segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O Pink e o Cérebro




Navegando pela internet, mais particularmente no site de Luiz Azenha, vi alguns comentários sobre essa eleição da cidade de São Paulo. Vamos lá.


Stella (27/10/2008 - 10:33) Permita-me discordar Azenha, mas a grande me(r)dia, o poder econômico e o neo-coronelismo paulistano elegeram um poste. Agora temos o Pink e o Cérebro governando a capital e o estado, mas para sorte do Brasil, parou aí. Graças a Deus, São Paulo definitivamente não é o Brasil.

Messias Franca de Macedo (27/10/2008 - 11:00) O [verdadeiro] José Serra Elétrica [José Serquécia] que deve ser apresentado ao Brasil. Um político obcecado pelo poder, rancoroso, que faz política não visando o bem comum, e sim objetivando seus espúrios e inconfessáveis interesses sórdidos."...

Eu acho que ele [Kassab] foi uma pessoa fabricada. Ele é uma espécie de Pitta que deu certo. O Pitta foi fabricado pelo Maluf igualzinho o Kassab foi fabricado pelo Serra. Quem era Kassab antes do Serra? Eu mesma nunca tinha ouvido falar dele, assim como ninguém tinha ouvido falar do Pitta. É o Pitta que deu certo. E deu certo porque o PSDB, embora rachado e enfraquecido por divisões internas, se deu conta de que ele era a maneira que tinha de ganhar a batalha contra o PT, que é seu grande adversário..."

[Maria Victoria Benevides CIENTISTA POLÍTICA, 66, Professora titular da Faculdade de Educação da USP e autora de "O Governo Kubitschek" (1976), "A UDN e o Udenismo" (1980), "O Governo Jânio Quadros" (1981) e "O PTB e o Trabalhismo" (1989), entre outros livros - em entrevista a "Folha de São Paulo (27/10/08).]

E sobre a comemoração da vitória:

... Lojas fechadas, noite de domingo, a praça Ramos de Azevedo, no centro, é tradicional refúgio de moradores de rua, cheiradores de cola e usuários de crack. Foi lá que, ontem, aconteceu a festa da vitória de Gilberto Kassab. Dos 3,8 milhões de votantes que escolheram o democrata, menos de mil (segundo a Polícia Militar) compareceram à festa. Sem prática em "festas da vitória", o DEM paulistano usou uma trilha sonora eclética para animar os fiscais de urna e cabos eleitorais que reuniu na praça: tinha "Festa no Apê", de Latino (em ritmo de bate-estacas), "Me Leva" (na voz de Calcinha Preta), "Louvação ao Senhor Jesus" e, é claro, o hino de campanha. "Nesse a gente confia."(...) Às 21h, vereadores da aliança e subprefeitos subiram as escadarias do Teatro Municipal. Ao lado de Wadih Mutran, do partido de Maluf (PP), o tucano Ricardo Montoro era o mais eufórico. Acenava todo o tempo para cabos eleitorais e habitués da praça, como se ele próprio fosse o vencedor nas urnas. "Ué, é ele que é o Kassab?", perguntou uma dama toda de vermelho, que parecia ter entrado na festa errada. Logo depois, estava fumando crack com meninos de rua. O lugar é mesmo barra pesada de noite e muitos já tinham desistido de esperar. Mas às 21h30, Kassab chegou. Falou "muito obrigado" e mais alguma coisa que não se sabe porque o microfone falhou. Dez minutos depois, foi embora. Fim de festa.

Fonte: Laura Capriglione, da reportagem local da Folha


Próximo passo do Pink e Cérebro: Dominar o mundo!


