domingo, 29 de março de 2009

Avenida Paulista

Há em "Av. Paulista", livro que reúne crônicas e textos de opinião do colunista desta Folha João Pereira Coutinho, a história verídica de um encontro improvável --e bem-sucedido-- entre um jovem português emigrante e seu novo país, o Brasil, às vésperas da Segunda Guerra Mundial.

Antes de tomar o navio, um Luis Oliveira Dias recebe do pai o conselho: "Quando chegares a São Paulo, procura um tal de Vieira". Desembarca em Santos, uma mala na mão, e sobe a serra. Perdido, sozinho, encontra no centro da capital paulista a "Livraria Lusitana". Entra, explica ao patrício que o pai o fizera embarcar com medo da guerra que se anunciava.

O patrício era o Vieira.

"O rapaz chorava agora", escreve Coutinho numa das crônicas. "De alegria, mas chorava. Então o livreiro, Vieira de nome e português de origem, tomou o rapaz nos braços. Providenciou um banho quente, uma sopa. Roupa lavada."

Os anos passam e a história, como se sabe, não costuma se repetir. Numa de suas primeiras viagens a São Paulo, Coutinho, hoje com 32 anos de idade, teve o computador roubado pouco depois de desembarcar, à mão armada e num lobby de hotel. Mas seu encontro com o Brasil não foi menos bem-sucedido que o de Oliveira Dias.

Desde 2005 colunista da Folha Online, mais tarde também colaborador da Ilustrada, o jornalista verá ser lançado no país, na próxima sexta, esse seu "Av. Paulista", publicado em Portugal há dois anos, e que reúne textos produzidos originalmente para a ex-colônia.

Foi Coutinho quem tomou a iniciativa da aproximação, por se dizer admirador da imprensa brasileira.

"Conheço o jornalismo brasileiro por influência paterna. O meu avô era leitor dos clássicos brasileiros, como Machado de Assis, Graciliano Ramos e o teatro do Nelson Rodrigues. E lembro-me de o ver ler imprensa brasileira, que eu também comecei a consumir, encontrando no jornalismo brasileiro um texto curto, enxuto, pouco adjetivado. Ou seja, exatamente o contrário da tradição europeia e continental. Foi amor à primeira vista."

O colunista se define como "um conservador, com uma costela libertária e anárquica", diz que "utopia é conversa de gente politicamente analfabeta", e é o mais bem-humorado integrante da vaga recente de colunistas da "nova direita" --o que lhe rende reações, para o bem ou para o mal, bastante apaixonadas.

O encontro deve perdurar. E ele diz ver futuro também para o país. "Sobretudo por contraposição a uma Europa econômica, política e demograficamente envelhecida. Eu próprio não excluo, no espaço de uns anos, viver no Brasil."

(Folha de São Paulo)

Thales Azevedo.

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