quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Adeus, CPMF!

Em cinco anos de governo Lula, a derrubada da CPMF foi a primeira vitória importante da oposição. Vitória? Que vitória? A minha resposta lhes parecerá, talvez, um tanto abstrata, mas creio nela: a da política sobre a onipotência; a do Poder Legislativo sobre a vontade imperial do Executivo. Não é pouca coisa. E é preciso, de saída, constatar: será mais difícil às oposições a administração do dia seguinte do que propriamente derrotar, como derrotaram, o presidente Lula. Nesta sexta, começa a reação, a disputa pela opinião pública. Ela havia se manifestado majoritariamente contra a CPMF em pesquisas de opinião. Lula pode dar continuidade à negociação para reapresentar a proposta no ano que vem. Pode partir, como vinha fazendo, para a demonização das oposições, tentando inverter o jogo. [...]

Na democracia, derrotas são possíveis e têm efeito educativo. Lula fez por merecer o revés — insisto: o primeiro realmente importante em cinco anos. Nunca é demais lembrar que as reformas no começo do primeiro mandato só não foram além por falta de apoio, de novo, de sua base. O então PFL e o PSDB seguiram à risca a trilha do que chamaram, então, coerência. À época, até cunhei uma frase: essa tal coerência não pode ser uma cruz a pesar apenas nos ombros dos adversários de Lula — enquanto ele pode fazer gracejos com a sua “metaRmofe ambulanto”. Chegava a ser cômico ouvir o discurso inflamado de alguns governistas afirmando que DEM e tucanos votaram a favor da contribuição no governo FHC. Bem, para que tal argumento tenha alguma validade moral, é preciso lembrar que o PT, hoje a favor, era então contrário. Desta vez, a oposição decidiu que não tinha por que carregar, sozinha, a cruz. E fez muito bem.

Lula pode, depois de perder uns R$ 11 bilhões, reapresentar a proposta no ano que vem. Reitero: se arrumar a sua base, tem votos para aprovar a CPMF sem precisar das oposições. Afinal, não é certo que elas respondem por tudo o que de mal se fez nos últimos 500 anos? Não foram elas que lhe legaram uma herança maldita em qualquer área que se queira da administração? Não são as responsáveis por tudo o que não funciona? Não são elitistas, reacionárias, preconceituosas e sonegadoras? Não foi Fernando Haddad que vi ainda ontem na TV a afirmar que, até havia pouco tempo, ninguém dava bola pra educação? Se Lula pretende privatizar, como vem fazendo, todas as virtudes do país e jogar nos ombros alheios todas as dificuldades, não pode esperar contar com a oposição.

A quem interessar, segue o voto dos senadores.

VOTARAM CONTRA E SÃO DE OPOSIÇÃO AO GOVERNO

DEM - 14
Adelmir Santana (DEM-DF)
Antonio Carlos Junior (DEM-BA)
Demóstenes Torres (DEM-GO)
Efraim Morais (DEM-PB)
Eliseu Rezende (DEM-MG)
Heráclito Fortes (DEM-PI)
Jayme Campos (DEM-MT)
Jonas Pinheiro (DEM-MT)
José Agripino (DEM-RN)
Kátia Abreu (DEM-TO)
Marco Maciel (DEM-PE)
Maria do Carmo Alves (DEM-SE)
Raimundo Colombo (DEM-SC)
Rosalba Ciarlini (DEM-RN)

PSDB - 13
Álvaro Dias (PSDB-PR)
Arthur Virgílio (PSDB-AM)
Cícero Lucena (PSDB-PB)
Eduardo Azeredo (PSDB-MG)
Flexa Ribeiro (PSDB-PA)
João Tenório (PSDB-AL)
Lúcia Vânia (PSDB-GO)
Marconi Perillo (PSDB-GO)
Mario Couto (PSDB-PA)
Marisa Serrano (PSDB-MS)
Papaléo Paes (PSDB-AP)
Sérgio Guerra (PSDB-PE)
Tasso Jereissati (PSDB-CE)

PSOL - 1
José Nery (PSOL-PA)

VOTARAM CONTRA E SÃO DA BASE DE APOIO

PMDB - 3
Geraldo Mesquita (PMDB-AC)
Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE)
Mão Santa (PMDB-PI)

PR - 2
César Borges (PR-BA)
Expedito Junior (PR-RO)

PTB - 1
Romeu Tuma (PTB-SP)

1) Como se vê, não houve defecções entre oposicionistas;
2) Seis senadores de partidos da base aliada derrotaram o governo; somados aos 45, seriam 51 votos: apenas 49 eram necessários.

VOTARAM A FAVOR DA CPMF

PMDB - 16
Almeida Lima (PMDB-SE)
Edson Lobão (PMDB-MA)
Gerson Camata (PMDB-ES)
Gilvam Borges (PMDB-AP)
José Maranhão (PMDB-PB)
José Sarney (PMDB-AP)
Leomar Quintanilha (PMDB-TO)
Neuto do Conto (PMDB-SC)
Paulo Duque (PMDB-RJ)
Pedro Simon (PMDB-RS)
Renan Calheiros (PMDB-AL)
Romero Jucá (PMDB-RR)
Rosenana Sarney (PMDB-MA)
Valdir Raupp (PMDB-RO)
Valter Pereira (PMDB-MS)
Wellington Salgado (PMDB-MG)

PT - 12
Aloísio Mercadante (PT-SP)
Augusto Botelho (PT-RR)
Delcídio Amaral (PT-MS)
Eduardo Suplicy (PT-SP)
Fatima Cleide (PT-RO)
Flavio Arns (PT-PR)
Ideli Salvatti (PT-SC)
João Pedro (PT-AM)
Paulo Paim (PT-RS)
Serys Slhessarenko (PT-MT)
Sibá Machado (PT-AC)
Tião Viana (PT-AC)

PDT - 5
Cristovam Buarque (PDT-DF)
Osmar Dias (PDT-PR)
Patricia Saboya (PDT-CE)
João Durval (PDT-BA)
Jefferson Péres (PDT-AM)

PTB - 5
Epitácio Cafeteira (PTB-MA)
Gim Argello (PTB-DF)
João Vicente Claudino (PTB-PI)
Sérgio Zambiasi (PTB-RS)
Euclydes Melo (PTB-MA)

PR - 2
João Ribeiro (PR-TO)
Magno Malta (PR-ES)

PSB – 2
Antonio Carlos Valadares (PSB-SE)
Renato Casgrande (PSB-ES)

PP – 1
Francisco Dornelles (PP-RJ)

PC DO B – 1
Inácio Arruda (Pc do B-CE)

PRB – 1
Marcelo Crivella (PRB-RJ)

Peguei o texto e a lista no Reinaldão.

Thales Azevedo.

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