Alexandre Rios.

domingo, 26 de outubro de 2008

Eleições 2008 - Sorria, meu bem





Com mais de 20 pontos de vantagem, Gilberto Kassab vence a disputa pela prefeitura de São Paulo. Acima, dois vídeos bacanas da campanha, que resistiu a agressões e baixarias incontáveis, sempre com alto nível. O PT não imaginava tamanho desastre e é possível que Marta Suplicy nunca mais ganhe uma eleição. Os paulistanos deram o seu recado. Fernando Gabeira perde no Rio de Janeiro por diferença mínima, apesar de ser a cara da cidade. Mas ganha pelo exemplo de hombridade que deu - "você está disposto a pagar qualquer preço para vencer, eu não", como disse a seu adversário em um dos debates. Prometeu não atacar, não sujar as ruas, não gastar demais. Cumpriu rigorosamente. João Henrique leva em Salvador e aplica uma derrota no governador Jaques Wagner. Quem esperava um avalanche petista nesse ano, definitivamente, não deve estar em bons momentos.

Thales Azevedo.

Até quando?










Lucas Caires

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Ô, coisinha tão bonitinha do pai...

Com a divulgação da foto (de Masao Goto Filho), suponho, Mino quer mostrar quão influente e poderoso ele é. E como é independente a revista que ele faz — aquela que dá desconto em assinatura para filiados ao PT e que jamais deixa de ser atendida com a publicidade da secretaria de Franklin Martins.

(Reinaldo Azevedo)

Thales Azevedo.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O AC/DC está de volta!

Depois de oito anos de espera, enfim, o AC/DC leva às lojas seu novo cd, Black Ice. Ouvi rapidamente (baixei na internet, admito!) e posso afirmar que o álbum é muito bom, rock and roll ao estilo AC/DC. Aliás, quatro faixas têm "rock´n´roll" no nome, inclusive o primeiro single "Rock´n´roll train", que já pode ser visto no youtube. A lista de músicas do álbum é a seguinte:

"Rock 'n' roll train"
"Skies on fire"
"Big Jack"
"Anything goes"
"War machine"
"Smash ‘n’ grab"
"Spoilin' for a fight"
"Wheels"
"Decibel"
"Stormy may day"
"She likes rock 'n' roll"
"Money made"
"Rock ‘n’ roll dream"
"Rocking all the way"
"Black ice"


Em tempos de decadência musical bandas como o AC/DC fazem falta. Muita falta.


Alexandre Rios.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Bush: Missão Cumprida

Entre a eleição americana em 4 de novembro e a posse do novo presidente, o mundo ainda terá 77 dias de George W. Bush.

Felizmente, Bush não vai escapar tão fácil da História: no mundo das imagens, ou da "indústria cultural", como inventaram Horkheimer e Adorno, Bush acaba de ser escancarado para o grande público no ótimo "W.", novo filme do diretor Oliver Stone ("JFK", "Doors", entre outros). Com uma espetacular e comovente atuação de Josh Brolin no papel do presidente

Mesmo sem ser antipático a Bush (ao contrário), o filme acaba funcionando como mais um prego no caixão do presidente e de sua família, há 200 anos ciscando ao redor do poder nos EUA.

É também um tapa na cara dos americanos que o elegeram duas vezes. Na segunda, por sinal, Bush e os republicanos tiveram uma vitória completa em 2004: no voto popular, no Colégio Eleitoral, na Câmara e no Senado e na maioria dos Estados.

Entre a reeleição de Bush e o final de seu segundo termo agora, os EUA passaram do auge do unilateralismo, da arrogância e do uso da força para um apelo para a cooperação internacional sem precedentes. Se países falissem, a América de Bush seria o mais espetacular caso de quebra da história contemporânea.

Em quatro anos, a sorte dos EUA e de Bush mudaram da água para o vinho, com forte impulso negativo dado pelo comando presidencial e seu pequeno e obtuso núcleo de poder.

Em 2003 e 2004, tive o privilégio de acompanhar em Washington tanto os fatos que precederam a Guerra do Iraque quanto, mais à frente, a reeleição de Bush.

