volta marítima e Johanna (Jayne Wisener), desejada pelo juiz Turpin, que deseja casar com a bela, utilizando dos meios mais violentos pra espantar o rapaz das redondezas.

’Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet ‘ conduz a história muito bem, apesar de se repetir em determinados momentos, com músicas parecidas, mas muito bem compostas. A fotografia é impecável, com tons fortes, que destacam o vermelho do sangue, que aparece muitas vezes à medida que o filme caminha pro seu clímax. Além disso, as atuações dos protagonistas e dos coadjuvantes se completam, criando personagens complexos e carismáticos ao mesmo tempo, como o também barbeiro Signor Pirelli, interpretado por Sacha Baron Cohen, mais conhecido por ter protagonizado o satírico ‘Borat’, que com um papel curto consegue instigar o público.

O final reserva algumas surpresas, além de uma cena final poética e violenta. Para que se chegue até ela, o espectador que não tem certa simpatia por musicais, provavelmente irá se sentir cansado devido ao grande número de músicas. Porém, o longa merece ser visto, principalmente pela bela direção do grande diretor Tim Burton, que transforma o feio no belo, o gótico no poético e consegue absorver o máximo dos atores, com uma concepção visual que é um verdadeiro deleite para os espectadores.

Alexandre Rios.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Renúncia do Coma Andante

Abaixo, alguns números, que falam por si.


Thales Azevedo.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

"Tropa de Elite" conquista o Urso de Ouro em Berlim


O filme brasileiro "Tropa de Elite", de José Padilha, foi o vencedor do Urso de Ouro de Melhor Filme em Berlim. O Urso de Prata ficou com o documentário sobre tortura em Abu Ghraib "Standard Operating Procedure", do norte-americano Errol Morris.

Tropa de Elite, que dividiu a crítica especializada, surpreendeu e se tornou o segundo filme brasileiro a vencer o prêmio tão cobiçado – “Central do Brasil”, de Walter Salles, conseguiu a mesma façanha em 1998 – e deve ser o candidato brasileiro para o Oscar de 2009.

Apesar de ter sido taxado de fascista e reacionário por alguns críticos e de um importante e competente foco da realidade brasileira por outros, Tropa de Elite se firmou como um filme complexo, que levantou discussões como nunca vistas na sociedade e engrandeceu a importância do cinema nacional nesse século XXI.



"Quis explicar como o Estado corrompe os policiais e os incita à violência", declarou Padilha após a cerimônia de encerramento, antes de acrescentar: "O filme foi mal interpretado".

"Acredito que a grande maioria dos brasileiros compreendem o foco do filme", completou o diretor, de 40 anos.

"O que vemos acontece de verdade no Brasil; é triste mas é um fato", disse José Padilha.

"Tropa de Elite" não estava entre os favoritos para o Urso de Ouro. Os filmes mais cotados para o prêmio eram "Sangue Negro", do americano Paul Thomas Anderson, indicado a oito Oscars e que levou o Urso de Prata de direção, e "Happy-go-Lucky", comédia do britânico Mike Leigh, que rendeu o Urso de Prata para a atriz Sally Hawkins.

Alexandre Rios.

Algumas informações foram retiradas do site da Folha de São Paulo (www.folha.com.br)

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Joost = Revolução da TV


Poucas pessoas conhecem esse sensacional programa. Isso ocorre devido ao inconveniente que temos no Brasil (mas depois falaremos sobre isso). O Joost (Download) foi desenvolvido pelos criadores do Kazaa e do Skype e promete ser a próxima geração da TV. Ele tem a mesma função do youtube, mostrar vídeos online. Contudo, os usuários não postam seus vídeos. O Joost tem uma lista de canais autorizados pelas indústrias que mostra gratuitamente sua programação. Infelizmente o programa está em fase Beta, ou seja, os canais não estão com toda a grade de programação completa e o programa precisa de um empurrão de grandes nomes da TV internacional e de redes que exibem seriados nos EUA.


Outra vantagem ótima do Joost é o tamanho da tela de exibição. Não mais temos os míseros 50x30 pixels de resolução do youtube. O Joost apresenta uma imagem com maior resolução e gravada digitalmente, o que torna a exibição mais “confortável”.

Porque o Futuro da TV?

Como eu disse, o conteúdo é devidamente licenciado pelos proprietários, o que diminui as questões judiciais relacionadas à propriedade intelectual. Existe um projeto em andamento de upload de vídeo pelos usuários, mas ainda não é o foco dos criadores. Além disso telespectadores de todo o mundo terão a liberdade de assistir o que bem entender e TODA a programação da TV estará disponível na Internet....SENSACIONAL =D. Um exemplo: eu poderia assistir Lost sem estar fora das Leis de Propriedade. Bom para mim e bom para o bolso da ABC (se um brasileiro não tem TV a cabo ou não quer esperar pelo episódio na TV, ele tem que procurar o arquivo na internet e baixar, sendo isso uma atitude ilegal).

