domingo, 31 de maio de 2009

Zii e Zie Salvador

05/06, Concha Acústica.
Thales Azevedo.

Elvis Costello - Secret, Profane & Sugarcane

Como é bom acordar num domingo e ouvir um ótimo disco! O domingo ideal: acordar, ler as notícias de algum jornal, ouvir música de qualidade, almoçar fora, descansar, ver uma partida do seu time - com vitória - e, à noite, assistir a um clássico. Infelizmente, isso poucas vezes acontece. Mas quando acontece... Ah, é bom demais!

Hoje acordei tarde mas deu tempo de conhecer o novo disco de um cara que eu gosto bastante. Elvis Costello continua na ativa e fazendo trabalhos dignos, como Secret, Profane & Sugarcane, que será lançado dia 02 de junho. Eu já escutei. Calma, não fiz nada ilegal! O disco na íntegra encontra-se no site do Costellão.

Tá aqui minha recomendação. Abaixo, o vídeo de divulgação do disco.

Elvis Costello | Down Among the Wines and Spirits from Concord Music Group on Vimeo.


Alexandre Rios.

sábado, 30 de maio de 2009

Se Meu Apartamento Falasse

Bom cinema é muito mais do que a simples soma de palavras e imagens. Os melhores filmes funcionam como passes de mágica. Nestas produções, não é raro que a soma de 2 mais 2 dê 5, ou mais. Os melhores diretores são aqueles que aplicam a teoria básica da montagem de Eisenstein (o significado é construído a partir do choque de duas tomadas) em um nível mais profundo. Você soma diálogos, música, fotografia, direção de arte, atuações para conseguir um significado que dois ou três destes elementos, sozinhos, não dariam conta. Um dos diretores que mais fez filmes neste nível superior foi o austríaco Billy Wilder. “Se Meu Apartamento Falasse” (The Apartment, EUA, 1960), uma das comédias românticas mais brilhantes de todos os tempos, é um deles.

A idéia que está na base de “Se Meu Apartamento Falasse” começou a germinar na cabeça de Billy Wilder quase vinte anos antes, em 1946. O diretor austríaco roubou-a de um filme de David Lean chamado “Desencanto”, que ele viu no mesmo ano. O filme tematizava o affair proibido de um homem e uma mulher, ambos casados com outras pessoas. Para se encontrar, eles usavam o apartamento de um amigo, um sujeito que aparece em apenas duas cenas. Na cabeça de Wilder, este personagem quase invisível tinha uma história mais interessante do que a do casal. Podia virar um protagonista.

No entanto, Wilder não era bobo. Ele sabia que naquela época o sistema de censura existente em Hollywood jamais permitiria um filme cuja trama tinha como base geográfica um apartamento usado para encontros sexuais proibidos. Anotou-a para o futuro. Esperou até 1959, quando a ocasião propícia finalmente apareceu. Na época, vários fatores pareciam convergir em favor do projeto: Wilder se tornara um dos diretores mais respeitados do mundo; a mentalidade das pessoas estava mudando e as noções de infidelidade e sexo fora do casamento eram muito mais naturais; e a censura em Hollywood enfraquecia a olhos vistos.

Para completar, o diretor acabara de encontrar o ator perfeito para o personagem: Jack Lemmon. Junto com o roteirista parceiro I.A.L. Diamond, Wilder desenvolveu o enredo de modo bem diferente de uma comédia romântica clássica, mas de forma que o filme pudesse aproveitar todo o potencial cômico do ator. É uma história simples, calcada em uma situação curiosa: uma das centenas de funcionários anônimos de uma mega-seguradora, C.C. Baxter (Lemmon), empresta seu apartamento em Nova York para que os superiores hierárquicos, como o chefão Sheldrake (Fred MacMurray), possam se encontrar com as amantes, enquanto ele mesmo é obrigado a passar quase todas as noites no frio da calçada, esperando para voltar para casa.

O grande segredo da excelência de “Se Meu Apartamento Falasse” foi o cuidado com que o diretor austríaco construiu os dois personagens principais – além de Baxter, há a ascensorista Fran Kubelick (Shirley MacLaine), que é o interesse romântico do protagonista na história. O cineasta recusou os estereótipos das comédias de costumes tradicionais, onde os protagonistas normalmente têm os perfis situados em situações-limite. Ou seja, em geral os personagens principais de tais filmes são pessoas puras e ingênuas, ou são canalhas a caminho de uma inevitável redenção. Aqui, porém, não há nada disso. Wilder não gosta de pretos e brancos; prefere explorar a área cinzenta e muitas vezes indefinível que fica no meio.

Baxter e Fran são jovens, mas já conhecem os caminhos traiçoeiros da vida. Já levaram muitas sarrafadas do destino e se acostumaram à derrota. Mantêm uma ponta de esperança, sim, mas sem fazer devaneios impossíveis. São dois seres resignados. “Este filme não é sobre como a vida é bela. É sobre como a vida é”, costumava dizer Wilder. Com este conceito em mente, os roteiristas criaram um protagonista rico, complexo, tridimensional, cheio de camadas. Um homem de carne e osso, alguém cuja existência extrapola os limites retangulares de uma tela de cinema.

Seria fácil transformar Baxter em um personagem artificial e unidimensional, uma marionete do diretor, calcada nos clichês do gênero. Ele poderia ser um homem simplório manipulado por gente mais esperta, ou um espertalhão ambicioso que empresta o apartamento aos chefes apenas com a intenção de galgar a hierarquia da empresa. Mas Baxter é ambos, ou melhor, transcende as duas coisas. É um rapaz meio tímido, esforçado no trabalho, à procura de uma chance na vida, e incapaz de dizer “não”. De fato, o roteiro do filme é tão bom que Baxter, quando se vê preso na armadilha do apartamento, desenvolve uma tortuosa linha de raciocínio sobre ser um parasita social. Ele acredita mesmo nisso. Mas a gente sabe que não é verdade. Baxter não passa de um homem comum, alguém que se meteu inadvertidamente em uma situação complicada e não consegue sair dela.

As qualidades impecáveis de Wilder como diretor se manifestam não apenas na construção dos dois personagens inesquecíveis, mas nos outros departamentos. A direção de arte é um excelente exemplo. Observe como o apartamento citado no título parece apertado, sufocante, um peso que o personagem carrega nos ombros; para conseguir este efeito, Wilder mandou o responsável pelo setor, Alexander Trauner, retirar a cor branca dos cenários, de forma a suprimir os espaços vazios e acentuar essa impressão claustrofóbica.

