sexta-feira, 1 de maio de 2009

Che - A primeira parte

Quando Ernesto Guevara, brilhantemente interpretado por Benicio del Toro, procura desesperadamente um pouco de ar para respirar em meio da chuva típica de regiões tropicais, longe de qualquer tipo de atendimento médico – aliás, sendo ele o médico, o único dos guerrilheiros – percebemos, logo no início do filme, que del Toro estava nos presenteando com uma das melhores atuações da sua carreira. Quem tem asma ou já sofreu com problema parecido sabe a aflição de não conseguir respirar mesmo estando cercado por oxigênio aos montes. Mas Che não se resume à atuação de Benicio del Toro e nem, como dizem muitos por aí, a “comunismo de boutique”. É um filme, no mínimo, interessante.

Antes de qualquer coisa, o filme não é panfletário. Até porque Che Guevara é friamente levado às telas por
Soderbergh. É quase documental, tornando tudo mais atraente e dando credibilidade a um filme que poderia ser descartável se adotasse uma visão extremamente ideológica dos fatos. Há, sim, uma tendência à esquerda. Mas, no final das contas, o resultado é satisfatório. Somos eficientemente inseridos ao processo da guerrilha iniciado nas montanhas cubanas rumo à capital. Não há um bombardeio de informações externas, de opiniões e visões dos fatos, apenas um processo - com toda a lentidão que isso pode representar, claramente sentido por alguns espectadores que pretendiam ver algum filme com mais ação e menos diálogos. Boa parte dos diálogos, aliás, externada nos discursos de Che Guevara na ONU e em entrevistas com a jornalista americana Lisa Howard na sua viagem a Nova York em 1964.

Calma, amigos leitores. O filme não é uma obra-prima. Até porque essa é apenas a primeira parte do longa – e pelo o que eu tenho lido por aí, a segunda é um desastre. Para aqueles que não concordam com as idéias de Che – e neste aspecto eu ainda tenho uma opinião, digamos, em formação – há aspectos de valor considerável no filme. Soderbergh fez um bom trabalho. A fotografia é bela e a trilha sonora eficiente. Além da atuação magistral de Benico del Toro – a cópia fiel de Guevara -, vemos os destacados
Demián Bichir interpretando Fidel Castro, o principal organizador da Revolução Cubana, e Santiago Cabrera na pele de Camillo Cienfuegos, outro guerrilheiro importante.

Resumindo, a primeira parte desse projeto ambicioso é muito melhor do que a maioria dos filmes que chegam aos cinemas no momento atual. Uma primeira parte de um filme que deve ser, no final das contas, irregular – mais ou menos como a carreira de Steven Soderbergh, diretor que já foi indicado a dois Oscar em uma só edição, quando venceu por Traffic em 2001, mas que não tem realizado produções marcantes. Nesse sentido ele deve muito a Benicio del Toro, vencedor do último
Festival de Cannes não por acaso e, muito menos, graças a votos de "malditos comunistas". Isso, amigos, é talento e independe, dentre outros fatores, de posição ideológica.

Alexandre Rios.

2 comentários:

luiz fernando disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
luiz fernando disse...

Gostei do teu blog também. Bacana isso de abordar diversos temas. E quanto à isso de prodigio, é nada, hehe.