Os EUA eram outro país. Os grandes jornais acreditavam piamente em quase tudo o que o presidente dizia. As pessoas estocavam água, alimentos e pilhas em suas casas a cada sinal de uma nova catástrofe terrorista. O Patriot Act permitia o monitoramento de milhões de telefonemas entre americanos comuns, e o governo enchia a atmosfera com o mais potente medo que pudesse criar.

Assim Bush se reelegeu, ludibriando os fáceis de ludibriar norte-americanos médios com histórias de terror.

O filme de Stone é apenas um sinal do fim melancólico da era Bush. Os então todo-poderosos assessores do presidente --com poder para gravar, interrogar e prender-- são agora expostos de forma inimaginável há quatro anos. A ponto de o principal jornal gay (e gratuito) de Washington, "Blade", questionar em manchete nesta semana: "Is Condie Gay", em referência à nada menos que a secretária de Estado dos EUA, Condollezza Rice -- solteirona assumida como o nosso prefeito Kassab.

Os anos Bush também deixaram que uma indelével rachadura aparecesse na maior economia do mundo. Descobriu-se que os EUA mal teriam crescido nos últimos cinco anos não fosse a propulsão do consumo. Surpresa: ele era financiado por créditos sem lastro que giravam no vazio. O país está quebrado.

A nação mais rica(?) e militarmente poderosa está de calças curtas ao final do reinado de Bush. Mesmo a solução mais coerente para a atual crise --injetar capitais diretamente nos bancos-- partiu de além-mar, do Reino Unido, e foi replicada nos EUA. É tudo incrível.

Mas, por mais extraordinário que pareça, com sua arrogância e ignorância, Bush talvez tenha prestado um imenso serviço.

Se os EUA crescerem muito próximo de zero nos próximos dois ou três anos, o que é muito possível, o tamanho da economia chinesa terá passado de 1/3 da americana para mais da metade. Outros vários emergentes também ganharão nacos maiores nessa participação global.

Ao menos em termos econômicos, o mundo será outro.

Esse talvez seja o principal legado de Bush.

Fernando Canzian, colunista da Folha.

Alexandre Rios.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

sábado, 18 de outubro de 2008

Desespero e escrúpulos às favas III - Eles estão descontrolados

Na primeira imagem:

A delinqüência eleitoral culminou, na última quinta-feira, com a transformação das ruas próximas ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, em uma praça de guerra. O que parecia ser um confronto entre a Polícia Civil, que está em greve e tentava invadir o palácio, e a Polícia Militar, que defendia o prédio, era, na verdade, uma ação engendrada por sindicalistas irresponsáveis, liderados pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, que preside a Força Sindical apesar de ser acusado de desviar dinheiro do BNDES com a ajuda do dono de um prostíbulo. Paulinho deveria ter um único diálogo com a polícia: a confissão. Deram-lhe a chance de seguir outro caminho. Aliado de Marta, ele insuflou os policiais contra o governador José Serra, para atingir a candidatura de Kassab, apoiado pelo tucano. Paulinho escancarou seu objetivo em um discurso feito a policiais na semana passada: "Estamos chegando às vésperas do segundo turno. O chefe de vocês, que é o José Serra, sabe que tem de ganhar as eleições. E sabe que uma greve da polícia tem repercussão nacional. A proposta que eu quero fazer aos companheiros é que, na semana que vem, na quinta-feira, a gente faça uma passeata saindo do Morumbi, com carro de som, com bandeira, com faixa. E, do Morumbi, vamos para a porta do Palácio dos Bandeirantes". Ofereceu 200 carros de som e apoio da Força Sindical para encorpar a passeata.

Os grevistas compareceram armados – o que configura sedição, e não protesto trabalhista. O saldo foi o único que se podia esperar: os policiais civis entraram em confronto com os militares, que bloquearam o caminho. Houve tiroteio, ataques com armas de bala de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Ao final, 24 pessoas ficaram feridas, incluindo o coronel da PM Danilo Antão Fernandes, baleado com uma pistola de calibre 9 milímetros. Paulinho saiu ileso. O sindicalista mandou os policiais e seus colegas para os escudos da polícia, enquanto estimulava a turba da retaguarda. Juntamente com ele estava o líder do PT na Assembléia Legislativa, Roberto Felício. "Não foi um duelo entre forças policiais, mas um movimento incitado politicamente. Houve participação da CUT, que é ligada ao PT, e da Força Sindical, ligada ao PDT", denunciou o governador José Serra.

