segunda-feira, 25 de maio de 2009

Brandamente Brasil

Os brasileiros somos mestres em dar nomes escalafobéticos aos filhos. Eu conheci dois Escalafobéticos.

Escalafobético Bezerra e Escalafobético da Silva. Nunca pensaram em mudar o nome. Iam vivendo como Deus é servido. Aliás outro nome exótico: Servo Fiel de Deus.

Está tudo na net. Dei umas braçadas, achei um blogue jeitoso enfileirando 250 nome escalafobéticos.

Lá estão Abrilina Décima Nona Caçapava, Agrícola Beterraba Areia Leão, Amado Amoroso, Antônio Americano do Brasil Mineiro, Arnaldo Queijo, Bananéia Oliveira de Deus, Bucetildes (chamada pelos familiares de Dona Tide, conforme o site me elucida, embora sem dar o sobrenome, no qual nem quero pensar), Céu Azul do Sol Poente, Colapso Cardíaco da Silva, Disney Chaplin Milhomem de Souza, Faraó do Egito Souza, Farmácio Lopes, Pelumendia Loureiro, Gravitolina Pereira, Adoração Arabites, Dozolina Piroca Tazinasso, Légua e Meia, Sansão Vagina, Oceano Atlântico Linhares e o famoso, para conhecedores do gênero, Um Dois Três de Oliveira Quatro.

Eu poderia continuar. E continuar. Paro por aqui.

Nem vou falar daquela nordestina maneira de juntar as primeiras sílabas dos nomes do pai e da mãe. Todos aqueles Carmares (de Carlos e Maria), Djavans (de Djanira e Ivan) e assim por diante.

Assim Por Diante das Cruzes. Um bom nome.

Reforma ortográfica entra, reforma ortográfica sai e, até agora, ninguém baixou Ato Institucional ou Medida Provisória que impeça pai e mãe de marcarem o nome dos filhos para toda a vida com letras em brasa. A bem da verdade, nem sei se eles, os filhos assim designados (Assim Designado das Dores; ih, cuidado que esse negócio pega!), se incomodam. Já há tantos problemas no país que não há de ser uma Terebentina Terepenis ou Vaginildo de Oliveira (ambos existem e, até onde se sabe, vivem vidas normais e produtivas) que irá jogar areia na máquina que, finalmente, partiu para o progresso e as grandes conquistas sociais.

Na França, consta que qualquer coisa que varie um tico de Jean-Claude ou Marie-France e o escrivão é obrigado por lei a não registrar.

No Reino Unido, o direito de mudar de nome é uma das pequenas porém sagradas liberdades da terra. Qualquer dos equivalentes aos nomes estrambóticos brasileiros por mim citados pode chegar no cartório e mudar o nome para Kevin, Elizabeth ou Keith. Ou o que lhes der na telha. A mudança de nome legal aqui é chamada de deed poll, no que fazem muito bem.

Tem mais. Mulher casada, se quiser, pode manter o nome de solteira. Uma criança não é obrigada a carregar nas costas pelo resto da vida o nome do pai. Os escalafobéticos locais escalafobéticos continuam e vão muito bem, sim, senhor e yes, sir. Perri 6 é o nome - legal, oficial - de um professor na universidade Trent Nottingham. Happy Adjustabale Spanners foi como, por deed poll, Daniel Westfallen preferiu ser oficial e legalmente conhecido no ano passado.

Nesse mesmo 2008, 46 mil pessoas foram de deed poll. Às vezes, não estivéssemos na Grã-Bretanha, as coisas se complicam. Eileen de Bont, da região norte do País de Gales voluntariou-se, em singela homenagem a uma caridade, para mudar seu nome para Pudsey Bear, que é o nome (sim, meio escalafobético) do ursinho marca registrada e mascote da popular beneficência Children in Need.

Eileen foi e mudou. Tudo bem. Só deu bolo com as autoridades encarregadas de passaportes, que alegaram que, embora legal, a mudança de nome era frívola. A carteira de motorista, os cartões de crédito e seu registro no imposto de renda botaram lá direitinho: Pudsey Bear. Sem problemas. Quem que esse pessoal dos passaportes pensa que é para chamar alguém de frívola?

O caso virou caso e está correndo.

Ah, sim. Brandamente Brasil. Está na lista do blogue em que mergulhei. Sabe que eu achei bonito? Um dia desses eu empombo e mudo meu nome legalmente, ou por deed poll, para Brandamente Brasil.

(Ivan Lessa)

Thales Azevedo.

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