quinta-feira, 4 de setembro de 2008

McCain é palmeirense

Quando Sarah Palin foi escolhida para fazer dobradinha com John McCain, um colunista do New York Times, republicano, citou Nasce uma Estrela, e outro colunista do New York Times, democrata, comparou-a a Miss Simpatia. Dois dias depois, com o anúncio da gravidez da filha adolescente de Sarah Palin, os filmes com Judy Garland e Sandra Bullock foram abruptamente retirados de cartaz, e a campanha republicana ganhou ares de Juno.

O cinema americano já esgotou todos os temas. Qualquer que seja o acontecimento, há sempre algum filme - bom ou ruim, antigo ou recente - para ilustrá-lo. Hollywood é onisciente: ninguém escapa ao seu olhar. A disputa presidencial é uma boa amostra disso. Cada passo dos candidatos remete a alguma imagem cinematográfica. John McCain, nesse ponto, dá um banho em Barack Obama. Ele tem um filme só dele: Fé em Meu País. Sim: trata-se de um filme para a TV. Sim: trata-se de uma das piores obras de todos os tempos, estrelada por Shawn Hatosy, que até hoje só conseguiu fazer uma ponta num episódio do seriado My Name is Earl. Mas quem se importa? O fato é que ele, John McCain, está lá, em HD, em sua cela em Hanói, com diarréia, brutalmente torturado pelos vietnamitas. Lula declarou que, por ser corintiano, só podia torcer para os torturadores vietnamitas. Além de ser personagem de filme, John McCain deve ser palmeirense.

O filme sobre John McCain foi baseado em seu livro de memórias. Barack Obama foi mais longe do que ele: imodestamente, em vez de um, foi logo escrevendo dois livros de memórias, embora ninguém saiba dizer com certeza o que ele fez de tão memorável assim. Um período de sua vida foi como uma comédia de Cheech and Chong. Certo dia ele descobriu que, comportando-se como Sidney Poitier, poderia fazer uma fulgurante carreira política. E fez. É manjado o paralelo entre Barack Obama e o personagem interpretado por Robert Redford em O Candidato. Redford protagoniza também Todos os Homens do Presidente, sobre Watergate, mas nesse caso a gente é obrigado a retornar ao Brasil, com o episódio de espionagem do presidente do STF, que contou até com um Garganta Profunda da Abin, que entregou o grampo à VEJA.

Ivan Lessa é meu guia cinematográfico. Na verdade, ele é meu guia em todos os assuntos, até em matéria de pastéis de nata. Ivan Lessa é meu Barack Obama. Ele me lembrou de citar The Best Men, de Gore Vidal, com Henry Fonda, traduzido no Brasil como Vassalos da Ambição, e O Enviado da Manchúria, com Frank Sinatra, que narra a história de um prisioneiro de guerra que sofreu uma lavagem cerebral dos comunistas (John McCain?) para assassinar o presidente dos Estados Unidos (Barack Obama?). Ainda tem mais um: A Mulher Faz o Homem, de Frank Capra. E outros que pretendo guardar apenas para mim.

O cinema americano cobre todos os aspectos da campanha presidencial. Ele cobre todos os aspectos da vida. Acho que é isso: um DVD é melhor do que a vida.

(Diogo Mainardi - ouça aqui.)

Thales Azevedo.

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