Outro exemplo é a maravilhosa tomada em que Baxter some atrás de uma verdadeira multidão de escrivaninhas, todas idênticas, no espaçoso salão em que os vendedores de seguro, como ele, se acotovelam para trabalhar. A câmera inicialmente mostra apenas o nosso herói, mas aos poucos vai se afastando até revelar a imensidão do escritório – Baxter senta na escrivaninha número 831. Esta tomada mostra como é importante que o movimento da câmera seja planejado não de forma gratuita, mas em função da história. Da forma como a cena foi filmada, Wilder comunica ao público exatamente que tipo de homem é Baxter: um reles funcionário sem importância, um pequeno parafuso numa enorme engrenagem. Um zero à esquerda. Um de nós, enfim.

Quer mais um exemplo? Então confira a antológica seqüência em que Baxter utiliza uma raquete de tênis para escorrer o espaguete, ao cozinhar para a mulher amada. Duas coisas diferentes são comunicadas ao mesmo tempo: o fato de que Baxter é um solteiro bagunçado (caso contrário, certamente teria um escorredor) e, também, que possui um charme espontâneo impossível de ignorar (o ato de cozinhar para uma mulher é sempre simpático). Portanto, a mesma cena estabelece duas características importantes do personagem, e de quebra consegue sacramentar um inspirado e refinado momento cômico.

Se C.C. Baxter é responsável pela maior parte dos bons momentos cômicos, Fran Kubelick é uma personagem dramática por excelência. Ascensorista cobiçada por todos os homens da empresa, ela parece ser a garota dos sonhos de Baxter: linda, simpática, inteligente, não sai com qualquer um. O filme vai revelando aos poucos os detalhes da vida de Fran, até que descobrimos que ela não é o que parece; é na verdade uma mulher presa a uma paixão devastadora, uma paixão da qual não consegue se livrar. Ela sabe que o namoro é um beco sem saída e tem consciência de que deveria seguir em frente, mas simplesmente não consegue – e todos nós já vivemos, ou conhecemos alguém que viveu, uma situação assim, não é mesmo?

Para completar, a escalação do elenco é perfeita, do começo ao fim. Jack Lemmon é tudo o que Jim Carrey gostaria de ser, um ator dramático intenso com timing cômico perfeito. Shirley MacLaine, além de linda, possui um rosto angelical, que exala inocência, o que se revela fundamental para despertar um choque no público, quando passamos a conhecer o atormentado passado dela. Por fim, a cereja no topo do bolo: Fred MacMurray como o chefão Sheldrake, um canalha egoísta, fazendo uma sutil alusão ao papel que o ator interpretou em “Pacto de Sangue” (1944), do mesmo Wilder – Sheldrake seria exatamente o homem que o protagonista do clássico noir teria se tornado, caso não houvesse entrado no mundo do crime, duas décadas antes.

A união de tudo isso resulta em um filme perfeito, romântico de pé no chão, um filme perfeito para casais que, no entanto, jamais abdica de ter um pé da realidade dura e fria (neste caso, considerando o inverno da Nova York mostrada em cena, literalmente). As escolhas estéticas do diretor aperfeiçoam e dão consistência extra ao que realmente importa: uma galeria de personagens maravilhosa, gente de carne e osso, com quem a gente se importa mesmo depois de terminada a projeção.

Tanto isto é verdade que, até o fim da vida, Billy Wilder teve que responder a uma pergunta recorrente dos admiradores: o que ocorreu com Baxter e Fran depois da sensacional frase “cale a boca e dê as cartas”, que encerra a produção? A resposta de Wilder revela o diretor sensacional que ele era: quando escreveu o filme, o diretor pensava que dois personagens tão pobres e sem imaginação não conseguiriam viver juntos por muito tempo; ao terminar de filmar, não tinha mais certeza. Os dois haviam adquirido vida própria.

Por Rodrigo Carreiro (Cine Repórter)

Alexandre Rios.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Françoise Hardy - L'amitié



Vejam o filme As Invasões Bárbaras.
Thales Azevedo.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Brandamente Brasil

Os brasileiros somos mestres em dar nomes escalafobéticos aos filhos. Eu conheci dois Escalafobéticos.

Escalafobético Bezerra e Escalafobético da Silva. Nunca pensaram em mudar o nome. Iam vivendo como Deus é servido. Aliás outro nome exótico: Servo Fiel de Deus.

Está tudo na net. Dei umas braçadas, achei um blogue jeitoso enfileirando 250 nome escalafobéticos.

Lá estão Abrilina Décima Nona Caçapava, Agrícola Beterraba Areia Leão, Amado Amoroso, Antônio Americano do Brasil Mineiro, Arnaldo Queijo, Bananéia Oliveira de Deus, Bucetildes (chamada pelos familiares de Dona Tide, conforme o site me elucida, embora sem dar o sobrenome, no qual nem quero pensar), Céu Azul do Sol Poente, Colapso Cardíaco da Silva, Disney Chaplin Milhomem de Souza, Faraó do Egito Souza, Farmácio Lopes, Pelumendia Loureiro, Gravitolina Pereira, Adoração Arabites, Dozolina Piroca Tazinasso, Légua e Meia, Sansão Vagina, Oceano Atlântico Linhares e o famoso, para conhecedores do gênero, Um Dois Três de Oliveira Quatro.

Eu poderia continuar. E continuar. Paro por aqui.

Nem vou falar daquela nordestina maneira de juntar as primeiras sílabas dos nomes do pai e da mãe. Todos aqueles Carmares (de Carlos e Maria), Djavans (de Djanira e Ivan) e assim por diante.

Assim Por Diante das Cruzes. Um bom nome.

Reforma ortográfica entra, reforma ortográfica sai e, até agora, ninguém baixou Ato Institucional ou Medida Provisória que impeça pai e mãe de marcarem o nome dos filhos para toda a vida com letras em brasa. A bem da verdade, nem sei se eles, os filhos assim designados (Assim Designado das Dores; ih, cuidado que esse negócio pega!), se incomodam. Já há tantos problemas no país que não há de ser uma Terebentina Terepenis ou Vaginildo de Oliveira (ambos existem e, até onde se sabe, vivem vidas normais e produtivas) que irá jogar areia na máquina que, finalmente, partiu para o progresso e as grandes conquistas sociais.