Veja aqui.

Na segunda imagem:

Oficiais do Tribunal Regional Eleitoral do Rio apreendem cerca de 3 milhões de panfletos encomendados pelo PT contra o candidato do PV a prefeito, Fernando Gabeira.

Veja aqui.

Na nova pesquisa do Datafolha, Gabeira tem 44 pontos contra 42 de Eduardo Paes. Em São Paulo, 53 para Kassab contra 37 de Marta - os mesmos 37 da pesquisa anterior ao festival de baixarias. Em Salvador, 48 para João Henrique contra 41 de Walter Pinheiro.

Thales Azevedo.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Desespero e escrúpulos às favas II


Eis o comercial da candidata Marta Suplicy, já banido de circulação, que indaga se seu adversário e atual prefeito de São Paulo Gilberto Kassab é casado e tem filhos. Sabe-se que as duas respostas são negativas. A clara intenção é o sórdido questionamento sobre sua sexualidade, que a ninguém interessa, a não ser a ele próprio, e em nada influencia na sua excelente administração da cidade. Na tentativa de reverter a situação de 17 pontos de vantagem para o candidato democrata, apontados pelo Datafolha, parece mesmo valer tudo. A reação dos mais diversos setores do jornalismo - do sério, e de quem quer que faça questão de exigir um mínimo, sim, de escrúpulos nas campanhas foi unânime e imediata. Abaixo, dois comentários de Reinaldo Azevedo.

"A campanha de Marta comete uma dupla canalhice ética.

A primeira, evidentemente, é especular, sem que lhe tenha sido dada licença, sobre a condição sexual de alguém, o que é inaceitável; a segunda é sugerir que, se fosse verdadeira a ilação, seria uma mácula. Não! Kassab, acreditem, não está sendo pessoalmente atingido. Mas todos os gays do país estão. Marta quer lhes cassar a cidadania com uma campanha covarde e homofóbica, que nem mesmo ousa dizer seu nome. Justo ela, que iniciou a sua carreira política fazendo proselitismo entre os homossexuais. Mais uma farsa se revela — ou uma “bravata”, para usar expressão do presidente Lula: os gays serviram para dar visibilidade a Marta Suplicy. Agora, se preciso, ela os manda para a fogueira para conquistar os votos evangélicos. Foram usados e agora são jogados fora. No PT, vale tudo para se eleger. Sempre valeu."

"Caberia ao DEM indagar se, quando Marta namorou aquele argentino pela primeira vez, já havia rompido formalmente o casamento com Eduardo Suplicy? Eu acho que não. Eis aí. Eis o PT que diz combater preconceitos. Eis o PT de Lula, que ele diz ser alvo de discriminação."

Thales Azevedo.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Caetano e Gabeira



Thales Azevedo.

Desespero e escrúpulos às favas

Marta em estado bruto e com a arrogância à flor da pele enfrentou, ontem, um adversário ameno e com cara de bom moço no debate promovido pela Rede Bandeirantes de Televisão.

"Virgem Maria", espantou-se Gilberto Kassab depois de uma intervenção particularmente dura de Marta. "Virgem Maria" - deve ter repetido parte dos assistentes do lado de cá da telinha.

Uma idéia do que viria à noite fora oferecida ao longo do dia na forma de um comercial da campanha de Marta no rádio e na televisão.

O comercial faz insinuações a respeito da vida privada de Kassab (DEM). Uma voz de homem não identificada diz que o eleitor tem o direito de saber se Kassab é casado e se tem filhos. [...]

