segunda-feira, 21 de abril de 2008

O quilombo do mundo

[...] O Brasil macaqueou o sistema de cotas raciais dos Estados Unidos. E macaqueou tarde, num momento em que o próprio candidato negro à Casa Branca já admite aboli-lo. O Supremo Tribunal Federal está julgando a constitucionalidade das leis que instituíram as cotas raciais no Brasil. É uma chance para acabar de vez com o quilombolismo retardatário que se entrincheirou no matagal ideológico das universidades brasileiras.

O ministro Carlos Ayres Britto deu um voto a favor do sistema de cotas raciais, argumentando o seguinte: "É pelo combate a situações de desigualdade que se concretiza o valor da igualdade". Isso se aplicaria se a desigualdade se originasse na universidade. A gente sabe que a realidade é outra. A gente sabe que a desigualdade nasce no ensino básico, e é lá que ela tem de ser combatida. A má qualidade da escola pública cria uma casta de párias analfabetos, os intocáveis da tabuada, dalits brancos e negros, que nunca poderão se igualar aos que estudam na escola particular.

É desolador ter de repetir sempre a mesma lengalenga. E a lengalenga é: o Brasil gasta dinheiro de mais na universidade e dinheiro de menos no ensino básico. Se é para macaquear os Estados Unidos, temos de macaqueá-los por inteiro. A universidade pública americana cobra mensalidade dos alunos. Quem pode pagar, paga. Os outros se arranjam com bolsas, empréstimos ou bicos. Se o Brasil fizesse o mesmo, cobrando mensalidade na universidade pública, sobraria mais dinheiro para investir onde importa: no bê-á-bá. [...]

(Diogo Mainardi - 23.04.08)

Thales Azevedo.

10 comentários:

Anônimo disse...

Parece-me óbvio a burrice que o governo brasileiro faz ao admitir cotas para universidades públicas. Enquanto muitos lutam pela manutenção do sistema de cotas, as escolas do ensino fundamental e médio continuam sendo excluídas, literalmente, da importância do Estado. Os resultados do ENEM, infelizmente a única forma de avaliarmos nossas escolas, mostram a situação periclitante que se passa o ensino básico.

Contudo, copiar modelos americanos de privatização das universidades é estupidez. Um país precisa de mão-de-obra qualificada para desenvolver suas próprias pesquisas científicas e, assim, atingir a tão sonhada sustentabilidade tecnológica. Tecnologia esta com importância social e não meramente comercial. E aí está a importância de universidades públicas. A produção científica atinge de forma mais eficiente na comunidade. Inclusive, a maioria dos países europeus seguem essa linha e possuem uma produção tecnológica equivalente ao dos EUA.

O Brasil tem porte para sustentar seu sistema público de educação, seja ele básico ou superior. Ainda mais com um país que possui as maiores arrecadações de impostos do mundo.

Resta saber, como sempre, para onde vai tanto dinheiro.

Texto complementar:
http://www.institutomillenium.org/index3.php?on=artigo&in=assunto&artigo_id=956

Anônimo disse...

O Brasil só copia o que não é pra copiar. Com ou sem a gigantesca carga tributária do país, o ensino básico sofre. Privatizar o superior, ou parte dele, seria um caminho eficiente para reverter essa situação. Mas isso não vai acontecer. Pelo menos por tão cedo. Brasileiro não gosta da palavra privatização.

Anônimo disse...

Como Caires disse, o Brasil tem todas as condições de sustentar o sistema público de educação com a carga tributária mostruosa que aqui existe. Privatizar não é solução. Tá na hora de investir pesado nos pilares da sociedade. Nem que seja por uma questão de sobrevivência.

Anônimo disse...

Ao meu ver, o problema da educação brasileira é cultural, não gostamos de estudar. Pode investir em infra-estrutura, contratar os melhores professores e dar livros a todos, mas o problema ainda vai persistir.

(Se educação de qualidade fosse sinônimo de investimentos físicos nas escolas, a educação privada não estaria precária também.)