Na França, consta que qualquer coisa que varie um tico de Jean-Claude ou Marie-France e o escrivão é obrigado por lei a não registrar.

No Reino Unido, o direito de mudar de nome é uma das pequenas porém sagradas liberdades da terra. Qualquer dos equivalentes aos nomes estrambóticos brasileiros por mim citados pode chegar no cartório e mudar o nome para Kevin, Elizabeth ou Keith. Ou o que lhes der na telha. A mudança de nome legal aqui é chamada de deed poll, no que fazem muito bem.

Tem mais. Mulher casada, se quiser, pode manter o nome de solteira. Uma criança não é obrigada a carregar nas costas pelo resto da vida o nome do pai. Os escalafobéticos locais escalafobéticos continuam e vão muito bem, sim, senhor e yes, sir. Perri 6 é o nome - legal, oficial - de um professor na universidade Trent Nottingham. Happy Adjustabale Spanners foi como, por deed poll, Daniel Westfallen preferiu ser oficial e legalmente conhecido no ano passado.

Nesse mesmo 2008, 46 mil pessoas foram de deed poll. Às vezes, não estivéssemos na Grã-Bretanha, as coisas se complicam. Eileen de Bont, da região norte do País de Gales voluntariou-se, em singela homenagem a uma caridade, para mudar seu nome para Pudsey Bear, que é o nome (sim, meio escalafobético) do ursinho marca registrada e mascote da popular beneficência Children in Need.

Eileen foi e mudou. Tudo bem. Só deu bolo com as autoridades encarregadas de passaportes, que alegaram que, embora legal, a mudança de nome era frívola. A carteira de motorista, os cartões de crédito e seu registro no imposto de renda botaram lá direitinho: Pudsey Bear. Sem problemas. Quem que esse pessoal dos passaportes pensa que é para chamar alguém de frívola?

O caso virou caso e está correndo.

Ah, sim. Brandamente Brasil. Está na lista do blogue em que mergulhei. Sabe que eu achei bonito? Um dia desses eu empombo e mudo meu nome legalmente, ou por deed poll, para Brandamente Brasil.

(Ivan Lessa)

Thales Azevedo.

domingo, 24 de maio de 2009

Os ditadores e o medo da internet

Premiado trabalho da da agência Ogilvy & Mather em pôsteres para a ISHR (International Society for Human Rights) satirizando o medo que certos governantes pouco afeitos à liberdade de expressão têm da internet.


Clique para ampliar.
Thales Azevedo.

sábado, 23 de maio de 2009

O que fazer quando chove?

Gosto muito quando chove. Que me desculpem as pessoas que sofrem com a chuva. Mas, amigo leitor, a atmosfera – e não estou me referindo apenas à geografia física – que as chuvas trazem é sensacional. Ainda mais pra aqueles que vivem em locais mais quentes, como eu. Não tenho muito tempo pra aproveitar esse clima - se bem que esse ano tem chovido bem mais que o normal e a previsão é de que continue assim por mais alguns meses. Meu professor disse que tudo isso é conseqüência da La Niña. E eu acredito nele. Bom, na sua cidade também está chovendo e você tá aí, sozinho, parado em frente ao computador, vendo o orkut dos outros e ouvindo Radiohead? Vou te ajudar a melhorar sua vida com algumas dicas.

Filmes: Não há nada melhor para se fazer quando chove do que ver alguns filmes. Acabei de ver “Uma mulher para dois” – não, não é o 'Jules e Jim' do Truffaut – com o Robert de Niro e Bill Murray. Estava me perguntando como um filme com esses dois caras, produzido por Martin Scorsese, sendo uma comédia romântica com uma trilha sonora digna de filmes de máfia, seja tão desconhecido por aqui. Bom filme, apesar de um pouco irregular. Dá pra quebrar o galho em dias de chuva. Mas nem se compara com os dois que irei recomendar agora.

Cantando na chuva é uma sugestão previsível, claro. Mas não dá pra deixar passar essa obra-prima do cinema americano! Este filme carrega o peso do cinema nas costas, expressa toda uma cultura fantástica com boas músicas, boas danças, gente bonita e uma história envolvente. Precisa de algo mais?

Tem também um dos meus filmes preferidos: Se meu apartamento falasse. Meu Deus, como eu gosto desse filme! Billy Wilder é um gênio. Jack Lemmon é um ator maravilhoso. E 'Se meu apartamento falasse' é um filme divertido, sensível, mágico. Talvez seja o filme que eu mais me identifiquei em toda minha vida. Costumo dizer que é um filme de Woody Allen nota dez. Não que eu não goste do Woody, muito – e põe muito nisso – pelo contrário. Mas nunca vi um filme dele que chegue à perfeição. Billy Wilder fez dois, em minha opinião. E por que eu estou trazendo Woody Allen na conversa mesmo? Bom, o filme do apartamento tem jazz, Nova Iorque e diálogos geniais. Não precisa mais prosseguir, certo?

Livros: Envergonho-me de ler pouco. Mas pegue algo de Agatha Christie e vá ser feliz!

Música: Jonas Brothers ou Radiohead? Nenhum dos dois. Recomendo algum disco de jazz. Kind of Blue, do Miles Davis, ou Doin´ Allright, do Dexter Gordon. Qualquer um dos dois tá de bom tamanho, companheiro. Se você não quer algo apenas instrumental tem outra opção. Hoje escutei bastante Louis Prima. Muito interessante, bem divertido. Abaixo um vídeo com uma música dele. Boa diversão!



Alexandre Rios.

Quem sabe?


Por que tanto apelo?
Tantas palavras jogadas fora
Tantas flores despedaçadas
Pessoas sendo enganadas
O engano causado por pessoas se espalha
Por que tanto descaso?

Sofrimentos musicados e celebrados
Felicidade espelhada, refletindo a ilusão
O amor petrificado em falsas juras
Os sonhos deram espaço ao real
E o real deu espaço aos sonhos
O pensamento se foi em devaneios atemporais
Por que tanto vazio?

O nada comprime o todo
E o infinito é cada vez mais finito
As perguntas surgem e as respostas tornam-se mitos
Ou uma mera definição em um dicionário qualquer
O querer supera o alcançável
E a imaginação e criatividade suplicam por um copo d’água
Mas me responda uma coisa, por que tanta pergunta?


Marcos O. C. Alves

Estudando o tucano tupiniquim


Antes que alguém retruque, eu digo que, sim, quero todas as CPIs possíveis.

