sexta-feira, 29 de agosto de 2008

John McCain, Sarah Palin e "histórico" discurso de Obama

A escolha feita por John McCain de uma jovem (para os padrões políticos) governadora como companheira de chapa foi um extraordinário feito político dos republicanos. Transformou mesmo em coisa da história o discurso da véspera feito por Barack Obama – do qual boa parte da imprensa instantânea parou de falar 12 horas depois dele ter sido chamado de “histórico”.

Aos 72 anos de idade, John McCain não é exatamente um triatleta. Ao contrário, sempre se comentou que tão importante quanto o candidato republicano seria saber qual seu vice. E que vice! Uma “hockey mom”, como a própria governadora Sarah Palin se define: uma dessas mães de subúrbio (lá, subúrbio tem outra conotação), que levam as crianças de tarde para o treino do time de hockey. E vão torcer pela prole no domingo – depois da igreja, claro.

Se houvesse um rosto da americana típica de classe média, e um jeito de falar também, seria o de Sarah Palin. É óbvio que ela tem apelo eleitoral até para as democratas que continuam infelizes pelo fato de Hillary Clinton não ter sido escolhida sequer a vice de Obama. Ela é arquiconservadora em questões morais e sociais, o que fala também a um grande número de eleitores americanos.

E, se Obama é o “candidato mensagem”, Palin dá à campanha dos republicanos um inesperado ar de jovialidade. Foi uma brilhante tacada política. O nome do qual mais se falava até agora para vice era o do empresário-governador Mitt Romney – competente, bem sucedido, monótono. Até McCain tinha um sorriso meio bobo quando anunciou Sarah Palin – sorriso de velho quando ganha elogio de mulher muito mais nova.

O discurso de aceitação de Obama foi até agora o mais importante de sua carreira, mas faltou a ele o típico carisma com que encantou muita gente durante as primárias. Obama tinha de mostrar os dentes e, desta vez, não era para sorrisos. Foi duro e contundente nos ataques a Bush e McCain – algo pelo qual os democratas imploravam. E fez pelo menos duas promessas retumbantes, de difícil realização, e pelas quais será cobrado.

Primeira promessa: acabar em dez anos com a dependência americana do petróleo do Oriente Médio. Talvez seja o objetivo estratégico mais importante formulado por um chefe de governo americano desde a política de contenção da União Soviética no início da Guerra Fria, e já lá se vão uns 60 anos (o “star wars” de Reagan foi a continuação dessa política). Tem um subproduto interessante: o reconhecimento que é melhor retirar-se de um lugar onde os conflitos parecem mesmo intratáveis.

Segunda promessa: reduzir impostos para 95% das famílias de classe média. A principal dificuldade em reduzir impostos reside no fato, reconhecido pelo próprio Obama no discurso de quinta à noite, de que ele precisa financiar programas sociais, programas de investimento em infraestruturas e, conforme prometeu também, manter equilíbrio fiscal. Conciliar tudo isso requer extraordinário senso de equilíbrio, visão de longo prazo e articulação política.

Faltam 67 dias para as eleições americanas e elas parecem em aberto. São as mais fascinantes para pelo menos três gerações. O eleitorado americano – e o mundo, pode-se dizer, dadas as conseqüências das decisões que são tomadas nos Estados Unidos, gostemos delas ou não – está diante de escolhas reais. E não é fácil decidir entre uma e outra.


(William Waack)

Thales Azevedo.

domingo, 17 de agosto de 2008

Tombos sem graça


No país da piada pronta, não esperem sarcasmo ou ironia aqui por causa das quedas do brilhante ginasta ou do cavaleiro.

Somos todos nós que caímos.

Porque não é de hoje que estamos de quatro diante do quadro de nossa cartolagem, corrupta e incompetente.

Quem derruba nossos atletas somos nós mesmos, com nossas expectativas exageradas, com o peso que botamos sobre seus ombros, com o nosso ufanismo de véspera e depressão depois.

Quem os derruba é a falta de uma Política Esportiva e o excesso de dinheiro nas mãos de poucos, para suas mordomias.

De que vive o presidente do COB, por exemplo?

E há quanto tempo lá está?

Com que resultados?

Será que ganhou experiência em Pequim?

A verdade é que tirante o vôlei, cujo trabalho inicial, aliás, diga-se a bem da verdade, foi muito bem feito por ele mesmo, onde mais podemos dizer que os resultados são fruto de um trabalho sério e planejado?

Sim, na ginástica e no...

Pergunte a César Cielo Filho de Ouro quanto ele se julga devedor do também eterno cartola da natação.

Deixa pra lá.

Porque podemos até ganhar dois ouros no futebol, mas, convenhamos, será pelo velho talento, jamais pela organização, como vimos na última Copa do Mundo e estamos vendo na China.

E o basquete?

Quem são esses cartolas que não largam de seus privilégios e que ainda têm o apoio não só dos diversos ministros como, também, dos presidentes da República -- todos eles, sem exceção?

Não, não tem graça nenhuma os tombos que levamos.

Ruim mesmo é a cachaça que tomamos.

Juca Kfouri


Alexandre Rios

sábado, 9 de agosto de 2008

Melô do Congresso

Muito bom!

Alexandre Rios.

