quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

"A Grande Arte" - Rubem Fonseca

Apesar de cansado, por causa do trote (sim, estou vivo!), irei comentar o livro “A Grande Arte”, escrito por Rubem Fonseca.

A abertura da história é um assassinato de uma prostituta, chamada Danusa, que foi estrangulada e recebeu um corte na face em formato de “P”. Se não fosse por esse último detalhe, sua morte seria insignificante e Madrake, um advogado carioca obcecado em desvendar mistérios, não teria interesse por uma “mera” prostituta assassinada. O enredo começa a tomar forma quando Mitry procura Mandrake para recuperar uma certa fita cassete. Ela está nas mãos de uma massagista (apenas de fachada) chamada Gisela (colega de profissão de Danusa). Mesmo assim, o conteúdo da fita não é comentado. Após um tempo, Gisela é assassinada da mesma forma (com um “P” no rosto), obrigando a Mandrake estudar o caso.

O enredo está longe de ser meramente mais um romance policial. A participação de Mandrake como narrador demonstra o prenúncio da decadência dos anos 80. Não só a decadência financeira, mas, principalmente, a moral. O vazio e inutilidade dos personagens (ricos, pobres, anões, assassinos, prostitutas... enfim, todo tipo de gente) é escancarado. Perdido na cidade do Rio de Janeiro, vemos Mandrake e seu sócio judeu, Wexler, buscar todas as pistas para descobrir o assassino. E tudo isso ocorre por causa de uma simples fita cassete.

Algumas vezes a leitura parece se perder, entretanto ao longo da narrativa vemos como tudo está interligado, entrelaçado, semelhante à vida real. Não é um simples assassino. Mandrake é apenas uma peça no meio de um jogo político e econômico. Rubem demonstra os vínculos e coincidências infinitas da nossa vida cotidiana atraindo, assim, o leitor.

Paralelo à história, vemos um Mandrake apaixonado por várias (... e várias) mulheres. Sua infidelidade é nata e justificável, inclusive, com base na mitologia grega. A sua paixão não só pelas mulheres, mas também pela vida o protege dos fatos peculiares vivenciados por ele. Além disso, Rubem fez uma linguagem altamente irônica, principalmente nos diálogos com o judeu e o anão falador (quem ler entenderá).

Enfim, Rubem Fonseca possui A Grande Arte de escrever um romance policial inovador e fundamental para os leitores brasileiros.

ps: agradecimentos a quem me indicou o livro, Thales Azevedo


Lucas Caires

Um comentário:

porque livro nunca enguiça disse...

Adoro o Rubem e seu personagem Mandrake é fascinante. Gostei de sua resenha, li a Grande Arte há muito tempo e estava fazendo uma pesquisa sobre detetives para meu blog. Foi bem útil para refrescar minha memória, já que a referência maior que tenho do personagem é a da série da HBO. Se quiser dar uma passadinha lá:

http://porquelivronuncaenguica.blogspot.com.br/2015/02/sete-detetives-e-seus-metodos.html