Alexandre Rios.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Morre Zé Rodrix, um latino americano

Fiquei muito triste ao receber a notícia da morte de Zé Rodrix. Lembro-me quando conheci sua música com o disco "Quem sabe sabe, quem não sabe não precisa saber" e me encantei com sua música contagiante, sua voz marcante, com o uso de vários instrumentos e influências culturais. É uma pena. Colocarei abaixo um vídeo de uma apresentação desse grande artista no Jô Soares e a letra da música "Soy Latino Americano", um dos clássicos de Zé Rodrix.




Não acordo muito cedo
mas não fico preocupado
muita gente me censura
e acha que eu estou errado
Deus ajuda a quem madruga
mas dormir não é pecado
o apressado come cru
e eu como mais descansado

Soy latino americano
e nunca me engano, e nunca me engano
Soy latino americano
e nunca me engano

Meu caminho pro trabalho
é um pouco mais comprido
eu vou sempre pela praia
que é muito mais divertido
chego sempre atrasado
mas eu não corro perigo
quem devia dar o exemplo
chega atrasado comigo, e diz...

Soy latino americano
e nunca me engano, e nunca me engano
Soy latino americano
e nunca me engano

É legal voltar pra casa
mas eu não volto correndo
quem tem pressa de ir embora
no transporte vai morrendo
e eu que não me apresso nunca
pro meu bar eu vou correndo
e encontro minha turma toda
sentada na mesa dizendo assim...

Soy latino americano
e nunca me engano, e nunca me engano
Soy latino americano
e nunca me engano

Quando eu abro a minha porta
muita gente está jantando
quando eu ponho a minha mesa
muita gente esta deitando
eu me arrumo e vou pra rua
e na rua vou achando
muita gente que trabalha
se divertindo e cantando assim...

Soy latino americano
e nunca me engano, e nunca me engano
Soy latino americano
e nunca me engano...

Alexandre Rios.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Falemos patrioticamente mal as línguas dos outros!

É impressionante como, com o passar dos anos, tenho me tornado uma pessoa mais aberta ao meu país. Cada vez mais sou nacionalista, e estou gostando disso. Sem exageros, claro, porque todo nacionalismo exacerbado é o mesmo que uma estupidez inflada e vazia ao mesmo tempo. Quero que o meu país seja cada vez mais respeitado e me vejo no direito de tentar fazer a minha parte – porque toda nação digna é essencialmente patriótica. Qual Império possuiu um espírito desnacionalizado da população? Nenhuma, amigos leitores! Muitos poderão exclamar “mas o Brasil é um nada, não merece meu orgulho!”. Ora, como tornar uma nação que dê orgulho ao povo, que represente o povo, sem o trabalho árduo deste mesmo povo para corrigir os erros e evoluir?

Lendo “A Correspondência de Fradique Mendes”, de Eça de Queiroz, deparei-me com este trecho – um dos melhores da obra – absolutamente brilhante e que pode ser de muito valor para essa reflexão. O trecho encontra-se na segunda parte do livro, com as cartas do progonista Fradique Mendes – que é, segundo o narrador, um homem cuja “forma é um mármore divino com estremecimentos humanos”. Deliciem-se, amigos leitores – se é que existe algum!

"Um homem só deve falar, com impecável segurança e pureza, a língua da sua terra; todas as outras as deve falar mal, orgulhosamente mal, com aquele acento chato e falso que denuncia logo o estrangeiro. Na língua verdadeiramente reside a nacionalidade; e quem for possuindo com crescente perfeição os idiomas da Europa vai gradualmente sofrendo uma desnacionalização. Não há já para ele o especial e exclusivo encanto da fala materna com as suas influências afetivas, que o envolvem, o isolam das outras raças; e o cosmopolitismo do verbo irremediavelmente lhe dá o cosmopolitismo do caráter. Por isso o poliglota nunca é patriota. Com cada idioma alheio que assimila, introduzem-se-lhe no organismo moral modos alheios de pensar, modos alheios de sentir. O seu patriotismo desaparece, diluído em estrangeirismo.

[...] Além disso, o propósito de pronunciar com perfeição línguas estrangeiras constitui uma lamentável sabujice para com o estrangeiro. Há aí, diante dele, como o desejo servil de não sermos nós mesmos, de nos fundirmos nele, no que ele tem de mais seu, de mais próprio, o vocábulo. Ora, isto é uma abdicação de dignidade nacional. Não, minha senhora! Falemos nobremente mal, patrioticamente mal, as línguas dos outros! Mesmo porque aos estrangeiros o poliglota só inspira desconfiança, como ser que não tem raízes, nem lar estável – ser que rola através das nacionalidades alheias, sucessivamente se disfarça nelas, e tenta uma instalação de vida em todas porque não é tolerado por nenhuma.

[...] Eu tive uma admirável tia que falava unicamente o português (ou antes o minhoto) e que percorreu toda a Europa com desafogo e conforto. Esta senhora, risonha mas dispéptica, comia simplesmente ovos – que só conhecia e só compreendia sob o seu nome nacional e vernáculo de ovos. Para ela huevos, oeufs, eggs, das ei eram sons da Natureza bruta, pouco diferenciáveis do coaxar das rãs, ou de um estalar de madeira. Pois, quando em Londres, em Berlim, em Paris, em Moscou, desejava os seus ovos, esta expedita senhora reclamava o fâmulo do hotel, cravava nele os olhos agudos e bem explicados, agachava-se gravemente sobre o tapete, imitava com o rebolar lento das saias tufadas uma galinha no choco, e gritava qui-qui-ri-qui! co-có-ri-qui! có-rócó-có! Nunca, em cidade ou região inteligente do universo, minha tia deixou de comer os seus ovos – e superiormente frescos!"

Alexandre Rios

quarta-feira, 20 de maio de 2009

A incrível dificuldade das coisas simples

É impressionante como todo mundo fracassa em fazer coisas teoricamente simples. Simples até demais. Tão simples que parecem ainda mais difíceis quando não conseguimos. Eu, por exemplo, nunca consegui cortar minhas unhas. E acho que nunca conseguirei.

Mesmo que eu desenvolva meu cérebro cada vez mais, nunca poderei cortar dignamente minhas unhas. No máximo, produzirei cortes de quinta categoria com inúmeras irregularidades. Pensando nisso - e depois de muito esforço -, cheguei à seguinte conclusão sobre a felicidade: "Feliz é aquele que tem sempre alguém para cortar suas unhas!"

