sábado, 2 de fevereiro de 2008

Jovens astros que se tornaram ícones pela morte: James Dean, Kurt Cobain... e Heath Ledger?

Viva intensamente, morra jovem, torne-se imortal.

Bem, talvez não.

Nesta era acelerada e de Internet global, a trajetória tradicional para alcançar o status de figura cult após a morte está mudando.

Enquanto os fãs em luto declaram o ator jovem Heath Ledger "o James Dean de sua geração", há questionamentos. Estaremos falando de Ledger no futuro como ainda falamos sobre Dean -que morreu há mais de 50 anos?

A morte de Ledger foi diferente da de Dean, apesar de não menos comovedora. O australiano de 28 anos foi encontrado no dia 22 de janeiro em seu apartamento em Nova York por sua faxineira e sua massagista. A causa não foi determinada.

Fãs se aglomeram diante de local onde seria velado o corpo do ator Heath Ledger em NY

Não há mistério sobre como Dean morreu. De fato, foi seu final fora de hora em 1955 que marcou o ponto de nascimento da cultura de celebridade americana, diz Chris Epting, autor de "James Dean Died Here" e de outros livros sobre os locais e artefatos da cultura popular americana.


Com apenas 24 anos e três papéis no cinema, Dean morreu em uma estrada solitária da Califórnia após uma colisão de frente em seu Porsche. Seis meses depois, seu terceiro filme, "Rebelde sem causa" foi lançado, causando sensação, especialmente entre os jovens. Dean ascendeu ao status de cult que perdura até hoje.

"Heath Ledger é uma das primeiras pessoas ao estilo Dean a morrer na era da Internet, então sua morte será um teste para ver quanto tempo a Net abanará esta chama", diz Epting. "Será interessante ver: será imortalizado ou a próxima grande coisa o suplantará totalmente em algumas semanas?"

Karal Ann Marling, por exemplo, acha que sim. Professora de estudos americanos e cultura popular da Universidade de Minnesota, Marling acredita que é natural todo mundo se sentir triste com a morte de um jovem, famoso ou não. Mas o grande interesse na morte de Ledger em breve esmaecerá, prevê.

"Eles não vão erguer um busto dele no Grifftih Park" em Los Angeles, diz Marling. "Isso é mais sobre celebridade e diversão -o país é tão louco por celebridades que quase qualquer coisa que uma celebridade faça vale uma notícia, e a maior parte 'disso' é uma forma de evitar a política."

Ser jovem, ter boa aparência e estar morto, apesar de trágico, não é sempre suficiente para garantir que a pessoa perdurará na consciência pública. Veja Brad Renfro, jovem ator encontrado morto com 25 anos em seu apartamento de Los Angeles uma semana antes de Ledger. Renfro (que começou quando criança), tinha mais filmes que Ledger, mas sua carreira estava empacada -e sua morte passou praticamente despercebida.


É um debate de bar argumentar quem pertence ao panteão da cultura popular permanente e quem não. A lista de "figuras do entretenimento" que inegavelmente pertencem ao panteão é relativamente curta: além de James Dean e Marilyn Monroe, inclui Elvis Presley, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Marley, Jim Morrison, John Belushi, John Lennon, Kurt Cobain.

"Há algo de místico, alguma magia sobre eles, porque nem todo mundo sabia tudo sobre eles quando eram vivos", diz Lynn Bartholome, do Colégio Comunitário Monroe em Rochester, Nova York, presidente da Associação de Cultura Popular -acadêmicos que estudam a cultura americana.

A lista daqueles sobre quem há dúvidas é maior: Freddie Prinze, Tupac Shakur, Buddy Holly, River Phoenix, Ritchie Valens, John Candy, Phil Hartman, Brandon Lee, Cass Elliot, Keith Moon, Brian Jones, Hank Williams, Selena.

Na Internet, as listas compiladas por várias pessoas que ligam para essas coisas são intermináveis. Uma equipe de pesquisadores no Reino Unido até fez um estudo sobre a fama e a morte prematura. Os pesquisadores da Universidade John Moores, em Liverpool, avaliaram 1.064 astros do rock e pop norte-americanos e britânicos -100 dos quais tinham morrido cedo- e concluíram que há mais do que o dobro de probabilidade da pessoa morrer cedo com a chegada da fama, segundo publicaram em uma revista de epidemiologia no ano passado.

Então quem fica entre os imortais, e por quê?

Ajuda ser um pouco excêntrico. Ajuda ter uma alma torturada, demônios pessoais, problemas com pílulas ou álcool ou comportamento ilegal. Principalmente, ajuda ter seguidores apaixonados "antes" da morte -como Dean e Monroe, diz Patrícia King Hanson, historiadora do Instituto de Cinema Americano. Ambos tinham forte conexão com o público, especialmente com os jovens, que respondiam às notas de vulnerabilidade e tragédia que mostravam em tela e em suas vidas pessoais.