E as propagandas?

Ainda está em projeto a exibição de publicidade. Entretanto, são propagandas bastante rápidas, cerca de 30 segundos, para prender mais a atenção do “Virtual” – espectador.

Você encontra de tudo no Joost: desenhos antigos, canais de músicas (inclusive um brasileiro), esportes, documentários e filmes(apesar de ser um pouco precário). Felizmente já existem empresas como a Warner e CBS fazendo parcerias com o programa e garantindo a exibição de programas mais populares.

Infelizmente o brasileiro não consegue desfrutar tanto dessa nova sensação da web 2.0. Essa ferramenta exige um velocidade de internet um tanto que razoável (1 mega) para poder assistir sem muitos problemas ao programas. Menos que isso o espectador se irrita com tanta imagem congelada durante o processo de “bufferização”.

PS: Eu considero 1 mega razoável, pois no Japão um consumidor paga em média 50 reais por uma internet de 50 megas. Aqui (Bahia) pagamos cerca de 100 reais e ainda agradecendo a forças divinas por ter essa velocidade.

Lucas Caires.

Cloverfield - Monstro


Antes da sua estréia, Cloverfield já possuía alguns atrativos interessantes, ainda que pouco conhecidos pelo grande público. Um grupo, porém, sabia muito bem do que se tratava o filme e de quem estava por trás dele. Esse grupo é, antes de tudo, altamente ativo. E no maior meio existente, meio sem limites, que não pode ser tocado nem sentido, mas altamente manipulável e influenciável. A maior campanha de marketing do filme estava indiretamente na mão de jovens freqüentadores assíduos da internet, que divulgavam vídeos e faziam questionamentos sobre o que seria a tal criatura do filme. Essa divulgação deu certo. Em três dias, o filme faturou US$ 46 milhões nos EUA, US$ 16 milhões a mais do que seu custo de produção. Porém, um nome foi fundamental para que esses jovens “produzissem” o filme. Esse nome é J.J.Abrams, mais conhecido por produzir séries televisas de sucesso, como os fenômenos ‘Alias’ e ‘Lost’. E os jovens o vangloriam, conhecem sua criatividade que é, sem dúvidas, acima da média. O cara é bom. E Cloverfield prova isso.

O filme possui uma fórmula quase inédita. Ele é todo filmado em primeira pessoa, de forma amadora, com imagens distorcidas. Esse ângulo já foi explorado em ‘A Bruxa de Blair’, mas não deixa de ser original. Aqui, a história se torna muito mais assustadora. O roteiro nos coloca na cidade mais importante do mundo, aparentemente indestrutível, uma fortaleza auto-suficiente, mas que se torna altamente vulnerável por alguma coisa, que ninguém sabe ao certo o que é, e esse é o ponto forte do filme, a base de tudo.

A história é simples. Um grupo de jovens nova-iorquinos promove uma festa de despedida para um amigo, Rob Hawkins (Michael Stahl-David), recém-promovido a um cargo importante em uma empresa situada no Japão. Porém, a festa é interrompida por misteriosas explosões em Manhattan. Enquanto isso, o melhor amigo de Rob, Hud Platt (T.J. Miller), que filmava a ocasião festiva, decide continuar com a câmera na mão. E é por essa câmera que vimos todo o filme. Quando a cabeça da Estátua da Liberdade é arremessada violentamente, a situação deixa de ser somente curiosa e passa a ser desesperadora. A regra é sobreviver de uma ameaça desconhecida.
Run, run, run!

Em tempos de globalização, onde as informações são rápidas como a luz, a falta delas é um dos principais objetos de tensão do filme. Uma multidão desesperada foge de algo, mas não sabe ao certo o que é. E o público é, competentemente, guiado com essa multidão. Quando menos se espera, já estamos na história. Estamos correndo também, ficamos com medo de qualquer barulho ou movimento que pareça estranho, temos medo de perder um companheiro nessa saga alucinante e, aos poucos, conhecemos o inimigo, aquele que provocou todo o caos. E ele assusta.

Essa interação deve-se à segura direção do pouco conhecido Matt Reeves, que torna tudo bizarramente real. Além disso, a falta de atores consagrados permite que nos identifiquemos com os personagens e esqueçamos em certos momentos que presenciamos uma ficção.

O filme teve opiniões diversas. Talvez o público ainda não esteja acostumado a novas fórmulas, novos ângulos. O filme, obviamente, tem seus defeitos. Ele perde o ritmo em determinados momentos, cai em alguns clichês comuns em películas hollywoodianas. Apesar de tudo, o filme pretende ser apenas uma diversão, uma alternativa diferente de entretenimento que merece ser vista e que pode, sim, ser a pioneira de uma nova tendência para filmes do gênero.