E para passar a roupa, fazer comida, lavar os pratos, limpar as sujeiras do cachorro...

Alexandre Rios.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Ninguém Sabe o Duro que Dei



Wilson Simonal.
Thales Azevedo.

Anticristo

Terror bíblico de Lars Von Trier recebe gargalhadas, aplausos e vaias em Cannes

Diretor de filmes tão densos quanto polêmicos - "Dançando no Escuro", "Dogville" -, o dinamarquês Lars Von Trier conseguiu mais uma vez acender a fogueira da polêmica em Cannes.

Seu novo filme, o terror "Anticristo", recebeu risos e até gargalhadas durante a sessão de imprensa. Ao final, a plateia se dividiu entre vaias e aplausos - a maioria vaiava.

"Anticristo" é o tipo de filme que os críticos vão amar odiar, e outros vão amar sem entender muito por quê. Será avaliado como péssimo por uns e uma obra-prima por outros. Ao final da sessão, quase nenhum jornalista aceitava dar entrevista para os canais de TV e internet que cobrem o festival, porque ninguém conseguia formar uma opinião.

Von Trier realizou o filme após uma grave depressão que viveu há cerca de dois anos, e que o fez interromper a escritura do roteiro. No material de divulgação, ele afirma que boa parte das imagens de "Anticristo" veio dos seus sonhos, que a trama tem apenas o mínimo necessário para mostrar essas imagens, que não pede desculpas pelo filme, e que o considera o mais importante de sua carreira.

O máximo que se pode dizer sem estragar a surpresa: devastados com a perda do filho, um casal (Willem Defoe e Charlotte Gainsbourg) se refugia em uma casa isolada no meio de uma floresta. Ela sofre e chora muito com a perda, ele cuida dela como se fosse um terapeuta. Von Trier reveste todo o seu filme de tons bíblicos, como se Adão e Eva voltassem a uma espécie de inferno final, ou inferno original - a floresta, não por acaso, se chama Éden. Desde o início, o conceito do sexo é ligado ao da morte, em algumas imagens poderosas e outras apenas chocantes.

O filme vai dividir opiniões, mas uma coisa é certa: o prólogo em preto-e-branco, que conta em poucos planos a história trágica do casal, tem as mais belas imagens já feitas por Von Trier, ao som de uma sinfonia de Handel. A parte da floresta, dividida em capítulos, não chega a ser assustadora, mas contém cenas de impacto envolvendo violência com genitália, muito sangue e um desespero crescente dos personagens.

Nem Von Trier deve entender os sonhos que teve - e o cinema não precisa mesmo passar pela compreensão. Mas "Anticristo" ainda vai render muito debate nos próximos meses. O filme já tem estreia garantida no Brasil, pela distribuidora Califórnia, mas a data ainda não foi definida.

Irritado, Von Trier não comenta cenas de "Anticristo" e diz que é "o melhor diretor do mundo"

A polêmica em torno do terror "Anticristo", exibido para a imprensa na noite de domingo (18), continuou hoje na entrevista coletiva sobre o filme, que disputa a Palma de Ouro no 62º Festival de Cannes. Logo na primeira pergunta, um jornalista britânico clamou, irritado: "Acho que o senhor nos deve no mínimo uma explicação sobre esse filme. E por favor, não me venha com uma resposta lacônica".Visivelmente nervoso com o ataque, já com as mãos tremendo, Von Trier respondeu, em voz baixa e hesitante: "Não tenho que pedir desculpas por meus filmes. Não devo uma explicação. Neste filme, e nesta entrevista coletiva, vocês são meus convidados, e não o contrário".

Como previu o jornalista britânico, Von Trier foi lacônico e não quis comentar as cenas chocantes do filme ou determinadas escolhas feitas nas cenas mais violentas, que envolvem mutilação de genitália. E, mais uma vez, fez seu marketing pessoal sem modéstia. "Só posso dizer que nunca tenho escolha ao criar um filme. É a mão de Deus. Este filme foi um sonho transcrito para o cinema. E eu sou o melhor diretor do mundo".

O diretor de "Dogville" só se mostrou disposto a falar sobre o cineasta russo Andrei Tarkovski (1932-86), a quem dedica o filme. "Tarkovski sim é um verdadeiro deus. Sua relação com o mundo era profundamente religiosa. Eu também me sinto assim". E também destilou ironia ao comentar sua relação com os espectadores e jornalistas. "Não acredito no esforço de conquistar público para meus filmes. E não me incomodo com os ataques de vocês. Sempre fui atacado pela imprensa, e gosto disso".

O ator Willem Defoe, que interpreta o marido terapeuta do filme, que controla a mulher e mais tarde é subjugado por ela, comentou que Von Trier quase não conversa com os atores e não permite nenhum tipo de preparação ou ensaio antes das cenas. "O resultado é que, depois de alguns dias, você fica muito mais flexível e aberto aos impulsos e instintos".

A inglesa Charlotte Gainsbourg, filha de Jane Birkin e Serge Gainsbourg, que interpreta a mulher do filme, protagonista das piores cenas de violência, seguiu Von Trier e também falou pouco. "O mais difícil não foram as cenas de sexo ou nudez, mas aquelas que envolviam muita emoção e sofrimento. Foi uma experiência agradável, mas de uma maneira estranha".

Thiago Stivaletti
Colaboração para o UOL, de Cannes

Alexandre Rios.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Obama, Bush, tortura, "change"

A tortura da CIA e a pergunta de Cheney

O prisioneiro é amarrado a uma prancha, com os olhos tapados e um pano enfiado na boca. Os interrogadores despejam água em seu rosto, sufocando-o. Essa foi uma das técnicas de interrogatório empregadas por agentes da CIA contra os terroristas da Al-Qaeda - a técnica do afogamento. Barack Obama chamou-a de tortura. Nós, os defensores da prática, impenitentes, preferimos chamá-la burocraticamente de "técnica incrementada de interrogatório".

