terça-feira, 23 de setembro de 2008

Crise americana e anúncios de fim do mundo

Peninha, né? Então o capitalismo não acabou nem vai acabar! Pois é! Na hora “h”, apareceu Bush em seu cavalo, na ótima charge publicada pela VEJA desta semana, e resolveu pôr um pouco de ordem na bagunça. Haverá turbulência por algum tempo, os mercados nunca mais serão os mesmos, novos procedimentos corretivos e preventivos serão adotados — a própria existência de um Fed com essas características, saibam os botocudos, surge de uma crise —, e o mundo seguirá produzindo riqueza e fazendo política para responder à necessidade de reparti-la. Ou melhor: a parte do mundo onde houver economia de mercado fará isso. Aonde ela não chegar, chefes de “tribo”, muitos deles com terno e gravata, continuarão a manter seus povos na miséria, na ignorância, no subdesenvolvimento. Como Evo Morales. Como Hugo Chávez. Como ditadores africanos e árabes. [...] 

É por isso que o estado cobra impostos; é por isso que lhe entregamos boa parte da nossa liberdade individual; é por isso que aceitamos, sem resistência, o pacto social que ele nos impõe; é por isso que acedemos à existência de Três Poderes que regulam a nossa vida muito além do que gostaríamos — só sentem confortáveis com o mandonismo estatal aqueles que já se renderam à mentalidade da senzala e se apaixonaram pelo chicote. “Ah, mas a intervenção poderia ter sido feita antes”. É mesmo? Quando? Sob que condições? Quando foi, na história da humanidade, que esse estado interventor gerou mais riqueza e mais bem-estar? Nunca!

É evidente que o estado não deve socorrer empresa quebrada. Que quebre! É do jogo. Mas é preciso distinguir esse tipo de intervenção, muito comum em Banânia, da chamada crise sistêmica, da quebradeira geral — que não puniria apenas as empresas incompetentes e os especuladores. Também o dinheirinho no banco do homem comum, que é o verdadeiro dono da grande massa do meio circulante do sistema, iria para a cucuia. E esse "Homem Comum" precisa confiar nas regras — e restaurar a confiança, como deixa claro Márcio Aith em reportagem na VEJA desta semana, era essencial. E o governo americano vai fazê-lo. E tem de fazê-lo. [...]

E, bem, claro: colabora para a cafajestada ideológica o fato de o presidente dos Estados Unidos ser George W. Bush — ainda não sei como ninguém pensou em ligar a guerra do Iraque à crise do mercado subprime... Mas que digo eu? Alguém já deve ter feito isso. “Ah, é que aquele republicano deixou tudo correr solto, sem regras”. É? Que mudança fundamental os republicanos fizeram no mercado herdado do “progressista” Bill Clinton? Ademais, felizmente, em países que, de fato, têm forte tradição liberal, o governo não fica se metendo a toda hora no mercado — e não tem de se meter mesmo. “A Europa sempre foi mais cuidadosa”. Invejam também seus índices de desemprego?

O mercado, ainda bem!, nunca mais será o mesmo. Aliás, se existe um “ente” que aprende depressa com a experiência é esse tal mercado. É isso aí: o mundo não acabou nem vai acabar. E o capitalismo também sobreviveu. Viram? Emir Sader tinha nos avisado que essa gente perversa daria um jeito de se safar.

Thales Azevedo.

3 comentários:

Anônimo disse...

É engraçado como esse texto se prende a um certo revanchismo ou uma maneira de atacar os "socialistas, comunistas", que "odeiam todo o neoliberalismo e espera que o Estado resolva o rumo das suas vidas, mesmo que no chicote"...
E ainda vem falar do Sir George W. Bush como uma figura mítica, sentado em um jegue, anunciando o fim da crise para todos os bons cidadãos americanos, haha!

Com a palavra,o Nobel de economia Joseph Stiglitz:

O pacote de intervenção em grande escala nos mercados, anunciado pelo governo dos Estados Unidos, está errado porque a raiz do problema não está diretamente na crise imobiliária, segundo o Nobel de economia Joseph Stiglitz, para quem "isto é só o começo".

Os mercados receberam com entusiasmo o anúncio de uma intervenção de centenas de bilhões de dólares, mas Stiglitz disse em entrevista à Agência Efe que o cidadão comum deveria estar muito preocupado, pois o país está à beira de uma recessão.

Em lugar de comprar a dívida "tóxica" dos bancos, que ninguém quer, o governo deveria conseguir a renegociação das hipotecas das pessoas que estão com a corda no pescoço, disse.

Stiglitz acredita que a crise é uma conseqüência da "má gestão" da Administração republicana e do Federal Reserve (Fed, o BC americano), que não supervisionou corretamente o sistema financeiro e injetou em Wall Street liquidez antes da crise.

O economista também vincula o problema ao Iraque, que é "A Guerra dos Três Trilhões de Dólares" ("The Three Trillion Dollar War", no original), segundo diz o título de seu último livro, no qual exibe uma estimativa "conservadora" do custo do conflito para os Estados Unidos.

...

(E, bem, claro: colabora para a cafajestada ideológica o fato de o presidente dos Estados Unidos ser George W. Bush — ainda não sei como ninguém pensou em ligar a guerra do Iraque à crise do mercado subprime... Mas que digo eu? Alguém já deve ter feito isso.)

