sábado, 18 de julho de 2009

Top 15 - Rock and roll dos anos 1960 [Parte 1]

A década de 50 foi o pontapé inicial do rock. Dançante, alegre e até chocante para os padrões conservadores da época, representou uma verdadeira revolução. A sociedade – principalmente na relação entre brancos e negros – passou a se unificar graças, em parte, ao gênero, que ainda tinha como o blues o principal influenciador na maneira de tocar, compor e que serviu de inspiração para várias bandas que surgiram na década posterior. E foi a década de 60 a mais importante da história do rock and roll, não só tecnicamente mas também em termo de composições, cada mais vez contestadores e inteligentes – com notáveis contribuições de artistas poetas como Leonard Cohen e, principalmente, Bob Dylan. Os jovens deram conta do enorme potencial que o gênero tinha para ser explorado. Eram verdadeiras minas de ouro que poderiam ser lapidadas. Ou melhor dizendo, criadas.

O rock aos poucos foi perdendo sua simplicidade inicial e elevando-se graças a trabalhos de inúmeras bandas, como The Kinks, The Animals, Rolling Stones, Jethro Tull, Beach Boys, The Band, The Byrds, The Jimi Hendrix Experience, Jefferson Airplane, Pink Floyd, Cream, Janis Joplin, The Doors, Velvet Underground, The Zombies, Yardbirds, Grateful Dead, Steppenwolf, Frank Zappa, The Who e, claro, The Beatles. Essas são apenas algumas, a ponta do iceberg de um vasto legado. Pela sua importância especial, decidimos fazer um top 15 desta década – divido em duas partes - e top 10 para as posteriores. Claro que vários clássicos ficaram de fora e claro que há um toque de identidade do blog nela, o que a torna um pouco diferente das listas que vemos por aí. Então, vamos ao que interessa!

“Lucy in the sky with diamonds”, por Alexandre Rios – É quase unanimidade que Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band é considerado o melhor disco já feito em todos os tempos. Um dos maiores símbolos da cultura pop, esta obra de arte tem tantas músicas fantásticas que escolhemos duas dela para compor a nossa lista das quinze melhores da década de 1960. Lançado em 1967, o oitavo disco da maior banda que já se teve notícia neste planeta chamado Terra – alguns até duvidam que Paul, John, George e Ringo sejam realmente terráqueos – foi, antes de tudo, revolucionário para a própria banda. Tudo bem que antes do Sargent Pepper´s eles criaram o Rubber Soul e o Revolver, outras duas obras brilhantes. Mas nunca haviam tocado tantos instrumentos, experimentado tantas técnicas e mesclado tantos sons, ou seja, nunca haviam explorado tanto suas genialidades e as infinitas possibilidades que elas poderiam proporcionar no grande mistério das coisas deste universo. Lucy in the sky with diamonds, a terceira faixa do disco faz, reza a lenda, alusão ao alucinógeno LSD, o que foi negado por Lennon – Paul afirmou décadas depois em uma entrevista concedida em 2004 que a música foi feita realmente à base da droga. Mas de onde mais poderiam ter vindo a garota com olhos de caleidoscópio, as flores de celofane amarelas e verdes crescendo sobre sua cabeça e a ponte perto da fonte onde as pessoas com cavalos de pau comem tortas de marshmelow senão de algo transcendental? Depois me perguntam se eu sou contra ou a favor das drogas. O que eu sei é que nas mãos de mentes brilhantes elas se encaixam muitas vezes como luvas.

“Gimme Shelter”, por Lucas Caires - Uma canção emblemática. Lançada em 1969 no álbum Let it Bleed, a música esbanja vocal, guitarra e melodia perfeitos. Na entrada, o solo do Keith Richards demonstra sua competência. Não que este seja o melhor solo do guitarrista, mas a percussão e a voz de Mick Jagger, como todo seu sotaque britânico, se complementam perfeitamente. A letra cita a uma época de violência, marcada por guerra (Guerra do Vietnã), estupros e assassinatos que a ameaçam a nova geração. Assim, Mick Jagger clama “Oh, a storm is threat'ning / My very life today / If I don't get some shelter / Oh yeah, I'm gonna fade away “. O mais emblemático na canção é a voz de Merry Clayton, que acompanha Mick Jagger no refrão “War, children, it's just a shot away”, tornando a canção singular na história do rock.

