sábado, 4 de outubro de 2008

À sombra de Reagan

Ele não foi levado a sério, quando o seu nome despontou como o candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos.

Muitos julgavam-no simplório e despreparado, mas Ronald Reagan acabou impedindo o presidente Jimmy Carter de conquistar um segundo mandato, usando uma linguagem simples, que tratava dos anseios do americano médio.

Sua frase: ''Você está melhor agora do que estava há quatro anos?'' usada no final de um debate presidencial contra Carter representou uma virada de jogo contra o líder americano que, na ocasião, ainda liderava as pesquisas.

O ex-governador da Califórnia compensou o fato de não conhecer muitos temas a fundo com um grande carisma e um talento natural para os debates e as câmeras – herança de sua longa passagem como astro hollywoodiano.

Reagan veio a se tornar um dos mais populares presidentes americanos, um dos artífices do colapso do império soviético e um líder identificado com um período de opulência e prosperidade na história de seu país.

Olhando para trás, é fácil ver resquícios de Reagan na candidata a vice-presidente na chapa de John McCain, a governadora Sarah Palin.

Ela também foi apontada como simplória e despreparada, mas mostrou-se capaz de eletrizar a base de seu partido, com grande carisma, opiniões conservadoras e um talento natural para as câmeras.

Essas qualidades foram todas exibidas por Sarah Palin no debate de quinta-feira à noite.

Quando todos acreditavam que ela seria arrasada pelo experiente Joe Biden, a governadora compensou sua escassa experiência com seu dom de cativar o americano médio.

E, vale lembrar, não parece ter sido mera coincidência que a governadora do Alasca tenha feito três referências a Ronald Reagan em sua participação no debate de ontem à noite.

Inclusive, reproduzindo, quase que literalmente, uma frase dita por Reagan em um debate contra Carter: ''Lá vai você de novo, Joe'', tanto a frase original como a de ontem foram menções a referências insistentes dos rivais a temas que os dois republicanos preferiam ignorar.

Pode ser que Sarah Palin, ao final desta campanha, volte pura e simplesmente a ser a governadora do Alasca.

Mas se John McCain não chegar à Casa Branca e Barack Obama não cumprir as enormes expectativas em torno dele, pode ser que nós voltemos a nos deparar, nos próximos quatro anos, com a linguagem simples e franca de Sarah Palin.

E, mais importante, com seu dom natural diante das câmeras.

(Bruno Garcez, 03/10 - BBC Brasil)

Na imagem: Ronald Reagan por Andy Warhol e Sarah Palin na Convenção Republicana. Para a mídia americana, a moça já havia perdido o debate antes mesmo dele começar. Como no de John McCain contra Barack Obama, não foi bem assim.

Thales Azevedo.

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