O vencedor do prêmio Nobel de economia, muito mais confiável e conhecedor desse assunto, fez isso, Reinaldo Azevedo:

EFE: O senhor vê um vínculo direto entre este conflito e a crise financeira?

Stiglitz: A guerra contribuiu para o enfraquecimento da economia. Em 2008-2009 está previsto que tenhamos o maior déficit fiscal de nossa história.

A guerra também contribuiu para a alta do preço do petróleo. Drenamos nossa economia para comprar petróleo. Isso foi o motivo da ampla liquidez (fornecida pelo Fed antes da crise): diminuir os efeitos de uma despesa tão alta no Iraque. Mas certamente se criou um problema para o futuro com isso.

... Entre Reinaldo Azevedo e o Nobel de economia Joseph Stiglitz, fico com o segundo, que mesmo sendo aliado do Barack Obama nessas eleições, parece ser menos partidário do que o careca republicano tupiniquim.

Anônimo disse...

Ah, revanchismo?

Revanchismo é alardear pelos quatro cantos o fim do capitalismo, é difamar os pilares do livre-mercado, é espalhar mentiras cada vez mais espalhafatosas sobre uma crise que "ocorre uma vez a cada meio século, provavelmente uma vez a cada século e não é necessariamente ruim", para citar o ex-presidente do FED e não prosseguir com outros exemplos que desviariam o foco da discussão. Revanchismo é não admitir que certos sistemas não funcionaram, como comprova a história, e tentar boicotar ideologicamente o que deu certo.

A charge foi satírica, é pra quem tem senso de humor, mas esse também é um tópico menor. O fato é que Bush, de certa forma, contornou a situação e deixou o pior para trás.

A administração republicana, como foi dito no texto do Reinaldo, em nada significativo diferiu da de Bill Clinton - ícone democrata - no que se refere ao mercado. Por sinal, o mesmo Joseph Stiglitz foi presidente do Conselho de Assessores Econômicos no governo Clinton. Bradem ou não os opositores, os Estados Unidos são tradicionalmente liberais e evitam ao máximo intervir no sistema financeiro. Ou seja: a relação com a guerra do Iraque é simplesmente estúpida. Com ela ou sem ela, a situação seria igual! Os gastos do governo não teriam sido transferidos para um auxílio precoce a empresas. Com ou sem George Bush no poder. Quanto à alta do petróleo, bem, os abusos foram cometidos pelas próprias empresas. Muitas delas quebraram, eis a punição. E a regulamentação natural. Não é a qualquer hora que se tomam decisões como esta. Quando chegou o momento da Casa Branca agir, ela agiu. Agora, o sistema passará a se reerguer.

Não é preciso ser um expert no assunto para usar algo chamado lógica. Quanto à confiabilidade, bem, Reinaldo Azevedo, além de ser brasileiro, não é aliado de candidato nenhum. NÃO, não é "isento". Apóia John McCain. Mas ser aliado é um tanto mais que apoiar, ou não? Um dos grandes problemas de McCain é ser relacionado, erroneamente - mas o que importa? -, à "situação", à economia ruim. Jogar a culpa de tudo nos republicanos favorece seu oponente, ou não?

Mas, claro, quem ganha um prêmio Nobel só pode saber - e falar - das verdades do mundo...

Anônimo disse...

É engraçado como um ganhador do prêmio nobel segue a linha exagerada da mídia. Sim, essa mídia que aumenta toda informação sobre movimentos naturais da bolsa, principalmente em momentos de quedas cíclicas, e solta aos ventos falas bizarras sobre a oscilação da bolsa de valores (nítidas a qualquer iniciante analista de mercado, como eu).
Não afirmo, contudo, que tudo está normal e calmo. Bancos tradicionais mudaram de posição e outros tantos faliram. Momentaneamente, a intervenção americana vai surtir muito efeito. Basta ver o crescimento que a Bovespa teve somente com o anúncio da intervenção estatal, mais de 8%. Entretanto, o prazo de estabilização do mercado gira em torno de 2 anos. Com a queda de alguns bancos, muitos acordos foram barrados e outros terão dificuldade de se normalizar por não ter os bilhões disponíveis.
Discordo, porém, o momento em que o Estado americano interviu. O cheiro da pólvora pôde ser sentido na crise mobiliária, 2 meses atrás. E o governo americano ficou alheio às informações. Ele deve fiscalizar certos movimentos mirabolantes dos bancos financeiros, mas não impedi-los. É uma manobra difícil, mas uma medida eficaz de proteger o cidadão de momentos instáveis como esse, funcionando como medida amenizadora.
Já a relação da guerra com o mercado é feita de forma indireta. Ironicamente, foram os bancos que mais ganharam com essa guerra “inventada” em nome da ordem Mundial. Não os bancos tradicionais, mas aqueles que financiam compras milaborantes de armas para o governo americano e empresas privadas, que participam da guerra. Assim, o que realmente influi nesse indivíduo, o “mercado”, é a alta do petróleo e a queda do dólar. Em outras palavras, a guerra serve como fator especulativo, e não definitivo como foi dito pelo ganhador do Nobel.
Assim sendo, a bolsa segue seu período de oscilação esperando uma medida definitiva do governo americano para, assim, estabilizar e daqui a 20 anos sofrer outra crise. Uma crise cíclica, natural e sem euforismo , pois a cada crise aprendemos mais sobre este ser exótico: o mercado financeiro.

Lucas Caires