Enfim, uma possibilidade seria o aopio ao esporte, que seria, também, uma cópia de um modelo estadounidense.

Ah sim, não se esqueçam que o nosso país é o país do créu!

Anônimo disse...

Com todo o respeito, Alves, não pude não rir com seu comentário. Quer dizer que o problema da educação no Brasil é do brasileiro que, por algum motivo, uma indentidade absoluta e imutável, não gosta de estudar, haha! Então, a solução é fazer uma lavagem cerebral em massa, algo parecido com a Experiência Ludovico, do filme Laranja Mecânica, certo?

Investir em educação é também investir em esporte, uma coisa não exclui a outra, ao contrário, se completam. Um modelo seria Cuba, onde o analfabetismo inexiste e atletas são formados a todo momento - e sem os patriocínios milionários dos atletas americanos. O Brasil tem jeito ainda, eu acredito isso. Se você não acredita, vai dançar créu!

Anônimo disse...

O governo então não tem culpa, culpado mesmo é o burro irresponsável do estudante da escola pública?

De novo Cuba, e seus alfabetizados e atletas presos, reprimidos e mortos?

Façam-me o favor.

Anônimo disse...

Sim, Cuba é um exemplo de como investir dinheiro público em setores fundamentais como educação. Se você quer continuar acreditando em tudo que a "grande mídia" fala, problema seu.

Anônimo disse...

Tá, tá, é um exemplo. Mas às custas de que? Será que o povo cubano também acha a troca legal?

Ou será que Cuba é a ilha da prosperidade, da liberdade e da qualidade de vida, mas acabamos todos cegos pelo PIG?

Ai, ui, essa grande mídia, sei não.

Anônimo disse...

" Quer dizer que o problema da educação no Brasil é do brasileiro que, por algum motivo, uma indentidade absoluta e imutável, não gosta de estudar"

Acho que não chega a tanto, pelo menos eu espero. Entretanto, deixando o moralismo de lado e tendo uma visão pragmática da realidade social do brasileiro, eu cheguei a essa conclusão. Não acho que eu fui preconceituoso, talvez pessimista, e continuo achando que o brasileiro é um povo que não tem uma identificação com o conhecimento acadêmico.

"O governo então não tem culpa, culpado mesmo é o burro irresponsável do estudante da escola pública?"

Não disse que o brasileiro é naturalmente incapacitado, disse que não gosta de estudar, ou seja, não tem incentivos para isso. Por conseguinte, não basta investir em infre-estrutura e(...) tem que haver uma reformulação na concepção que o brasileiro tem da esducação acadêmica, mostrar a sua importância, e coisas do tipo. Não é uma tarefa fácil, pelo contrário, é muito difícil. Por isso, a minha sugestão é valorizar o esporte, que, além de ser uma educação bastante eficiente, é mais aceita pelo brasileiro.

É bom ressaltar, que não se deve valorizar o esporte em detrimento do academicismo, e sim incentivar os dois.

E pra finalizar, viva o país do créu!

Anônimo disse...

Como Alexandre disse, no investimento em educação está inserido o incentivo ao esporte. O problema é a escola incentivar o basquete, voley e handei e o aluno nem ao menos acompanhar os jogos pela tv pública. Se formos analisar os programas de esporte, todos os comentários longos são de futebol. Mais um dos vários descompressores sociais (aléma do clássico "cerveja ,pagode e novela") manipula descaradamente 99% da população brasileira (70% destes pensam que gosta de futebol).

E com esses comentários conseguimos fechar o círculo vicioso alienante no Brasil: Educação lixo, desvios de verba, mídia descarada, sociedade sem voz e Futebol na veia para desgraçar com tudo.

Será que temos mesmo solução, Alexandre?

PS: Em 4 de Abril, na França, 15000 estudantes do ENSINO MÉDIO vão às ruas para protestar contra o plano de reduzir a quantidade de professores. Enquanto no Brasil.... a escola pública planeja voltar com as greves, depois de 2 meses sem aula.