quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

CPMF, oposição e os demônios

Presencio uma conversa entre meus caros colegas de blog no MSN, a respeito do último post. Alexandre questiona, indeciso:

— “Alves, bora escolher um título. Alguma idéia?”

E, antes de uma resposta qualquer, arremata.

— “Algo que envolva o diabo.”

Sim, o PT conseguiu operar esse prodígio: não concordar com o partido confunde-se com coisa do outro mundo, com ação impossível, com um extremismo.

Anotem aí. Viveremos o período: “O que você estava fazendo em 1964 e 1968, hein?” Cesar Maia, o pai de Rodrigo Maia, presidente do DEM, por exemplo, estava sendo perseguido pela ditadura militar e pelo AI-5, que o neolulista Delfim Netto assinou, com o apoio de Paulo Maluf, hoje membro da base aliada, não é mesmo? As posições originais, evidentemente, se embaralharam, e não acho isso ruim, não. Afinal, houve uma anistia, não é? O país já fez aquela conciliação.

Mas vocês sabem: os “isentos” querem, literalmente, (re)encruar a história. Imaginem agora se tivermos de perguntar a alguns ministros de estado e parlamentares da base aliada quantas pessoas eles julgam ter matado quando participaram de ações armadas... É uma pergunta obviamente descabida — a menos que venha a se tornar necessária por uma questão de isonomia no trato do passado, não é mesmo?

Com o que o governo anda arrecadando, a situação passa longe de ser mesmo dramática. De acordo com o próprio Lula, não serão cortados investimentos sociais, nem os investimentos do PAC. Os impostos não serão aumentados e o superávit primário não será reduzido. O governo terá de cortar despesas, diz o ministro Paulo Bernardo. E a idéia era mesmo essa. Ou seja, o mundo não acabou e não será uma tragédia. Mas a oposição já está na linha de tiro. Por fazer o que não se vinha fazendo até então: política.

Poucos momentos foram tão constrangedores para o PT, ontem, como quando o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) leu o discurso de Paulo Paim (PT-RS), em 1996, rejeitando a CPMF — obedecendo à orientação de Luiz Inácio Lula da Silva. Paim, ontem, evidentemente, era o mais furioso defensor da contribuição que antes rejeitara.

Já usei esta expressão dezenas de vezes e até lhes sugeri que a procurassem no Google: o PT pretende ser um partido sem passado, ancorado apenas no “presente eterno”. Se as oposições lhe cobrarem coerência, desmorona a fantasia, e o discurso da farsa se evidencia. A rigor, é o que deveria ter sido feito desde 2003, quando Lula resolveu migrar do anti-reformismo militante para o reformismo redentor; quando ressuscitou a pauta de reformas do governo FHC que ele havia ajudado a demonizar.

Jamais se esqueçam: uma das forças do petismo está nessa diluição da memória e na formidável capacidade de mentir sobre a própria história e sobre a história alheia: sem pejo, sem receios, sem limites. Lembro um caso escandaloso: na campanha eleitoral do ano passado, enquanto acusava o PSDB de ter a intenção de privatizar a Petrobras e o Banco do Brasil (infelizmente, jamais um partido proporá isso no país), usava o sucesso da privatização da Telebras — a que o partido se opôs — como se fosse obra de Lula.O que o Senado fez ontem? Confrontou o PT com a sua própria história. E perguntou ao partido e a Lula: “Por qué no te callas?”.


Os textos em azul são, novamente, do Reinaldão.

Thales Azevedo.

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