segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Mad Men

Mad Men, que já teve duas temporadas e foi renovada para mais duas, é a melhor série dramática de televisão surgida desde o fim de "The Sopranos" (série que eu considero a melhor já feita até hoje) e que, de certa forma, veio para preencher o vazio deixado na TV por Tony Soprano e companhia.
O seriado - criado por, vejam só, Matthew Weiner, o escritor e produtor de "The Sopranos"- retrata a vida de um publicitário na Nova York do fim dos anos 50 e início dos 60. Don Draper (interpretado pelo excelente ator Jon Hamm) é o diretor de criação da fictícia agência de publicidade Sterling Cooper e sua função é , basicamente, vender o "american way of life", a felicidade enlatada nos produtos e estampada nos outdoors. Draper tem, aparentemente, uma vida desejada por muitos: um emprego bem remunerado, uma bela mulher ( Betty Draper, que é interpretada pela também excelente atriz January Jones) e dois filhos. Porém, Don Draper, além de ser um homem misterioso ( vários detalhes do seu passado são revelados ainda na primeira temporada), não consegue encontrar a felicidade que tanto vende para seus clientes. E, para controlar suas crises pessoais, ele recorre ao cigarro, ao álcool e a outras mulheres sem o menor pudor, mostrando-nos a personalidade de um homem angustiado e infeliz.
Mad Men - um trocadilho entre as palavras ad (propaganda) e mad (maluco), sendo também a forma pela qual eram chamados os publicitários da época - é extremamente competente em retratar o mundo (dentro e fora da agência de publicidade) daquele período : todas as pessoas fumavam e em todos os lugares ( no primeiro episódio, a Sterling Cooper é contratada para fazer uma nova campanha para a "Lucky Strike", famosa marca de cigarros) ; o álcool era ingerido não só nos bares, mas também no trabalho e em casa; as mulheres, apesar de muito glamurosas, eram bastante discriminadas pelos homens,isto é, eram vistas como objetos sexuais e consideradas, portanto, como submissas, sem voz ativa; havia a segregação racial entre brancos e negros (estes só aparecem no seriado em poucas ocasiões e, mesmo assim, geralmente como garçons ou ascensoristas) e o anti-semitismo.
Os homens norte-americanos, vencedores da Segunda Guerra Mundial, são mostrados no seriado como seres confiantes, homens que vieram do conservadorismo dos anos 50 e que não esperam todas as mudanças que, nós sabemos (mas os personagens não), surgirão com a revolução sócio-cultural nos EUA dos anos 60. Algumas dessas mudanças já são mostradas nas duas primeiras temporadas, como o fato de uma mulher, mas especificamente a personagem Peggy Olsen (Elisabeth Moss) ,começar a conquistar seu espaço na agência de publicidade como executiva e não mais como secretária ( função normalmente exercida pelas mulheres nesse ambiente). O liberalismo sexual (comum para os homens, mas não para as mulheres da época) também já começa a ser mostrado, assim como o homossexualismo (o personagem Salvatore Romano, responsável por desenhar as campanhas publicitárias, apesar de gostar de outros homens, vive com uma mulher, com o objetivo claro de manter as aparências perante os colegas de trabalho). Algumas figuras importantes da política ( a campanha para as eleições presidenciais de 1960 é bem retratada, havendo até um episódio na primeira temporada intitulado "Nixon vs. Kennedy") e da cultura (em determinado episódio, um personagem cita Bob Dylan) também não foram esquecidas ( há a citação, inclusive, de filmes famosos lançados no período, como "O Homem que Matou o Facínora", de John Ford, e "Se meu apartamento falasse", de Billy Wilder).
O elenco de Mad Men conta com - além dos já citados Jon Hamm, January Jones e Elizabeth Moss - John Slattery (interpreta Roger Sterling, um dos sócios da Sterling Cooper e um dos melhores amigos de Don Draper), Vincente Karheiser (faz o papel do desprezível Pete Campbell, o mimado, rico,um tanto desleal e ao mesmo tempo interessante colega de Draper na agência, configurando-se como um dos melhores personagens da série) e vários outros atores desconhecidos do grande público e que agora estão recebendo o merecido reconhecumento. É importante destacar a belíssima direção de arte (a reconstituição da época é impecável, tudo é retratado da maneira mais fiel possível: móveis, roupas, carros, prédios, etc) e a fotografia da série ( o visual é nada menos que deslumbrante). Destaco ainda a abertura do seriado, uma espécie de animação que mostra um executivo em queda livre - uma analogia à infelicidade do protagonista da trama - cercado de prédios, pôsteres e outdoors com propagandas. Essa abertura em muito se assemelha às aberturas criadas pelo designer Saul Bass para os filmes de Hitchcock ( como, por exemplo, "Intriga Internacional e "Psicose) e de outros cineastas ( "Anatomia de um crime", de Otto Preminger, é outro bom exemplo).
Os diálogos de Mad Men também chamam a atenção, contendo, muitas vezes, uma boa dose de ironia e sarcasmo ( Don Draper às vezes me lembra personagens intepretados por Humphrey Bogart, cínicos e sedutores). O único ponto negativo do seriado, e que pode afastar alguns telespectadores, é o fato da história se desenvolver num ritmo um tanto quanto lento (pessoas acostumadas a assistir seriados como "24 horas" e "Lost" vão estranhar um pouco esse ritmo lento), mas não é nada que diminua o brilhantismo do mesmo e que impeça de acompanhá-lo de modo satisfatório.
Mad Men é , portanto, um seriado inteligente, bem escrito, atuado e dirigido. Não é à toa que ele ganhou duas vezes consecutivas (em 2008 e nesse ano de 2009) o Globo de Ouro de "melhor série dramática" e Jon Hamm ganhou em 2008 o mesmo prêmio na categoria "melhor ator em série dramática". Não percam, pois vale muito a pena assistir.
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OBS: O seriado é transmitido nos EUA pela rede AMC e aqui no Brasil pela HBO. Por incrível que pareça, o box da primeira temporada não saiu ainda em dvd por aqui. Cada temporada tem 13 episódios.

OBS2: Aí embaixo eu coloquei dois vídeos (um com a abe
rtura do seriado e outro com a paródia dos Simpsons para a abertura) e a nota de cada uma das duas temporadas, destacando os melhores episódios.


Primeira Temporada

--> Melhores episódios:

- S01E01 : Smoke Gets In Your Eyes
- S01E08 : The Hobo Code
- S01E11 : The Indian Summer
- S01E12 : Nixon vs. Kennedy


[ Nota da 1ª temporada: 8.5]


Segunda Temporada
--> Melhores episódios:

- S02E07 : The Gold Violin
- S02E08: A Night To Remember
- S02E09: Six Month Leave
- S02E13: Meditations in a Emergency

[ Nota da 2ª temporada : 9.0]








Eduardo Vasconcelos.

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