terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Vergonhas e mais vergonhas

O Brasil está sendo complacente, sem uma razão convincente, com um assassino condenado pela Justiça, diz a revista britânica Economist na edição que chegou às bancas nesta sexta-feira.

Em um artigo que leva o título "A loucura do asilo", a revista se refere ao caso do italiano Cesare Battisti, que recebeu asilo no Brasil, causando um mal-estar diplomático com a Itália, que quer sua extradição.

A revista abre o texto dizendo que o Rio de Janeiro, "com sua gigantesca estátua de Cristo oferecendo redenção sem limites, é um lugar atraente para se viver como fugitivo da Justiça".

"Claude Rains elegantemente se escondeu ali em um dos melhores filmes de Hitchcock (Interlúdio, de 1946). Ronald Biggs, depois de roubar um trem em 1963, trocou uma prisão britânica pela praia de Copacabana - causando mais inveja do que difamação".

Battisti “se juntou a esse grupo, depois que de receber status de refugiado político do Brasil”, diz a reportagem.

Para a Economist, pouca gente na Itália tem dúvidas de que o julgamento de Battisti, ex-militante de esquerda condenado pelo assassinato de dois policiais nos anos 70 e pelo seu envolvimento na morte de um açougueiro e de um joalheiro, foi justo. [...]

(BBC Brasil)

As famílias das vítimas do terrorismo na Itália protestam contra a carta enviada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao governo italiano justificando a decisão do Brasil de dar status de refugiado político ao extremista Cesare Battisti. Para as famílias, a decisão e a carta são "verdadeiros insultos ao povo italiano e às vítimas do terrorismo".

O grupo está ainda organizando uma reação popular contra a decisão do Brasil e pede para cada italiano enviar cartas ao governo e à embaixada do País em Roma.

"O que estamos vendo é um comportamento vergonhoso do Brasil em relação a esse assunto", afirmou ao Estado o vice-presidente da Associação das Famílias das Vítimas do Terrorismo na Itália, Roberto Della Rocca.

"Será que o Brasil sabe exatamente o que está fazendo e quem são essas pessoas? Battisti é um homicida, mas nem por isso seria torturado nas cadeias italianas se voltasse ao país", disse Della Rocca.

Ele ainda faz uma ironia. "Para as famílias das vítimas, não queremos nada mais que ver Battisti em uma cela comum no Brasil. Isso bastaria e já seria já sua punição pelo que fez", disse, se referindo às condições das cadeias brasileiras.

(O Estado de São Paulo)

Thales Azevedo.

6 comentários:

Anônimo disse...

Bom, esse assunto é delicado. Alguns analistas acham que Tarso Genro acertou, outros discordam completamente. Na minha opinião, deve-se ter mais cautela, para que provas concretas contra ou a favor de Cesare sejam melhor apuradas, até porque muitas eram falsas. Não devemos esquecer também que o sujeito em questão foi denunciado por outro em uma delação premiada.

Mas, por outro lado, acho que essa questão se refere muito mais ao Estado italiano que ao brasileiro. De fato, a Itália vive em uma democracia. Riscos de tortura ou de um julgamento indevido, porém, existem. Portanto, injustiças - de ambos os lados - podem acontecer.

Talvez Cesare tenha cometidos crimes políticos, talvez seja um crimonoso comum. Minha conclusão? Que ele vá pra Itália. E que a Itália prove que é, de fato, uma democracia, julgando-o da forma mais séria o possível.

Só pra concluir...Engraçada a mídia, não? Fazem tanto alarde pra esse fato - que é, claro, uma questão diplomática complexa - e, praticamente, deixam de lado o fato de que o último presidente americano tenha cometido tantos genocídios...

Anônimo disse...

Eu raramente leio tantas barbaridades tão condensadas.

UM: o terrorista teve amplo direito de defesa e a condenação não se deu com base em um único testemunho.

DOIS: o delator premiado não mudou de identidade e nem está desaparecido.

TRÊS: asilo político, tendo por princípio o sistema democrático, se dá pra quem foge de ditadura.

QUATRO: Tarso fala em crime político, o que houve foi assassinato, quatro deles, por sinal. Como se a Itália resolvesse abrigar o Marcola. Preciso ser mais claro?