Alexandre Rios.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Não há ideologia que justifique

Por mais que rosnem os jornalistas amestrados, roubo é roubo.


Eu ainda acredito, como diz o Millôr, que imprensa é oposição, o resto, armazém de secos e molhados (para quem chegou ontem: pequena loja de bairro, precursora dos supermercados). Acho o jornalismo uma das mais nobres profissões, sobretudo em sua filosofia básica; o mesmo eu poderia dizer da filosofia da profissão médica, por exemplo, embora, numa e noutra profissão, muitos nem percebam a glória do que fazem, tornando-se indignos da "missão" que exercem.

Pode ser efeito colateral do joelho quebrado, pode ser ataque de saudosismo, mas o fato é que já vivi um tempo em que o, digamos, “ecossistema”, me dava mais alegrias. É claro que havia, como sempre houve, jornalistas a favor – há quem diga a soldo – do governo. Bajular os poderosos dá lucro, quando não prestígio, que tantos perseguem.

Mas as águas de então estavam bem divididas: eles eram “eles”, nós éramos “nós”. Havia um inimigo comum. Além do que, e não é pouco!, tínhamos menos de 30 anos, às vezes pouco mais de 20. “Eles” tinham colunas e empregos públicos, candidatavam-se, enveredavam pela política sem constrangimento. “Nós” acreditávamos, sem duvidar, que o papel da imprensa era combater a ditadura, e que, derrotada esta, estariam derrotadas também a corrupção e a impunidade. Ganhávamos pouco, às vezes ridiculamente pouco. Não chegávamos, como a Amélia, a achar bonito não ter o que comer – mas não faltava muito para isso.

Até que, um dia, apareceu um agrupamento político chamado PT, e o meio de campo começou a embolar. Isso não ficou claro à primeira vista, pelo menos não para aqueles de nós que ou éramos mais ingênuos, ou já não andávamos diretamente envolvidos em política. Eu me enquadrava nas duas categorias, e ia em frente. Mas minha ficha caiu quando, um dia, voltando de uma feira de tecnologia, com a jaqueta enfeitada com lindos pins e buttons de sistemas operacionais e de chips, levei um dedo no nariz de uma estagiária do JB que, até então, me parecera boa pessoa:

– Por que não está usando o button do PT?!

Levei um susto. Aquele gesto e aquela voz autoritária podiam ter saído de qualquer zona histórica "alienígena", sinistra.

– Exatamente por causa disso, – respondi, mas acho que ela não entendeu. Eu, porém, entendi. Não havia mais "nós" e "eles". Havia patrulha e rancor, também entre "nós". Não havia mais o bom combate ou o livre pensar; havia apenas uma ideologia, como todas muito cômoda, construída com bloquinhos de lugares comuns que não exigiam grande raciocínio de ninguém. Ai de quem não compactuasse.

* * *

Quando Lula ganhou as eleições, achei que o mundo das redações voltaria à normalidade. Poder é poder. Imaginar que existe poder "de esquerda" é de uma ingenuidade que não combina com o cinismo e a desconfiança que, em tese, andam de mãos dadas com o jornalismo. Mas, obviamente, maior ingenuidade ainda é supor que quem se ajeita a uma bitola ideológica, por interesse ou por idealismo, guarda alguma capacidade de pensar por conta própria. Sobretudo quando a tal bitola começa a se mostrar lucrativa.

* * *

Já me prometi mil vezes não falar mais nisso e esquecer que hay gobierno soy contra, até porque o governo não está nem aí para o que nós, imbecis também conhecidos como contribuintes, achamos ou deixamos de achar. Quando o sangue me ferve nas veias (vale dizer todos os dias, quando pego o jornal), brinco de faz-de-conta: tento acompanhar o noticiário como se morasse em outra galáxia. O diabo é que há coisas que não há Star Trek que resolva. Agora mesmo, não sei o que me deixa mais perplexa e indignada na farra dos cartões corporativos, se o roubo descarado do nosso dinheiro, ou o contorcionismo mental de colegas, que já considerei gente de boa reflexão, tentando defender essa nojeira.

Os argumentos são espantosos. Aquela ex-ministra racista, que acha tão normal negros odiarem brancos, está, obviamente, sendo vítima de pessoas que não a conhecem; ora, se até o Zé Dirceu já garantiu que ela não agiu por má-fé! Roubou sem querer, a coitada, e a Grande Imprensa, branca e machista, lá, nos seus calcanhares. O outro comprou uma tapioca de míseros oito reais, e a Grande Imprensa, uivam os jornalistas amestrados, dá o fato em manchete. Como se o que estivesse em discussão não fosse o como, mas o quanto. Para não falar na eterna ladainha do governo, repetida como um press-release que, a essa altura, sequer tem o benefício da novidade: “na época do FhC era a mesma coisa”. Mas, perdão: não foi para isso que a atual corja foi eleita?! Para mudar tudo o que estava errado?! Para implantar um sentido ético no trato da coisa pública?!

