domingo, 13 de janeiro de 2008

Pi


9:13. Anotação pessoal.
Quando eu era criança, minha mãe disse para não olhar para o sol.
Mas quando tinha seis anos, olhei.
Os médicos não sabiam se eu voltaria a enxergar.
Fiquei apavorado, sozinho naquela escuridão.
Devagar, a luz do dia penetrou através das ataduras... e consegui ver.
Mas algo mudara dentro de mim.
Naquele dia tive minha primeira dor de cabeça.

12:45.Reitero minhas suposições.
1. A matemática é a linguagem da natureza.
2. Tudo pode ser representado e compreendido através de números.
3. Ao fazer gráficos dos números de qualquer sistema, surgem padrões. Portanto, há padrões em tudo na natureza.
Evidências: o ciclo das epidemias. O aumento e a diminuição da população de caribus.Os ciclos das manchas solares. A cheia e a baixa do Nilo.
E a bolsa de valores? O universo de números que representa a economia global. Milhões de pessoas trabalhando. Bilhões de mentes. Uma vasta rede pulsante e viva. Um organismo. Um organismo natural.
Minha hipótese: na bolsa também há um padrão. Bem na minha frente. Escondido atrás dos números. Sempre houve.

12:50. Aperto “return”.

...

São com essas frases que o filme “Pi” é introduzido. Um grande filme, dirigido pelo diretor
cult Darren Aronofsky, principalmente considerando-se o ridículo orçamento de US$ 60 mil reservados à produção.
A história tem como personagem central, o matemático Maximillian Cohen (Sean Gulette, em uma ótima paranóica atuação). Max é um gênio e tenta descobrir um padrão para a bolsa de valores, como foi dito anteriormente em sua hipótese. O desafio não é fácil. Ele desgasta Max físico e psicologicamente, resultando em delírios e fortes dores de cabeça. Nessa busca insana pela chave do padrão da bolsa de valores, Max conhece Lenny (Ben Shenkman), um judeu que acredita que existe um número no Torá que repre
senta o nome divino, um código enviado por Deus, destinado a um escolhido, uma pessoa iluminada que descobrirá o tal número. Em uma das tentativas para encontrá-lo, Max depara-se com um número de 216 dígitos que é, inicialmente, descartado, por ser considerado apenas um bug do seu computador.
Aos poucos, a vida de Max se torna mais frenética, com perseguições de uma importante firma de Wall Street, que deseja ter conhecimento do número que poderia levar conseqüências drásticas para as bolsas de valores e, conseqüentemente, a diminuição do fluxo monetário e da diversificação dos investimentos, já que a bolsa de valores é algo instável e essa instabilidade, de certa forma, é o equilíbrio para que ela funcione de maneira autônoma. Além da firma, a seita religiosa que Lenny participa passa a persegui-lo de forma mais intensa.
Max, obcecado, passa a trabalhar mais e mais. Aos poucos, o número de 216 dígitos passa a tomar uma importância que não existia antes, ela passa a ser mais do que um
bug do computador, ele pode ser o tal número.

O grande feito do filme é, justamente, a incerteza que é posta em jogo. Na verdade, não se sabe ao certo se a história toda é real ou apenas fruto da imaginação de um homem perturbado, sozinho e neurótico. Assim como a bolsa de valores é instável, a história de Max também passa a ser, cada vez mais densa. À medida que o número passa a estar mais próximo do seu conhecimento, a mente de Max se torna indomável, com verdadeiras situações surreais e simbólicas, que o levará a situações drásticas, reservadas ao final do filme.

Você, caro leitor, deve estar se perguntando, “Qual é a relação entre o número PI e o filme, afinal?“. Essa pergunta é respondida no clímax do filme, quando Max se depara novamente com o número de 216 dígitos. A câmera foca o cérebro do número, responsável pelo padrão da bolsa de valores e, talvez, tudo aquilo que exista no mundo.

Apesar de não ser uma obra-prima, realmente recomendo esse filme, de 1998. É um filme curioso, denso e enigmático e que desperta o interesse, também, daqueles que não se identificam muito com a matemática, como aquele que aqui escreve.

Só por curiosidade, na última cena do filme, Max se encontra em uma situação surreal, num parque, sentado em um banco. Lá, uma garotinha chamada Jenna, que costumava perguntar-lhe sempre equações matemáticas, para que ela pudesse ver se as respostas de Max estavam corretas na calculadora, o encontra. Max nunca errava. Eis, então, o último diálogo do filme, logo após a cena mais importante e que responde muitas perguntas, entre Jenna e Max...

- Max, olhe! Quanto é 255 vezes 183? Eu sei! Quanto é?
- Não sei. Quanto?
-46.665! Viu?
- E 748 divido por 238? Eu sei! Quanto é?


Quanto é?

Alexandre Rios.

2 comentários:

Muri disse...

Vi seu Blog na comu dos blogueiros fracassados e, vc não é tão fracassado! hehehe
Interessante esse filme, vou tentar encontrar para assistir! Que bom que vc não contou assim, exatamente o final...apesar de dar boas dicas caso eu não entenda o filme... heheheh

abraços!

Anônimo disse...

PI realmente é um filme intrigante. Há uma mistura equilibrada e instigante entre a matemática (apesar de nao ser seu foco principal) e mistério. Além disso mostra um quadro psicológico interessante do personagem. O forte do filme é a busca frenética por um padrão matemático que leva o personagem à loucura e, consequentemente, não sabemos se o que se passa na telinha é verdade ou ilusão. Não é um clássico nem um filme indie (como um dos nossos blogueiros denomina). Somente uma filme interessante para os iniciantes em cinema.