CINCO: o problema é exatamente que a questão SE REFERE ao Estado italiano, o Brasil é que resolveu se meter aonde não devia e não podia.

SEIS: sua conclusão, que ele vá pra Itália? Brilhante, com um único adendo: ele não vai pra ser julgado, ele já foi condenado - da forma mais séria possível.

SETE: o clímax realmente tinha de ficar para o final, não poderiam faltar a mídia golpista e o George Bush velhos de guerra. Sobre a comparação, me recuso - terminantemente - a comentar, isso não é uma discussão de gente séria. Mas dizer que foram condescendentes? Quem, a Fox News?

Pra encerrar, recapitular e reiterar: a situação é um escândalo.

Anônimo disse...

O cidadão veio para o Brasil. Isso envolve o país no bolo, ou seja, é uma questão que agora é de responsabilidade, também, brasileira.

Como eu já disse, existem opiniões diversas sobre o assunto. Pude conferir essa semana três opiniões diferentes em diferentes revistas brasileiras - a ISTOÉ, a CARTA CAPITAL e ÉPOCA. A ISTOÉ, por exemplo, considerou a decisão de Tarso Genro um acerto. Como disse o Leonardo Attuch, "o caso Battisti já vinha sendo comparado ao 'affaire Dreyfus', o erro judicial contra o capitão Alfred Dreyfus, que foi acusado de traição pelo Exército francês e acabou sendo defendido num dos textos mais brilhantes da história: o J´accuse(Eu acuso), de Émile Zola."

Além disso, a mesma ISTOÉ trouxe a seguinte informação: As perícias anexadas ao processo também mostram que há documentos fraudados para incriminar Battisti. Ou seja, não há a certeza absoluta das circunstâncias que envolveram os crimes.

Então, neste caso, eu procuro manter uma posição de cautela, diferentemente de você e de muitos outros que procuram acusar e acusar. Esperemos que a diplomacia e justiça prevaleçam neste assunto delicado, com provas verdadeiras e concretas, para que o sujeito seja punido da forma mais correta o possível, até porque é quase certeza que lá na Itália ele sofra persiguições políticas, mesmo sendo um país democrático, assim como é o Brasil.

Resumindo, eu não ouso chegar a conclusões definitivas. Estava apenas mostrando em meu comentário que existem duas faces da questão e que não há nada de bárbaro nisso, como você parece berrar com toda a sua arrogância.

E sobre a questão de "gente séria", muitos devem duvidar disso. Afinal, quem vangloria pessoas como o Bush e a Sarah Palin parece ser alvo de chacotas em todo o mundo...

Anônimo disse...

*perseguições políticas

Anônimo disse...

Ah, o manto da imparcialidade.

O "cidadão" fugiu da cadeia e veio para o Brasil.

Você tem "quase certeza" de que ele vai sofrer perseguições políticas? Baseado em quê?

São mesmo necessárias mais evidências do que as listadas acima?

Sobre as aulas de direito que acham que podem ser dadas, responde o vice-ministro de Relações Exteriores da Itália:

“Lula coloca em discussão a democracia e o sistema jurídico italiano. Francamente, não podemos aceitar receber uma lição do Brasil ou de Lula."

E, bem, eu acho que não podem mesmo.

Pra falar de barbaridades, imagino que realmente existam incontáveis delinquentes morais que se prostrem a comparar George Bush e Sarah Palin a Cesares Battistis. Mas são coisas que vão além do meu conceito de discussão civilizada e não podem render frutos inteligentes e saudáveis.

Anônimo disse...

Para acrescentar:

É razoável supor que o Procurador Geral da República entenda mais de leis do que o ministro da Justiça que não é jurista. Pois o Procurador deu parecer favorável à extradição. Assim como o Conselho responsável pela análise de pedidos de refúgio.

Tarso decidiu politicamente - assim como foi política a decisão de devolver a Havana os dois lutadores de boxe cubano que haviam abandonado sua delegação durante os jogos panamericanos.

E é de uma evidência solar que Tarso não decidiu sozinho. Defendeu seu posto de vista sobre o Caso Battisti junto a Lula. E Lula concordou com ele - sabe-se lá por quê.

(Ricardo Noblat)