Sejamos claros: a ultra-liberal sexológa Marta, que não renuncia ao sobrenome do ex-marido, quer sugerir que Kassab é gay. Correligionários no Rio do candidato a prefeito Eduardo Paes (PMDB) se valem do mesmo jogo baixo e sujo contra Fernando Gabeira (PV).

No caso de Gabeira, bocas de aluguel percorrem a zona oeste da cidade e faixas da zona sul disseminando o boato de que ele é gay, viciado em drogas e ateu.

De Lula, em 1989, a turma de Fernando Collor disse que congelaria os depósitos das cadernetas de poupança. Foi Collor que congelou. De Gabeira se diz que reforçará com drogas a merenda escolar.

(Ricardo Noblat)

Thales Azevedo.

sábado, 11 de outubro de 2008

Linha de crédito

Walter Salles Jr. foi entrevistado pelo programa Hardtalk, da BBC News. Ele elogiou Lula sem parar. A última estrela do cinema a manifestar tanto entusiasmo pelo líder de sua pátria deve ter sido Lyubov Orlova, nos tempos de Stalin. Ou Oscarito, nos tempos de Getúlio Vargas.

A BBC News informa que, em Hardtalk, o entrevistado é confrontado com "perguntas duras". A pergunta mais dura que o apresentador de Hardtalk fez a Walter Salles Jr. foi por que os protagonistas de seus filmes permaneceram pobres se, com Lula no poder, o Brasil finalmente se transformou num país de classe média. Walter Salles Jr. respondeu que toda essa riqueza ainda precisaria de um tempinho para se espalhar. Em seguida, o apresentador do programa perguntou por que Central do Brasil tinha um tom bem mais otimista do que seu último filme, Linha de Passe, apesar de os brasileiros, com Lula no poder, estarem nadando em dinheiro. Walter Salles Jr. refletiu por um instante e respondeu candidamente que, quando realizou Central do Brasil, o país estava tomado pelo clima de euforia do fim da ditadura militar. Só para lembrar: Central do Brasil é de 1998. O AI-5 foi abolido em 1978.

Assim como chegou atrasado para comemorar o fim da ditadura militar, Walter Salles Jr. chegou atrasado também para comemorar o lulismo. No último domingo, Lula deu o primeiro passo rumo ao esquecimento. Sua derrota eleitoral nas principais cidades do país ridicularizou a idéia de que, com sua espantosa popularidade, ele conseguiria eleger facilmente um sucessor, por pior que fosse o candidato, até mesmo Dilma Rousseff. Agora o blefe acabou. Só Fernando Rodrigues continua a acreditar no poder plebiscitário de Lula.

Depois do segundo turno, daqui a duas semanas, seus aliados devem migrar malandramente para o outro lado, sobretudo se Gilberto Kassab confirmar a vitória paulistana, garantindo de uma vez por todas a candidatura presidencial de José Serra.

Desde domingo, até a espantosa popularidade de Lula tornou-se menos espantosa. Com alguns minutos de propaganda por dia, dezenas de prefeitos espalhados pelo país conseguiram igualá-lo. Lula faz propaganda ininterrupta há seis anos. Ao contrário do que acontece com ele, ninguém enalteceu o carisma desses prefeitos. E ninguém louvou sua sabedoria política. De agora em diante, Lula tende a perder sua corte, ficando cada vez mais sozinho, mais isolado. Se o assunto é cinema, já dá para imaginá-lo aposentado, na escadaria de sua casa, vestido com roupa de gala, fantasiando um retorno aos seus dias de glória, como Gloria Swanson em Sunset Boulevard. E Walter Salles Jr.? Ele estará atrasado.


Thales Azevedo.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Morte sangrenta de personagens de desenhos animados


A exposição Splatter, que será aberta em Londres na sexta-feira, dá asas à imaginação de quem já pensou no que aconteceria de verdade quando os personagens de desenhos animados cometem atos de violência uns contra os outros.