* * *

O pior é que tanto faz quanto tanto fez. Enquanto o nosso dinheiro paga qualquer leviandade protegido pelo manto putrefato da “Segurança Nacional”, enquanto jornalistas arrastam a profissão na lama defendendo a corrupção, os poderosos, às nossas costas, se entendem. As famiglias ficarão a salvo.

“Eles” venceram.

(Cora Rónai, O Globo, 14/02/2008)

Thales Azevedo.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Sweeney Todd


A parceria entre Tim Burton e Johnny Depp, que rendeu Ed Wood, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, A Fantástica Fábrica de Chocolate e a obra-prima do diretor, Edward Mãos de Tesoura, retorna no gótico e sombrio musical Sweeney Todd. O filme gira em torno de um barbeiro que teve a família destroçada através de um juiz. Mandado à prisão, o protagonista retorna após 15 anos, com o único objetivo de vingança. Concorre às premiações de Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino e Melhor Ator no Oscar 2008.

Thales Azevedo.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

FHC e os cartões corporativos!

09/02/2008 - 16:18
Azenha: Segurança de FHC comprou 67 tapiocas em gasolina no mesmo dia

Texto publicado originalmente no blog Eu Vi o Mundo (www.viomundo.com.br), do jornalista

Luiz Carlos Azenha:

Eduardo Maximiano Sacilloto Filho é segurança do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O ex-presidente tem direito a usar um cartão corporativo do governo. Vou começar implicando com o próprio Portal da Transparência. Eu não acho que o nome de um funcionário de um ex-presidente do Brasil deveria ser divulgado na internet.
Explico o motivo: segurança pessoal e nacional. Um governante tem muitos inimigos em potencial. E se o serviço secreto de algum país quiser recrutar um espião? O Brasil vai facilitar assim o trabalho deles? Sei que você deve estar rolando de gargalhar a essa altura. E dou razão a você, leitor. Afinal, FHC ia assinar aquele contrato entregando o controle de um pedaço do Brasil aos Estados Unidos, naquele famoso acordo para alugar a base de lançamentos de Alcântara, no Maranhão.
Mas já que o governo permite que a gente bisbilhote, o leitor Emílio foi lá bisbilhotar e me deu o caminho das pedras. Há muitas coisas curiosas: o segurança de FHC encheu quatro tanques de gasolina no mesmo dia, no mesmo posto de gasolina, o Auto Posto Higienópolis, bem pertinho da minha casa. Será que a Folha de S. Paulo vai perguntar a FHC o motivo para tamanho consumo de combustível no mesmo dia. Será que foram quatro carros diferentes? Será que o segurança usou o cartão corporativo para encher o tanque do próprio carro? Foram 561 reais no mesmo dia, ou seja, com esse dinheiro dá para comprar 67 tapiocas de R$ 8,30.
Eu também recebi esta comparação dos gastos em cartões corporativos entre o governo Serra e o governo Lula.
Espero que desta polêmica resultem regras de transparência que sejam aplicáveis em todos os poderes da República, com o devido sigilo para proteger o atual e ex-presidentes da República.
Passei o dia de hoje esperando que a Folha de S. Paulo entrasse no assunto. Os dados estão à disposição de qualquer um. Porém, a farra dos cartões, pelo jeito, só tem alcance federal. Nao existe farra estadual. Nem municipal.
Quatro tanques de gasolina em um dia só? Será que a Folha vai pedir explicação a FHC? Duvido. Esta é uma crise federal com data de validade, ou seja, só conta a partir do dia em que FHC voltou a ser meu vizinho.
Olhem só a capa da FolhaOnline neste momento: a crise é só do Lula. Não é implicância, nem tentativa de defender o governo. É aquilo de que falo aqui quase todo dia: dois pesos, duas medidas. Tratamento desigual para iguais. Ou propaganda política disfarçada de Jornalismo.
Lembrem-se das crises de 2006: primeiro saía na capa da Veja, depois o Jornal Nacional aplicava uma dose de esteróide na matéria da Veja, na noite de sábado. E a bola rolava a semana toda, até a próxima capa da Veja.

Messias Macedo.