"Nenhuma pessoa é lançada à grandeza só pela morte", diz Hanson. "É um certo tipo de pessoa que parece atrair seguidores e apenas por virtude de sua morte parece expandir. As pessoas ficam com uma imagem maquiada deles -sempre jovens e sempre vibrantes.

"O sujeito feliz sem problemas que morre cedo não vira cult."



A Internet apressa e espalha a reação a alguma coisa como a morte de Ledger, mas pode sumir igualmente de maneira rápida. "É um mini-cult e é muito temporário", diz ela. "Talvez em três meses não haverá tanto".

Epting acha que é cedo para dizer, mas se pergunta se a morte de Ledger terá o poder de perdurar. "Meu filho tem 14 anos e freqüenta uma escola pública no Sul da Califórnia. Ele me conta sobre os jovens afetados com isso. Eles captaram aquele sentimento solitário, que Ledger era torturado em sua vida pessoal, que era marginalizado, que fazia seus papéis com seriedade."

Há algumas similaridades entre Dean e Ledger.

Como Dean, Ledger era jovem e sensual, com meia dúzia de papéis no cinema, uma nomeação ao Oscar por um papel transcendental ("O Segredo de Brokeback Mountain") e uma atuação potencialmente memorável como um Coringa especialmente maldoso no novo filme de Batman que ainda será lançado. (Dean recebeu duas nomeações, por seu primeiro papel em "Vidas Amargas" [1955] e por "Assim Caminha a Humanidade" [1956]; ele foi o primeiro a receber nomeações póstumas.)

Diferentemente de Dean, Ledger era pai há pouco tempo; sua filha tem dois anos. Ledger também morreu em uma era da mídia de cerco às celebridades. Minutos depois, a cobertura tornou-se global; o choque, palpável. Sua família na Austrália soube que estava morto junto com todo mundo; hoje em dia, não há tempo para a amenidade de notificar os parentes antes de a notícia chegar ao mundo.

Diante de seu apartamento no SoHo, multidões se reuniram, tributos fluíram pelos blogs e websites e buquês de flores e outras lembranças empilharam-se na porta do prédio após retirarem seu corpo.

"Sempre teremos orgulho de você, Heath. Descanse em paz, amigo", dizia uma mensagem em uma impressão da bandeira australiana.

Até hoje, as pessoas ocasionalmente deixam tributos diante da boate Viper Room, no Sunset Boulevard em West Hollywood, onde o jovem ator River Phoenix morreu de overdose aos 23, em 1993.

"Esses lugares vão se tornando templos, e acho que (a porta do prédio de Ledger) será um altar por um tempo", diz ele.

Será que "The Dark Night", último filme de Ledger, vai acabar sendo seu "Rebelde Sem Causa", levando-o à fama duradoura? Talvez, mas em uma era em que mais jovens freqüentadores de cinema vêem filmes em iPods e iPhones, será que poderão se conectar com aquelas imagens minúsculas da mesma forma que seus avós se ligaram a Dean em telas prateadas gigantes, questiona Epting.

É útil lembrar que a imortalidade não é assegurada mesmo quando há confrontos no funeral. Lembra-se de Rudolph Valentino? Antes de Dean, a morte mais memorável de Hollywood tinha sido a do astro do cinema mudo italiano, conhecido como "amante latino", que morreu em Nova York em 1926 aos 31, depois de uma operação de úlcera que deu errado.

A reação foi cataclísmica: uma multidão de 100.000 pessoas apareceu para o funeral carnavalesco em Nova York, tentando ver o corpo na capela Frank E. Campbell (mesmo lugar para o qual o corpo de Ledger foi levado antes da família levá-lo de volta para a Austrália). Quando o corpo de Valentino foi levado de trem para o enterro em Hollywood, milhares viram-no passar, e milhares estavam lá no Hollywood Memorial Park quando quilos de flores caíram de um avião.

Foi um show e tanto, amplamente coberto pela mídia na época. Ainda assim, quantas pessoas ainda falam de Valentino hoje?

Como diz Bartholome sobre o lugar de Ledger na mente pública: "Muito poucos chegariam ao panteão hoje, e isso é por causa da mídia e por causa da Internet -simplesmente sabemos demais sobre pessoas demais."

Texto: Maria Puente
Tradução: Deborah Weinberg
Texto originalmente publicado no jornal USA Today.

Alexandre Rios.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não sei quanto ao mundo globalizado. Nem os jovens ligados a internet.Mas eu, que não vejo filmes em ipods, sentirei a falta e a perda de um grande ator!

heath ledger, talvez esquecido, mas não menos eterno!