"É incrivelmente sanguinário. As conseqüências reais da violência nos desenhos animados são reveladas. Eles massacram uns aos outros", disse o artista plástico britânico James Cauty.

Veja mais na BBC.

Thales Azevedo.

sábado, 4 de outubro de 2008

À sombra de Reagan

Ele não foi levado a sério, quando o seu nome despontou como o candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos.

Muitos julgavam-no simplório e despreparado, mas Ronald Reagan acabou impedindo o presidente Jimmy Carter de conquistar um segundo mandato, usando uma linguagem simples, que tratava dos anseios do americano médio.

Sua frase: ''Você está melhor agora do que estava há quatro anos?'' usada no final de um debate presidencial contra Carter representou uma virada de jogo contra o líder americano que, na ocasião, ainda liderava as pesquisas.

O ex-governador da Califórnia compensou o fato de não conhecer muitos temas a fundo com um grande carisma e um talento natural para os debates e as câmeras – herança de sua longa passagem como astro hollywoodiano.

Reagan veio a se tornar um dos mais populares presidentes americanos, um dos artífices do colapso do império soviético e um líder identificado com um período de opulência e prosperidade na história de seu país.

Olhando para trás, é fácil ver resquícios de Reagan na candidata a vice-presidente na chapa de John McCain, a governadora Sarah Palin.

Ela também foi apontada como simplória e despreparada, mas mostrou-se capaz de eletrizar a base de seu partido, com grande carisma, opiniões conservadoras e um talento natural para as câmeras.

Essas qualidades foram todas exibidas por Sarah Palin no debate de quinta-feira à noite.

Quando todos acreditavam que ela seria arrasada pelo experiente Joe Biden, a governadora compensou sua escassa experiência com seu dom de cativar o americano médio.

E, vale lembrar, não parece ter sido mera coincidência que a governadora do Alasca tenha feito três referências a Ronald Reagan em sua participação no debate de ontem à noite.

Inclusive, reproduzindo, quase que literalmente, uma frase dita por Reagan em um debate contra Carter: ''Lá vai você de novo, Joe'', tanto a frase original como a de ontem foram menções a referências insistentes dos rivais a temas que os dois republicanos preferiam ignorar.

Pode ser que Sarah Palin, ao final desta campanha, volte pura e simplesmente a ser a governadora do Alasca.

Mas se John McCain não chegar à Casa Branca e Barack Obama não cumprir as enormes expectativas em torno dele, pode ser que nós voltemos a nos deparar, nos próximos quatro anos, com a linguagem simples e franca de Sarah Palin.

E, mais importante, com seu dom natural diante das câmeras.

(Bruno Garcez, 03/10 - BBC Brasil)

Na imagem: Ronald Reagan por Andy Warhol e Sarah Palin na Convenção Republicana. Para a mídia americana, a moça já havia perdido o debate antes mesmo dele começar. Como no de John McCain contra Barack Obama, não foi bem assim.

Thales Azevedo.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Meu amigo Woody

Atenção, críticos. Eu tenho três palavras para vocês. Não. Sejam. Ridículos. Será preciso repetir? Falo em defesa de Woody, meu amigo Woody Allen, que há trinta anos --bom, há uns vinte-- vive cá em casa, na melhor estante do meu coração. E se vocês acham que estou sendo piegas ou sentimental ou excessivo, por favor, não tenham dúvidas: estou mesmo. E vou piorar.

Vocês conhecem a tese: Woody Allen começou o seu naufrágio em 2000, com "Small Time Crooks" (Trapaceiros). Continuou com "The Curse of the Jade Scorpian" (O Escorpião de Jade), "Hollywood Ending" (Dirigindo no Escuro), "Anything Else" (Igual a Tudo na Vida) e "Melinda e Melinda". Cinco filmes, cinco desastres de bilheteria. E os sábios deste mundo declarando a certidão de óbito. Woody está morto. Woody repete-se. Woody perdeu a graça. Woody perdeu a criatividade. Woody cansa. Ah, Deus, como eu gostava de aparecer na casa destes críticos e, com um bastão de beisebol, tratar do assunto com os meus vagares. Mas depois imagino que os críticos têm filmes de Cameron Crowe na sala --"Vanilla Sky", "Elizabethtown"-- e uma compaixão súbita apodera-se de mim. Tudo bem. Se eles querem lixo, eles que comam lixo.

