A competência com que os três diretores trabalharam em suas produções é impressionante. Os dois filmes esbanjam direções seguras, criativas e, antes de tudo, pouco preocupadas com o lado comercial, já que ambos os filmes possuem ritmos contemplativos, que nos guiam sabiamente até os desfechos brilhantes das obras.
A trilha sonora de ‘Sangue Negro’ realmente se destaca e impressiona. Ela é revolucionária, imprevisível, já que parece ser independente da trama à primeira vista, mas que, no final, tem um papel fundamental na construção das cenas e progresso da narrativa. As composições, feitas por Jonny Greenwold, guitarrista da banda inglesa ‘Radiohead’, têm força própria, com fortes acordes, lembrando muito a trilha sonora de ‘De olhos bem fechados’, do diretor Stanley Kubrick. Por outro lado, a ausência quase completa de trilha sonora no filme dos irmãos Coen prova o quanto ambos conseguem prender a atenção do espectador, criando cenas tensas e empolgantes mesmo sem o auxílio de composições e que dão ainda mais vigor à frieza dos personagens envolvidos na trama, que nos atinge de forma seca e direta.
Os aspectos visuais também surpreendem através das belas fotografias. Em ‘Sangue Negro’, a escuridão presente nos remete ao clima sombrio da exploração de petróleo nos Estados Unidos, encorpado no personagem central da trama, Daniel Plainview, um homem ganancioso, explorador de recursos naturais – e de pessoas -, soberbamente interpretado por Daniel Day-Lewis, atuação que lhe rendeu o Oscar de melhor ator. Já em ‘Onde os fracos não têm vez’, o oeste americano, com toda a sua nostalgia é fielmente retratado. A suposta calmaria deste lugar, onde o tráfico é realizado nas entrelinhas, nas paisagens secas, debaixo de um calor tórrido e, por vezes, traiçoeiro, serve de plano de fundo para uma história que se passa na década de 80 e que mostra como os tempos estão mudando, como a violência está em processo de banalização, justificada por cédulas monetárias, envolvendo diferentes personagens.
Aliás, não só os personagens principais são destaques nessas duas produções. Os coadjuvantes possuem identidade própria, muitos são densos e complexos, como o jovem Eli Sunday (Paul Dano, que já havia realizado um grande trabalho em ‘Pequena Miss Sunshine’), contraditório e, também, ganancioso pastor, representando uma das forças da sociedade americana, a Igreja conservadora, assim como o psicótico Anton Chigurh, interpretado em ‘Onde os fracos não têm vez’ pelo grande ator espanhol Javier Bardem, que, assim como Daniel Planview, já está na lista dos grandes personagens da história do cinema americano, ao lado de Charles Foster Kane, Jack La Motta, Alex de Large, Don Vito Corleone, Richard Blane, Norman Bates, dentre outros.
No Oscar desse ano, o grande filme premiado foi ‘Onde os fracos não têm vez’, com quatro estatuetas (melhor filme, direção, roteiro adaptado e ator coadjuvante). ‘Sangue Negro’ conquistou duas (melhor ator e fotografia). Talvez a experiência dos irmãos Coen tenha pesado na decisão da Academia, que parece evoluir, já que filmes considerados menos comerciais têm conquistado importantes prêmios nos últimos anos. A decisão desse ano deve ter sido a mais difícil da década, já que estamos falando de duas obras-primas, em minha opinião, que deverão ser, futuramente, clássicos do cinema. Merecidamente.
Alexandre Rios.
3 comentários:
Não gostei do outro filme. Filme parado.
Agora o filme Onde os Fracos não tem vez é maravilhoso. Muito bom mesmo.
Abs
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divide em três e dá um pedaço pra juno também.
Juno é legal.
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