quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Canção de Fim de Ano

[...] Chegarão primeiro os que mais depressa conheceram ao seu semelhante, tanto quanto a si mesmo. Nunca foi impossível o exato conhecimento próprio. É necessária, porém, a coragem bastante, para que cada qual se veja e se pegue, se espie e se apalpe, em cada um dos seus mais íntimos espaços físicos e morais. Que as constantes feiúras a encontrar não nos retraia os olhos (no caso, o sentir) e as mãos. Depois, será mais fácil conhecer-se o próximo. E depois, então, mesmo que se minta, só se saberá da utilidade e do consolo da verdade. Faltará ânimo para o fingimento e a fuga, quando acreditarmos em que ninguém engana ninguém e em que somos capazes de conhecer o próximo, desde o instante inicial do primeiro conhecimento.

A sintomatologia do mal é evidente e constante. O homem mau ri errado. Por isso, deve-se viver em multidão. Falar e rir em coro, andar e parar em batalhões. Viver entre os que, simplesmente, estiverem vivendo. A vida coral nos alivia da obrigação do êxito, do êxito que é casual (e verdadeiro) ou é fabricado e cínico. Desconfiai dos feitos que são repetidamente comemorados com jantares e missas de ação de graças!

É esta uma simples canção de fim de ano. Escrevia, confessando-me e comprometendo-me em cada uma das minhas pequenas descobertas. Se não atingi, rondei mais das vezes a insolente verdade dos homens e das coisas. Em vez disso, escreveria uma crônica de Natal... Mas, em tudo o que eu dissesse do Nascimento de Cristo e fraternidade humana, correria o erro constante de repetir: "Natal, Natal, bimbalham os sinos...".

(Antônio Maria)

Thales Azevedo.

Um comentário:

Camila L. L. disse...

"Natal, Natal, bimbalham os sinos..."

Tem tanta gente que acredita que o Natal é só isso! Cantar musiquinhas, dar presentes...

Ver um texto que fala de um sentido mais profundo do Natal me deixa muito feliz! E acredito que a Jesus também...
Afinal, quando os pastores e reis magos foram visitá-lo em Belém, não ficaram cantando musiquinhas sobre os sinos, ficaram em contemplação... Acho que é isso que Ele nos propõe em cada Natal: contemplação do outro, de nós mesmos, do novo que vem chegando...
E o texto aborda isso de maneira bem humana (e, assim, divina).

Feliz Natal pra você também, Thales!!