FHC e a CIA

Dinheiro da CIA para FHC
Por Sebastião Nery

Jornal ‘Tribuna da Imprensa’

"Numa noite de inverno do ano de 1969, nos escritórios da Fundação Ford, no Rio, Fernando Henrique teve uma conversa com Peter Bell, o representante da Fundação Ford no Brasil. Peter Bell se entusiasma e lhe oferece uma ajuda financeira de 145 mil dólares. Nasce o Cebrap".
Esta história, assim aparentemente inocente, era a ponta de um iceberg. Está contada na página 154 do livro "Fernando Henrique Cardoso, o Brasil do possível", da jornalista francesa Brigitte Hersant Leoni (Editora Nova Fronteira, Rio, 1997, tradução de Dora Rocha). O "inverno do ano de 1969" era fevereiro de 69.
Fundação Ford
Há menos de 60 dias, em 13 de dezembro, a ditadura havia lançado o AI-5 e jogado o País no máximo do terror do golpe de 64, desde o início financiado, comandado e sustentado pelos Estados Unidos. Centenas de novas cassações e suspensões de direitos políticos estavam sendo assinadas. As prisões, lotadas. Até Juscelino e Lacerda tinham sido presos.
E Fernando Henrique recebia da poderosa e notória Fundação Ford uma primeira parcela de 145 mil dólares para fundar o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). O total do financiamento nunca foi revelado. Na Universidade de São Paulo, sabia-se e se dizia que o compromisso final dos americanos era de 800 mil a um milhão de dólares.
Agente da CIA
Os americanos não estavam jogando dinheiro pela janela. Fernando Henrique já tinha serviços prestados. Eles sabiam em quem estavam aplicando sua grana. Com o economista chileno Faletto, Fernando Henrique havia acabado de lançar o livro "Dependência e desenvolvimento na América Latina", em que os dois defendiam a tese de que países em desenvolvimento ou mais atrasados poderiam desenvolver-se mantendo-se dependentes de outros países mais ricos. Como os Estados Unidos.
Montado na cobertura e no dinheiro dos gringos, Fernando Henrique logo se tornou uma "personalidade internacional" e passou a dar "aulas" e fazer "conferências" em universidades norte-americanas e européias.
Era "um homem da Fundação Ford". E o que era a Fundação Ford? Uma agente da CIA, um dos braços da CIA, o serviço secreto dos EUA.
Quem pagou
Acaba de chegar às livrarias brasileiras um livro interessantíssimo, indispensável, que tira a máscara da Fundação Ford e, com ela, a de Fernando Henrique e muita gente mais: "Quem pagou a conta? A CIA na guerra fria da cultura", da pesquisadora inglesa Frances Stonor Saunders (editado no Brasil pela Record, tradução de Vera Ribeiro).
Quem "pagava a conta" era a CIA, quem pagou os 145 mil dólares (e os outros) entregues pela Fundação Ford a Fernando Henrique foi a CIA. Não dá para resumir em uma coluna de jornal um livro que é um terremoto. São 550 páginas documentadas, minuciosa e magistralmente escritas:
"Consistente e fascinante" ("The Washington Post"). "Um livro que é uma martelada, e que estabelece em definitivo a verdade sobre as atividades da CIA" ("Spectator"). "Uma história crucial sobre as energias comprometedoras e sobre a manipulação de toda uma era muito recente" ("The Times").
Milhões de dólares
1 - "A Fundação Farfield era uma fundação da CIA... As fundações autênticas, como a Ford, a Rockfeller, a Carnegie, eram consideradas o tipo melhor e mais plausível de disfarce para os financiamentos... permitiu que a CIA financiasse um leque aparentemente ilimitado de programas secretos de ação que afetavam grupos de jovens, sindicatos de trabalhadores, universidades, editoras e outras instituições privadas" (pág. 153).
2 - "O uso de fundações filantrópicas era a maneira mais conveniente de transferir grandes somas para projetos da CIA, sem alertar para sua origem. Em meados da década de 50, a intromissão no campo das fundações foi maciça..." (pág. 152). "A CIA e a Fundação Ford, entre outras agências, haviam montado e financiado um aparelho de intelectuais escolhidos por sua postura correta na guerra fria" (pág. 443).
3 - "A liberdade cultural não foi barata. A CIA bombeou dezenas de milhões de dólares... Ela funcionava, na verdade, como o ministério da Cultura dos Estados Unidos... com a organização sistemática de uma rede de grupos ou amigos, que trabalhavam de mãos dadas com a CIA, para proporcionar o financiamento de seus programas secretos" (pág. 147).
FHC facinho
4 - "Não conseguíamos gastar tudo. Lembro-me de ter encontrado o tesoureiro. Santo Deus, disse eu, como podemos gastar isso? Não havia limites, ninguém tinha que prestar contas. Era impressionante" (pág. 123).
5 - "Surgiu uma profusão de sucursais, não apenas na Europa (havia escritórios na Alemanha Ocidental, na Grã-Bretanha, na Suécia, na Dinamarca e na Islândia), mas também noutras regiões: no Japão, na Índia, na Argentina, no Chile, na Austrália, no Líbano, no México, no Peru, no Uruguai, na Colômbia, no Paquistão e no Brasil" (pág. 119).
6 - "A ajuda financeira teria de ser complementada por um programa concentrado de guerra cultural, numa das mais ambiciosas operações secretas da guerra fria: conquistar a intelectualidade ocidental para a proposta norte-americana" (pág. 45). Fernando Henrique foi facinho.

