domingo, 10 de fevereiro de 2008

Tiro no Pé

“A dias da posse da nova legislatura da Parlamento cubano – que vai decidir se o ditador Fidel Castro vai ou não continuar sendo o dirigente máximo da ilha -, as imagens do encontro circulam em Havana e, divulgadas pela britânica BBC, movimentam debates em sites e fóruns de internet sobre a ilha”

Raúl Castro propôs debates na ilha há 18 meses para a votação da nova legislatura. Deu no que deu. Estudantes universitários mostram sua revolta nesse vídeo e evidencia a real situação que o povo cubano vive: miséria e censura.

Algumas falas do debate:

“Querido Alarcón, [...] não quero passar um dia mais sem que possa derrubar cada um dos argumentos que escuto diariamente e que é difícil de responder[...] Crer verdadeiramente implica saber de tudo ou quase tudo. E ter perspectiva de futuro imediato, do que pode acontecer. Com isso, podemos defender, ter mais argumentos...” – Eliécer Ávila

“Olhava as fotos e as biografias dos delegados e deputados e dizia: quem são?” – Alejandro Hernández

“Que essa pessoa faça um intercâmbio mais profundo, mais próximo com cada estudante que vai votar. Do contrário, [...] somos simplesmente hipócritas da liberdade. Não podemos falar de comunismo ou socialismo.” - Alejandro Hernández

E o debate continua com as críticas à impossibilidade do povo cubano viajar, aos altos preços dos produtos e à impossibilidade de acessar emails da Google e Yahoo. Alarcón, Presidente da Assembléia nacional, diz ser “um perfeito ignorante” do último assunto discutido (censura na internet) pelo estudante Eliécer Ávila (vestido com uma camisa estampada com um @).

Fonte: Folha de São Paulo, Sábado, 9 de fevereiro de 08

Crítica:

Ainda assim vemos um ideal revolucionário, talvez herdado historicamente, nos estudantes. Eles ainda acreditam que numa ditadura de Fidel é possível haver igualdade e liberdade. Um governo totalmente ilhado economicamente, que se sustenta pela exportação de cana-de-açúcar e tabaco, e prega uma ideologia inconsistente em plena afirmação do Capitalismo.

É essa impregnação e alienação ideológica que dá força ao socialismo. Em um artigo da Folha de São Paulo, Antonio Cícero diz:

“Como se sabe, o regime feudal era o modo de produção dominante na Europa, antes do capitalismo. Curiosamente, se pensamos agora no modo de produção que pretendi superar o capitalismo, que era o socialismo [...], veremos que, onde ele tentou existir realmente, como na União Soviética, nos países do Leste Europeu etc., o papel da ideologia marxista-leninista não era menos do que o da religião católica havia sido durante a era do feudalismo.”

Durante a Idade Média, a força maior estava concentrada na Igreja. “no mundo feudal, nada de importante se passa sem que seja relacionado a Deus. Deus é ao mesmo tempo o ponto mais alto e o fiador do sistema. É o senhor dos senhores. [...] O regime feudal e a Igreja eram de tal forma ligados que não era possível destruir um sem pelo menos abalar o outro” – Jacques Le Goff, em “O Deus da Idade Média”. E o mesmo acontece com o socialismo. Acima de Fidel Castro e Stálin estão a ideologia Marxista. Quem sustenta o governo socialista é a cabeça do povo, e não a repressão.

“[...] dado que no socialismo, as atividades econômicas não seriam mais realizadas tendo em vista a subsistência ou o lucro, era necessário que o partido [...] orientasse a criação da “unidade de moral e política do povo”, de modo que o trabalho se transformasse, “de mero meio de subsistência a um assunto de honra”.

O governo socialista necessita de fantoches para a sustentação do regime. Fantoches que pregam a igualdade em uma ditadura, fantoches que não observam seus próprios dirigentes viverem em uma situação privilegiada em relação ao povo. Já assisti dois documentários mostrando a miséria que o povo cubano vive. Maior parte da população passa fome por causa dos preços altos dos alimentos, as ruas são infestadas de mendigos dormindo em valetas e o povo possui um poder de compra mínimo, comparado muitas vezes ao de países africanos.

A contra-argumentação diz: Cuba possui uma política de educação e saúde mais avançadas do mundo. Então eu pergunto: para que serve conhecimento científico, se este não é usado no país-nação? Para que um estudante cubano necessita saber química e física se este conhecimento não está sendo usado para impulsionar a economia de Cuba?

O Mundo espera que o povo cubano acorde deste sonho ideológico para impulsionar Cuba através de uma política democrática e capitalista. Somente ele é “[...] capaz de prosperar, desde que seja observado de modo geral um mínimo de Leis e regras formais de convivência. É exatamente por isso que ele é compatível com a maximização da liberdade individual, a sociedade aberta e o reformismo.”

Lucas Caires.

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