quarta-feira, 26 de março de 2008

Disque M para Matar

Apesar da maioria dos filmes de suspense contemporâneos apresentarem uma extrema apelação pelas imagens esdrúxulas, sons medonhos e roteiros, digamos que, vagabundos, acontece o inverso com os antigos filmes de suspense, principalmente quando cita-se o mestre do suspense Alfred Hitchcock.

“Disque M para Matar” apresenta uma história aparentemente já trabalhada. A história se passa em Londres, em que Tony (Ray Milland), percebe que sua mulher, Margot Mary Wendice (Grace Kelly), está traindo-o com um de seus amigos, Mark Halliday (Robert Cummings). Ao perceber a traição, Tony muda seu comportamento com o objetivo de vingar-se da traição conjugal. Larga a profissão de tenista para ser um vendedor de produtos esportivos e, camufladamente, dedicar mais tempo à sua mulher.

Logo no início do filme temos cenas fundamentais para todo o entendimento do roteiro bem amarrado de Hitchcock. Margot indica à Mark que seu marido mudou completamente desde a última vez que se viram e explica o desaparecimento da última carta em que os amantes de comunicaram. Já n’outra cena, Tony contrata um antigo colega de faculdade, Charles Alexander (Anthony Dawson), para fazer o trabalho sujo. Trava-se então um diálogo surpreendente entre os dois personagens, Tony descrevendo toda a vida rotineira de seu colega (já que passou um ano seguindo-o, para a formulação de todo o plano) para convencer o colega, através de uma ótima chantagem, a matar sua “querida” esposa.

Lança-se então a grande idéia de diversos diretores: plano perfeito existe? Tony, um personagem frio e calculista, consegue formular um assassinato perfeito? Não sei se por intuição ou por nunca ter visto assassinato perfeito, sempre torcemos, diante à tela do cinema, que tudo saia como planejado. Mas não funciona dessa forma. Surgem alguns imprevistos no plano de Tony, acarretando na luta da mulher contra o assassino e, conseqüente, morte do tratante.

O espectador entra em desespero. Como Tony se livrará das provas contra ele? Grace tem papel fundamental nesse ponto. Como em muitos filmes clássicos, mostra-se uma mulher frágil e inocente, fiel ao seu marido, que inclusivo o sustenta. O personagem planta as provas ao seu favor, ou melhor, contra sua mulher, em questão de segundos, mudando por completo o rumo da história. A polícia depara-se com evidências óbvias, um possível roubo comum em uma casa que acarreta num ataque não esperado à dona de casa, e outras duvidosas, como a entrada do assassino na casa e a carta de Mark no bolso no assassino.

As ações de Tony e posteriormente de seu rival, Detetive Pearson (Patrick Allen), são mostradas de maneira inocente, como todo bom posicionamento de um excelente diretor. São toques que instigam seu senso de abstração e futuras atitudes dos personagens. Cada fala e objeto são utilizado pelo telespectador para condenar Tony. É a grande sacada do filme: induzir uma expectativa frustrada (assassinato imperfeito) e colocar o telespectador a buscar erros do suposto plano perfeito. O incremento do diretor é uma fotografia simples e pouca música de impacto, totalmente contrário aos novos modelos de filmes de suspense.

Parece-me redundante falar da atuação de Ray Milland (Tony). Um personagem extremamente frio, que mede cada palavra que fala e demonstra de maneira sutil, em sua voz sagaz, o psicopata que convive em seu interior. Para mim é complicado criticar a atuação da mocinha, Grace Kelly. Ela ganhou dois prêmios de melhor atriz no filme. Discordo plenamente. A participação dela está dentro do esperado. Inclusive, o momento de suposta evolução da personagem, em que ela descobre todo plano do marido, a reação é infantil.

Mais uma vez a arte cinematográfica demonstra a quantidade de variáveis em um assassinato e na própria vida cotidiana. O Humano é aceptível aos diversos tipos de erros aparentemente inúteis, quando tudo parece dentro do planejado. Claro que no filme trata-se de um assassinato, mas pode ser transcendido ao cotidiano. Como diz-se: o homem é fruto de todos os erros cometidos, basta consciência para assumir cada um e evitá-lo posteriormente.

Lucas Caires

Um comentário:

Anônimo disse...

Hitchcock é um gênio, um dos maiores de todos os tempos. Aliás, acho que nenhum outro diretor realizou tantos clássicos como ele!