Quem está certo? Barack Obama está certo: é tortura. Uma tortura mansa, dócil, amena, tanto que alguns jornalistas se submeteram espontaneamente a ela. E se um jornalista encara o sofrimento, é sinal de que qualquer um pode encará-lo. Mesmo assim, é tortura. E tortura é sempre imoral. Mas a pergunta repetida insistentemente por Dick Cheney, depois que Barack Obama decidiu divulgar o relatório sobre os episódios de tortura praticados pela CIA, tem de ser respondida: é mais imoral torturar um terrorista ou permitir um atentado? Porque esse é o melhor argumento usado por Dick Cheney. Ele garante que a técnica do afogamento salvou vidas, impedindo uma nova série de atentados nos Estados Unidos, nos mesmos moldes dos ataques de 11 de setembro de 2001. Ele garante também que a prova desse fato está contida nos documentos da CIA que Barack Obama, até agora, preferiu omitir, mantendo o sigilo.

O que se sabe com certeza é que Khalid Shaikh Mohammed, acusado de ser o organizador dos atentados de 11 de setembro, foi capturado nos primeiros meses de 2003, numa cidade paquistanesa. Interrogado sobre os planos da Al-Qaeda para novos atentados terroristas nos Estados Unidos, ele se limitou a dizer: "Esperem para ver". Em vez de esperar para ver, a CIA torturou-o com a técnica do afogamento. Sim: 183 vezes. Sim: deu resultado. Depois de alguns dias, Khalid Shaikh Mohammed dedurou um terrorista conhecido como Hambali, cuja captura permitiu o desmonte de uma célula composta por 17 membros da Jemmah Islamiyah, que tinha planos para realizar uma "Segunda Onda" de atentados contra os Estados Unidos, na Costa Oeste. Quantas vidas foram salvas com isso? É o que os documentos da CIA podem ajudar a esclarecer.

Os interrogadores da CIA foram comparados aos torturadores de Pol Pot. Do mesmo modo que a guerra no Iraque foi comparada às Cruzadas, Gaza foi comparada ao gueto de Varsóvia e a crise financeira do ano passado foi comparada à de 1929. Nós estamos numa era de embustes históricos, usados para camuflar a propaganda eleitoreira. É perturbador admitir que a tortura, aplicada de maneira limitada - contra Khalid Shaikh Mohammed e outros dois terroristas -, num período igualmente limitado - nos meses posteriores aos atentados de 11 de setembro de 2001 -, possa ter contribuído para salvar centenas de pessoas. Mas os fatos perturbadores precisam ser questionados sem medo, mesmo que a resposta contrarie tudo aquilo em que sempre acreditamos. O erro é "esperar para ver". Ninguém deve esperar para ver.

(Diogo Mainardi)

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Obama anuncia reabertura de tribunais militares da era Bush

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou nesta sexta-feira que vai reabrir os tribunais militares para suspeitos de atos terroristas que se encontram detidos na prisão da base naval americana de Guantánamo, em Cuba.

[...] Durante a campanha presidencial, Obama chegou a chamar os tribunais de ''um enorme fracasso''.

Ao anunciar a decisão, o presidente dos Estados Unidos afirmou que a decisão se deu por esta ser ''a melhor maneira de proteger o nosso país e garantir nossos valores mais profundos''.

O restabelecimento dos tribunais militares despertou críticas de pessoas ligadas à ala esquerda do Partido Democrata e ativistas de direitos civis. Foi o segundo revés sofrido por eles durante esta semana.

Na quarta-feira, Obama também voltou atrás em sua decisão de divulgar fotos de métodos de interrogatório considerados extremos e praticados por forças americanas contra supostos terroristas. [...]

(BBC Brasil)

Thales Azevedo.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

David Bowie - Life On Mars?



Deus existe.
Thales Azevedo.

Um, dois, três

Eu estou me lixando para você, leitor

Se eu digo isso o jornal me despede; se um comerciante tem essa atitude, ele vai à falência; se um pai de santo, ministro, rabino ou sacerdote repete o mote, ele faz suas orações sozinho e não salva ninguém; se um professor adota esse credo, ele não merece dar cursos; do mesmo modo que um médico, um juiz, um policial, um engenheiro e um advogado deixariam morrer os doentes, perderiam o senso de justiça, do limite e da eficiência. Seria o fim deste nosso mundo chamado de moderno, e olha que eu estou apenas mencionando as profissões mais estabelecidas.

Quando um membro do Parlamento, um servidor público importantíssimo e privilegiado porque representa uma massa de desejos e esperanças de uma região do país diz que está “se lixando para a opinião pública”, como fez o deputado federal Sérgio Moraes, do PTB do Rio Grande do Sul, ele não fala apenas uma triste verdade; ele revela a nossa ignorância do que é viver numa sociedade democrática e liberal. [...]

É duro observar uma súcia majoritariamente incompetente (com alguns criminosos em seu meio) viver como nobres e milionários, tendo, além de tudo, o desplante de declarar que nós, a opinião pública, nada temos com eles.

(Roberto DaMatta, aqui.)

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No vídeo abaixo, Chávez dá sua opinião sobre os ricos: ‘O rico não é humano. É um animal com forma humana’.

Faz lembrar a lição nazi-fascista e imperialista segundo a qual a desumanização do inimigo é o primeiro passo da marginalização de grupos sociais inteiros – no limite, justifica a violência extrema e até o extermínio.



(Marcos Guterman - Estadão, aqui.)

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Parece que a gripe suína chegou ao Brasil pelo aeroporto do Rio. Ficou até lisonjeada com os fiscais da saúde publica que a  esperavam, mas recusou a carona que eles lhe ofereceram e arrastou suas malas até o ponto de taxi. O taxista sabia quem ela era, até usava uma máscara, mas disse que não dava pra ir pelo taxímetro, ele ia ter que cobrar 100 dólares pela viagem. Sem conhecer o país , a gripe suína ingenuamente topou. Depois de rodar não mais que dois quilômetros o veículo foi parado por uma blitz da policia na Linha Vermelha. A gripe suína ficou com medo que a policia a reconhecesse, pois sua fama não era das melhores. Mas os policiais eram estranhos , vestiam uniformes mal ajambrados, e logo a gripe suína percebeu que não eram policiais de verdade que a abordavam. Os bandidos acabaram levando todos os pertences da gripe suína e a deixaram sem nada no meio da pista.  [...]

(Beto Silva - Casseta e Planeta, aqui.)

Thales Azevedo.

domingo, 10 de maio de 2009

O novo Tarantino: "um bando de caras em um filme de missão"


Por Kristin Hohenadel

Tradução: Eloise De Vylder


Paris - "Este não é o filme de 2ª Guerra Mundial do seu pai", disse Quentin Tarantino sorrindo, parado em uma esquina de Paris que foi varrida da sinalização do século 21 para se transformar em set de filmagens de "Inglourious Basterds". O novo filme do diretor é sobre um bando de soldados judeu-americanos em uma vingança de escalpelar contra os nazistas.