Messias Macedo.

Lula e os Cartões Corporativos Federais



Falhas nas legendas à parte, sensacional, hehe.

Thales Azevedo.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Tiro no Pé

“A dias da posse da nova legislatura da Parlamento cubano – que vai decidir se o ditador Fidel Castro vai ou não continuar sendo o dirigente máximo da ilha -, as imagens do encontro circulam em Havana e, divulgadas pela britânica BBC, movimentam debates em sites e fóruns de internet sobre a ilha”

Raúl Castro propôs debates na ilha há 18 meses para a votação da nova legislatura. Deu no que deu. Estudantes universitários mostram sua revolta nesse vídeo e evidencia a real situação que o povo cubano vive: miséria e censura.

Algumas falas do debate:

“Querido Alarcón, [...] não quero passar um dia mais sem que possa derrubar cada um dos argumentos que escuto diariamente e que é difícil de responder[...] Crer verdadeiramente implica saber de tudo ou quase tudo. E ter perspectiva de futuro imediato, do que pode acontecer. Com isso, podemos defender, ter mais argumentos...” – Eliécer Ávila

“Olhava as fotos e as biografias dos delegados e deputados e dizia: quem são?” – Alejandro Hernández

“Que essa pessoa faça um intercâmbio mais profundo, mais próximo com cada estudante que vai votar. Do contrário, [...] somos simplesmente hipócritas da liberdade. Não podemos falar de comunismo ou socialismo.” - Alejandro Hernández

E o debate continua com as críticas à impossibilidade do povo cubano viajar, aos altos preços dos produtos e à impossibilidade de acessar emails da Google e Yahoo. Alarcón, Presidente da Assembléia nacional, diz ser “um perfeito ignorante” do último assunto discutido (censura na internet) pelo estudante Eliécer Ávila (vestido com uma camisa estampada com um @).

Fonte: Folha de São Paulo, Sábado, 9 de fevereiro de 08

Crítica:

Ainda assim vemos um ideal revolucionário, talvez herdado historicamente, nos estudantes. Eles ainda acreditam que numa ditadura de Fidel é possível haver igualdade e liberdade. Um governo totalmente ilhado economicamente, que se sustenta pela exportação de cana-de-açúcar e tabaco, e prega uma ideologia inconsistente em plena afirmação do Capitalismo.

É essa impregnação e alienação ideológica que dá força ao socialismo. Em um artigo da Folha de São Paulo, Antonio Cícero diz:

“Como se sabe, o regime feudal era o modo de produção dominante na Europa, antes do capitalismo. Curiosamente, se pensamos agora no modo de produção que pretendi superar o capitalismo, que era o socialismo [...], veremos que, onde ele tentou existir realmente, como na União Soviética, nos países do Leste Europeu etc., o papel da ideologia marxista-leninista não era menos do que o da religião católica havia sido durante a era do feudalismo.”

Durante a Idade Média, a força maior estava concentrada na Igreja. “no mundo feudal, nada de importante se passa sem que seja relacionado a Deus. Deus é ao mesmo tempo o ponto mais alto e o fiador do sistema. É o senhor dos senhores. [...] O regime feudal e a Igreja eram de tal forma ligados que não era possível destruir um sem pelo menos abalar o outro” – Jacques Le Goff, em “O Deus da Idade Média”. E o mesmo acontece com o socialismo. Acima de Fidel Castro e Stálin estão a ideologia Marxista. Quem sustenta o governo socialista é a cabeça do povo, e não a repressão.

“[...] dado que no socialismo, as atividades econômicas não seriam mais realizadas tendo em vista a subsistência ou o lucro, era necessário que o partido [...] orientasse a criação da “unidade de moral e política do povo”, de modo que o trabalho se transformasse, “de mero meio de subsistência a um assunto de honra”.

O governo socialista necessita de fantoches para a sustentação do regime. Fantoches que pregam a igualdade em uma ditadura, fantoches que não observam seus próprios dirigentes viverem em uma situação privilegiada em relação ao povo. Já assisti dois documentários mostrando a miséria que o povo cubano vive. Maior parte da população passa fome por causa dos preços altos dos alimentos, as ruas são infestadas de mendigos dormindo em valetas e o povo possui um poder de compra mínimo, comparado muitas vezes ao de países africanos.

A contra-argumentação diz: Cuba possui uma política de educação e saúde mais avançadas do mundo. Então eu pergunto: para que serve conhecimento científico, se este não é usado no país-nação? Para que um estudante cubano necessita saber química e física se este conhecimento não está sendo usado para impulsionar a economia de Cuba?