“Born to be wild”, por Alexandre Rios – Um hino de uma geração. Uma das maiores representações do desejo de liberdade de jovens dispostos a fugir dos padrões da sociedade conservadora dos pais. Como no filme “Easy Rider” – que inclusive tem a música na trilha sonora – o desejo de ser um vagante sem destino numa auto-estrada, em busca de aventura e, além de tudo, de liberdade. Aproximar-se da natureza, longe das contradições da guerra e de modelos de vida fabricados para uma satisfação ilusória da vida, representada mundo afora pelo “american way of life”. Considerada por alguns como a primeira música de heavy metal de todos os tempos, com uma melodia perfeita e guitarras contagiantes – não há como esquecer seu riff clássico – a banda Steppenwolf nos apresenta uma das mudanças de atitude de toda uma geração e que pode ainda servir de inspiração para os dias atuais. Afinal, “nós nascemos para ser selvagem”.

“Go to the mirror!/See me, fell me”, por Alexandre Rios – O The Who entrou no escalão mais alto das bandas de rock com o disco conceitual Tommy, uma verdadeira obra-prima – e também um grande sucesso comercial. A saga do menino com suas atormentações e dúvidas inicia-se em 1921, quando seu pai, dado como desaparecido, retorna inesperadamente da guerra e mata o amante da sua esposa. O garoto Tommy, então com 7 anos, presencia tudo através de um espelho mas seus pais o convencem do contrário. Na verdade o massificam a todo custo: “...you didn't hear it/you didn't see it/you won't say nothing to no one ever in your life!”. E Tommy fica surdo, cego e mudo. A música encena, de maneira quase teatral, Tommy como paciente desesperado para ser “sentido, tocado, curado” no consultório do seu médico. Tudo com uma harmonia marcante, onde todas as passagens estão onde deveriam estar. Uma canção que chega à perfeição.

“Heroin”, por Thales Azevedo – Heroin, it's my wife and it's my life. Em mais de sete minutos de música, este pequeno trecho se notabiliza por definir todo o espírito de transgressão – materializado em temas como drogas, sadomasoquismo ou prostituição – presente no disco de estréia, e o mais clássico, de uma das bandas mais experimentais de todos os tempos. Com uma das capas mais famosas do rock, ilustrada por uma banana em fundo branco, idealizada por Andy Warhol, que se tornou uma espécie de guru do grupo, foi um fracasso de vendas na época, claro, mas posteriormente reconhecido como um marco e um dos álbuns mais influentes de todos os tempos. O produtor Brian Eno diria que “poucos compraram o disco, mas quem o fez, formou uma banda”. Grandes nomes como Iggy Pop ou David Bowie não me deixam mentir – e estes estiveram apenas entre os primeiros. Liderado por Lou Reed, com a controversa presença da maravilhosa Nico, que ainda teria uma carreira solo com grandes momentos, o Velvet Underground faz desta música uma jornada psicodélica, em meio arranjos crus e minimalistas, descrevendo detalhadamente a utilização da droga e os seus efeitos. A contracultura esteve poucas vezes tão bem representada.

“The Weight”, por Alexandre Rios – Eric Clapton afirmou certa vez que a música do The Band elevou o rock a um patamar inédito até então. Talvez o disco Music From The Big Pink seja a melhor representação disso. A influência country e a figura de Bob Dylan por trás da banda – os membros da banda canadense o acompanharam na turnê de 1966 que torceu os narizes dos fãs mais ortodóxicos do “poeta puro” que, segundo eles, deveria ser acompanhado apenas de violão e gaita para “confrontar o sistema vigente da época” – serviram de base para um conjunto mítico e especial da história do rock. The Weight tem aquele ar sulista e fala sobre algumas experiências do autor viajante – o que lembra muitas músicas de Johnny Cash – e que no Brasil poderiam ser chamadas de “causos”, mas com algumas passagens surreais desta banda que ainda banda da fonte do psicodelismo. Por que não “causos sob efeito de alucinógenos?”

“You really got me”, por Lucas Caires – Seguindo a nova onda de rock iniciada pelos britânicos dos Beatles, The Kinks lança seu primeiro álbum em 1964 e consegue se consagrar diante do novo estilo musical da época. Além de You really got me, a banda criou outros clássicos como Waterloo Sunset e All Day and All Of The Night. A música referida mantém uma guitarra e vocal estridentes, o que a torna dançante e com ótima melodia. O riff da guitarra foi o primeiro a ter distorção na história do rock, forçando os engenheiros a desenvolver produtos especialmente para esse efeito. Não importava que a letra fosse simples. O público estava passando por uma mudança gradual e a onda psicodélica não havia começado. Demos tempo ao tempo. Além do mais, no meio da música, o solo de Dave Davies prende o ouvinte tornando-a elaborada e com classe. You really got me é a identidade do The Kinks. Sua guitarra arrojada foi marca registrada da banda e influenciou muitas outras da década de 70.

Um comentário:

Daniel Dalpizzolo disse...

Bela ideia, galera.

Mas não dá pra falar de anos sessenta e não citar Pretty Things hein! heheh

Abraço.