Apesar de ser praticamente todo rodado no estúdio Babelsberg em Potsdam, Alemanha, o subtítulo do filme é "Once Upon a Time in Nazi-Occupied France" ("era uma vez na França ocupada pelos nazistas"). Então, durante uma estadia de três dias em Paris em dezembro, Tarantino e sua equipe bicontinental praticamente tomaram um bistrô de 1904 com pintura descascada, vitrais art déco e uma parede de janelas com vista para o cruzamento facilmente reconhecido das ruas parisienses no "18º arrondissement".

"Tínhamos que fazer uma cena para dizer ao público que estamos na França", disse Tarantino. "É essa."

"Inglourious Basterds", que deve estrear no Festival de Cinema de Cannes em 20 de maio, é o primeiro filme de Tarantino desde "À Prova de Morte", metade de "Grindhouse", filme duplo e fracasso de bilheteria que ele dirigiu com Robert Rodriguez e que foi seu primeiro filme solo desde "Kill Bill Vol. 2" em 2004. Tarantino chama "Inglourious Basterds" de "um bando de caras em um filme de missão". A julgar pelo roteiro, ele deve ter os diálogos rápidos, humor irreverente e violência estilizada típicos do trabalho do diretor.

"Você tem que fazer um filme sobre alguma coisa, e eu sou um cara de cinema, então penso em termos de gêneros cinematográficos", disse. "Então você tem uma boa idéia, e a leva adiante, e normalmente no momento em que você termina, ela pode não se parecer em nada com a sua primeira inspiração. É simplesmente a faísca que começa o fogo."

A faísca que levou a "Inglourious Basterds", com Brad Pitt, Diane Kruger, Mike Myers, Eli Roth e um grande elenco internacional, surgiu na época em que Tarantino trabalhava como funcionário de uma locadora em Manhattan Beach, Califórnia. (A inspiração para "Cães de Aluguel", "Jackie Brown" e outros filmes de Tarantino também vem da mesma época.)

"Os caras da Video Archives diziam assim, 'Quentin, talvez um dia você faça o seu 'Inglourious Bastards'", disse Tarantino, referindo-se ao filme de Enzo G. Castellari ("Assalto ao Trem Blindado", em português), de 1978 (com a grafia convencional da palavra "bastards")."Mas eles não tinham nem mesmo visto o filme. Tudo bem, era simplesmente um bom título. Eu amo o filme, não me entenda mal, mas não se trata de uma refilmagem", disse o diretor sobre sua versão.

"Ele estará na categoria original do Oscar", acrescentou com otimismo.

Lawrence Bender, que produziu todos exceto um filme de Tarantino, disse que ficou surpreso quando o diretor ligou para ele no verão passado para avisar que havia terminado a longa gestação do roteiro de "Basterds", e que queria rodar o filme a tempo para Cannes. Tarantino ganhou o principal prêmio do festival, a Palma de Ouro, em 1994 por "Pulp Fiction".

"Ele leu todo o tipo de coisa para mim ao longo dos anos", disse Bender, "mas sempre achei que era algo que ele ia escrever e nunca filmar". (Tarantino é conhecido por dar muitas voltas entre um filme e outro. Ele já dirigiu episódios de séries de televisão, incluindo "CSI", atuou e produziu filmes de outras pessoas, e já foi jurado convidado e "mentor" de "American Idol".)

Um período de seis meses de pesquisa para "Basterds", há sete anos, "paralisou minha escrita por algum tempo", disse Tarantino. Ele pensou em fazer um documentário sobre a 2ª Guerra ou dar aulas em uma faculdade, e até roteirizou uma minissérie de 12 horas. Então, em janeiro de 2008, ele decidiu "tentar mais uma vez para ver se conseguia transformar isso em filme", disse. "Eu não estava lá para ensinar história. Você pode ligar o History Channel - que bem poderia ser chamado de Hitler Channel. Eu só queria contar minha história e ter a mesma liberdade que teria ao contar qualquer história. Quero que o processo de escrever seja tão envolvente que eu precise me perguntar se preciso mesmo fazer o filme".

O roteiro não editado de Tarantino circulou pela internet poucos dias depois de ele ter terminado. "Aquilo foi muito pessoal, com erros de digitação e tudo mais", disse ele, mencionando que o datilografou com apenas um dedo na mesma máquina de escrever Smith Corona de 1987 que usou para fazer "Cães de Aluguel" e "Pulp Fiction". "Eu tinha a intenção de revisar quando o publicássemos."

Não que ele vá mudar o título. "'Basterds' deve ser escrito com 'e' mesmo", diz ele. "A palavra soa como se tivesse um 'e'". E gritou: "Basterds! Basterds!" com algo que parecia um sotaque de Boston: muito mais "BAS-tids" do que "BAS-terds". (Quanto à grafia de "Inglourious", Tarantino disse: "Não dá para explicar essas coisas. É um lance de cinema".)

Um homem com um rádio amador cutucou o braço de Tarantino. "Desculpe, tenho que gravar a prostituta do vaudeville", disse ele, e foi para dentro do bistrô para rodar uma cena em que Shosanna (a atriz francesa Melanie Laurent), uma jovem judia escondida que administra um cinema em Paris, senta-se à mesa de um astro de matinês e soldado nazista disfarçado (o ator alemão Daniel Bruehl) que tenta conquistá-la.

Tarantino observava os atores como se fosse o dono do estabelecimento espionando o casal no salão, mal olhando para o monitor ao seu lado. "Eu olho pela câmera para estabelecer a cena", disse ele entre as tomadas, "mas depois prefiro assistir à encenação e ouvi-la. Do contrário, é o monitor que dirige o filme".

Assim como outros 70% de "Inglourious Basterds", esta cena foi feita em francês e alemão, que é apenas mais uma das razões pelas quais não se trata daquele filme de 2ª Guerra do seu pai. "Quando você vê alemães falando inglês com sotaque alemão ou parecendo atores britânicos, parece muito estranho e antigo", disse Tarantino.

"Essa é uma coisa que não quero que aconteça nesse filme. Se Spielberg ainda não tivesse feito 'A Lista de Schindler', costumo brincar que, depois do nosso filme, ele ficaria constrangido se não fizesse o dele em alemão."