O Mundo espera que o povo cubano acorde deste sonho ideológico para impulsionar Cuba através de uma política democrática e capitalista. Somente ele é “[...] capaz de prosperar, desde que seja observado de modo geral um mínimo de Leis e regras formais de convivência. É exatamente por isso que ele é compatível com a maximização da liberdade individual, a sociedade aberta e o reformismo.”

Lucas Caires.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Jovens astros que se tornaram ícones pela morte: James Dean, Kurt Cobain... e Heath Ledger?

Viva intensamente, morra jovem, torne-se imortal.

Bem, talvez não.

Nesta era acelerada e de Internet global, a trajetória tradicional para alcançar o status de figura cult após a morte está mudando.

Enquanto os fãs em luto declaram o ator jovem Heath Ledger "o James Dean de sua geração", há questionamentos. Estaremos falando de Ledger no futuro como ainda falamos sobre Dean -que morreu há mais de 50 anos?

A morte de Ledger foi diferente da de Dean, apesar de não menos comovedora. O australiano de 28 anos foi encontrado no dia 22 de janeiro em seu apartamento em Nova York por sua faxineira e sua massagista. A causa não foi determinada.

Fãs se aglomeram diante de local onde seria velado o corpo do ator Heath Ledger em NY

Não há mistério sobre como Dean morreu. De fato, foi seu final fora de hora em 1955 que marcou o ponto de nascimento da cultura de celebridade americana, diz Chris Epting, autor de "James Dean Died Here" e de outros livros sobre os locais e artefatos da cultura popular americana.


Com apenas 24 anos e três papéis no cinema, Dean morreu em uma estrada solitária da Califórnia após uma colisão de frente em seu Porsche. Seis meses depois, seu terceiro filme, "Rebelde sem causa" foi lançado, causando sensação, especialmente entre os jovens. Dean ascendeu ao status de cult que perdura até hoje.

"Heath Ledger é uma das primeiras pessoas ao estilo Dean a morrer na era da Internet, então sua morte será um teste para ver quanto tempo a Net abanará esta chama", diz Epting. "Será interessante ver: será imortalizado ou a próxima grande coisa o suplantará totalmente em algumas semanas?"

Karal Ann Marling, por exemplo, acha que sim. Professora de estudos americanos e cultura popular da Universidade de Minnesota, Marling acredita que é natural todo mundo se sentir triste com a morte de um jovem, famoso ou não. Mas o grande interesse na morte de Ledger em breve esmaecerá, prevê.

"Eles não vão erguer um busto dele no Grifftih Park" em Los Angeles, diz Marling. "Isso é mais sobre celebridade e diversão -o país é tão louco por celebridades que quase qualquer coisa que uma celebridade faça vale uma notícia, e a maior parte 'disso' é uma forma de evitar a política."

Ser jovem, ter boa aparência e estar morto, apesar de trágico, não é sempre suficiente para garantir que a pessoa perdurará na consciência pública. Veja Brad Renfro, jovem ator encontrado morto com 25 anos em seu apartamento de Los Angeles uma semana antes de Ledger. Renfro (que começou quando criança), tinha mais filmes que Ledger, mas sua carreira estava empacada -e sua morte passou praticamente despercebida.


É um debate de bar argumentar quem pertence ao panteão da cultura popular permanente e quem não. A lista de "figuras do entretenimento" que inegavelmente pertencem ao panteão é relativamente curta: além de James Dean e Marilyn Monroe, inclui Elvis Presley, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Marley, Jim Morrison, John Belushi, John Lennon, Kurt Cobain.

"Há algo de místico, alguma magia sobre eles, porque nem todo mundo sabia tudo sobre eles quando eram vivos", diz Lynn Bartholome, do Colégio Comunitário Monroe em Rochester, Nova York, presidente da Associação de Cultura Popular -acadêmicos que estudam a cultura americana.

A lista daqueles sobre quem há dúvidas é maior: Freddie Prinze, Tupac Shakur, Buddy Holly, River Phoenix, Ritchie Valens, John Candy, Phil Hartman, Brandon Lee, Cass Elliot, Keith Moon, Brian Jones, Hank Williams, Selena.

Na Internet, as listas compiladas por várias pessoas que ligam para essas coisas são intermináveis. Uma equipe de pesquisadores no Reino Unido até fez um estudo sobre a fama e a morte prematura. Os pesquisadores da Universidade John Moores, em Liverpool, avaliaram 1.064 astros do rock e pop norte-americanos e britânicos -100 dos quais tinham morrido cedo- e concluíram que há mais do que o dobro de probabilidade da pessoa morrer cedo com a chegada da fama, segundo publicaram em uma revista de epidemiologia no ano passado.

Então quem fica entre os imortais, e por quê?