Várias maneiras de contar uma história

Os três porquinhos na versão Lula:



Thales Azevedo.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Medir para avançar rápido - Entrevista

O físico alemão que comanda os rankings de educação da OCDE diz que o Brasil precisa copiar práticas que dão certo em outros países para deixar de vez o grupo dos piores

Nenhum indicador sobre a qualidade de ensino tem tanto peso e repercussão quanto o Pisa, sigla em inglês para programa internacional de aferição de estudantes, que está sob os cuidados do físico alemão Andreas Schleicher, 44 anos. Há oito, ele é o responsável pela aplicação da prova, uma iniciativa da OCDE (organização que reúne as trinta nações mais desenvolvidas do mundo). Na comparação com 57 países, o Brasil sempre aparece entre os últimos colocados em todas as disciplinas. Situação que Schleicher conhece não apenas por estatísticas mas por suas viagens ao Brasil. Desde que assumiu o cargo, ele já visitou escolas em mais de 100 países – rotina que o mantém sempre longe de Paris, onde mora com a mulher e os três filhos.

Os brasileiros apareceram, mais uma vez, entre os piores estudantes do mundo nos últimos rankings de ensino da OCDE. O que o senhor descobriu ao analisar as provas desses estudantes? Elas não deixam dúvida quanto ao tipo de aluno que o Brasil forma hoje em escolas públicas e particulares. São estudantes que demonstram certa habilidade para decorar a matéria, mas se paralisam quando precisam estabelecer qualquer relação entre o que aprenderam na sala de aula e o mundo real. Esse é um diagnóstico grave. Em um momento em que se valoriza a capacidade de análise e síntese, os brasileiros são ensinados na escola a reproduzir conteúdos quilométricos sem muita utilidade prática. Enquanto o Brasil foca no irrelevante, os países que oferecem bom ensino já entenderam que uma sociedade moderna precisa contar com pessoas de mente mais flexível. Elas devem ser capazes de raciocinar sobre questões das quais jamais ouviram falar – no exato instante em que se apresentam.

Depois de mais de uma década de avaliações, o senhor vê avanços no caso brasileiro? Os resultados, apesar de ruins, são sempre um pouco melhores em relação aos anteriores. Além disso, o Brasil passou a ter chance de avançar no momento em que começou a mapear os problemas de maneira objetiva – e não mais com base na intuição de alguns governantes. Isso é básico. Não dá para pensar em melhorar algo que não foi sequer dimensionado. Daí a importância da comparação internacional. Ao olhar os rankings, pois, educadores e autoridades podem começar a fazer comparações e constatar o óbvio: suas escolas estão bem atrás das dos países da OCDE.

[...]

Por que outros setores são mais globalizados do que a educação? Ao ficarem circunscritos às suas fronteiras e resistirem à idéia de aprender com a experiência alheia, os países estão movidos por uma espécie de orgulho patriótico sem sentido. O pensamento geral é algo como: "Cada um sabe o que é melhor para suas salas de aula". Essa mesma lógica do isolamento intelectual se repete entre as escolas e, mais surpreendente ainda, entre professores de um mesmo colégio. Pergunte a um deles o que o colega da sala ao lado está fazendo para resolver um problema comum a ambos e ouvirá como resposta: "Não tenho a mais vaga idéia". Nesse cenário, a China é uma ótima exceção e já começa a colher os efeitos positivos.

O que há de extraordinário no exemplo chinês? Os chineses não demonstram constrangimento em copiar o que funciona nos outros países. Ao contrário: eles são movidos por isso. Em uma visita à China, tive um encontro com o ministro da Educação e ele me surpreendeu ao revelar profundo conhecimento sobre a realidade de algumas das melhores escolas do mundo, como as coreanas e finlandesas. Trata-se de algo raríssimo de ver em qualquer outro país. A China, evidentemente, ainda tem muito que melhorar na educação – mas avança em ritmo veloz. Um novo estudo da OCDE traz um dado espantoso. Em 2015, haverá duas vezes mais chineses com diploma universitário do que na Europa e nos Estados Unidos juntos. Tudo indica também que logo esses estudantes terão acesso, em seu próprio país, a algumas das melhores universidades do mundo.

[...]

Em sua opinião, como o Brasil faria melhor uso do dinheiro disponível? Reduzindo as altas taxas de repetência, por exemplo. Os estudos mostram que um aluno reprovado se torna 20 000 dólares mais caro para o estado. Dar a esses estudantes reforço na escola, de modo a evitar a reprovação, sairia bem mais barato. Trata-se de um claro sinal de ineficiência na gestão do dinheiro. Nessa velha ladainha sobre o aumento de verbas para a educação, as pessoas deixam ainda de lado outra questão bastante básica: de nada adianta aumentar o orçamento e continuar a investir num sistema velho e inoperante. É preciso lembrar, no entanto, que a má aplicação das verbas públicas no ensino não é uma exclusividade brasileira.

Por que o senhor diz isso? A educação é um setor com índices de produtividade declinantes no mundo todo: os custos só aumentam, ao passo que o ritmo de avanço na sala de aula é lento demais. Justamente o inverso do que ocorre com as grandes empresas privadas, que conseguem cortar gastos e produzir mais e melhor. Não recebo aplausos quando digo isso em minhas palestras. Tampouco faço sucesso ao afirmar que poucos setores são tão atrasados quanto a educação.

[...]

Por que elas [as escolas] são tão antiquadas? A maioria das escolas ficou congelada no tempo desde o século XIX. Até hoje, elas aplicam conceitos idênticos aos daqueles colégios concebidos para tornar as pessoas compatíveis com a era industrial. Um de seus pilares é a divisão do conhecimento por áreas estanques e incomunicáveis. O outro é o treinamento para a execução de tarefas repetitivas. Enquanto focam demais em idéias do passado, as escolas deixam de mirar uma questão-chave e bem mais atual: o fundamental é que as pessoas aprendam a aplicar esse conhecimento em novas e avançadas áreas – e que não apenas o tenham armazenado. Alguns países já começam a entender isso. Os rankings da OCDE mostram que o Brasil ainda está um passo atrás.

Por Andreas Schleicher - Veja. Para ler a íntegra, clique aqui.

Thales Azevedo.