(Executivos da Weinstein Co. disseram que a grande utilização de legendas não lhes deu folga. "Tarantino é uma linguagem universal", disse Tom Ortenberg, presidente para obras cinematográficas.)

Bruehl disse que foi a abordagem dessacralizada do diretor em relação à dolorosa história alemã que o atraiu para o papel. "Estou curioso para ver como o filme será recebido na Alemanha", disse Bruehl, 30, que coloca o filme na mesma tradição de "To Be or Not to Be" (1942), de Ernst Lubitsch, e de "O Grande Ditador" (1940), de Charlie Chaplin. "Se uma comédia é inteligente e tem profundidade, é uma forma bastante legítima de falar sobre o fascismo na Alemanha nazista, que também foi um grande espetáculo - e bem ridículo, pensando bem."

O roteiro está repleto de referências e piadas sobre cinema, e intrigas que envolvem atores e estreias de filmes. O ministro de propaganda de Hitler, Joseph Goebbles, é retratado como um típico diretor de estúdio. ("As pessoas escrevem sobre o horror dos filmes antissemitas", diz Tarantino, "mas a maioria dos 800 filmes que ele fez foi de comédias e musicais".) E pode-se dizer, sem querer estragar a penúltima cena que dá uma reviravolta na história, que o cinema salva o mundo.

O designer de produção David Wasco, que participou de todos menos um filme de Tarantino, disse que apesar de eles terem trabalhado para reproduzir o período usando fotos e documentos originais, "praticamente 90% é baseado em referências cinematográficas". "É um mundo de época de Tarantino", acrescentou. "Foi isso que o ajudamos a fazer aqui."

Tarantino disse: "Toda essa coisa do cinema acontece mais ou menos naturalmente. Basicamente é nisso que eu me interesso."

Mais tarde naquele dia, garrafas de champanhe apareceram na calçada, e Tarantino pediu um brinde em homenagem ao 800º rolo de filme. Ele circulou, brindando com copos de plástico enquanto anoitecia na cidade, com uma palavra e um sorriso para cada um.

Os Basterds [os bastardos] - soldados judeus do filme, apelidados assim pelos nazistas - não foram à gravação em Paris, mas sua presença podia ser sentida no corte de cabelo "à la basterd", já crescido, que Tarantino exibia. "Os Basterds não podem se dar ao luxo de ser apenas soldados", diz. "Eles têm o dever de ser guerreiros, porque estão lutando contra um inimigo que tenta varrê-los da face da terra."

Tarantino, que nasceu no Tennessee, disse que suas fantasias de vingança estão mais ligadas à Ku Klux Klan. "Mas é tudo a mesma coisa", disse. "Uma vez que os Basterds passarem pela a Europa, eles poderão ir para ao sul dos EUA e fazer o mesmo com os Kluxers nos anos 50. Essa é outra história a ser contada."

Para não falar de um subroteiro engavetado sobre soldados afro-americanos presos atrás das linhas de frente inimigas. "Tenho um roteiro já pela metade sobre a história anterior a essa, pronto para ser filmado, se esse filme for um sucesso", disse Tarantino.


Alexandre Rios.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Breakfast at Tiffany's


Bonequinha de Luxo, de Blake Edwards, 1961. Audrey Hepburn. Moon River.

Thales Azevedo.

Diogo Costa e Legalização das Drogas



Thales Azevedo.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Che - A primeira parte

Quando Ernesto Guevara, brilhantemente interpretado por Benicio del Toro, procura desesperadamente um pouco de ar para respirar em meio da chuva típica de regiões tropicais, longe de qualquer tipo de atendimento médico – aliás, sendo ele o médico, o único dos guerrilheiros – percebemos, logo no início do filme, que del Toro estava nos presenteando com uma das melhores atuações da sua carreira. Quem tem asma ou já sofreu com problema parecido sabe a aflição de não conseguir respirar mesmo estando cercado por oxigênio aos montes. Mas Che não se resume à atuação de Benicio del Toro e nem, como dizem muitos por aí, a “comunismo de boutique”. É um filme, no mínimo, interessante.

Antes de qualquer coisa, o filme não é panfletário. Até porque Che Guevara é friamente levado às telas por
Soderbergh. É quase documental, tornando tudo mais atraente e dando credibilidade a um filme que poderia ser descartável se adotasse uma visão extremamente ideológica dos fatos. Há, sim, uma tendência à esquerda. Mas, no final das contas, o resultado é satisfatório. Somos eficientemente inseridos ao processo da guerrilha iniciado nas montanhas cubanas rumo à capital. Não há um bombardeio de informações externas, de opiniões e visões dos fatos, apenas um processo - com toda a lentidão que isso pode representar, claramente sentido por alguns espectadores que pretendiam ver algum filme com mais ação e menos diálogos. Boa parte dos diálogos, aliás, externada nos discursos de Che Guevara na ONU e em entrevistas com a jornalista americana Lisa Howard na sua viagem a Nova York em 1964.

Calma, amigos leitores. O filme não é uma obra-prima. Até porque essa é apenas a primeira parte do longa – e pelo o que eu tenho lido por aí, a segunda é um desastre. Para aqueles que não concordam com as idéias de Che – e neste aspecto eu ainda tenho uma opinião, digamos, em formação – há aspectos de valor considerável no filme. Soderbergh fez um bom trabalho. A fotografia é bela e a trilha sonora eficiente. Além da atuação magistral de Benico del Toro – a cópia fiel de Guevara -, vemos os destacados
Demián Bichir interpretando Fidel Castro, o principal organizador da Revolução Cubana, e Santiago Cabrera na pele de Camillo Cienfuegos, outro guerrilheiro importante.

Resumindo, a primeira parte desse projeto ambicioso é muito melhor do que a maioria dos filmes que chegam aos cinemas no momento atual. Uma primeira parte de um filme que deve ser, no final das contas, irregular – mais ou menos como a carreira de Steven Soderbergh, diretor que já foi indicado a dois Oscar em uma só edição, quando venceu por Traffic em 2001, mas que não tem realizado produções marcantes. Nesse sentido ele deve muito a Benicio del Toro, vencedor do último
Festival de Cannes não por acaso e, muito menos, graças a votos de "malditos comunistas". Isso, amigos, é talento e independe, dentre outros fatores, de posição ideológica.

Alexandre Rios.