Ajuda ser um pouco excêntrico. Ajuda ter uma alma torturada, demônios pessoais, problemas com pílulas ou álcool ou comportamento ilegal. Principalmente, ajuda ter seguidores apaixonados "antes" da morte -como Dean e Monroe, diz Patrícia King Hanson, historiadora do Instituto de Cinema Americano. Ambos tinham forte conexão com o público, especialmente com os jovens, que respondiam às notas de vulnerabilidade e tragédia que mostravam em tela e em suas vidas pessoais.

"Nenhuma pessoa é lançada à grandeza só pela morte", diz Hanson. "É um certo tipo de pessoa que parece atrair seguidores e apenas por virtude de sua morte parece expandir. As pessoas ficam com uma imagem maquiada deles -sempre jovens e sempre vibrantes.

"O sujeito feliz sem problemas que morre cedo não vira cult."



A Internet apressa e espalha a reação a alguma coisa como a morte de Ledger, mas pode sumir igualmente de maneira rápida. "É um mini-cult e é muito temporário", diz ela. "Talvez em três meses não haverá tanto".

Epting acha que é cedo para dizer, mas se pergunta se a morte de Ledger terá o poder de perdurar. "Meu filho tem 14 anos e freqüenta uma escola pública no Sul da Califórnia. Ele me conta sobre os jovens afetados com isso. Eles captaram aquele sentimento solitário, que Ledger era torturado em sua vida pessoal, que era marginalizado, que fazia seus papéis com seriedade."

Há algumas similaridades entre Dean e Ledger.

Como Dean, Ledger era jovem e sensual, com meia dúzia de papéis no cinema, uma nomeação ao Oscar por um papel transcendental ("O Segredo de Brokeback Mountain") e uma atuação potencialmente memorável como um Coringa especialmente maldoso no novo filme de Batman que ainda será lançado. (Dean recebeu duas nomeações, por seu primeiro papel em "Vidas Amargas" [1955] e por "Assim Caminha a Humanidade" [1956]; ele foi o primeiro a receber nomeações póstumas.)

Diferentemente de Dean, Ledger era pai há pouco tempo; sua filha tem dois anos. Ledger também morreu em uma era da mídia de cerco às celebridades. Minutos depois, a cobertura tornou-se global; o choque, palpável. Sua família na Austrália soube que estava morto junto com todo mundo; hoje em dia, não há tempo para a amenidade de notificar os parentes antes de a notícia chegar ao mundo.

Diante de seu apartamento no SoHo, multidões se reuniram, tributos fluíram pelos blogs e websites e buquês de flores e outras lembranças empilharam-se na porta do prédio após retirarem seu corpo.

"Sempre teremos orgulho de você, Heath. Descanse em paz, amigo", dizia uma mensagem em uma impressão da bandeira australiana.

Até hoje, as pessoas ocasionalmente deixam tributos diante da boate Viper Room, no Sunset Boulevard em West Hollywood, onde o jovem ator River Phoenix morreu de overdose aos 23, em 1993.

"Esses lugares vão se tornando templos, e acho que (a porta do prédio de Ledger) será um altar por um tempo", diz ele.

Será que "The Dark Night", último filme de Ledger, vai acabar sendo seu "Rebelde Sem Causa", levando-o à fama duradoura? Talvez, mas em uma era em que mais jovens freqüentadores de cinema vêem filmes em iPods e iPhones, será que poderão se conectar com aquelas imagens minúsculas da mesma forma que seus avós se ligaram a Dean em telas prateadas gigantes, questiona Epting.

É útil lembrar que a imortalidade não é assegurada mesmo quando há confrontos no funeral. Lembra-se de Rudolph Valentino? Antes de Dean, a morte mais memorável de Hollywood tinha sido a do astro do cinema mudo italiano, conhecido como "amante latino", que morreu em Nova York em 1926 aos 31, depois de uma operação de úlcera que deu errado.

A reação foi cataclísmica: uma multidão de 100.000 pessoas apareceu para o funeral carnavalesco em Nova York, tentando ver o corpo na capela Frank E. Campbell (mesmo lugar para o qual o corpo de Ledger foi levado antes da família levá-lo de volta para a Austrália). Quando o corpo de Valentino foi levado de trem para o enterro em Hollywood, milhares viram-no passar, e milhares estavam lá no Hollywood Memorial Park quando quilos de flores caíram de um avião.

Foi um show e tanto, amplamente coberto pela mídia na época. Ainda assim, quantas pessoas ainda falam de Valentino hoje?

Como diz Bartholome sobre o lugar de Ledger na mente pública: "Muito poucos chegariam ao panteão hoje, e isso é por causa da mídia e por causa da Internet -simplesmente sabemos demais sobre pessoas demais."

Texto: Maria Puente
Tradução: Deborah Weinberg
Texto originalmente publicado no jornal USA Today.

Alexandre Rios.