O pior é que Woody acredita nos críticos. Ele diz que não lê --mas, acreditem, ele lê. Aparece aqui em casa, uma lágrima rolando por detrás dos óculos grossos, o tweed encharcado pela chuva que cai. "Eu não presto, Coutinho. Nunca serei um Fellini, um Bergman." Pobrezinho. Encomendo o jantar no chinês aqui do bairro e depois, ao som de Harry James, inicio o tratamento. Woody, senta aí.

O tratamento começa com uma revisão da matéria dada. Em quarenta anos de filmes, não existe um único --eu vou repetir, para vocês aí atrás: em quarenta anos de filmes, não existe um único que seja realmente mau. No próximo número de dezembro da revista "Vanity Fair", Peter Biskind, provavelmente um dos poucos críticos que respeito depois da morte de Pauline Kael, concorda comigo --ou, tudo bem, eu concordo com ele, não vou discutir quem é ovo ou galinha (mas eu pensei primeiro, Peter). Podemos não gostar de "Melinda e Melinda", um dos mais fracos da colheita. Mas "Melinda e Melinda", história contada em duas versões, como comédia ou como farsa, por grupo de amigos numa mesa de restaurante, revela um virtuosismo narrativo e cinematográfico que não se encontra na esmagadora maioria dos vagabundos que fazem filmes em Hollywood. Eu, pelo menos, não encontro --e confesso que só David Lynch e Clint Eastwood me obrigam a sair de casa com uma regularidade sazonal. (Scorsese? Depende. Muito.) [...]

Mas o tratamento não acaba aqui. Peter Biskind escreve, e com razão, que os grandes diretores da história deixaram dois ou três filmes que fizeram o nome e a fama. [...]

Woody Allen não deixou dois. Não deixou três. Biskind arrisca 10: "Annie Hall", "Manhattan", "A Rosa Púrpura do Cairo", "Broadway Danny Rose", "Zelig", "Hannah e Suas Irmãs", "Crimes e Pecados", "Maridos e Esposas", "Tiros na Broadway" e "Desconstruindo Harry". Eu arrisco 12: todos esses dez e ainda "Love and Death" (A Última Noite de Boris Grushenko) e "Another Woman" (A Outra), o filme que Cassavetes gostaria de ter feito com a mesma mulher (que, por acaso, até era a dele: Gena Rowlands, meu amor). E se falamos de obras-primas --definição de obra-prima, por J.P. Coutinho: objeto artístico que Deus, no Dia do Apocalipse, irá poupar na sua infinita misericórida para que os novos hominídeos não se sintam sozinhos na Terra (lembrar início de "2001", de Kubrick) --se falamos de obras-primas, dizia eu, bastariam três. "Hannah e Suas Irmãs", "Crimes e Pecados" e "Desconstruindo Harry". [...]

Todos os anos, com a regularidade das aves, Woody regressa. Nós devemos regressar a ele com um sorriso grato e íntimo. Porque os filmes de Woody Allen são gratos e íntimos: nós entramos na sala, sentamos na mesa e ele vai servindo o jantar. Conhecemos todos os comensais. Sabemos que a comida não se altera com os anos: sal a menos, sal a mais --o cozinheiro é o mesmo. Os filmes de Woody Allen são uma família a que se pertence: ninguém deseja mudanças radicais ou desaparecimentos radicais. Desejamos apenas que seja outono lá fora e que as histórias, conhecidas e até repetidas, sejam embaladas por um fio de jazz.


(João Pereira Coutinho - 28/11/2005. Na íntegra, aqui.)

Thales Azevedo.